Sumário do Relatório do IPCC para os Tomadores de Decisão do Quinto Relatório do Grupo de Trabalho II Flashcards

1
Q

Painel Intergovernamental sobre

Mudanças Climáticas (IPCC)

A

É um órgão que reúne cientistas de todo o mundo. Ele faz avaliações regulares sobre as mudanças
climáticas publicando relatórios periódicos, a principal referência do tema em nível internacional.
O IPCC é formado pela cooperação de dois órgãos da Organização das Nações Unidas (ONU): a Organização
Meteorológica Mundial e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

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2
Q

Grupos de Trabalho (GT, ou WG)

A

O GT I avalia os aspectos científicos do sistema climático e as suas alterações. Os principais tópicos considerados
por este Grupo são: mudanças nos gases de Efeito Estufa e aerossóis na atmosfera; mudanças observadas no ar, nas temperaturas terrestres e oceânicas, nas chuvas, nas geleiras e camadas de gelo e nos oceanos e no nível do mar; perspectiva histórica e paleoclimática sobre as alterações climáticas; ciclos biogeoquímicos; modelos climáticos; projeções climáticas e causas das mudanças climáticas.
O GT II trata da vulnerabilidade dos sistemas naturais e socioeconômicos às mudanças climáticas, das suas conseqüências positivas e negativas e das opções para se adaptar a ela. Ele considera também a interrelação entre a vulnerabilidade, adaptação e desenvolvimento sustentável. Para estas avaliações são considerados setores (recursos hídricos; ecossistemas; produção de alimentos e florestas; sistemas costeiros, indústria e saúde humana) e regiões (África, Ásia, Austrália e Nova Zelândia, Europa, América Latina, América do Norte, Regiões Polares e Pequenas Ilhas).
O GT III cuida das opções para mitigar as mudanças climáticas por meio da limitação das emissões de gases de Efeito Estufa e do aumento das atividades de sua retirada da atmosfera. Os principais setores econômicos são considerados em curto e longo prazo. Os setores incluem energia, transportes, construção, indústria, agricultura, silvicultura e gestão de resíduos. O GT analisa os custos e benefícios das diferentes abordagens para a mitigação considerando, também, os instrumentos disponíveis e as medidas políticas. A abordagem usada é cada vez mais orientada para a solução.

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3
Q

Relatórios

A

O IPCC já publicou cinco Relatórios de Avaliação (ou Assessment Reports, AR) em: 1990, 1995, 2001, 2007, e,
o quinto, 2014. Cada um deles é composto por quatro partes, sendo uma para cada um dos Grupos de Trabalho mais uma síntese. De cada relatório é feito um sumário para os tomadores de decisão (Synthesis Report Summary for Policymakers ou SPM), ou seja, para ser lido pelos vários atores que podem influir em políticas públicas e nas ações dos diversos setores (autoridades, políticos, lideranças de empresas, sociedade civil, entre outros).
O documento em questão é síntese do trabalho conjunto de especialistas sobre impactos, adaptação e vulnerabilidade reunidos pelo IPCC. Esses relatórios são instrumentos essenciais para a formulação de políticas públicas e para a tomada de decisões que considerem a importância das adaptações ao cenário de mudanças climáticas.
O WGII AR5 é apresentado em duas partes (Parte A: Aspectos Globais e Setoriais e Parte B: Aspectos Regionais), com foco nos impactos
e respostas da sociedade e cobertura regional abrangente.

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4
Q

Mudança do Clima 2014: Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade

SUMÁRIO PARA TOMADORES DE DECISÃO

A

A avaliação de impactos, adaptação e vulnerabilidade presente nas contribuições feita pelo Grupo de Trabalho II ao Quinto Relatório do IPCC (WGII AR5), analisa como os padrões de riscos e potenciais benefícios estão se tornando inconstantes com a mudança global do clima.
A mudança climática envolve interações complexas e mudanças na manutenção de diversos impactos.
O foco no risco, que é novidade neste relatório, suporta o processo de tomada de decisão no contexto da
mudança do clima e complementa outros elementos do relatório. Pessoas e sociedades podem perceber e/ou classificar os riscos e benefícios de maneiras distintas, dado os diferentes valores e objetivos para cada pessoa.
[FIGURA SPM 1 - Ilustração dos conceitos-chave do WGII AR5. Os riscos dos impactos relacionados ao clima são
resultados da interação entre desastres climáticos (incluindo eventos e tendências ao risco), vulnerabilidade e exposição dos sistemas humanos e naturais. Mudanças nos processos climáticos (esquerda) e socioeconômicos, acoplado à medidas de adaptação e mitigação (direita), são forçantes de desastres, exposição e vulnerabilidade.]

