Cirurgia Geral Flashcards
(38 cards)
Conceito de hérnia
Passagem de um órgão ou estrutura para um local onde não deveria estar. Ruptura - protusão anormal de um órgão ou tecido por um defeito em suas paredes circundantes
Epidemiologia das hérnias
Mais comuns em homens, acima dos 40 anos, do lado direito.
Onde ocorrem as hérnias
Mais comuns na parede abdominal, principalmente na região inguinal.
Ocorrem apenas em locais onde a aponeurose e a fáscia são cobertas por músculo estriado.
Ou seja, só tem hérnia onde não tem músculo E aponeurose íntegros ou nos locais onde tem fragilidade da parede.
Por que são as hérnias inguinais são mais comuns do lado direito?
- No homem conduto peritônio-vaginal direito fecha mais tardiamente do que o esquerdo, pois o testículo direito desce após o nascimento, tendo uma persistência do conduto peritônio-vaginal, facilitando a formação da hérnia.
- Na mulher existe uma fraqueza na região do canal inguinal devido a passagem do ligamento redondo do útero nesse local
Onde ocorrem a maioria das hérnias
Região inguinofemoral - 74%
Conceito de hérnia redutível, hérnia encarcerada ou irredutível e hérnia estrangulada e como são tratadas.
Hérnia redutível: vai e volta, sai e reduz. - Trata no consultório e marca cirurgia eletiva.
Hérnia encarcerada ou irredutível: hérnia que sai e fica presa pra fora, não reduz. - Prepara o paciente e retira.
Hérnia estrangulada: hérnia encarcerada que tem o pedículo espremido pela aponeurose ou musculatura, que interrompe seu suprimento sanguíneo, levando a sofrimento vascular e isquemia. - Emergência cirúrgica
Hérnia de deslizamento
A parede do órgão sai na frente do peritônio - Faz parte do saco herniário: sigmóide, bexiga e ovário.
Hérnia cronicamente encarcerada ou Hérnia com perda de domicílio
Hérnia que não consegue ser reduzida, mas que não tem risco de estrangulamento emergencial - Hérnias muito grandes, em que o conteúdo herniário não cabe dentro da cavidade, isso ocorre quando o volume da hérnia é mais de 25% do volume da cavidade.
Etiologia das hérnias
- Persistência do conduto peritônio-vaginal
- Prematuridade e baixo peso
- Deficiências de colágeno (tipo 1 e 4)
- Tabagismo
- Aumento repetitivo da pressão intra-abdominal: HPB, DPOC (tosse crônica), constipação, obesidade, etc.
Apresentação clínica das hérnias
- Abaulamento redutível ou encarcerado, normalmente no início é redutível - se iniciar já irredutível deve investigar neoplasia
- E/ou dor aos esforços
- Parestesias por compressão nervosa
Exame físico das hérnias
- Faz em pé e deitado
- Estático e dinâmico
- Manobra de Landivar: ocluir o anel inguinal externo e pedir para o paciente tossir ou fazer força, para ver se o abaulamento é inguinal ou femoral
Diagnóstico
- Normalmente é clínico
- Se necessário pode solicitar USG
- TC ajuda a medir a volumetria do conteúdo da hérnia
Incidência das hérnias inguinais e femorais
- Inguinais: 75% de todas as hérnias, sendo dois terços indiretas
- Femorais: 3% das hérnias inguinais
- Hérnias femorais acontecem mais em mulheres que em homens - Mas, mesmo assim, as hérnias inguinais são mais comuns.
- Ambas são mais comuns do lado direito
Hérnia com mais chance de estrangulamento
Hérnias femorais
Anatomia: Triângulo de Hasselbach e Anel inguinal
- O Triângulo é formado pela a. epigástrica inferior, a borda lateral do m. reto abdominal e o ligamento inguinal. É uma área de fraqueza, onde acontecem as hérnias inguinais diretas.
- O Anel inguinal é por onde passa o funículo espermático do homem, cai dentro do canal inguinal. É onde acontecem as hérnias inguinais indiretas.
Anatomia: Canal inguinal
- Túnel (4 cm)
- Limite anterior: aponeuroses do m. oblíquo externo
- Limite superior: m. oblíquo interno e m. transverso do abdomen
- Limite inferior e lateral: ligamento inguinal e ligamento lacunar
- Parede posterior: fáscia transversalis e tendão conjunto
Tipos de Hérnia Inguinal
- Indireta: passa pelo anel inguinal interno e sai pelo externo, fica lateral aos vasos epigástricos, já que o anel inguinal é nesse local.
- Direta: passa pelo Triângulo de Hasselbach, de dentro para fora, através da parede, medial aos vasos epigástricos.
- Mista: hérnia cresceu tanto, que alarga o anel inguinal e se mistura ao triângulo de Hasselbach.
