Aula 1 Flashcards

(48 cards)

1
Q

Qual foi a primeira punição por maus-tratos contra criança na história?

A

❖ Caso Mary Ellen Wilson (EUA – 1874)

❖ Filha de imigrantes Irlandeses – pai falece na guerra civil e a mãe é forçada a trabalhar.

❖ Diante da inadimplência da mãe, a babá leva Mary Ellen para uma entidade de crianças abandonadas.

❖ Adotada.

❖ Sofre maus-tratos por parte dos pais adotivos, os Connelly (desnutrição e agressões físicas e psicológicas).

❖ Etta Angell, missionária metodista, constata os maus tratos, mas não obtém êxito em suas denúncias, tendo em vista que a criança era vista como direito de propriedade dos pais.

❖ Etta Angell recorre à Sociedade Americana para a Prevenção da Crueldade contra os Animais (Herny Bergh).

❖ Ao sustentar oralmente em favor de Mary Ellen, Bergh afirmou que: “[…] represento a American Society for the Prevention of Cruelty to Animals - ASPCA. Essa criança é um animal, um animal humano. Se não há justiça para ela como criança, então pelo menos a protejamos como devemos proteger um animal que vive nas ruas […].”

❖ Consequência: primeira punição por maus-tratos contra criança da história.

❖ O episódio envolvendo Mary Ellen serviu também para motivar a fundação da primeira organização destinada a proteger legalmente os direitos das crianças nos Estados Unidos da América, criada por Henry Bergh e Elbridge Gerry, intitulada “Sociedade Protetora da Crianças” (SPCC), em 1874.

❖ No seu primeiro ano de atuação, investigou mais de trezentos casos relacionados ao abuso infantil e ajudou a introduzir legislação específica para proteger e punir os maus tratos.

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2
Q

Explique as quatro características gerais do tratamento dado a crianças e adolescentes, em âmbito internacional, até o final do século XIX.

A
  • As crianças eram tidas como direito de propriedade dos pais;
  • Crianças como meio de produção;
  • A educação não era um dever da família;
  • Os maus-tratos eram socialmente tolerados.
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3
Q

Quais foram os dois fatores conjunturais principais que levaram a uma mudança no tratamento das crianças e adolescentes no início do século XX?

A

1) Descontentamento da classe operária com as condições de trabalho; o que acabou gerando também um descontentamento com as condições de tratamento de crianças e adolescentes.

2) Os horrores das duas grandes guerras mundiais, implicando em um significativo aumento no número de crianças e adolescentes órfãos, caracterizando um problema no contexto mundial.

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4
Q

Explique as características principais da Declaração de Genebra – Carta da Liga sobre a Criança, de 1924.

A

➢ Declaração de Genebra – Carta da Liga sobre a Criança, de 1924

  • Primeiro instrumento internacional voltado especificamente à proteção da criança: essa declaração não traz especificamente o termo “adolescente”, na esfera internacional a regra é a utilização do termo “criança” para todos os indivíduos menores de 18 anos;
  • Soft law: não tem força de norma, é mais uma declaração de interesses, de intenções;
  • Reconhece a VULNERABILIDADE da criança: o que justifica a proteção especial;
  • Prevê o desenvolvimento material e espiritual das crianças;
  • Estabelece a prioridade de atendimento em tempos de dificuldades;
  • Abrange uma série de aspectos da vida da criança (alimentação, convivência familiar, primazia de socorro);
  • Crianças como objeto de proteção. Não é um sujeito de direitos, é apenas OBJETO DE PROTEÇÃO.
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5
Q

Explique as características principais da Declaração dos Direitos da Criança (ONU, 1959)

A
  • Mudança de paradigma: criança como sujeito de direitos (inaugura a doutrina da PROTEÇÃO INTEGRAL).
  • Instrumento de soft law, com forte conteúdo ético, moral e humanista.
  • Princípio da UNIVERSALIZAÇÃO (proteção a todas as crianças, não apenas àquelas em situação irregular
  • Princípio do INTERESSE SUPERIOR da criança
  • Princípio da PRIORIDADE;
  • Direito ao nome e à nacionalidade;
  • Direito à assistência social;
  • Direito à CONVIVÊNCIA FAMILIAR;
  • Direito à EDUCAÇÃO - obrigatória e gratuita, pelo menos nos anos iniciais;
  • Direito à proteção contra o abandono e a exploração no trabalho.
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6
Q

O que é a doutrina da proteção integral?