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5
Q

Avaliando e gerenciando os riscos das mudanças climáticas

A

Quadro-Contexto SPM.2. Principais conceitos do Sumário

Mudança climática: As alterações climáticas referem-se a uma mudança no estado do clima que pode ser identificada por mudanças na média e / ou na variação das suas propriedades e que persistem durante um longo período de tempo. A mudança climática pode ocorrer tanto por meio de processos internos naturais ou forças externas, como modulações dos ciclos solares, erupções vulcânicas e as mudanças antropogênicas persistentes na composição da atmosfera ou no uso da terra. Nota-se que a Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima (UNFCCC), em seu artigo 1 º, define a mudança climática como “uma mudança do clima que é atribuída direta ou indiretamente à atividade humana, que altera a composição da atmosfera mundial e que vai além da variabilidade climática natural observada ao longo de períodos comparáveis”. A UNFCCC faz, assim, uma distinção entre as mudanças climáticas atribuídas às atividades humanas que alteram a composição atmosférica e a variabilidade do clima atribuída a causas naturais.

Desastres: Ocorrência potencial de um evento natural ou fisicamente induzido pelo ser humano, impacto físico ou tendência a este que pode causar perda de vidas, ferimentos ou outros impactos na saúde, bem como perdas e danos à propriedade, infraestrutura,
meios de subsistência, prestação de serviços, ecossistemas e recursos ambientais. Neste relatório, o termo “desastre” geralmente se refere a eventos relacionados ao clima, impactos físicos ou tendência a estes.

Exposição: Presença de pessoas, meios de subsistência, espécies ou ecossistemas, funções ecossistêmicas, serviços e recursos, infraestrutura ou recursos econômicos, sociais ou culturais em locais e configurações que podem ser afetadas adversamente.

Vulnerabilidade: Propensão ou pré-disposição a ser adversamente afetado. Vulnerabilidade engloba uma variedade de conceitos e elementos, incluindo sensibilidade ou susceptibilidade a danos e falta de capacidade para lidar e se adaptar.

Impactos: Efeitos sobre os sistemas naturais e humanos. Neste relatório, o termo impacto é utilizado principalmente para se referir aos efeitos sobre os sistemas naturais e humanos dos eventos climáticos e meteorológicos extremos e das mudanças climáticas. Impactos geralmente são os efeitos sobre a vida, meios de vida, saúde, ecossistemas, economias, sociedades, culturas, serviços e infraestrutura resultantes da interação entre as mudanças climáticas ou eventos climáticos perigosos que ocorrem dentro de um período de tempo específico e a vulnerabilidade uma sociedade ou um sistema exposto a certo perigo. Impactos também são referidos como consequências e resultados. Os impactos das mudanças climáticas sobre os sistemas geofísicos,
como inundações, secas e elevação do nível do mar, são um subconjunto dos impactos chamados “impactos físicos”.

Risco: Consequência potencial em uma situação em que algo de valor está em jogo e que o resultado é incerto, reconhecendo a diversidade de valores. O risco é muitas vezes representado como a probabilidade de ocorrência de eventos perigosos ou tendências multiplicadas pelos impactos destes eventos ou tendências ocorrerem. O risco resulta da interação entre vulnerabilidade, exposição e danos. Neste relatório, o termo risco é usado principalmente para referir-se aos riscos oriundos dos impactos relacionados às mudanças climáticas.

Adaptação: Processo de adaptação ao clima e seus efeitos reais ou esperados. Em sistemas humanos, a adaptação procura diminuir ou evitar danos, ou mesmo explorar oportunidades benéficas. Em alguns sistemas naturais, a intervenção humana pode facilitar a adaptação ao clima esperado e seus efeitos.

Transformação: Mudança nos atributos fundamentais dos sistemas naturais e humanos. Neste sumário, a transformação poderia refletir paradigmas reforçados, alterados ou alinhados; também metas ou valores para a promoção da adaptação para o desenvolvimento sustentável, incluindo também a redução da pobreza.

