Aula 13 - Tipos de Metodologias Qualitativas Flashcards

1
Q

1 Pesquisa qualitativa: histórico e características

A

Quanto à diferença entre método e técnica, pode-se dizer que o método envolve uma filosofia de trabalho e um referencial teórico, enquanto que a técnica se volta para os procedimentos, que podem ser de campo, de laboratório ou documental.
Com relação às características da pesquisa qualitativa, são destacadas as seguintes.

1.1 Ambiente natural como fonte direta de dados - pesquisador como instrumento fundamental

Na abordagem qualitativa, a pesquisa dá-se no ambiente natural, ou seja, o contexto da pesquisa é não controlado e os dados são colhidos de forma direta. Nesse sentido, “valoriza- se o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo estudada”.
Assim, os dados colhidos têm uma origem natural e são consultados pelo pesquisador diretamente no local.

1.2 A pesquisa qualitativa é descritiva

Em outras palavras, o que importa não são dados numéricos, mas a redação, ou seja, o registro da língua escrita por meio da transcrição da fala dos sujeitos, a descrição de situações, a avaliação e a análise de documentos ou referenciais teóricos. Embora haja casos em que a linguagem pode ser bem técnica, as entrevistas podem adotar uma linguagem muito mais informal e menos técnica. Ao invés de ater-se a fragmentos da realidade dissecados sob o microscópio, privilegia-se a visão do todo da realidade, que é tão complexa que não pode ser reduzida a números e estatísticas.
1.3 Foco no significado dado às coisas e à vida
Há um foco muito maior na percepção interna, subjetiva e invisível e na comparação de percepções do que no resultado de medições objetivas, visíveis e externas. A realidade é mais interpretada do que medida. Daí a importância da capacidade de análise crítica do pesquisador. Não que ela não seja importante também na pesquisa quantitativa, mas, na qualitativa, ela forma a base da investigação.
Uma pesquisa qualitativa é, assim, o exercício de tradução e expressão do sentido da realidade que se manifesta em fenômenos complexos. Ela está mais interessada no conteúdo simbólico dos dados da realidade e no processo de sua obtenção e manifestação do que nos dados numéricos.

1.4 Enfoque indutivo na análise de dados

Os quadros teóricos são construídos aos poucos, a partir da realidade percebida, de baixo para cima, de maneira indutiva, e não a partir de suposições e hipóteses, de forma dedutiva, como nas pesquisas quantitativas.
Godoy (1995) conclui que a pesquisa qualitativa sempre se torna uma opção viável segundo a natureza do problema a ser investigado, que pode ser: uma questão sobre a qual ainda há pouca investigação e mais incertezas do que certezas, em que se pretende fazer uma pesquisa exploratória; a busca da compreensão de um fenômeno em sua totalidade e não em suas partes; e a busca da compreensão de relações entre aspectos subjetivos de uma realidade, que podem ser éticos, sociais, culturais etc.

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2 Prós e contras da abordagem qualitativa

A

Tanto o método quantitativo quanto o qualitativo têm os seus prós e contras. Entre os aspectos problemáticos do qualitativo, estão os da própria linguagem, já que se lida com relatos, argumentos, depoimentos, memórias e outros gêneros narrativos e descritivos. Então, a qualidade e a confiabilidade das pesquisas qualitativas dependem, em grande parte, da habilidade do pesquisador e de sua equipe de lidar com textos e com a linguagem em geral.
Outro problema é a objetividade desejável, que é importante em qualquer análise, mas se agrava na qualitativa pela sua ênfase maior na subjetividade, o que pode levar a imprecisões, vieses e distorções.
Uma forma de tratamento desse tipo de problema, principalmente o linguístico e o de redação, é a revisão cuidadosa de registros e transcrições, o que torna a pesquisa qualitativa mais trabalhosa e, portanto, mais demorada e custosa do que a quantitativa.
O fato de ter-se mais trabalho para tornar os dados comparáveis torna a pesquisa qualitativa não apenas mais demorada e custosa, mas, também, mais sujeita a erros de interpretação.
Por outro lado, a pesquisa qualitativa, embora seja bem menos precisa e objetiva, é mais confiável porque retrata a realidade de uma forma mais completa e complexa, pois leva em conta o elemento humano. Assim, precisamente o que parece uma desvantagem e um problema da pesquisa qualitativa é o seu ponto forte se o objetivo é compreender melhor o mundo e as suas relações com o homem e com a sociedade e a cultura.

