Cirrose Flashcards

(84 cards)

1
Q

Qual a definição de cirrose?

A

É um processo difuso caracterizado por fibrose e conversão da arquitetura hepática normal em nódulos estruturalmente anormais

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2
Q

Como é a citoarquitetura normal hepática?

A

Os sinusoides conduzem o sangue das circulações
porta e sistêmica (ramos da veia porta e artéria
hepática) para a veia centrolobular e, durante esta
passagem, substâncias provenientes do sangue são
captadas pelos hepatócitos para serem metabolizadas,
sendo dependentes de duas características
fundamentais dos sinusoides hepáticos: 1) Presença de
fenestras; 2) Ausência de membrana basal. Assim,
todas as substâncias presentes no sangue podem
atravessar livremente as fenestras sinusoidais e
alcançar o espaço de Disse, que fica entre o sinusoide
e o hepatócito. Tal espaço representa o interstício
lobular e contém as células mais importantes para a
gênese da cirrose hepática – as células estreladas ou
células de Ito, que normalmente são quiescentes.

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3
Q

Qual a fisiopatologia da cirrose?

A

As células estreladas normalmente são
“quiescentes”, entretanto, na presença de certos
estímulos, como atividade necroinflamatória crônica
no parênquima, podem se transformar em células
altamente capazes de sintetizar matriz extracelular,
principalmente colágeno I e III. A deposição de fibras colágenas no espaço de Disse leva ao fenômeno de capilarização dos sinusoides, em que há obliteração das fenestras, impedindo o contato entre os hepatócitos e as substâncias sanguíneas. A atividade necroinflamatória persistente, os ciclos de necrose, fibrose e regeneração celular continuam se alternando, até que a regeneração hepatocitária fique restrita aos espaços formados entre diversas traves fibróticas interligadas, formando os “nódulos de regeneração”. Estes, são constituídos por uma massa de hepatócitos desprovida de funcionalidade, uma vez que não possuem relação com uma veia centrolobular. Assim, representam uma tentativa (frustrada) do fígado em reestabelecer sua citoarquitetura funcional em meio à fibrose intensa e disseminada secundária ao processo necroinflamatório crônico.

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4
Q

Quais as funções hepáticas?

A
▪ Síntese de albumina
▪ Síntese de colesterol
▪ Síntese de fatores de coagulação
▪ Captação, conjugação e excreção de
bilirrubina
▪ Armazenamento de ferro e vitaminas
▪ Reservatório de sangue
▪ Controle simpático das veias hepáticas
▪ Função endocrinológica: Síntese de
trombopoietina e metabolismo dos
hormônios sexuais
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5
Q

Quais os achados da insuficiência hepática crônica?

A
▪ Hiperestrogenismo / Hipoandrogenismo
− Eritema palmar
− Telangiectasias (“aranhas vascular”)
− Ginecomastia
− Redução da massa muscular
− Atrofia interóssea
− Rarefação de pelos
− Atrofia testicular
− Perda da libido e disfunção erétil
▪ Distúrbios Hemodinâmicos
− ↓ RVP (vasodilatação)
− ↑DC
− Retenção hidrossalina: Ascite e anasarca
− Hipovolemia relativa: Redução do volume
circulante efetivo
▪ Outras Alterações
− Baqueteamento digital
− Aumento de parótidas
− Unhas de Terry
− Contratura de Dupuytren
− Fetor Hepaticus
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6
Q

Quais os achados da hipertensão portal (“Sinusoidal”)?

A

− Ascite
− Varizes esofagogástricas: Sangramento digestivo
− Hemorróidas
− Esplenomegalia congestiva: Hiperesplenismo –
plaquetopenia, leucopenia e anemia
− Circulação colateral abdominal: “Cabeça de
medusa”

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7
Q

Quais os achados clínicos da insuficiência hepatocelular?

A
− Icterícia
− Encefalopatia hepática
− Coagulopatia
− Hipoalbuminemia − Anasarca
− Desnutrição
− Imunodepressão
− Síndrome hepatorrenal e hepatopulmonar
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8
Q

Quais achados clínicos sugerem cirrose alcoólica?

A

▪ Hipertrofia das parótidas
▪ Contratura palmar de Dupuytren
▪ Neuropatia (???????????????????)
▪ Pancreatite crônica associada

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9
Q

O que é a teoria do Underfilling?