Resiliência: Capacidade dos sistemas sociais, econômicos e ambientais de lidar com um evento, tendência ou distúrbio perigoso, responder ou se reorganizar de modo a manter a sua função essencial, identidade e estrutura e, ao mesmo tempo, manter a capacidade de adaptação, aprendizado e transformação.

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6
Q

Seção A: Impactos observados, vulnerabilidade e

adaptação em um mundo complexo

A

A Seção A deste Sumário caracteriza os impactos observados, exposição e vulnerabilidade e as respostas
adaptativas existentes até o momento.
A atribuição de impactos observados no WGII AR5 geralmente liga as respostas dos sistemas naturais e
humanos às mudanças climáticas observadas, independentemente da sua causa.

A-1. Impactos observados, Vulnerabilidade e Exposição

Em muitas regiões, a mudança de precipitação ou derretimento de neve e gelo estão alterando os sistemas hidrológicos, afetando os recursos hídricos em termos de quantidade e qualidade. As geleiras continuarão a encolher em quase todo o mundo por causa das alterações climáticas, afetando o escoamento de volumes de água a jusante. A mudança climática está causando o aquecimento e descongelamento do permafrost em regiões localizadas nas altas latitudes.

Muitas espécies terrestres, aquáticas e marinhas mudaram sua distribuição geográfica, atividades sazonais, padrões de migração, abundância e interações intraespecíficas em resposta às mudanças climáticas em curso. Enquanto apenas algumas extinções recentes de espécies têm sido atribuídas à mudança climática, a mudança climática global natural em taxas mais lentas do que a mudança climática antropogênica atual causou mudanças significativas nos ecossistemas e extinção de espécies durante os últimos milhões de anos.

Os impactos negativos das mudanças climáticas sobre a produção agrícola têm sido mais comuns do que os impactos positivos. Os impactos observados referem-se, principalmente, a aspectos de produção da segurança alimentar, mas poucos se referem a componentes de segurança alimentar (acesso a alimentos, por exemplo).

Atualmente, o volume de problemas de saúde humana decorrente das alterações climáticas é relativamente pequeno em comparação aos efeitos de outros fatores de estresse, porém não foi ainda claramente quantificado. No entanto, tem havido um aumento da mortalidade relacionada ao calor e diminuição da mortalidade relacionada ao frio em algumas regiões como resultado do aquecimento. Mudanças locais de temperatura e precipitação tem alterado a distribuição de algumas doenças transmitidas pela água e vetores de doenças.

As diferenças na vulnerabilidade e exposição surgem de fatores não climáticos e de desigualdades multidimensionais produzidas, muitas vezes, por processos de desenvolvimento desigual. Estas diferenças causam riscos distintos das mudanças climáticas. As pessoas marginalizadas socialmente,
economicamente, culturalmente, politicamente, institucionalmente ou de outra forma são especialmente vulneráveis às alterações climáticas e também a algumas respostas de adaptação e mitigação.

Os impactos oriundos de eventos climáticos extremos como, por exemplo, ondas de calor, secas, inundações,
ciclones e incêndios florestais revelam a significativa vulnerabilidade e a exposição de alguns ecossistemas - e de muitos sistemas humanos - à variabilidade climática atual. Impactos de tais extremos relacionados ao clima incluem a alteração dos ecossistemas, a interrupção da produção de alimentos e abastecimento de água, danos a infraestruturas e assentamentos, morbidade e mortalidade e consequências para a saúde mental e bem-estar humano. Para os países em todos os níveis de desenvolvimento, esses impactos são consistentes devido a uma significativa falta de preparo para a variabilidade climática atual em alguns setores.

Riscos relacionados ao clima exacerbam outros estressores apresentando, muitas vezes, resultados negativos para os meios de vida, especialmente para as pessoas que vivem em situação de pobreza. Riscos
relacionados ao clima afetam diretamente a vida das pessoas pobres através de impactos nos meios de subsistência, reduções nas colheitas ou destruição de casas; e indiretamente por meio de, por exemplo, aumento dos preços dos alimentos e insegurança alimentar. Os efeitos positivos observados para os pobres e marginalizados são limitados e, muitas vezes,
indiretos. Estes incluem, por exemplo, a diversificação das redes sociais e das práticas agrícolas.

