OBSTETRÍCIA 1 - Diagnóstico de gravidez, modificações maternais e assistência pré-natal Flashcards
Fecundação e desenvolvimento.
Oócito → fecundação na tuba uterina → zigoto → blastocisto em nidação (por volta do 6º dia após a fecundação) = início da gravidez.
Diagnóstico laboratorial de gravidez.
- Beta-hCG (fração mais específica do hormônio gonadotrófico humano) é detectado 8 dias após concepção e dobra a cada 2-3 dias;
- É um marcador de atividade trofoblástica;
- Pico de detecção do beta-hCG em 8-10 semanas;
- Testes para identificação de hCG = imunológicos qualitativos (anticorpos contra hCG na urina), radioimunológicos quantitativos e ELISA quantitativo (hormônio ligado à enzima com produto corado) → optar pelos testes quantitativos!
Diagnóstico clínico de gravidez.
Sinais e sintomas de presunção (“mãe-mama-sistêmico”):
- Sintomas e sinais precoces (esperados entre 5-20 semanas);
- Náuseas e vômitos;
- Polaciúria;
- Sonolência e fadiga;
- Percepção materna de movimentos fetais;
- Atraso menstrual (14 dias);
- Alterações cutâneas (estrias, cloasma, linha nigra);
- Alterações mamárias = tubérculos de Montgomery (pápulas), rede de Haller (rede venosa) e sinal de hunter (segunda aréola).
Sinais de probabilidade (uterinos, vaginais e vulvares):
- Sinais esperados entra 6-12 semanas;
- Sinal de Hegar (amolecimento do istmo uterino);
- Sinal de Osiander (espessamento do utero);
- Sinal de Piskacek (assimetria uterina em função do local de nidação);
- Sinal de Hozapfel (peritônio rugoso);
- Sinal de Nobile-Budin (útero obstétrico mais globoso, preenchendo o fundo de saco vaginal);
- Sinal de Jacquemier e Chadwick (tonalidade violácea vulvar);
- Sinal de Kluge (tonalidade violácea vaginal);
- Regra de Googel (alteração de consistência);
- Em 12 semanas, há aumento do volume uterino (deixando de ser órgão intrapélvico).
Sinais de certeza.
- Ausculta do batimento cardíaco fetal com doppler sonar (a partir de 10 semanas);
- Palpação e percepção dos movimentos e partes fetais detectados pelo médico (a partir de 18 semanas).
Diagnóstico ultrassonográfico de gravidez.
- Vias transvaginal ou abdominal;
- USGTV = saco gestacional em 4 semanas, vesícula vitelina em 5 semanas, embrião em 6 semanas e batimento cardíaco em 7 semanas → margem de até 2 semanas de desvio;
- Comprimento cabeça-nádega = melhor parâmetro para definir idade gestacional;
- Limite discriminatório = valor de beta-hCG de 1500 mUI/ml, em que se espera imagem intrauterina do saco gestacional.
Data provável do parto.
Regra de Nägele.
- Dia: somar 7 ao 1º dia da última menstruação;
- Mês: somar 9 ou diminuir 3 ao mês resultante.
Ex: DUM 28/10
dia 28+7 = 4
mês 11 - 3 = 8
Alterações maternas osteoarticulares.
- Lordose lombar → desvio de centro de gravidade;
- Marcha anserina;
- Frouxidão articular (principalmente em pelve) → resultado da progesterona.
Alterações maternas respiratórias.
- Aumento de ventilação-minuto e pO2 arterial (“respiração por dois”);
- Diminuição da pCO2 e da capacidade residual funcional (útero gravídico diminui expansão diafragmática);
- Maior consumo de O2 e diminuição do bicarbonato sérico (para reduzir a alcalose respiratória compensada esperada na gravidez);
- Dispneia fisiológica;
- Quadro de alcalose respiratória compensada.
Alterações maternas cardiovasculares.
- Diminuição da resistência vascular periférica com queda diastólica da PA;
- Aumento do débito cardíaco em 40-50% e da FC (em 10-15bpm) no 2º trimestre;
- Diminuição do retorno venoso e da pressão capilar coloidosmótica (aumento do volume plasmático + hiperaldosteronismo);
- Quadro de síndrome hipercinética, síndrome de hipotensão supina (compressão de v. cava), com sopro sistólico e risco de congestão pulmonar.
Alterações maternas hematológicas.
- Aumento do volume plasmático (de 40-50%) e do volume eritrocitário (de 20-30%) → mas ainda apresenta anemia hemodilucional;
- Diminuição da viscosidade sanguínea e do hematócrito;
- Aumento da leucocitose (sem desvio);
- Redução da quimiotaxia;
- Aumento dos fatores de coagulação e fibrinogênio;
- Redução do sistema fibrinolítico;
- Quadro de anemia dilucional, quadro imunossupressor (aumento das infecções e melhora de doenças autoimunes) e aumento do risco de eventos trombóticos.