- Deslizamento: quando a parede do órgão faz parte do saco herniário
- De Richter: quando o intestino sai e acaba prendendo só a borda antimesentérica da alça intestinal, prende só a parede do intestino - ocorre estrangulamento sem obstrução intestinal.
- De Littre: hérnia que contém o divertículo de Meckel (muito raro).
- De Amyand: quando o apêndice cecal sai no saco herniário.
Classificação de Nyhus das hérnias inguinais:
- Tipo 1: Indireta sem alargamento do anel interno - hérnia da criança, persistência do conduto peritônio-vaginal
- Tipo 2: Indireta com alargamento do anel interno - hérnia adquirida, hérnia do adulto
- Tipo 3: hérnia por defeitos da parede posterior - por fraqueza do triângulo de Hasselbach
3a: Direta - fraqueza da fáscia transversalis
3b: Indireta com destruição da parede posterior - era tipo 2 e cresceu muito, alargou tanto o anel interno, que destruiu também a parede posterior, é mista.
3c: Femoral - defeito no canal femoral, abaixo do ligamento inguinal. - Tipo 4: hérnia recidivada - 4a direta (3a que voltou), 4b indireta (2 que voltou), 4c femoral (3c que voltou) e 4d mista (3b que voltou)
- Normalmente não utilizada na prática clínica, pois todas são passíveis de tratamento pela técnica de Lichtenstein
Classificação da European Hernia Society da hérnia inguinal
- P: primária ou R: recorrente/reicidivada
- 0: não detectada ou 1: < 1,5cm ou 2: < 3 cm ou 3: > 3 cm ou x: não investigada
- L: lateral/indireta ou M: medial/direta ou F: femoral
Muito utilizada quando o tratamento será feito por videolaparoscopia ou robótica - Exemplo: Hérnia pequena do tipo L pode colocar a tela sem fixar, se for uma hérnia tipo M grande (3) tem que fixar a tela, se for uma hérnia tipo F tem que dissecar o canal femoral
Tratamento da hérnia inguinal
- Inicialmente toda hérnia tem que tratar cirurgicamente
- Só não vai fazer cirurgia a hérnia que tem baixo risco de estrangulamento ou o paciente tem alto risco cirúrgico - Whatchful waiting, acompanhamento trimestral, hérnia assintomática, pequena, descoberta por acaso em homem.
- Hérnia em mulher tem que operar todas, pois tem mais risco de estrangulamento
- Hérnia femoral sempre opera, pois tem maior chance de estrangulamento, uma vez que o canal femoral não dilata.
Tratamento cirúrgico da hérnia inguinal - Tipos de reparo
- Toda hérnia de parede tem que colocar tela
- Reparo anterior - reparo de tecido: abre pele e subcutâneo, acha a musculatura e a hérnia - reparo convencional, não usa mais.
- Reparo posterior - entra dentro da cavidade com o vídeo, e de dentro pra fora vai abrindo as camadas para posicionar a tela.
- Reparo pré-peritoneal: faz uma incisão no umbigo, abrindo pele e subcutâneo, abre a aponeurose na linha alba, mas não abre o peritônio, insufla um balão, afasta o peritônio da musculatura, ficando no espaço pré-peritoneal, disseca o espaço até na região da hérnia
- Reparo de tecido: usa o próprio músculo humano para fazer o reparo, mas não se usa mais, hoje os reparos são com malhas ou próteses (tela)
Tipos de técnicas para os reparos da hérnia inguinal: reparos de tecido, reparos livres de tensão e reparos pré-peritoneais
- Reparos de tecido - reparo anterior: Shouldice (atualmente é o único que funciona para hérnia inguinal), Trato iliopúbico, Bassini, McVay
- Reparos livres de tensão - técnicas com tela: Lichtenstein, Tampão, Retalho, Rives-Stoppa, Sanduíche
- Reparos pré-peritoneais/VLP - técnicas com tela: TAPP, TEP
Contraindicação para o uso de tela
- Paciente que chega na emergência cirúrgica, com uma hérnia estrangulada, com perfuração e contaminação fecal no subcutâneo
- Síndrome ASIA - raro: doença autoimune, resposta inflamatória a tecido sintético (prótese mamária e tela), paciente tem uma reação inflamatória após a colocação da tela, não melhora com nada, investiga todas as doenças reumatológicas e não corresponde, então se chega a conclusão que é a tela, tem que retirar.
Técnica Shouldice
- Reparo imbricado na multicamada da parede posterior do canal inguinal com uma técnica de sutura contínua, a parede é reconstituída por linhas de sutura contínua superpostas que vão das camadas mais profundas para as mais superficiais
- A linha de sutura inicial vai do arco aponeurótico do m. transverso do abdome ao trato iliopúbico.
- Os mm. oblíquo interno e transverso do abdome e aponeuroses são suturados ao ligamento inguinal
- Não é feita pois é muito difícil e pouquíssimos cirurgiões no mundo sabem fazer direito.