Os conflitos violentos aumentam a vulnerabilidade às mudanças climáticas.Conflitos violentos em grande escala prejudicam ativos que facilitam a adaptação, incluindo infraestrutura, instituições, recursos naturais, capital social e oportunidades de subsistência.

A-2. Experiência de adaptação

A adaptação está se incorporado a alguns processos de planejamento com aplicação mais limitada de
respostas. Nas opções tecnológicas e de engenharia são, geralmente, implementadas respostas adaptativas e muitas vezes integradas a programas existentes, como a gestão de riscos de desastres e gestão da água. Há um crescente reconhecimento do valor de medidas sociais e institucionais baseadas nos ecossistemas e da extensão das restrições à adaptação. As opções de adaptação adotadas até a data continuam a enfatizar ajustes incrementais e cobenefícios e, também, a flexibilidade e aprendizagem. Poucas avaliações estão voltadas à implementação das ações de adaptação ou
aos seus efeitos.

A experiência em Adaptação está se acumulando em várias regiões, tanto no setor público e privado
como nas comunidades.Governos em vários níveis estão começando a desenvolver planos e políticas de adaptação e de integração das considerações sobre as mudanças climáticas em projetos mais amplos de desenvolvimento.

A-3. O contexto de tomada de decisão

Responder aos riscos relacionados ao clima envolve a tomada de decisão para um mundo em mudança,
de incerteza contínua sobre a gravidade e o momento dos impactos causados pelas mudanças climáticas e
os limites para uma adaptação efetiva. A avaliação do maior número possível de impactos potenciais, incluindo os resultados com baixa probabilidade de ocorrer, mas com consequências amplas, é fundamental para compreender as vantagens e desvantagens de ações alternativas de gestão de riscos. A complexidade das ações de adaptação através de escalas e contextos significa que o monitoramento e aprendizagem são componentes importantes de uma adaptação eficaz.

Opções de adaptação e mitigação irão afetar os riscos associados às mudanças climáticas a curto prazo durante o século 21. Durante este período, a curto prazo, os
riscos vão evoluir ao passo que as tendências socioeconômicas interagem com o clima em mudança.
Respostas da sociedade, particularmente adaptações, irão influenciar os resultados de curto prazo. Na
segunda metade do século 21 e para o período que se segue, o aumento da temperatura global diverge
através dos vários cenários de emissão.

São grandes as incertezas sobre a vulnerabilidade futura, exposição e respostas dos sistemas humanos e naturais
interligados (alta confiança). Isso motiva a exploração de uma ampla gama de cenários futuros socioeconômicos
nas avaliações de riscos. Dimensões internacionais, como o comércio e as relações entre os Estados, também são importantes para a compreensão dos riscos das mudanças climáticas em escalas regionais.

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7
Q

Seção B: Riscos futuros e oportunidades para

adaptação

A

A Seção B examina os riscos e potenciais benefícios futuros.

B-1. Principais riscos entre Setores e Regiões

i. Risco de morte, ferimentos, problemas de saúde ou meios de subsistência interrompidos em zonas litorâ-
neas dos pequenos países insulares em desenvolvimento e outras pequenas ilhas, causados por tempestades, inundações costeiras e aumento do nível do mar.
ii. Risco de graves problemas de saúde e interrupção da subsistência para grandes populações urbanas
devido a inundações em algumas regiões do interior.
iii. Os riscos sistêmicos devido a eventos climáticos extremos que levam à desagregação das redes de
infraestrutura e serviços essenciais como energia elétrica, abastecimento de água e serviços de saúde e de emergência.
iv. Risco de mortalidade e morbidade durante os períodos de calor extremo, especialmente para as populações urbanas vulneráveis e aqueles que trabalham ao ar livre em áreas urbanas ou rurais.
v. Risco de insegurança alimentar e quebra das cadeias produtivas de alimentos ligados ao aquecimento,
secas, inundações e extremos de precipitação e variabilidade, especialmente para as populações mais pobres em áreas urbanas e rurais.
vi. Risco de perda de meios de subsistência e renda nas áreas rurais resultante do acesso insuficiente à
água potável para irrigação, com redução da produtividade agrícola, especialmente para os agricultores e pecuaristas com pouco capital e em regiões semiáridas.
vii. Risco de perda dos ecossistemas marinhos e costeiros, biodiversidade e recursos, funções e serviços
ecossistêmicos importantes para a subsistência das comunidades costeiras, especialmente para as comunidades pesqueiras nos trópicos e no Ártico.
viii. Risco de perda de ecossistemas terrestres e aquáticos, biodiversidade e recursos, funções e serviços
ecossistêmicos necessários para a subsistência.