Alterações maternas metabólicas.
- Estado diabetogênico → aumento da resistência insulínica para a mãe não captar a glicose que seria da criança;
- Aumento de hormônios contrainsulínicos + hiperinsulinismo compensatório.
Alterações maternas gastrointestinais.
Atuação da progesterona.
- Diminuição do peristaltismo e motilidade;
- Relaxa esfíncter gastroesofágico;
- Reduz esvaziamento gástrico → predisposição à constipação;
- Redução da contração de vesícula biliar → predisposição à colelitíase;
- Aumento da fosfatase alcalina;
- Aumento da saturação de colesterol;
- Aumento da vascularização gengival;
- Maior risco de broncoaspiração durante intubação orotraqueal;
- Quadro de pirose e refluxo, constipação intestinal, aumento da litíase biliar, varizes hemorroidárias e sangramento gengival.
Alterações maternas renais.
- Aumento da TFG em 50%;
- Diminuição de ureia e creatinina;
- Aumento da reabsorção de sódio (hiperaldosteronismo secundário);
- Diminuição da reabsorção tubular de glicose → passa tanta água com a reabsorção de sódio que acaba em glicosúria;
- Aumento do diâmetro do ureter e da pelve renal (principalmente à direita);
- Diminuição do tônus vesical → predisposição à infecção urinária;
- Quadro de glicosúria fisiológica, hidronefrose, aumento de ITU, incontinência e aumento da frequência urinária.
Assistência pré-natal.
Frequência mínima de consultas em gravidez de baixo risco = uma no 1º trimestre, duas no 2º trimestre e três no 3º trimestre;
Ideal = mensal até 28ª sem., quinzenal até 36ª sem. e semanal após 36ª sem.
Exames de rotina básica:
- Hemograma (1ª consulta e 3º trimestre);
- Tipagem sanguínea e fator Rh;
- Coombs indireto (mensalmente depois da 28ª sem.) principalmente para Rh negativo;
- Glicemia de jejum (1ª consulta e 3º trimestre);
- TOTG 75g (entre 24-28 sem.);
- Urinocultura e EAS (1ª consulta e 3º trimestre) → avaliar ITU;
- Teste rápido para sífilis ou VDRL (1ª consulta e 3º trimestre);
- Teste rápido diagnóstico e anti-HIV (1ª consulta e 3º trimestre);
- Sorologia para toxoplasmose IgM e IgG → se for suscetível, solicitar 1 teste por trimestre;
- HbsAg (1ª consulta e 3º trimestre).
Exames adicionais:
- Colpocitologia oncótica (coleta de hemi e ectocérvice) → rastreamento oportunístico;
- Exame parasitológico de fezes;
- Rastreio de colonização pelo Estreptococo do grupo B (GBS);
- Ultrassonografia.
Quais exames não solicitar em assistência pré-natal?
- Sorologia para Rubéola;
- Sorologia para Citomegalovírus (CMV).
Pelo Ministério da Saúde, não há medidas de intervenção para tais quadros.
Toxoplasmose.
- Parasita intracelular;
- Pouca repercussão materna (já adquiriu imunidade), mas possível repercussão grave fetal;
- Transmissão = terra contaminada (fezes gato), carnes cruas e comidas contaminadas;
- Risco de transmissão é proporcional à idade gestacional, enquanto risco de acometimento fetal grave é inversamente proporcional à IG;
- Diagnóstico é sorológico;
- IgG e IgM negativos = paciente suscetível → repetir sorologias de 2-3 meses;
- IgG positivo, IgM negativo = teve contato fora da gravidez e adquiriu imunidade;
- IgM positivo, IgG negativo = infecção aguda ou falso-positivo → início do tratamento com espiramicina + investigação de falso-positivo (IgA ou repetir IgG em 3 semanas, sendo falso positivo se mantém IgG negativo e nova infecção se IgG positivo) + investigação fetal;
- IgM e IgG positivos = infecção aguda ou crônica → teste de avidez (menos de 16 sem.) ou início do tratamento (se mais de 4m.);
- Teste de avidez aponta a extensão da infecção → baixa avidez (abaixo de 30%) indica menos de 4 meses, enquanto alta avidez (acima de 60%) indica infecção com mais de 4 meses;
- Investigação fetal = amniocentese com PCR (a partir de 16 sem.), cordocentese e USG mensal;
- Tratamento fetal = espiramicina se apenas contaminação da mãe e sulfadiazina + pirimetamina + ácido fólico se infecção fetal;
- Se não houver infecção durante a gestação, pode-se seguir com a assistência pré-natal habitual.