A
  • crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, permitindo a oposição até mesmo aos seus responsáveis legais;
  • abrange todas as necessidades do ser humano para o pleno desenvolvimento de sua personalidade;
  • abrange os direitos humanos dos adultos + direitos especiais (ex. direito de brincar), independentemente de sua condição (ou seja, não apenas aqueles que se encontram em situação de delinquência ou carência de recursos).
  • toda criança e adolescente passa a fazer jus aos direitos reconhecidos internacionalmente.
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7
Q

Explique as características principais das Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça Juvenil (Regras de Beijing ou de Pequim, 1985)

A

➢ Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça Juvenil (Regras de Beijing ou de Pequim, 1985)

  • Foco: situações de julgamento de crianças por ilícitos penais;
  • Especialização da Justiça da Infância;
  • Existência de uma polícia especializada;
  • Garantias processuais básicas: juiz imparcial e ampla defesa;
  • Possibilidade de concessão de remissão;
  • EXCEPCIONALIDADE da internação provisória;
  • BREVIDADE das medidas restritivas de liberdade.
  • Os registros de jovens infratores não serão utilizados em processos de adultos em casos subsequentes que envolvam o mesmo infrator. Não pode juntar a processo criminal a ficha de antecedentes infracionais do adulto.
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8
Q

Explique as características principais da Convenção Sobre os Direitos da Criança (ONU, 1989)

A

Esta convenção foi ratificada pela quase totalidade dos Estados-membros das Nações Unidas (196 países), com a exceção dos Estados Unidos da América.

É composta de um preâmbulo, seguido por 54 artigos.

– A criança é definida como todo ser humano com menos de 18 anos de idade, a não ser que, pela legislação nacional, a maioridade seja atingida mais cedo

– Reconhece a condição peculiar de SER HUMANO EM DESENVOLVIMENTO

– Criança como SUJEITO DE DIREITOS (permitindo a intervenção do Estado em face dos próprios pais), que exige PROTEÇÃO ESPECIAL e absoluta PRIORIDADE

– Direito a expressar sua opinião e de ser ouvida

– Não discriminação

  • O Estado tem obrigação de proteger a criança contra todas as formas de discriminação e de tomar medidas positivas para promover os seus direitos
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9
Q

No que consiste o sistema de controle do cumprimento das regras da Convenção Sobre os Direitos da Criança (ONU, 1989)?

A

EXISTÊNCIA DE UM COMITÊ SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA

  • Examina relatórios encaminhados pelos Estados-Partes (“prestações de contas” em relação ao cumprimento da Convenção encaminhados pelos Estados-Partes);
  • Expede recomendações quando constatar o descumprimento de alguma diretriz
  • Direito de petição individuais em caso de violação (inclusive pela própria criança) - A partir do protocolo facultativo de 2011 (Genebra)
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10
Q

Quais são os três protocolos facultativos da Convenção Sobre os Direitos da Criança (ONU)?

A
  • Protocolo Facultativo sobre a venda de crianças, prostituição infantil e pornografia infantil (2000)
  • Protocolo Facultativo sobre o Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados (2000)
  • Os dois protocolos acima não inovam no sistema de controle, prevendo apenas os relatórios/recomendações por meio dos comites.
  • Protocolo Facultativo relativo aos procedimentos de comunicação, denúncias ou petições individuais
  • Aprovado em Genebra, 19.12.2011.
  • Inova no sistema de controle, estabelecendo o direito de petições individuais: permite a apresentação de queixas por particulares que se sintam vítimas de violação de qualquer dos direitos previstos na Convenção ou seus Protocolos Facultativos, inclusive pela própria criança (ex. criança torturada pode solicitar a apuração dos fatos).
  • Estabelece o sigilo dos denunciantes.
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11
Q

A Convenção Sobre os Direitos da Criança (ONU, 1989) foi ratificada pelo Brasil?