Muitos riscos-chave apresentam desafios específicos para os países menos desenvolvidos e comunidades
vulneráveis dada a sua capacidade limitada para lidar com esta situação.

O aumento da magnitude de aquecimento eleva a probabilidade de impactos graves, profundos
e irreversíveis. A combinação de alta temperatura e umidade comprometerá atividades humanas normais, incluindo o cultivo de alimentos ou trabalho ao ar livre em algumas áreas durante certas épocas do ano. Os níveis precisos de mudança climática suficiente para acionar pontos de ruptura (limiares de mudanças abruptas e irreversíveis) permanecem incertos, mas o risco presente em atravessar vários pontos de ruptura no sistema de terra ou nos sistemas humanos e naturais interligados aumenta significativamente com o
aumento da temperatura.

Os riscos globais dos impactos provocados por mudanças climáticas podem ser reduzidos pela
limitação da taxa e magnitude das mudanças climáticas. Reduzir a mudança climática também pode reduzir a
escala de adaptação que pode ser necessária. Sob todos os cenários analisados para adaptação e mitigação, algum risco de impactos adversos permanece.

B-2. Riscos setoriais e potenciais para Adaptação

Recursos de água doce

As projeções das mudanças climáticas amplificam os riscos já existentes relacionados ao clima e também criam novos riscos para os sistemas naturais e humanos. Alguns destes riscos serão limitados a um determinado setor ou região e outros terão efeitos em cascata. Em menor medida, as projeções da mudança climática também podem ter alguns benefícios potenciais.

Riscos relacionados à água doce aumentarão significativamente com as concentrações crescentes
de gases de efeito estufa. A fração da população mundial enfrentando escassez de água e a fração afetada por grandes inundações de rios aumentam com o nível de aquecimento no século 21.

A mudança do clima ao longo do século 21 é projetada para reduzir significativamente os recursos hídricos
renováveis, superficiais e subterrâneos, na maioria das regiões subtropicais secas, intensificando a competição por água entre os setores. Em regiões atualmente secas, a frequência das secas provavelmente vai aumentar até o final do século 21 sob o cenário. Em contraste, os recursos hídricos deverão aumentar em altas latitudes. A mudança climática deverá reduzir a qualidade da água não tratada e apresentar riscos à qualidade da água potável.

Uma grande parte de espécies tanto terrestres quanto de água doce encaram o aumento do risco de extinção sob as projeções das mudanças climáticas no século 21 e nos séculos seguintes; isso se justifica especialmente pela forma como as alterações climáticas interagem com outros fatores estressantes, como a modificação dos habitats, sobre-exploração, poluição e espécies invasoras. Aquelas que não conseguirem
se adaptar suficientemente rápido vão diminuir em abundância ou serão em grande parte extintas em
toda sua área de abrangência.

Sistemas costeiros e áreas baixas

Segundo o aumento do nível do mar projetado ao longo do século 21 e para os períodos seguintes, os sistemas costeiros e áreas baixas cada vez mais experimentarão impactos adversos, como submersão, inundações costeiras e erosão costeira. A população e os ativos
projetados para serem expostos aos riscos costeiros, bem como pressões humanas sobre os ecossistemas
costeiros, irão aumentar significativamente nas próximas décadas em consequência do crescimento populacional, do desenvolvimento econômico e da urbanização.

Sistemas marinhos

Por causa das mudanças climáticas projetadas para meados do século 21 e períodos seguintes, a redistribuição global de espécies marinhas e a redução da biodiversidade marinha em regiões sensíveis irão
desafiar o fornecimento sustentável de produtividade pesqueira e de outros serviços ambientais.

Segurança alimentar e sistemas de produção alimentar

Para as principais culturas (trigo, arroz e milho) em regiões tropicais e temperadas, as alterações
climáticas sem uma adaptação adequada deverão impactar negativamente a produção, embora alguns locais individuais possam ser beneficiados. A mudança climática deverá aumentar progressivamente a variabilidade interanual da colheita em muitas regiões. Estes impactos previstos deverão correr no contexto de rápido aumento da demanda de culturas agrícolas.

