Neonatologia - Icterícia e infecções congênitas Flashcards
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O que é icterícia?
A icterícia é marcada por coloração amarelada de pele e mucosas, como resultado do acúmulo de bilirrubina no organismo, seja de sua fração direta (menos comum) ou de sua fração indireta.
Quando ocorre icterícia neonatal?
Destaca-se que, para que haja manifestação de icterícia neonatal, são necessários níveis de bilirrubina superiores a 5mg/dL.
Qual a principal causa de icterícia neonatal? Quando ela se manifesta?
A grande maioria dos recém-nascidos, sobretudo a termo ou pré-termo, apresentam icterícia neonatal fisiológica, que se manifesta, em geral, cerca de 2 a 3 dias após o nascimento (ou 3 a 4 dias, nos RN pré-termo).
Como é produzida a BI?
De fato, quanto ao metabolismo da bilirrubina, destaca-se que a bilirrubina indireta (BI) é proveniente da degradação do grupo heme da molécula de hemoglobina no sistema retículo-endotelial.
Como é excretada a BI?
A BI é tóxica para o organismo, de modo que, para sua excreção, é transformada a nível hepático em bilirrubina direta (BD); nesse processo, ocorre inicialmente captação das moléculas de BI pelos hepatócitos, seguida então de sua conjugação a uma ou duas moléculas de ácido glicurônico, por ação da enzima glicuroniltransferase, levando à formação de BD. A bilirrubina direta ou conjugada é uma substância hidrossolúvel, facilmente excretada pelo intestino através da bile.
O que ocorre no metabolismo na bilirrubina durante o período fetal?
Todavia, na vida fetal, esse processo fisiológico se processa de forma diferente. Durante esse período, a bilirrubina indireta produzida pela degradação da hemoglobina é excretada através da placenta, de modo que há pouca captação e conjugação de bilirrubina pelo fígado para formação de bilirrubina direta.
O que ocorre nos níveis de bilirrubina em recém-nascidos? Por quê?
No recém-nascido, há um aumento do fisiológico de bilirrubina indireta nos primeiros dias de vida pelo somatório de três mecanismos, influenciados pelo metabolismo da bilirrubina durante o período fetal: (a) produção exagerada de BI, como resultado da degradação intensa de hemácias justificada por hematócrito muito elevado (importante para manutenção da oxigenação tecidual durante a vida fetal, visto que o útero é um ambiente de relativa hipóxia) e hemácias de meia-vida mais curta, constituídas de Hb fetal; (b) imaturidade hepática, com processos de captação e conjugação débeis associados à baixa atividade da enzima glicuroniltransferase; e (c) aumento da circulação êntero-hepática de bilirrubina, devido ao transito intestinal lentificado no RN e à ação intensa da enzima beta-glicuronidase, a qual atua desconjugando a BD e favorecendo a reabsorção de BI.
Qual o resultado das particulares do metabolismo da bilirrubina durante o período neonatal?
Por essas razões, há frequentemente acúmulo de bilirrubina indireta universalmente em todos os recém-nascidos e desenvolvimento de icterícia fisiológica na maioria deles nos primeiros dias de vida.
O que justifica o período específico de desenvolvimento de icterícia neonatal fisiológica?
De fato, os fatores fisiológicos elevam a bilirrubina em cerca de 3mg/dL a cada dia, de modo que a icterícia fisiológica no RN a termo se manifesta entre o segundo e o terceiro dias de vida. Em RN pré-termo, o início do quadro de icterícia fisiológica ocorre entre o terceiro e o quarto dias de vida.
Por que o tema icterícia neonatal é tão importante, dado que sua principal causa é fisiológica?
Embora muitos quadros de icterícia neonatal sejam fisiológicos, esse assunto merece destaque e atenção pela neurotoxicidade da BI e pelo fato de que manifestações ictéricas, em determinados contextos, podem indicar doenças.
O que causa encefalopatia bilirrubínica e quais suas consequências?
Assim, quando em níveis elevados, a BI, por ser uma substância neurotóxica, pode cursar com encefalopatia bilirrubínica, a qual é capaz de causar óbito ou se instalar cronicamente, com sequelas clínicas permanentes, como um quadro de kernicterus.
Quais os fatores de risco para encefalopatia bilirrubínica?