E os seus protocolos facultativos?

A

Sim, a convenção e os protocolos facultativos foram ratificados pelo Brasil.

  • A Convenção sobre os Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 20/11/1989, foi ratificada pelo Brasil em 24/09/1990.
  • Os Dois primeiros Protocolos Facultativos à Convenção - sobre a Venda de Crianças, Prostituição e Pornografia Infantil e sobre o Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados, ambos de 25 de maio de 2000 - foram ratificados pelo Brasil em 27 de janeiro de 2004.
  • O terceiro protocolo facultativo foi ratificado pelo país em 29 de setembro de 2017.
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12
Q

Explique as características principais da Convenção sobre os aspectos civis do sequestro internacional de crianças (1980).

A

– Ratificada pelo Brasil em 1999.

– Aplica-se apenas aos menores de 16 anos.

– Possui como objetivos (art. 1º):

a) Assegurar o retorno imediato de crianças ilicitamente transferidas para qualquer Estado Contratante ou nele retidas indevidamente;

b) Fazer respeitar, de maneira efetiva, os direitos de guarda e de visita existentes num Estado Contratante.

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13
Q

Há conflito de competência entre (i) o juízo federal no qual tramite ação de busca e apreensão da criança ajuizada pelo genitor e fundada na Convenção sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças e (ii) o juízo estadual de vara de família que aprecie ação ajuizada pela genitora que verse sobre o fundo do direito de guarda?

A

Não, não há conflito de competência, conforme decidiu a Segunda Seção do STJ em 2015 - Info 559.

A competência para aplicação da Convenção sobre os aspectos civis do sequestro internacional de crianças é da Justiça Federal.

Porém, a competência para dirimir questões relativas ao direito de guarda, à luz das normas domésticas, é do juiz estadual.

O STJ entende que o processo da justiça estadual deve ser suspenso até a solução final da demanda ajuizada na justiça federal.

No caso em que criança tenha sido supostamente retida ilicitamente no Brasil por sua genitora, não haverá conflito de competência entre (a) o juízo federal no qual tramite ação de busca e apreensão da criança ajuizada pelo genitor e fundada na Convenção sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças e (b) o juízo estadual de vara de família que aprecie ação ajuizada pela genitora que verse sobre o fundo do direito de guarda. Diante da prejudicialidade externa à ação ajuizada na Justiça Estadual, deve- se promover a suspensão deste processo até a solução final da demanda ajuizada na Justiça Federal

(STJ. 2ª Seção. CC 132.100-BA, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 25/2/2015 - Info 559).

» Em suma, o juízo federal que aprecia a ação de busca e apreensão não irá examinar quem tem direito à guarda, mas tão somente se é devida ou não a restituição.

» Se o juízo federal deferir a restituição da criança ao país de origem, será no país de destino que se decidirá a respeito do direito de guarda.

» De outro modo, caso seja indeferido o pleito de restituição, a decisão sobre a guarda será do juízo da Vara (Estadual) de Família no Brasil.

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14
Q

De quem é a competência para o julgamento de questões relacionadas à guarda e pedido de visitas?

A

A competência para o julgamento de questões relacionadas à guarda e pedido de visitas é do local de RESIDÊNCIA HABITUAL DA CRIANÇA.

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15
Q

Atos infracionais podem servir para caracterizar reincidência ou maus antecedentes?

Podem ser utilizados como argumento para decretação de prisão preventiva?

A

O STJ entende que os atos infracionais não podem servir para caracterizar reincidência ou maus antecedentes. Contudo, podem ser utilizados como argumento para a decretação da prisão preventiva como garantida da ordem pública (Informativo 554).