Todos os aspectos da segurança alimentar são potencialmente afetados pelas mudanças climáticas,
incluindo o acesso à alimentação e estabilidade dos preços.

Áreas urbanas

Muitos dos riscos globais das mudanças climáticas estão concentrados em áreas urbanas. Os passos para construir resiliência e permitir o desenvolvimento sustentável podem acelerar a adaptação bem sucedida à mudança climática global. Estresse por calor,
precipitações extremas, inundações costeiras e no interior, deslizamentos de terra, poluição do ar, seca e escassez de água representam riscos em áreas urbanas para as pessoas, bens, economias e ecossistemas. Os riscos são maiores para aqueles que não possuem infraestrutura e serviços essenciais ou que vivem em moradias de baixa qualidade e em áreas expostas.

Áreas rurais
Setores-chave na economia e serviços
Os principais impactos rurais futuros são esperados a curto prazo e vão além de impactos sobre a
disponibilidade de água e de alimentação, a segurança alimentar e os rendimentos agrícolas. São incluídas
na projeção as mudanças nas áreas de produção de culturas alimentares e não alimentares em
todo o mundo (alta confiança). Estima-se que esses impactos afetarão desproporcionalmente o bem-estar
dos pobres em áreas rurais, tais como famílias chefiadas por mulheres e aqueles com acesso limitado à terra,
além do acesso a insumos agrícolas modernos, infraestrutura e educação. Outras adaptações para agricultura, água, florestas e biodiversidade podem ocorrer por meio de políticas que levem em conta os contextos de tomada de decisão no meio rural. Melhorias no comércio e investimentos podem incrementar o acesso ao mercado para a agricultura de pequena escala.

Setores-chave na economia e serviços

Os principais impactos rurais futuros são esperados a curto prazo e vão além de impactos sobre a
disponibilidade de água e de alimentação, a segurança alimentar e os rendimentos agrícolas. São incluídas
na projeção as mudanças nas áreas de produção de culturas alimentares e não alimentares em
todo o mundo. Estima-se que esses impactos afetarão desproporcionalmente o bem-estar dos pobres em áreas rurais, tais como famílias chefiadas por mulheres e aqueles com acesso limitado à terra, além do acesso a insumos agrícolas modernos, infraestrutura e educação. Outras adaptações para agricultura, água, florestas e biodiversidade podem ocorrer por meio de políticas que levem em conta os contextos de tomada de decisão no meio rural. Melhorias no comércio e investimentos podem incrementar o acesso ao mercado para a agricultura de pequena escala. Para a maioria dos setores da economia, os impactos de variáveis, tais como mudanças na estrutura populacional, renda, tecnologia, preços relativos, estilo de vida, regulamentação e governança prevêem grande repercussão em relação aos impactos da mudança climática. A mudança climática é projetada para reduzir a demanda de energia para aquecimento e aumentar a demanda de energia para refrigeração nos setores residencial e comercial. A mudança climática deverá afetar as fontes e tecnologias de energia de maneiras diferentes, dependendo dos recursos (o fluxo de água, vento e insolação, por exemplo), processos tecnológicos (refrigeração, por exemplo) ou locais (as regiões
costeiras e planícies de inundação, por exemplo) envolvidos. Eventos do clima mais severos e/ou
frequêntes e/ou desastres prevêem aumento e perda da variabilidade em várias regiões, desafiando os
sistemas de seguridade a oferecer uma cobertura acessível ao levantar mais capital baseado em risco,
particularmente em países em desenvolvimento. Iniciativas público-privadas de redução de risco em
larga escala e diversificação econômica são exemplos de ações de adaptação.

Os impactos econômicos globais devido a mudanças climáticas são difíceis de estimar. Estimativas de impactos econômicos concluídas ao longo dos últimos 20 anos variam em sua cobertura de subconjuntos
de setores econômicos e dependem de um grande número de suposições, muitas das quais são
discutíveis, e muitas estimativas não levam em conta as mudanças catastróficas, pontos de inflexão, e muitos
outros fatores.