A

A hipertensão portal da cirrose provoca o extravasamento de líquido intravascular para a cavidade
peritoneal. Essa pequena queda da volemia estimula os barorreceptores a ativar osistema renina-angiotensina-aldosterona, o sistema nervoso simpático e a liberação de ADH. A ativação desses sistemas, por sua
vez, promove a retenção de líquido pelos rins, na tentativa de restaurar a volemia. Porém todo o líquido retido volta a extravasar para a cavidade peritoneal e,
assim, forma-se um ciclo vicioso no qual “quanto mais líquido extravasa, maior a tendência hipovolêmica” e “quanto maior a tendência hipovolêmica, maior a retenção hidrossalina renal” e “quanto maior a
retenção hidrossalina renal, mais líquido extravasa para o peritônio”.

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10
Q

Explique a teoria da vasodilatação.

A

Uma das primeiras alterações hemodinâmicas
que surgem na cirrose hepática
é a vasodilatação arteriolar esplâncnica (hiperemia
mesentérica). O mecanismo dessa vasodilatação
provavelmente é o aumento da
síntese local de Óxido Nítrico (NO) pelo endotélio
vascular, um potente vasodilatador
endógeno. A hipertensão portal contribui para a gênese desse fenômeno – ao desviar o
sangue mesentérico para a circulação cava,
sem passar pelo fígado, perde-se o “filtro hepático”
contra as bactérias Gram-negativas
provenientes da translocação intestinal. Germes Gram-negativos do lúmen
intestinal atravessam a mucosa lesada (cuja predisposição
é maior no cirrótico), alcançando
linfonodos mesentéricos e induzindo a secreção
de citocinas como IL-6 e TNF-alfa por macrófagos
locais. Tais citocinas estimulam o endotélio
dos vasos mesentéricos a produzir quantidades
absurdas de óxido nítrico, levando à vasodilatação
nesta região. A
endotoxina das bactérias Gram-negativas
(LPS) estimula a síntese endotelial de NO. A vasodilatação esplâncnica desloca
uma parte da volemia para este território
vascular, reduzindo, por conseguinte, o volume
sanguíneo que perfunde os outros órgãos
e tecidos – chamado “volume arterial efetivo”.
A queda desse volume estimula os barorreceptores
renais e carotídeos, tendo como
resultado a ativação do sistema renina-angiotensina-
aldosterona, sistema nervoso simpático
e liberação de ADH. Estes sistemas neuro-
hormonais estimulam os rins a reterem sal
e água, na tentativa de restaurar o “volume
arterial efetivo”. A retenção hidrossalina, na verdade,
aumenta a volemia total, porém esse volume
sanguíneo adicional está quase todo “sequestrado”
nos vasos esplâncnicos dilatados e,
portanto, não corrige o deficit de “volume arterial
efetivo”. O processo então se perpetua…
A retenção hidrossalina continua e progride,
e o paciente começa a formar ascite, pois o
excesso de líquido presente no território mesentérico
começa a transudar diretamente
para a cavidade peritoneal em consequência
ao aumento de permeabilidade que acompanha
a vasodilatação, fenômeno potencializado
pela hipoalbuminemia (queda na pressão
coloidosmótica do plasma) que tipicamente
está presente neste momento…
nno final das contas, o paciente
apresenta: (1) redução do “volume arterial
efetivo”, comportando-se como um paciente
hipovolêmico, inclusive com tendência à hipotensão
arterial e azotemia pré-renal; (2) aumento
da volemia total, só que distribuída
basicamente no território esplâncnico e portal;
(3) aumento do sódio e da água corporal total,
que se distribui principalmente no peritônio
(ascite) e no interstício (edema); (4) redução
da resistência vascular periférica, pela intensa
vasodilatação; e (5) aumento do débito cardíaco,
já que o coração está bombeando contra
uma baixa resistência.

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11
Q

Explique o baqueteamento digital na insuficiência hepática crônica?

A

− Caracterizado pelo abaulamento das pontas dos dedos na base da unha, dando ao mesmo um aspecto de “baqueta de tambor”.
− Decorrente de um aumento volumétrico do tecido subcutâneo vascularizado da extremidade digital, sem causa estabelecida.

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12
Q

Explique a hipertrofia de parótidas da insuficiência hepática crônica?