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16
Q

Explique as características principais das Diretrizes das Nações Unidas para a prevenção da delinquência juvenil (Diretrizes de Riad – ONU, 1990)

A

▪ Objetivo: prevenção da prática de atos infracionais (ex. fortalecimento da família, direito à educação, dentre outras).

▪ Princípio da normalidade dos desvios de conduta (Juarez Cirino): as condutas desviadas são naturais em crianças e adolescentes, sendo superadas naturalmente, sem que seja necessária a internação

▪ Reconhecimento do fato de que o comportamento dos jovens que não se ajustam aos valores e normas gerais da sociedade são, com frequência, parte do processo de amadurecimento e que tendem a desaparecer, espontaneamente, na maioria das pessoas, quando chegam à maturidade.

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17
Q

Explique as características principais da Convenção relativa à proteção das crianças e cooperação em matéria de adoção internacional (1993)

A

▪ Incorporada ao ordenamento nacional pelo Decreto n° 3.087/99.

▪ Objetivos:

– Estabelece garantias para que as adoções internacionais sejam feitas segundo o INTERESSE SUPERIOR da criança e em respeito aos direitos humanos;

– Instaura um sistema de cooperação entre os Estados que assegura o respeito às garantias, prevenindo o SEQUESTRO, a venda ou o TRÁFICO de crianças;

– Assegura o reconhecimento nos Estados Contratantes das adoções realizadas segundo a Convenção.

❖ Obs. O reconhecimento de uma adoção só poderá ser recusado em um Estado Contratante se a adoção for manifestamente contrária à sua ordem pública, levando em consideração o interesse superior da criança. De acordo com a convenção, em regra não será possível que os Estados deixem de reconhecer a adoção ocorrida, levando em consideração o superior interesse da criança!

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18
Q

Qual o status no Brasil (bloco de constitucionalidade ou norma supralegal) das convenções e protocolos sobre direito das crianças e adolescentes?

A

Como não houve o procedimento/quórum de Emendas Constitucionais (3/5 dos membros em cada casa em dois turnos), as convenções e os protocolos têm status de normas supralegais.

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19
Q

Quais são as 4 fases do direito da criança e do adolescente no Brasil?

A

1) Indiferença

2) Imputação Criminal

3) Tutelar - Código Mello Mattos de 1927 e Código de Menores de 1979

4) Proteção integral - Estatuto da Criança e do Adolescente

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20
Q

Explique a chamada “fase da absoluta indiferença” no contexto da evolução do direito da criança e do adolescente no Brasil.

A

FASE DA ABSOLUTA INDIFERENÇA

Não havia proteção da criança e do adolescente.

Sujeitas exclusivamente ao PÁTRIO PODER (exercido exclusivamente pelo pai).

Eram consideradas OBJETOS, sem proteção estatal.

Aqui, iniciou a “RODA DOS ENJEITADOS” em que as crianças eram descartadas sem qualquer responsabilidade dos pais ou responsáveis.

Não existia qualquer diploma normativo específico regulamentando o direito das crianças e dos adolescentes.

21
Q

Explique a chamada “FASE DA MERA IMPUTAÇÃO CRIMINAL OU DO DIREITO PENAL DIFERENCIADO” no contexto da evolução do direito da criança e do adolescente no Brasil.

A

Havia referência a crianças e a adolescentes, mas inexistia qualquer tratamento protetivo destinado a eles.

As normas cuidavam apenas da imputação de acordo o Direito Penal.

Tanto o Código Criminal de 1830 quanto o Código Penal de 1890 previam idade diferenciada para punição (9 e 14 anos), além de estabelecimento prisional diferenciado.

22
Q

Explique a chamada “FASE TUTELAR” no contexto da evolução do direito da criança e do adolescente no Brasil.

A
  • Código de Mello Mattos (1927) e Código de Menores (1979)
  • Doutrina da SITUAÇÃO IRREGULAR
  • Infante como OBJETO DE PROTEÇÃO
  • Caráter assistencialista, não universal e discriminatório (binômio carência-deliquência)
  • Ampla concentração de poder no Juiz de Menores
  • Ausência de medida de apoio à família
  • Ausência de garantias processuais
  • Privilegiava a institucionalização ou a internação de menores
23
Q

Explique a chamada “FASE DA PROTEÇÃO INTEGRAL” no contexto da evolução do direito da criança e do adolescente no Brasil.