Saúde humana

Até a metade do século 20, as alterações climáticas previstas impactarão a saúde humana, principalmente
ao exacerbar os problemas de saúde que já existem. Ao longo do século 21, espera-se que a mudança climática leve a aumento nos problemas de saúde em muitas regiões e, especialmente, nos países em desenvolvimento e de baixa renda em relação a um cenário de linha de base, sem a mudança climática. Exemplos incluem uma maior probabilidade de lesão, doença e morte devido a ondas de calor mais intensas e incêndios; aumento da probabilidade de subnutrição resultante da diminuição na produção de alimentos em regiões pobres; riscos de perder a capacidade e produtividade de trabalho em populações vulneráveis; e aumento dos riscos de doenças transmitidas pela água e doenças transmitidas por vetores.

SEGURANÇA HUMANA

Segundo a projeção, a mudança do clima ao longo do século 21, aumentará o deslocamento de pessoas e
populações (evidência média, alta concordância). O risco de deslocamento aumenta quando as populações
que não têm recurso e experiência para uma migração planejada apresentam uma maior exposição a eventos climáticos extremos, tanto em áreas rurais como em áreas urbanas, especialmente nos países em desenvolvimento de baixa renda.

A mudança climática pode indiretamente aumentar os riscos de conflitos violentos na forma de guerra
civil e violência intergrupos, ampliando os vetores bem documentados desses conflitos, como a pobreza e
choques econômicos. Múltiplas linhas de evidência relacionam a variabilidade climática a
estas formas de conflito.

Os impactos das mudanças climáticas sobre a infraestrutura crítica e integridade territorial de muitos
estados são esperados para influenciar as políticas de segurança nacional. Por exemplo, inundação de terras por causa da elevação do nível do mar implicaria em riscos para a integridade territorial dos países insulares, pequenas ilhas e países com extensa zona litorânea. Alguns impactos trans-fronteiras das alterações climáticas, tais como mudanças nas calotas de gelo marinho, recursos hídricos compartilhados e populações de peixes pelágicos, têm o potencial de aumentar a rivalidade entre as regiões e nações. No entanto, instituições nacionais e intergovernamentais representativas podem reforçar a cooperação e
gerenciar muitas dessas rivalidades.

Pobreza e meios de subsistência

A previsão, ao longo do século 21, é que os impactos das mudanças climáticas desacelerem o crescimento
econômico, tornando mais difícil a redução da pobreza, evidenciando a diminuição da segurança alimentar
e criando e/ou prolongando novas situações de pobreza, particularmente em áreas urbanas e focos
emergentes de fome. É esperado que os impactos das mudanças climáticas exacerbem as situações de pobreza na maioria dos países em desenvolvimento, criando novos bolsões de miséria em países com desigualdade crescente.

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8
Q

Seção C: Gerenciando riscos futuros e construindo resiliência

A

Seção C considera os princípios para uma adaptação efetiva e as interações entre adaptação, mitigação e
desenvolvimento sustentável.

[FIGURA SPM 8]

C-1. Princípios para uma Adaptação efetiva

As ações de adaptação são específicas para um determinado lugar e contexto, não existindo uma abordagem única adequada para reduzir os riscos em todas as situações. As estratégias eficazes de redução de riscos e adaptação devem considerar a dinâmica da vulnerabilidade e da exposição e suas ligações com os processos socioeconômicos, o desenvolvimento sustentável e a mudança climática.

O planejamento e implementação da adaptação podem ser reforçados através de ações complementares em
todos os níveis, desde os indivíduos até os governos. Os governos nacionais podem coordenar os esforços de adaptação dos governos locais e subnacionais implementando, por exemplo, a proteção de grupos vulneráveis através do apoio à diversificação econômica e fornecendo informações, políticas, marcos legais e apoio financeiro.

Um primeiro passo para a adaptação às futuras mudanças climáticas é reduzir a vulnerabilidade e exposição à variabilidade climática atual. As estratégias incluem ações com cobenefícios para outros objetivos.
Estratégias e ações disponíveis podem aumentar a resiliência através de uma gama de possíveis cenários climáticos futuros ajudando a melhorar a saúde humana, os meios de vida, o bem-estar social e econômico e a qualidade ambiental.