A

A degradação do etanol gera metabólitos tóxicos, como o acetaldeído, que podem modificar a função das glândulas salivares. Podem ser observadas alterações
morfológicas, como acúmulo de tecido adiposo, hiperplasia dos ductos e redução da proporção de células acinares.

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13
Q

O que causa a contratura de Dupuytren?

A

O enrijecimento progressivo dos tendões.

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14
Q

Como é o Fetor Hepaticus?

A

A cirrose hepática afeta o metabolismo de proteínas. As proteínas animais são decompostas no fígado, e alguns metabólitos, amônia, por exemplo, podem causar halitose, chamada de Fetor Hepaticus, caracterizado por ser adocicado, fétido e pútrido

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15
Q

Como se apresenta a síndrome da hipertensaõ portal sinusoidal?

A

− Ascite
− Varizes esofagogástricas: Sangramento digestivo
− Hemorróidas
− Esplenomegalia congestiva: Hiperesplenismo –
plaquetopenia, leucopenia e anemia
− Circulação colateral abdominal: “Cabeça de
medusa”

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16
Q

Como a hipertensão portal pode contribuir para a encefalopatia hepática?

A

Ao desviar para a circulação sistêmica parte do sangue portal, rico em amônia.

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17
Q

Quais as causas da obstrução do fluxo portal na hipertensão porta?

A
  • Aumento da resistência intra-hepática, por conta de: fibrose, formação de nódulos de regeneração e elevação do tônus vascular pela contração celular.
  • Aumento do fluxo esplâncnico secundário à vasodilatação deste leito.
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18
Q

Do que decorre a ascite na hipertensão porta?

A

Da estase venosa nos sinusóides hepáticos, há o extravasamento de líquido para a cavidade peritonial.

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19
Q

Qual o exame complementar com peso diagnóstico da ascite?

A

USG, pois detecta ascites de pequenos volumes e em obesos.

Também possibilita a avaliação hepática, das veias suprahepáticas e do sistema porta.

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20
Q

Quais as principais considerações acerca da paracentese?

A

É obrigatória nas ascites, especialmente para a determinação do agente etiológico.
Também proporciona alívio dos sintomas compressivos.

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21
Q

Quais os principais parâmetros de avaliação do líquido ascítico?

A

Aspecto macroscópico

Exames bioquímicos

Citologia Convencional

Citologia oncótica

Bacterioscopia

Cultura

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22
Q

Quais os aspectos macroscópicos possíveis na análise do líquido ascítico?

A
Seroso; 
Hemorrágico; 
Turvo; 
Lactescente;
Bilioso; 
Gelatinoso.
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23
Q

Quais os exames bioquímicos feitos na análise do líquido ascítico?

A
o Gradiente de albumina soro-ascite
o Proteína total
o Glicose
o LDH
o Triglicerídeos
o Bilirrubinas
o Ureia
o Amilase
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24
Q

Quais os principais tipos citológicos convencionais e suas interpretações na análise do líquido ascítico?