A
  • CF/88 e ECA/90
  • Infante como SUJEITO DE DIREITOS
  • Proteção UNIVERSAL/GLOBAL (fim da “situação irregular”)
  • Intervenção mínima do estado
  • Valorização de medidas de apoio à família
  • Garantias processuais ao infante e à sua família
  • Excepcionalidade das medidas de institucionalização ou internação
24
Q

Qual ente detém competência para legislar em matéria de proteção da criança e do adolescente?

A

De acordo com o art. 24, XV, da CF, a competência para legislar sobre a proteção aos direitos da criança e do adolescente é concorrente entre a União (normal geral), Estados e DF (normas específicas).

Como, segundo o art. 30, I, da CF, incumbe aos municípios legislar sobre assuntos de interesse local, a doutrina entende que os municípios também têm competência para legislar sobre a proteção à criança e ao adolescente, mas de forma restrita ao interesse local.

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

XV - proteção à infância e à juventude;

Art. 30. Compete aos Municípios:

I - legislar sobre assuntos de interesse local;

25
Explique, objetiva e sucintamente, no que consiste o SINASE.
O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) constitui-se de uma política pública destinada à promoção, proteção e defesa dos direitos humanos e fundamentais de adolescentes e jovens responsabilizados pela prática de ato infracional. O SINASE foi aprovado pela Resolução nº 119 do Conselho Nacional dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes, em 11 de dezembro de 2006 e regulamentado pela Lei nº 12.594 de 2012. Entende-se por SINASE o conjunto ordenado de princípios, regras e critérios que envolvem a execução de medidas socioeducativas, incluindo-se nele, por adesão, os sistemas estaduais, distrital e municipais, bem como todos os planos, políticas e programas específicos de atendimento a adolescente em cumprimento de medidas socioeducativas.
26
Quais são os direitos sociais mencionados pelo art. 6º da CF? Dica: São 11 E S A T M T L S P P A
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
27
A proteção à infância e à adolescência é um direito fundamental de qual geração?
A proteção à infância, por estar inserida estre os direitos sociais, é um direito fundamental de segunda geração, impondo ao Estado uma obrigação de fazer – direito prestacional. Sua implementação deve se dar através das políticas públicas.
28
O princípio da absoluta prioridade encontra-se expresso na Constituição?
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
29
As crianças e os adolescentes podem trabalhar? Se sim, em que condições?
- Menor de 14 anos: não pode trabalhar em nenhuma hipótese - Entre 14 e 16 anos: só pode trabalhar como aprendiz - Entre 16 e 18 anos: pode trabalhar, mas é proibido o trabalho insalubre, penoso e noturno
30
O § 4º do art. 227 da CF traz um mandado de criminalização. Qual é o seu teor?
Art. 227. [...] § 4º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente.
31
Qual é o conceito de família adotado pelo ECA?
“O conceito de "família" adotado pelo ECA é amplo, abarcando tanto a família natural (comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes) como a extensa/ampliada (aquela constituída por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade), sendo a affectio familiae o alicerce jurídico imaterial que pontifica o relacionamento entre os seus membros, essa constituída pelo afeto e afinidade, que por serem elementos basilares do Direito das Famílias hodierno devem ser evocados na interpretação jurídica voltada à proteção e melhor interesse das crianças e adolescentes.” (STJ - REsp 1911099/SP, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 29/06/2021, DJe 03/08/2021)
32
O art. 228 da CF dispõe serem "penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial". Trata-se de cláusula pétrea?
Tem-se uma garantia individual, o que não significa que não possa haver alteração do dispositivo. Não pode haver emenda tendente a abolir o núcleo essencial do art. 228, qual seja, a inimputabilidade penal do indivíduo que, em razão de sua idade, não reúne as condições necessárias para ser considerado penalmente capaz. A matéria é controversa.
33
O art. 228 da CF dispõe serem "penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial". Essa disposição gera três efeitos. Cite-os.
