Individuais Flashcards
(158 cards)
Terapia Focada em Esquemas (TFE): Fundamentos
Terapia focada nos esquemas (J. Young et al., 1990; 1999) = terapia integrativa,
* expande os tratamentos cognitivo-comportamentais, combina estratégias cognitivas, comportamentais, psicodinâmicas, relações objetais, construtivistas e humanistas.
* Terapia esquemas pode ser breve, intermédia ou longa em função do paciente
Surge a partir da teoria de A. Beck, em particular da sua aplicação às perturbações de personalidade e perturbações psicológicas graves e crónicas.
Evolução da TC para TFE
TC e TCC são habitualmente de tempo limitado, focadas no treino de competências, na redução de sintomas e solução de problemas da vida corrente do cliente Evidência empírica da eficácia das TCC.
No entanto apresentam alguns Problemas:
* Taxa de recaída ronda os 30%, ou seja alguns clientes não são eficazmente ajudados por estes tratamentos.
* Maior fracasso na resposta ao tratamento por clientes com Perturbações de Personalidade e perturbações crónicas.
* Alguns pacientes com características de personalidade que perturbam a adesão e eficácia dos tratamentos
Exemplo A e B (1)
Evolução da TC para a TFE: Pressupostos da TC breve
TC breve destinada ao tratamento das perturbações depressivas e ansiosas
* os clientes têm acesso aos sentimentos, pensamentos e memórias com um treino breve;
* possuem problemas identificáveis nos quais se pode focar a terapia;
* os clientes estão motivados para se envolverem na terapia bem como nas tarefas que ela implica (ex. tarefas para realizar dentro e fora da sessão)
* Os clientes são capazes de se envolverem numa relação de colaboração com o terapeuta
* as dificuldades na relação terapêutica não são um problema significativo a abordar na terapia; geralmente a RT não é um ingrediente ativo da terapia
* todas as cognições e padrões comportamentais podem ser modificados através da análise de evidência empírica, debate lógico, experimentação, passos graduais e prática, estratégias típicas da intervenção cognitiva
Estes pressupostos não se aplicam a clientes com problemas crónicos e com perturbações de personalidade.
Evolução da TC para a TFE: Mecanismos de manutenção do problema
Apresentados por clientes com PPs e problemas crónicos, o que impede a TC breve de funcionar
* Menos disponíveis para fazer TPC, para aprender estratégias de autocontrolo, preferem obter orientações dos terapeutas…
* Dificuldades em aceder a pensamentos e emoções –> bloqueio de pensamentos e imagens / memórias perturbadores.
* Evitam aprofundar trabalho sobre si próprios –> evitam memorias ou sentimentos negativos.
* Evitam situações e comportamentos que são essenciais para o seu progresso. Este evitamento é uma resposta aprendida // protetora que é reforçada negativamente pela redução do afeto negativo.
* Os sintomas de ansiedade / depressão são ativados por estímulos associados à infância, mas estes memórias são evitados para evitar a emoção.
* Extrema resistência, pouca flexibilidade e menor responsividade às estratégias cognitivas e as melhorias demoram imenso tempo a emergir.
* Rigidez e desesperança em relação à mudança. Os problemas caracterológicos são egosintónicos, os padrões autodestrutivos parecem ser parte de si (história da minha vida) e é difícil imaginarem-se a ser diferentes. A mudança é ameaçadora.
* Dificuldades na relação –> espelham as relações interpessoais fora da terapia –> relação terapêutica é central para avaliar problemas e planear o tratamento. exemplo
o PPB –> dificuldade em formar RT seguras, estáveis
o PPN; Paranoide… Desligados, hostis, incapazes de colaborar..
Evolução da TC para a TFE: Conclusão
Quadros (2) e nota
Conceito de esquema: Modelo cognitivo de Beck
- Esquemas cognitivos –> estrutura cognitiva = representações nucleares e estáveis do conhecimento que o sujeito faz de si, do mundo e dos outros, e que orientam o processamento da informação; definem modos específicos de construção da realidade / estruturas de significação.