A

o Hemácias – Neoplasia

o Polimorfonucleares – Infecção bacteriana aguda

o Mononucleares – Tuberculose peritoneal, neoplasia e colagenoses

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25
Quais as considerações com relação a citologia oncótica na análise do líquido ascítico?
É o principal exame para diagnóstico de ascite carcinomatosa, no entanto, no carcinoma hepatocelular é quase sempre negativa.
26
O que é GASA?
Gradiente de Albumina Soro-Ascite – Determinado pela subtração do valor da concentração plasmática de albumina pelo valor da sua concentração no líquido ascítico.
27
Como interpretar o GASA?
``` GASA ≥ 1,1 g/dl = Transudato o Cirrose hepática o Congestão hepática o Síndrome de Budd-Chiari o Doença veno-oclusiva o Trombose da veia porta o Ascite “mista” ``` ``` GASA < 1,1 g/dl = Exsudato (Hipertensão Portal) o Carcinomatose peritoneal o Tuberculose peritoneal o Síndrome nefrótica o Ascite pancreática ou biliar o Lesão de ducto linfático o Serosite ```
28
Como é o GASA de transudatos e de exsudatos?
Quanto maior a concentração de albumina na ascite, menor será o resultado da subtração, ou seja, menor o gradiente. Tecnicamente, os exsudatos apresentam uma concentração elevada de proteínas, logo, são caracterizados por um gradiente baixo. Em contrapartida, os transudatos são apresentam uma concentração pequena de proteínas, logo, são caracterizados por um gradiente alto.
29
Como é o tratamento da ascite?
▪ Restrição de sódio de 2 g/dia ▪ Restrição hídrica de 1.000 – 1.500 mL/dia apenas se sódio sérico < 120 – 125 g ▪ Diuréticos (via oral) o Espironolactona (1a escolha): Antagonista da aldosterona (Dose inicial – 100 mg/dia; Dose máxima – 400 mg/dia) o Furosemida (Dose inicial – 40 mg/dia; Dose máxima – 160 mg/dia) ATENÇÃO! A espironolactona é mais eficaz que a furosemida! A explicação vem do fato de a furosemida, mas não a espironolactona, precisar ser secretada pelo túbulo proximal para chegar ao lúmen do néfron, onde a droga age. Na cirrose, esta secreção está prejudicada pela competição com os ácidos biliares retidos.
30
Quais as principais complicações da ascite?
Ascite refratária Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE)
31
O que é Ascite Refratária?
Ascite não responsiva à restrição de sódio e uso regular de diuréticos em dose máxima (Espironolactona – 400 mg/dia; Furosemida – 160 g/dia), qcorre em 10% dos casos.
32
Como identificar Ascite Refratária?
``` ✓ Encefalopatia hepática ✓ Creatinina > 2 mg/dL ✓ Potássio > 6 mmol/L ✓ Sódio sérico < 120 mmol/L apesar da restrição hídrica ```
33
Quais as opções terapêuticas para Ascite Refratária?
✓ Paracentese de grande volume o Até 5L: Não requer reposição de albumina o > 5L: Repor albumina 8 g/L de líquido retirado ✓ Shunt peritônio-venoso: Utilização de um cateter para drenar o líquido ascético para a veia jugular interna direita (TIPS - SHUNT PORTOSSISTÊMICO INTRA-HEPÁTICO VIA TRANSJUGULAR) ✓ Transplante hepático
34
O que é Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE)?
Infecção em líquido ascítico previamente estéril, na ausência de foco intra-abdominal de infecção, que ocorre em 10 – 30% dos pacientes internados.
35
Qual a fisiopatologia da Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE)?
O aumento das bactérias promove uma translocação bacteriana do lúmen intestinal para os linfonodos mesentéricos ocorrendo, então, bacteremia, com posterior contaminação do líquido ascético.
36
Qual o quadro clínico de Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE)?
``` ✓ Febre ✓ Icterícia ✓ Dor abdominal difusa ✓ Confusão mental por encefalopatia hepática ✓ Desconforto abdominal ✓ Hipotensão ```
37
Como fazer o diagnóstico de Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE)?
✓ Paracentese é fundamental! ✓ Contagem de PMN no líquido ascítico ≥ 250/mm3 com cultura positiva monobacteriana Peritonite bacteriana espontânea: PMN ≥ 250; cultura + Ascite neutrocítica: PMN ≥ 250; cultura − Bacterascite não-neutrocítica monobacteriana: PMN < 250; cultura +
38
Como tratar a Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE)?
``` ✓ Antibiótico + Albumina o Profilaxia primária – Após hemorragia digestiva alta: Norfloxacin 400 mg, 12/12h por 7 dias o Profilaxia secundária – Após 10 episódio de PBE: Norfloxacon 400 mg/dia + SMZ/TPM 5 dias/semana + Ciprofloxacin 750 mg/semana ```