O art. 228, da Constituição, gera três efeitos. A pessoa que tenha idade inferior a 18 anos e que cometa crime ou contravenção estará sujeita a: 1) Lei especial (o ECA, independentemente do ato praticado); 2) Juízo especial (quem julga é o juiz da Vara da Infância e Juventude, o qual tem sua competência fixada pelo art. 148, do ECA); 3) Resposta estatal especial (medidas protetivas e/ou socioeducativas)
34
Segundo o ECA, quem é considerado criança e quem é considerado adolescente?
- Criança - Até 12 anos (incompletos) - Adolescente - Entre 12 (completos) e 18 anos Obs. O ECA inovou frente à Convenção de 1989, visto que esta não previa a distinção.
35
Às crianças são aplicáveis as medidas socioeducativas?
Não, apenas medidas protetivas. Aos adolescentes são aplicáveis medidas protetivas e socioeducativas.
36
Relativamente à colocação em família substituta, o ECA diferencia o tratamento a ser conferido a crianças e adolescentes?
Sim. A criança somente opina e o adolescente deve consentir. Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta Lei. § 1 o Sempre que possível, a criança ou o adolescente será previamente ouvido por equipe interprofissional, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as implicações da medida, e terá sua opinião devidamente considerada. § 2 o Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será necessário seu consentimento, colhido em audiência.
37
Explique as noções de "primeira infância" e "jovem".
Primeira infância: primeiros 6 anos completos ou 72 meses de vida da criança (art. 2º, da Lei 13.257/2016). Jovem: pessoa com idade entre 15 e 29 anos de idade (art. 1º, § 1º, da Lei 12.852/2013 - Estatuto da Juventude).
38
Na hipótese de conflito entre o ECA e o EJ, qual norma prevalece?
Na hipótese de conflito entre o ECA e o Estatuto da Juventude, prevalece a norma mais protetiva que, em regra, é o ECA. EJ, Art. 1º, § 2º Aos adolescentes com idade entre 15 (quinze) e 18 (dezoito) anos aplica se a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, e, excepcionalmente, este Estatuto, quando não conflitar com as normas de proteção integral do adolescente.
39
Para que se decida pela aplicabilidade ou não do ECA a uma conduta, deve-se considerar a teoria da atividade ou do resultado?
Teoria da atividade. Ex: adolescente que atira contra pessoa quando tinha 17 anos, mas a pessoa vem a falecer quando já completou 18 anos – incide o ECA Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei. Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do adolescente à data do fato..
40
Se o ato é praticado quando a pessoa é menor de 18 anos, é possível a execução de medida socioeducativa após a maioridade?
Sim, até os 21 anos. ECA: Art. 121, § 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade (internação). Art. 120, § 2º A medida não comporta prazo determinado aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à internação (semiliberdade). STJ, Súmula 605: “A superveniência da maioridade penal não interfere na apuração de ato infracional nem na aplicabilidade de medida socioeducativa em curso, inclusive na liberdade assistida, enquanto não atingida a idade de 21 anos.”
41
Segundo a lei do SINASE, caso um maior de 18 e menor de 21, em cumprimento de medida socioeducativa, venha a responder a processo-crime, o que ocorre com a execução da medida socioeducativa?
Lei 12.594/2012, art. 46, § 1º. “No caso de o maior de 18 (dezoito) anos, em cumprimento de medida socioeducativa, responder a processo-crime, caberá à autoridade judiciária decidir sobre eventual extinção da execução, cientificando da decisão o juízo criminal competente”. Esse dispositivo permite a extinção do processo em que há o cumprimento de medida socioeducativa pela prática de atos infracionais, quando o agente após completar 18 anos pratica e responde judicialmente por crime.
42
Há alguma situação em que o ECA incide para adultos?
Sim, no caso de adoção de maior de 18 anos. Art. 1.619 do CC: A adoção de maiores de 18 (dezoito) anos dependerá da assistência efetiva do poder público e de sentença constitutiva, aplicando-se, no que couber, as regras gerais da Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.
43
O que é um postulado normativo? Qual é o postulado normativo do direito da criança e do adolescente?