Existem diversos fatores de risco para o desenvolvimento de encefalopatia bilirrubínica, sendo o principal deles a prematuridade, por cursar com aumento da permeabilidade da barreira hematoencefálica à passagem de BI. Há, ainda, outros importantes fatores de risco, como asfixia perinatal, hipoalbuminemia, antibioticoterapia com ceftriaxone, jejum prolongado, entre outros.
Quais fatores apontam para a possibilidade de icterícia neonatal patológica?
(a) icterícia precoce, com início < 24 a 36 horas de vida; (b) velocidade de aumento de bilirrubina > 5mg/dL/dia; (c) nível elevado de bilirrubina, superior a 12mg/dL em RN a termo, o que pode ser identificado ao exame físico a partir de uma icterícia que alcança a zona 3 de Kramer; (d) outras alterações clínicas associadas; (e) icterícia persistente, definida como icterícia superior a 7 a 10 dias em RN a termo e superior a 10 a 14 dias em RN pré-termo; (f) presença de sinais de colestase ou níveis elevados de BD; (g) história familiar de anemia hemolítica (exceção feita à anemia falciforme, que começa a se manifestar a partir de 6 meses de vida, geralmente através de dactilite falcêmica), este último fator bastante controverso.
Como se dá a progressão de icterícia no período neonatal? Como se avalia isso ao exame físico e qual a correlação com os níveis de bilirrubina?
No período neonatal, a icterícia tem progressão craniocaudal, sendo que quando a icterícia alcança a zona 3 de Kramer (abaixo da cicatriz umbilical), a icterícia provavelmente não é fisiológica (níveis acima de 12). “Passou do umbigo, sinal de perigo!”. A zona 1, na face, está associada a níveis de Hb próximos a 5mg/dL e a zona 5, nas extremidades, a valores próximos de 20mg/dL.
O que fazer diante de indícios de icterícia patológica?
Na presença de sinais indicativos de icterícia patológica, a investigação diagnóstica é mandatória, devendo ser iniciada a partir da análise do momento de avaliação do recém-nascido.
Qual o primeiro passo na avaliação de icterícia patológica?
Análise do momento de avaliação do recém-nascido.
Em qual diagnóstico deve-se pensar em casos de icterícia neonatal precoce?
Sendo assim, em casos de icterícia precoce (< 24h de vida), deve-se considerar a possibilidade de anemia hemolítica, sendo que as principais causas de hemólise nesse contexto são as incompatibilidades materno-fetais.
Qual a causa das incompatibilidades materno-fetais?
O processo de isoimunização: anticorpos maternos, ao atravessarem a barreira hematoplacentária, tornam-se capazes de identificar antígenos da superfície de hemácias do feto, resultando em destruição eritrocitária fetal. Tal processo se inicia durante a vida fetal, podendo se prolongar no período neonatal.
Como identificar a ocorrência de isoimunização?
A isoimunização é identificada a partir dos testes de Coombs direto, os quais são capazes de identificar a presença de anticorpos ligados às hemácias
Como identificar a ocorrência de sensibilização materna?
Testes de Coombs indireto, que detectam a presença de anticorpos séricos.
Qual o tipo mais grave de incompatibilidade materno-fetal?
Existem diferentes formas de incompatibilidade materno-fetal, sendo a mais grave a incompatibilidade Rh
Como ocorre a incompatibilidade Rh?
Incompatibilidade Rh é marcada por mãe Rh negativo (com anticorpos IgG anti-Rh ou anti-D) e RN Rh positivo; nesses casos, os anticorpos anti-Rh maternos atravessam a placenta e se ligam a antígenos Rh de hemácias fetais, resultando em hemólise.
A incompatibilidade Rh ocorre em todos os contextos de mãe Rh negativo e feto Rh positivo?
Não. Destaca-se que nem todas as mulheres Rh negativas apresentam anticorpos anti-D. Assim, somente aquelas submetidas aos processos de sensibilização (contato com sangue Rh positivo) apresentam anticorpos séricos anti-D, que podem ser identificados por testes de Coombs indireto positivo.
Qual a principal causa de sensibilização materna?
A sensibilização prévia pode ocorrer por gestação prévia com feto Rh positivo, em que não foram adotadas medidas para evitar a sensibilização (administração de imunoglobulina pós-parto ou pós-aborto).