39
Qual a principal complicação das varizes esofágicas?
Hemorragia Digestiva Alta
40
Como a hemorragia digestiva alta na hipertensão porta pode ser prevenida?
o Farmacológica: β-bloqueador não seletivo | o Endoscópica: Ligadura elástica
41
Como a hemorragia digestiva alta na hipertensão porta pode ser tratada?
▪ Ressuscitação e suporte hemodinâmico ▪ Terlipressina ou octreotide ▪ Ligadura elástica
42
O que explica as varizes esofágica e anorretais?
Circulação colateral pelas veias gástricas, esofágicas e ázigos Circulação colateral pelo plexo hemorroidário superior, médio e inferior.
43
O que explica o esplenismo congestivo/hiperesplenismo?
Estase venosa no território da veia esplênica.
44
Como a hipertensão portal pode levar a anemia, plaquetopenia e leucopenia?
Na cirrose, a instalação da hipertensão portal determina uma esplenomegalia congestiva. Assim, o baço aumenta o seu poder de hemocaterese, levando à hemólise extravascular, um dos componentes da anemia da hepatopatia crônica. Esta tende a ser leve, pois o poder de destruição do baço geralmente é contrabalançado pelo aumento na produção de hemácias pela medula óssea. Com isso, os pacientes desenvolvem reticulocitose. Além disso, o hiperesplenismo também leva à plaquetopenia, uma vez que o baço congesto é capaz de sequestrar um percentual muito maior de plaquetas e à discreta leucopenia, pelo sequestro, em menor grau, de leucócitos.
45
O que é o caput medusae?
É uma circulação colateral de recanalização da veia umbilical.
46
Quais os tipos de alterações causadas pela cirrose?
Estruturais Funcionais
47
Como são as alterações estruturais na cirrose?
Alterações Estruturais ▪ Distorção da arquitetura intra-hepática ▪ Nódulos de regeneração
48
Como a cirrose leva a hipertensão porta?
``` Alterações Funcionais ▪ Ativação do SRAA ▪ Ativação do SNS ▪ Aumento do ADH Objetivo: Manter o volume circulante efetivo – Manter a perfusão renal ``` Levando ao aumento da resistência hepática e consequentemente a hipertensão porta.
49
Como é o quadro em geral da encefalopatia hepática?
``` ✓ Alterações do ciclo sono-vigília ✓ Distúrbios de comportamento ✓ Distúrbios cognitivos ✓ Alterações de personalidade ✓ Sinais neurológicos flutuantes ```
50
A que se deve o quadro enfecalopático causado pela insuficiência hepática?
Uma das principais funções do fígado é a depuração de toxinas provenientes da absorção intestinal. Estas substâncias são absorvidas pelos enterócitos, ganham a circulação venosa mesentérica e em seguida a veia porta, para então penetrar nos espaços-porta, atingindo os sinusoides hepáticos. Entre tais substâncias, a mais importante é a amônia, derivada dos enterócitos (metabolismo da glutamina) e do metabolismo das bactérias colônicas (catabolismo de proteínas alimentares e da ureia). Sua não depuração causa a encefalopatia hepática.
51
Como se denomina os critérios de classificação da encefalopatia hepática?
Critérios de West-Haven, que levam em conta a consciência, a inteligência/comportamento e os achados neurológicos.
52
Quais o principais achados neurológicos na encefalopatia hepática?
Flapping Rigidez muscular, clônus e hiperreflexia Postura de decerebração
53
Como se dá o tratamento da encefalopatia hepática?
Visa reduzir o nível sérico de amônia e identificar fatores desencadeantes o Dissacarídeos não absorvíveis (Lactulose): Não sofre ação das dissacaridases intestinais, sendo metabolizada pelas bactérias colônicas em ácido lático e ácido acético, reduzindo o pH do lúmen para 5,0. Com o pH mais ácido, o NH3 (amônia) é convertido em NH4+ (amônio), este último inabsorvível pela mucosa intestinal. O resultado é a melhor absorção de amônia e melhora do quadro. o Antibióticos não absorvíveis: Reduzem a flora bacteriana colônica produtora de amônia, sendo o mais tradicional a neomicina; o metronidazol é a segunda escolha.
54
Quais as principais considerações com relação a hipoalbuminemia da insuficiência hepatocelular?
A albumina é uma proteína sintetizada exclusivamente pelo fígado, sendo a principal responsável pela pressão oncótica do plasma. Na hipoalbuminemia, existe uma tendência à saída de líquido para o interstício, predispondo o paciente ao edema.
55
Quais as principais considerações com relação a coagulopatia da insuficiência hepatocelular?