- Do ponto de vista evolutivo, os esquemas servem uma função adaptativa – organizam a nossa experiência do mundo em padrões de significado (reduzindo a complexidade / caos do ambiente), selecionando informação. Podem ser positivos ou negativos, precoces ou tardios.
- Esquemas cognitivos negativos –> processos cognitivos disfuncionais (distorções, erros e omissões nesse mesmo processamento de informação) –> produtos cognitivos que mantêm o esquema (porque diminuem a dissonância cognitiva e impossibilitam a vivência de experiências desconfirmatórias do esquema )
Conceito de esquema: Modelo da J. Young da TFE
Esquemas precoces e mal adaptados (EPM) - No trabalho com PP, Young e colaboradores definiram um conjunto de esquemas precoces mal adaptativos.
* Padrão ou tema abrangente e desadaptativos, que inclui memórias, emoções cognições e sensações corporais, em relação a si próprio e aos outros.
* Desenvolve-se na infância ou adolescência, elaborado ao longo da vida.
* Disfuncional num determinado grau e resistentes à mudança.
* Nem sempre são conscientes e quando ativados são acompanhados por elevados níveis emocionais
Tabela (2)
Os esquemas são dimensionais –> Podem ter diferentes níveis de rigidez ou resistência à mudança
Maior severidade –> maior quantidade de situações que os ativam, mais intenso é o afeto negativo, maior duração.
* Ex.1 crianças com dois pais críticos na infância… (e.g. JT; esquema de defeito pervasivo…)
* Ex.2 apenas um dos pais é critico… Pode ativar o esquema apenas na presença de figuras de autoridade do mesmo género…
Alguns autores sugerem que para cada EPM há uma esquema positivo e adaptativo correspondente (teoria da polaridade de Elliott, Elliott e Larsen, 1997) // baseado na teoria do desenvolvimento de Erikson.
Origens dos Esquemas
Necessidades emocionais nucleares não satisfeitas durante a infância, nos contextos significativos.
Todas as pessoas têm estas necessidades. Um pessoa psicologicamente saudável é alguém que consegue estas necessidades emocionais satisfeitas de uma forma adaptada.
Origens dos Esquemas: necessidades universais
- Vinculação segura aos outros /Pertença ( segurança, estabilidade, afeto, aceitação)
- Autonomia, competência e sentido de identidade
- Liberdade para expressar as emoções e desejos válidos
- Espontaneidade e jogo/ brincadeira
- Limites realistas e autocontrolo
Origem dos esquemas: como se formam os EPMs
Satisfação da necessidades emocionais nucleares em função da interação entre temperamento inato da criança e ambiente precoce –> se há frustração, formam-se os EPMs
* As experiências tóxicas/danosas da infância são as origens primárias dos EPM
* Os EMP mais fortes geralmente desenvolvem-se na família nuclear (em larga extensão as dinâmicas da família são as dinâmicas do mundo precoce da criança)
* Ao longo do desenvolvimento outros contextos ganham mais relevância
* Os EMP desenvolvidos mais tarde tendem a não ser tão poderosos e pervasivos (ex. EPM de isolamento social
Origem dos esquemas: temperamento
Cada criança tem um temperamento distinto e único desde a nascença (dimensões biológicas da personalidade).
Dimensões do temperamento emocional que supostamente são inatas e relativamente imutáveis em psicoterapia:
Labilidade ——não reatividade
Distímica ——-otimista
Ansiedade —–calma
Obsessiva ——-distraível
Passiva ———agressiva
Irritável ———risonha
Tímida ———-sociável
O temperamento é uma mistura única destas dimensões
Diferentes temperamentos expõem as crianças a diferentes circunstancias de vidas
Ex. uma criança agressiva pode suscitar mais experiencias de violência parental
O mesmo tratamento parental pode ativar reações diferentes em crianças com temperamentos diferentes
Ex. rejeição maternal criança tímida pode ficar mais dependente da mãe; (mais risco EPM) criança mais sociável pode fazer outras ligações positivas e significativas resiliência
O ambiente precoce extremamente favorável ou aversivo pode superar o temperamento emocional num grau significativo.