O planejamento e a implementação da adaptação em todos os níveis de governança são contingentes em valores sociais, objetivos e percepções de risco. O reconhecimento da diversidade de interesses, circunstâncias, contextos socioculturais e expectativas podem beneficiar os processos de tomada de decisão. Sistemas e práticas de conhecimento indígena locais e tradicionais, além da visão holística dos povos indígenas da comunidade e do meio ambiente, são um grande recurso para a adaptação às alterações climáticas, mas estes não foram usados de forma consistente em esforços de adaptação já existentes.

O suporte à tomada de decisão é mais eficaz quando ela é sensível ao contexto e à diversidade de decisões possíveis e processos de decisão. Organizações que fazem a ponte entre a ciência e o processo de tomada de decisões, incluindo os serviços de clima, desempenham um papel importante na comunicação,
transferência e desenvolvimento de conhecimentos relacionados com o clima, além de tradução, engajamento e intercâmbio de conhecimentos.

Instrumentos econômicos existentes podem acelerar a adaptação pelo fornecimento de incentivos para antecipar e reduzir impactos. Nesses instrumentos estão incluídos as parcerias de financiamento público-privado,
empréstimos, pagamentos por serviços ambientais, precificação adequada de recursos, multas e subsídios,
regulações e normas, mecanismos de compartilhamento e transmissão de riscos.

Barreiras podem interagir entre si para impedir o planejamento e implementação da adaptação. Barreiras comuns de implementação aparecem nas seguintes situações: recursos humanos e financeiros limitados;
limitações na integração ou coordenação da governança; incertezas sobre os impactos projetados; percepções diferenciadas de riscos, valores conflitantes, ausência de lideranças e ferramentas limitadas para monitorar a eficiência do processo de adaptação.

Planejamento limitado dando ênfase excessiva aos objetivos de curto prazo ou falhando em antecipar as
consequências pode resultar em má adaptação.
A má adaptação pode aumentar a vulnerabilidade ou exposição do grupo alvo no futuro ou, ainda, a vulnerabilidade de outros povos, lugares ou setores. Algumas respostas de curto prazo aos riscos relacionados à mudança do clima podem também limitar escolhas futuras.

Evidências limitadas indicam um hiato entre as necessidades globais de adaptação e os recursos disponíveis necessários. Existe a necessidade de se avaliar de maneira mais adequada os custos
globais de adaptação, financiamento e investimento. Estudos que estimam os custos globais de adaptação são caracterizados por limitações nos dados, métodos e abrangência.

Significantes cobenefícios, sinergias e conflitos (tradeoffs) existem entre mitigação e adaptação, e também entre diferentes respostas adaptativas; interações ocorrem tanto intra como entre regiões. Os esforços cada vez maiores para mitigação e adaptação à mudança do clima implicam numa complexidade
crescente de interações, particularmente nas interseções entre água, energia, mudança no uso da terra e biodiversidade; no entanto, as ferramentas para entender e gerenciar essas interações continuam limitadas.

C-2. Caminhos resilientes ao clima e transformação

As perspectivas para os caminhos resilientes ao clima e para o desenvolvimento sustentável estão
relacionadas fundamentalmente com a condição de que o mundo cumpra com a mitigação das
mudanças climáticas. Uma vez que as atividades de mitigação reduzem a taxa e a magnitude do aquecimento global, elas também aumentam o tempo disponível para a adaptação a um
determinado nível de mudanças climáticas potencialmente por várias décadas. Atrasar as ações de mitigação pode reduzir as opções de caminhos resilientes ao clima no futuro.

As maiores taxas e magnitude das mudanças climáticas aumentam a probabilidade de exceder os
limites de adaptação. O limite para a adaptação ocorre quando as ações de adaptação que evitam riscos intoleráveis para os objetivos de um ator ou para as necessidades de um sistema não são possíveis ou não estão disponíveis no momento. Julgamentos com base em valores sobre o que constitui um risco intolerável podem ser diferentes. Limites à adaptação emergem da interação entre as mudanças climáticas e biofísica e/ ou supressão socioeconômicas.

Transformações nas decisões e ações econômicas, sociais, tecnológicas e políticas podem ativar
vias resilientes ao clima. Estratégias e ações que irão avançar as vias resilientes ao clima para o desenvolvimento sustentável e, ao mesmo tempo, ajudar a melhorar os meios de vida e bem-estar social, econômico e de gestão ambiental responsável podem ser perseguidas agora.

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