− A disfunção hepatocelular grave compromete a síntese dos fatores de coagulação. − De todos os fatores, aquele que tem a meia- vida mais curta é o fator VII – o fator da via extrínseca. O exame que avalia esta via da coagulação é o TP ou TAP (Tempo de Protrombina), logo, é o primeiro a sofrer alteração. − Como os demais fatores também podem ser reduzidos, outro exame que avalia a coagulação, porém, a via intrínseca, é o PTT (Tempo de Tromboplastina Parcial), que também pode estar alterado. OBS.: fígado sintetiza todos os fatores de coagulação com exceção do VIII Considera-se um sinal laboratorial de insuficiência hepática: Atividade de Protrombina < 50%; INR > 1,7 (TP alargado e INR alto).
56
O que é síndrome hepatorrenal?
− É uma forma de insuficiência renal funcional, isto é, não acompanhada de alterações histopatológicas renais, que se instala em pacientes com doença hepática avançada na ausência de qualquer outra causa identificável de doença renal. − É caracterizada pela perda progressiva da função renal, secundária à vasoconstricção renal (com consequente diminuição da Taxa de Filtração Glomerular – TFG) e vasodilatação extrarrenal (principalmente no leito mesentérico), havendo queda da resistência vascular periférica e, eventualmente, hipotensão arterial. − A vasodilatação esplâncnica leva a uma diminuição do volume circulante efetivo, com ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona e do sistema nervoso simpático, cuja ação, por sua vez, ocorrerá predominantemente nos rins, levando à vasoconstricção renal. − A oligúria é uma manifestação da Síndrome Hepatorrenal (SHR) que representa o “final da linha” do cirrótico por ser o estágio mais avançado das complicações da hipertensão portal. A resposta neuro- hormonal homeostática intensa acaba por levar à vasoconstricção renal grave que resulta em insuficiência renal.
57
Como é o tratamento de síndrome Hepatorrenal?
▪ Antibiótico ▪ Albumina ▪ Terlipressina: Vasoconstritor esplâncnico ▪ TIPS: Anastomose portossistêmica intra- hepática transjugular ▪ Transplante hepático
58
O que é síndrome hepatopulmonar?
``` − Tríade composta por: 1. Doença hepática crônica 2. Hipoxemia com gradiente alvéolo arterial aumentado, indicando a presença de shunt arteriovenoso 3. Evidências de alterações vasculares intrapulmonares, referidas como dilatações vasculares intrapulmonares (DVIP) ```
59
Qual a fisiopatologia da Síndrome Hepatopulmonar?
``` − A disfunção respiratória depende basicamente das DVIP, que funcionam como shunt arteriovenoso pulmonar. Assim, o sangue desoxigenado “bypassa” alguns alvéolos ao prosseguir pelos vasos dilatados que, devido ao diâmetro aumentado, permite a passagem de mais hemácias, inclusive muitas que não foram oxigenadas, misturando-se ao restante do sangue oxigenado que sai dos pulmões. Essa mistura de sangue leva à hipóxia. − A principal hipótese para a sua fisiopatogenia é o aumento na circulação pulmonar de vasodilatadores endógenos, como o óxido nítrico, resultante do déficit de detoxificação hepática. ```
60
Como é a manifestação clínica da síndrome hepatopulmonar?
Tríade: 1) Doença hepática crônica; 2) Hipoxemia: com gradiente alvéolo arterial aumentado (indicando a presença de shunt arteriovenoso) e; 3) Evidências de alterações vasculares intrapulmonares, referidas como “Dilatações Vasculares IntraPulmonares (DVIP)”. Além da cirrose, dispneia, cianose de lábios e extremidades, baqueteamento digital, telangiectasias, ORTOPNEIA (dispneia que piora em ortostase) e PLATIPNEIA (dispneia que piora na posição sentada/em pé).
61
Quais exames complementares usados no diagnóstico de síndrome hepatopulmonar?
▪ Gasometria arterial | ▪ Ecocardiograma contrastado
62
Qual o tratamento para síndrome hepatopulmonar?
▪ Oxigênio | ▪ Transplante hepático
63
Como é feito o rastreamento de carcinoma hepatocelular?
Com USG de abdome e seguimento com α-fetoproteína.
64
Quais as principais etiologias de carcinoma hepatocelular?
Vírus hepatotróficos (Hepatite C, B, B+D) Álcool Drogas (metildopa, fenitoína...) Autoimune Doenças metabólicas (Doença de Wilson, Hemocromatose, NASH) Hepatopatias colestáticas Doenças da infância (Fibrose cística, galactosemia...) Idiopático
65
Como sumariamente, se dividem os exames laboratoriais do fígado?