Um temperamento emocional extremo pode produzir psicopatologia na ausência de aparente justificação ambiental…
Origem dos esquemas: conclusão da origem dos EPMs
- Na frustração “tóxica” das necessidades de estabilidade, amor, compreensão
- Na traumatização - a criança é maltratada, criticada, controlada ou vitimizada
- Em ter “demasiado de uma coisa boa”
- Na identificação e internalização seletivas de outros significativos, com as os seus pensamentos, emoções, experiências
Domínios e tipos de esquemas precoces mal adaptativos
Young e Coautores propões a existência de 5 domínios (categorias gerais de necessidades emocionais não satisfeitas) que podem levar ao desenvolvimento de 18 EPMs
Domínios:
1. Desconexão e rejeição
2. Autonomia e desempenho prejudicados
3. Limites insuficientes
4. Orientação para o outro/ Focalização nos outros
5. Hipervigilância e inibição
1º Domínio: características, famílias, EPM
1º Domínio: Desconexão e rejeição
Domínio ligado ao sentimento de frustração com relação às expectativas de segurança, estabilidade, carinho, empatia, partilha de sentimentos, aceitação.
Estas necessidades não foram satisfeitas de um modo previsível
Famílias
Frias
Instáveis
Abusivas
Desligadas
Rejeitantes
EPM
Privação emocional
Abandono/instabilidade
Desconfiança/abuso
Isolamento social
Defeito / vergonha
1º Domínio: EPM principal
Abandono /instabilidade: perceção de instabilidade ou pouca segurança no suporte disponível e relação com os outros. Sentido de que os outros significativos não serão capazes de continuar a dar suporte, conexão, força, proteção pratica porque são emocionalmente instáveis e imprevisíveis (ex., de repente zangam-se, vão embora). Os outros não são confiáveis. Abandonarão em favor de alguém melhor
2º Domínio: características, famílias, EPM
2º Domínio: Autonomia e desempenho prejudicados
Domínio ligado a sentimentos de incapacidade experimentados pelo indivíduo no que se refere à possibilidade de se separar dos outros conquistando a autonomia necessária para sobreviver de forma independente e com bom desempenho.
Famílias
Hiper protetoras
Não reforçadora da performance com autonomia
Intrusivas/bloqueando processo de diferenciação
Emaranhadas
EPM
Fracasso
Dependência/Incompetência funcional
Vulnerabilidade ao perigo/doença
Self-emaranhado-ou-subdesenvolvido
2º Domínio: EPM principal
Dependência/incompetência: crença de que se é incapaz de realizar as responsabilidade diárias de forma competente, sem ajuda significativa dos outros (ex., resolver problemas diários, tomar boas decisões…). Experiência de desamparo.
3º Domínio: características, famílias, EPM
3º Domínio: Limites insuficientes
Possível de ser identificado pela deficiência nos limites internos, pela ausência de responsabilidade com os outros e/ou pela dificuldade de orientação para a concretização de objetivos distantes.
Prejuízos no respeito dos direitos dos outros, na reciprocidade, na cooperação e no compromisso com metas ou desafios.
Apresenta-se como egoístas, mimados, narcísicos, irresponsáveis
Famílias
Permissividade, sobre indulgência
Falta de direção
Ausência de confronto apropriado de limites
Indefinição de regras para assumir responsabilidade e cooperar, definir objetivos
EPM
Grandiosidade/ titularidade
Autocontrolo ou autodisciplina insuficiente
3º Domínio: EPM principal
Grandiosidade/ titularidade: crença de que se é superior aos outros, que se tem direitos e privilégios especiais; não se limitar pelas regras de reciprocidade que orientam a interação social.
* Insistência em que se deve ter o que se quer, independentemente de ser realista, o que os outros consideram razoável ou com custos para os outros.
* Exagerado foco na superioridade (ex., estar entre os mais bem sucedidos, mais famosos) de modo a conseguir poder e controlo.