Um postulado normativo é uma norma sobre a aplicação de outras normas (metanorma) - Humberto Ávila No âmbito do direito da criança e do adolescente, o postulado normativo é o superior interesse da criança e do adolescente.
44
O que são metaprincípios? Quais são os metaprincípios no âmbito do direito da criança e do adolescente?
São princípios com supremacia sobre outros em determinado ramo do direito. No caso do direito da criança e do adolescente, tem-se os metaprincípios da proteção integral e da prioridade absoluta.
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Cite alguns exemplos de aplicação do postulado do interesse superior pelo STJ.
* Aplicação do princípio do interesse superior pelo STJ: (a) retratação do genitor biológico acerca do consentimento para adoção antes da sentença, mas a manutenção da criança com a família que buscava a adoção; (b) permanência de criança em ambiente familiar em vez de acolhimento institucional; (c) adoção por família não inscrita no cadastro de adoção quando existente vínculo afetivo consolidado; (d) restrição ao direito de visitação do pai ou mãe que não tenha a guarda do filho, em caso de risco à integridade física e emocional do infante; (e) mitigação do princípio da perpetuação da jurisdição em caso de mudança de endereço do infante; (f) manutenção do vínculo registral entre o filho e o pai (ações negatórias de paternidade) quando não comprovado o erro ou falsidade do registro de nascimento (art. 1.604 do CC); (g) possibilidade de adoção de neto por avós, desde que demonstrado o melhor interesse do infante. “É possível autorizar a adoção avoenga em situações EXCEPCIONAIS, mitigando a norma geral impeditiva contida no § 1º do artigo 42 do ECA” (STJ - REsp 1.587.477-SC). (h) mitigação do requisito da diferença mínima de 16 anos entre adotante e adotando, previsto no artigo 42, § 3º, do ECA - A diferença etária mínima de 16 anos entre adotante e adotado (art. 42, § 3º, do ECA) não tem caráter absoluto, sendo possível a sua relativização à luz do princípio da socioafetividade (STJ. 3ª Turma. REsp 1.785.754-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 08/10/2019 - Info 658).
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Cite as quatro funções garantistas do postulado do interesse superior da criança e do adolescente.
1 - Critério hermenêutico, ou seja, de interpretação das demais normas; 2 - Criação de deveres para o Poder Público – o Executivo deve adotar políticas públicas em prol de crianças e adolescentes e Legislativo devem aprovar diplomas que atendam ao interesse da categoria; 3 - Máxima operatividade e mínima restrição dos direitos das crianças e dos adolescentes; 4 - Conformadora do exercício do poder familiar – o poder familiar deve atender ao superior interesse da criança e do adolescente.
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O artigo 4º do ECA traz um rol não taxativo de QUATRO prerrogativas oriundas do princípio da prioridade absoluta. Quais são elas? DICA: a) primazia de receber ____________ em quaisquer circunstâncias; b) precedência de __________ nos serviços __________ ou de ____________; c) preferência na formulação e na execução das ______________; d) destinação privilegiada de ______________ nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
ECA, art. 4º. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
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O que dispõe o art. 100, III, do ECA acerca do princípio da responsabilidade primária e solidária?
Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. [...] III - responsabilidade primária e solidária do poder público: a plena efetivação dos direitos assegurados a crianças e a adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal, salvo nos casos por esta expressamente ressalvados, é de responsabilidade primária e solidária das 3 (três) esferas de governo, sem prejuízo da municipalização do atendimento e da possibilidade da execução de programas por entidades não governamentais; Princípio da responsabilidade primária e solidária do Poder Público (ECA, art. 100, III) – a responsabilidade pela concretização dos direitos de crianças e adolescentes é da União, Estados e Municípios, em caráter solidário (ex. falta de vagas para tratamento médico).