Marcadores de colestase Fosfatase alcalina, gama-gt, bilirrubina Marcadores de função hepática Albumina, TAP, bilirrubina Marcadores de lesão hepatocelular TGP, TGP
66
Qual o papel das aminotransferares na avaliação do fígado ?
AST - TGO ASL - TGP − Quando aumentadas, sugerem atividade inflamatória no parênquima. − Em uma hepatopatia SEM cirrose, os níveis de ALT costumam ser maiores que os de AST, dando uma relação ALT/AST > 1. − Em uma hepatopatia COM cirrose, os níveis de AST costumam ser maiores que os de ALT, dando uma relação ALT/AST <1. − Uma exceção à regra é a doença hepática alcoólica, em que a relação ALT/AST costuma ser < 1 mesmo nas fases pré-cirróticas.
67
O que a hiponatremia indica na hepatopatia?
``` − É um fator de péssimo prognóstico na cirrose avançada com ascite. − Ocorre devido à incapacidade de excretar água livre, decorrente do excesso de hormônio antidiurético (ADH). Este excesso, por sua vez, é estimulado pela redução do volume circulante efetivo (secreção “não osmótica” de ADH). ```
68
Qual o padrão ouro no diagnóstico de cirrose?
Biópsia
69
Quais as indicações para transplante hepático?
✓ Child Pugh: >7 pontos | ✓ MELD: > 15 pontos
70
Quais os critérios considerados pelo índice Child-Pugh?
``` Ascite Bilirrubina Albulmina Tempo de protrombina Encefalopatia ```
71
Quais os critérios considerados pelo índiceMELD?
Bilirrubina INR Creatinina
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Quais os principais fatores precipitantes de encefalopatia hepática?
``` Hemorragia digestiva alta Hipocalemia Alcalose metabólica Desidratação/hipovolemia Diuréticos tiazídicos/de alça Infecções Uso de sedativos Dieta hiperproteica Procedimentos cirúrgicos Constipação intestinal Hipóxia Shunts portossistêmicos ```
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Como as hemorragias digestivas altas favorecem a EH?
O paciente cirrótico é propenso à hemorragia digestiva por vários motivos: (1) distúrbio da hemostasia – plaquetopenia + coagulopatia; (2) presença das varizes esofagogástricas, clássicas da hipertensão portal e (3) aumento do risco de úlcera péptica. Por que um sangramento digestivo pode desencadear encefalopatia hepática nesses doentes? O sangue liberado no tubo digestivo é digerido pelas bactérias colônicas. Do metabolismo da hemoglobina (proteína), forma-se mais amônia. Esta amônia é prontamente absorvida pelos enterócitos, desencadeando a EH. OBS.: cirrose e úlcera: A histamina produzida no organismo é depurada pelo fígado. Com o desenvolvimento da insuficiência hepatocelular, há um aumento dos níveis de histamina circulante. Relembrando o bloco de Gastro, a histamina estimula diretamente as células parietais do estômago a produzirem ácido clorídrico, justificando a propensão ao surgimento de doença ulcerosa péptica
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Como a alcalose metabólica favorece a EH?
A alcalose metabólica desencadeia encefalopatia hepática pelo seguinte mecanismo: o pH plasmático mais alcalino converte a forma ionizada NH4 + (amônio) na forma não ionizada NH3 (amônia). Esta última, por ser lipossolúvel, passa livremente pela barreira hematoencefálica, aumentando a impregnação cerebral da neurotoxina
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Como a hipocalemia favorece a EH?
A hipocalemia aumenta a produção renal de NH3, por reduzir o pH intracelular das células tubulares proximais (saem íons K+ em troca da entrada de íons H+). A maior produção de NH3 e a precipitação de uma alcalose fazem da hipocalemia um fator desencadeante de encefalopatia hepática!
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Como furosemida e tiazídicos favorecem a EH?
Os diuréticos de alça (furosemida) e os tiazídicos podem causar encefalopatia em cirróticos (se usados indiscriminadamente), por provocarem hipocalemia, alcalose metabólica e, eventualmente, desidratação.
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Como a dieta hiperproteica favorece a EH?
A dieta hiperproteica pode desencadear EH por aumentar a produção de amônia pelas bactérias colônicas que metabolizam a proteína alimentar.
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Como a constipação favorece a EH?
A constipação intestinal, ao aumentar a proliferação dessas bactérias e o tempo de contato entre a amônia produzida com a mucosa intestinal (aumentando sua absorção), também pode precipitar o evento mórbido.