* Pode envolver excessiva competitividade em relação aos outros, forçar o seu ponto de vista, controlar o comportamento dos outros de acordo com os seus desejos, sem empatia ou preocupação com os sentimentos dos outros.
4º Domínio: características, famílias, EPM
4º Domínio: Orientação para o outro/ Focalização nos outros
Funcionamento com foco excessivo nos desejos e sentimentos dos outros, em função da constante busca de obtenção de amor e evitar retaliação.
Muitas vezes, a pessoa abdica das suas próprias necessidades com o intuito de obter aprovação, podendo suprimir a consciência dos próprios sentimentos e tendências naturais
Famílias
Demonstração de amor condicional: as crianças devem suprimir aspetos de si mesmo para obter amor, atenção e aprovação.
As necessidades e desejos emocionais dos pais, ou a aceitação social e status, são mais valorizados do que as necessidades e sentimentos da criança
EPM
Subjugação
Autossacrifício
Procura de aprovação / reconhecimento
4º Domínio: EPM principal
Autossacrifício: excessivamente centrado de forma voluntária nas necessidades dos outros, no dia-a-dia, em detrimento das suas próprias necessidades e gratificação.
* Prevenir causar dor nos outros, evitar culpa de se sentir egoísta, manter a ligação com os outros que é percebida como necessária.
* Sensibilidade aguda à dor dos outros. Por vezes há o sentimento de que as próprias necessidades não foram adequadamente satisfeitas e o ressentimento em relação aqueles de quem cuidaram.
5º Domínio: características, famílias, EPM
5º Domínio: Hipervigilância e inibição
Refere-se ao bloqueio da felicidade, autoexpressão, relaxamento, relacionamentos íntimos e ao comprometimento da própria saúde em razão da ênfase excessiva na supressão dos sentimentos, dos impulsos e das escolhas pessoais espontâneas.
Regras e expectativas rígidas internalizadas sobre desempenho e comportamento ético geralmente integram este padrão de funcionamento
Famílias
Sombria, Exigente e por vezes punitiva
Ênfase na performance, obrigações, perfecionismo, regras, esconder emoções e evitar erros. Pessimismo subjacente e preocupação que algo escape se fracassarmos na vigilância e cuidado a todo o momento
EPM
Negativismo e pessimismo:
Inibição emocional:
Metas exigentes/inalcançáveis/hipercriticimo
Castigo
5º Domínio: EPM principal
Metas exigentes / inalcançáveis / hipercriticismo: crença profunda de que se deve esforçar por atingir metas de comportamento e rendimento muito elevadas, normalmente para evitar críticas.
* Tipicamente resulta em sentimentos de pressão ou dificuldade para descansar, hipercrítica em relação a si e aos outros, prejuízo significativo no prazer, relaxamento, saúde, autoestima, relações satisfatórias…
* Frequentemente apresentam perfecionismo: atenção ao detalhe, subestimação das boas performances; regras rígidas e “deveres” em muitas áreas da vida ( moral, cultura, ética, religião) ou preocupação com tempo e eficiência, necessidade de conseguir mais
Estilos e respostas de coping: esquema vs estratégia
A terapia dos esquemas diferencia entre esquema e estratégias que o individuo usa para lidar com o esquema. Estratégias –> estilos de coping
Os estilos de coping surgem como uma forma de lidar com os esquemas desadaptativos
Estilos de coping são em geral adaptativos na infância = mecanismos de sobrevivência saudáveis
Tornam-se mal adaptativos quando a criança cresce porque os EC perpetuam o esquema, mesmo quando as condições do sujeito mudam e há outras opções mais positivas.
Cada cliente usa diferentes estilos de coping em diferentes situações, em diferentes estádios da sua vida, para lidar com o mesmo esquema.
Assim os estilos de coping não são estáveis ao longo do tempo, embora o esquema seja.
EPM –> ameaça / frustração de necessidades emocionais nucleares
Medo de emoções intensas –> ameaça