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Q

3 Tipos de metodologia de pesquisa qualitativa

A

3.1 Pesquisa participante

Um tipo de investigação de caráter eminentemente humano é a pesquisa participante, que se caracteriza pela inclusão dos indivíduos pesquisados em todo o processo de construção da pesquisa, desde o seu projeto.
Há outros estudos, mais estruturados, em que os pesquisadores também intervêm no cotidiano dos profissionais e, portanto, precisam de sua colaboração ativa na pesquisa. Nesse tipo de investigação, como na pesquisa-ação, que veremos a seguir, o pesquisador também deixa de ter um papel neutro para envolver-se plenamente no desenrolar dos acontecimentos pesquisados, com a diferença de que não necessariamente são propostas e executadas soluções para os problemas levantados.

3.2 Pesquisa-ação

A pesquisa-ação, que é muito parecida com a pesquisa participante, é definida de forma semelhante por Reis (2015) e Casarin e Casarin (2011), que a consideram feita por pesquisadores interessados em analisar o seu próprio campo de ação, com o objetivo de intervir sobre ele de forma transformadora.
É preciso destacar a forte parceria que deve existir entre pesquisador e pesquisado, denominado também de partícipe. Nesse tipo de investigação, o objetivo é definido junto ao partícipe; muitas vezes, este é quem solicita a pesquisa para tentar compreender sua realidade e solucionar determinado problema. O partícipe possui tarefas, assim como o pesquisador, embora elas sejam diferentes.

3.3 Pesquisa etnográfica

Já a pesquisa etnográfica também pode ser participante ou um estudo de caso, mas tem a peculiaridade de focar em aspectos culturais do grupo principal a ser observado. A técnica mais usada nesses casos é a observação participante, que descreverei mais adiante. A pesquisa etnográfica também tem a particularidade de buscar uma intervenção não intencional, espontânea, mas consciente do grau e dos limites dessa intervenção. Esse tipo de pesquisa, portanto, envolve uma grande quantidade de dados descritivos, que dizem respeito a aspectos etnográficos, que passam, com frequência, para momentos de análise. Há, assim, uma constante interação entre a teoria e a prática observada, aplicando grande variedade de técnicas de observação.

3.4 Análise documental

Como o próprio nome diz, análise documental é o estudo de documentos dos mais diversos.
[QUADRO 1]
O documento, mesmo que, por muitas vezes, seja pouco usado e valorizado nas investigações, pode ser um testemunho precioso dos acontecimentos, principalmente na compreensão do contexto dos fatos e fenômenos. Uma de suas maiores vantagens é que pode permitir um situar-se no tempo e no espaço e, assim, proporcionar uma obtenção de uma ideia de evolução dos acontecimentos.
Mas o documento não se justifica por si só. Para que se possa extrair o máximo de informações dele, é preciso ter uma fonte principal e uma fonte paralela, com as quais possa comparar e contextualizar os dados contidos nos documentos, e que precisam ser facilmente identificáveis, datáveis, localizáveis, avaliáveis e organizáveis.
Portanto, a pesquisa documental pode ser interpretada como método de investigação baseada em documentos, bem como técnica de intervenção sobre os materiais que servem de base para uma investigação que adota outra metodologia como diretriz principal.
A finalidade também é diferente. Enquanto o método bibliográfico é mais utilizado para a elaboração do referencial teórico do trabalho, o documental faz parte do desenvolvimento do trabalho.
Antes da análise do documento, é preciso levar em conta seu contexto de origem, histórico, social, psicológico, cultural, seu(s) autor(es), sua autenticidade e legitimidade, sua natureza, seu conteúdo e sua lógica de constituição.
A análise de conteúdo pode ser feita a partir do destaque de palavras e expressões e frases-chave, até a quantificação de expressões repetidas e a decomposição do documento em categorias gramaticais, a segmentação em unidades e partes menores, até a análise dos conteúdos implícitos e ocultos.
Outra parte importante dessa metodologia é o registro dos resultados, que pode ser feito em simples anotações, sínteses, quadros, esquemas e diagramas em que as categorias de análise, tipologias e os segmentos são quantificados e comparados para posterior discussão.

3.5 Observação participante

Como toda pesquisa qualitativa, esta tem, por objetivo, a descrição de uma situação ou um fenômeno, focando mais nos processos e nas relações entre eles e subjacentes a eles do que nos resultados. Como no caso da pesquisa participante, a observação participante também envolve muitas interações entre o pesquisador e os sujeitos observados, mas de forma mais inserida no cotidiano e na vida da comunidade e, normalmente, as observações são registradas depois da experiência e situação da qual o pesquisador participou, o que torna o problema da objetividade ainda mais complicado. Por isso, mais do que outras metodologias, essa necessita de um planejamento minucioso e cuidadoso a fim de minimizar os elementos subjetivos.
De acordo com Souza, Kantorski e Luis (2011), nesse tipo de metodologia, o pesquisador participa como se fosse um dos pesquisados, o que traz a vantagem de fazer com que ele perceba mais diretamente o mundo simbólico, o contexto da situação e a “ocorrência espontânea do fenômeno”.

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