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Explique a anemia da hepatopatia crônica.
A hepatopatia crônica frequentemente cursa com anemia, em geral leve ou moderada. Em torno de 75%, na maioria das vezes o mecanismo é meramente dilucional, em resposta à retenção hidrossalina característica da hipertensão portal. Apenas 40% desses indivíduos possui redução verdadeira na massa de hemácias circulantes! Dois fatores costumam estar associados: (1) redução da meia- -vida das hemácias de 120 para 20-30 dias; (2) redução da resposta eritropoiética à anemia. A justificativa para uma menor vida média do eritrócito é multifatorial, estando entre os principais fatores: (1) o hiperesplenismo (devido à esplenomegalia congestiva); (2) alterações no metabolismo eritrocitário, tornando as hemácias instáveis; e (3) alterações da composição lipídica de suas membranas, com aumento do teor de colesterol e lecitina. A menor resposta eritropoiética pode ser explicada por (1) efeito direto do álcool na medula óssea (quando a etiologia da hepatopatia é alcoólica); (2) anemia megaloblástica por carência de folato (secundária à desnutrição que quase sempre acompanha o cirrótico); (3) anemia ferropriva por sangramento crônico, geralmente proveniente do trato digestivo alto (varizes, doença ulcerosa); e (4) provável queda na produção de eritropoetina hepática. Na verdade, a anemia da hepatopatia crônica pode até ser diretamente resultante da doença hepática em si, mas com frequência tem como causa principal algum distúrbio associado (etilismo, ferropenia pelo sangramento, megaloblastose pela carência de folato).
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O que é síndrome de Zieve?
Episódios de anemia hemolítica aguda autolimitada podem se desenvolver em etilistas crônicos com hepatopatia gordurosa ou cirrose. Os pacientes apresentam dor abdominal intensa em quadrante superior direito, icterícia, hiperlipidemia e anemia hemolítica, quadro que conhecemos como síndrome de Zieve. A patogênese desta anemia é desconhecida.
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O que é Anemia Hemolítica com Acantócitos?
Cerca de 5% dos pacientes com disfunção hepatocelular avançada desenvolvem uma anemia hemolítica grave, marcada pela presença de múltiplos acantócitos na periferia. O mecanismo parece estar relacionado ao aumento do teor de colesterol na membrana eritrocítica, sem um aumento correspondente da lecitina. A esplenectomia pode corrigir apenas parcialmente esta anemia.
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Quais os tipos de síndrome hepatorrenal?
Existem dois: tipo 1 e tipo 2. O tipo 1 é caracterizado pela rápida progressão da insuficiência renal (< 2 semanas), havendo aumento da creatinina sérica para além do dobro do valor inicial (atingindo, por definição, níveis superiores a 2,5 mg/dl), ou uma queda no clearance de creatinina para < 50% do valor inicial, atingindo um nível absoluto < 20 ml/ min. O quadro clínico é compatível com uma insuficiência renal aguda oligúrica. O prognóstico da SHR tipo 1 é extremamente ruim na ausência de tratamento. Na SHR tipo 2, a creatinina sérica é > 1,5 mg/dl e/ou o clearance de creatinina é < 40 ml/min, mas a evolução é mais insidiosa e o prognóstico a curto prazo, mesmo sem tratamento, é melhor. Na SHR tipo 2 os pacientes se apresentam com “ascite refratária” ao tratamento clínico.
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Quais os critérios diagnósticos de síndrome hepatorrenal?
- Cirrose com ascite. - Creatinina sérica > 1,5 mg/dl ou aumento ≥ 0,3 mg/dl em 48h ou ≥ 50% do valor basal em até sete dias*. - Ausência de melhora da creatinina sérica após dois dias de retirada de diuréticos e expansão volêmica com albumina (1 g/kg/dia). - Ausência de choque. - Ausência de uso recente ou atual de drogas nefrotóxicas. - Ausência de doença parenquimatosa renal, definida por: (1) proteinúria > 500 mg/dia; (2) hematúria > 50 células por campo de grande aumento e (3) US renal anormal.
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Quais os fatores precipitantes de síndrome hepatorrenal?
- Sangramento gastrointestinal. - Infecção (especialmente PBE). - Diurese intensa com rápida perda de peso. - Paracentese de grande volume sem reposição de albumina.