Psicologia, Ciência e Profissão Flashcards
(23 cards)
Como a noção de clínica em Psicologia foi influenciada pela Medicina e o que mudou em relação ao entendimento da clínica hoje?
A Psicologia foi profundamente influenciada pela Medicina no seu início. Ela herdou da Medicina a patologização do sofrimento, ou seja, transtornos eram tidos como doenças passíveis de tratamento. A abordagem nessa época era puramente de diagnóstico e classificação, e o paciente ocupava uma posição passiva de tratamento, ao passo de que o psicólogo ocupava um lugar de autoridade. O exercício da clínica ocorria exclusivamente em consultórios, como para os médicos.
Hoje, a Psicologia Clínica se distancia do modelo médico e adota uma abordagem para além do biológico, considerando fatores culturais, sociais e subjetivos. Ela valoriza a subjetividade, a prevenção e a promoção de saúde, e não apenas a doença. Também, o paciente não ocupa uma posição passiva e sim ativa no processo terapêutico. A clínica não se restringe mais ao consultório, podendo ocupar diversos outros espaços, como hospitais, escolas e comunidades.
Como a noção de clínica na Psicologia é compreendida hoje no Brasil?
No Brasil, a noção de clínica se distanciou do modelo médico e incorporou aspectos da realidade socio-cultural e política brasileira, com práticas em diversos ambientes que ultrapassam o consultório, como o SUAS, o CAPS e o CRAS. A psicologia clínica brasileira possui uma pluralidade de abordagens teóricas e de práticas com o objetivo de promover a saúde mental e transformar a realidade brasileira para diversos grupos sociais, levando em consideração questões de gênero, raça e renda.
Qual é o compromisso social do psicólogo escolar/educacional?
O psicólogo escolar tem o compromisso social de transformar a realidade social através da emancipação e da educação libertadora, de maneira que os alunos, através da aprendizagem ativa, tornem-se conscientes, críticos da própria realidade e criem ferramentas para transformá-la. O psicólogo escolar tem o compromisso de lutar contra a alienação e a passividade diante de um contexto de marginalização, empoderando a classe marginalizada. Também tem o compromisso de promover a inclusão nos ambientes escolares
Qual a diferença do psicólogo escolar e do psicólogo educacional?
O psicólogo escolar está sempre aplicando técnicas e intervenções no local de trabalho, ele possui um enfoque na prática psicológica. Já o psicólogo educacional é um produtor do saber, ele produz conhecimentos que serão utilizados pelo psicólogo escolar e por outros. Para alguns autores, não há discernimento, pois ambos deveriam ter as duas funções.
Qual a diferença do psicólogo escolar e do pedagogo?
O psicólogo possui um foco nos fenômenos psicológicos no processo educativo, enquanto o pedagogo foca nas técnicas e processos de ensino que devem ser usadas para a efetividade da aprendizagem. Ambos trabalham interdisciplinarmente.
Quais foram as contribuições de Paulo Freire para as diversas psicologias?
Paulo Freire é um dos grandes nomes da Psicologia e da Pedagogia brasileira. Ele contribuiu com suas ideias de que a educação deve ser libertadora e deve ser ferramenta de emancipação e de conscientização da realidade social, criando senso crítico nos alunos e capacitando-os para mudar a própria realidade. Paulo Freire critica a educação passiva, pacificadora e alienante. Ele contribui para a Psicologia Social ao defender a luta pela transformação social e conscientização dos grupos oprimidos na sociedade.
“Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”.
Como era o exercício da Psicologia Escolar no seu início, e como ela é hoje?
A Psicologia Escolar era inicialmente somente uma “importação” da psicologia clínica para o ambiente escolar, usada para controle e exclusão social ao ter o papel exclusivamente de rotular e diagnosticar, causando uma segregação entre alunos “normais” e “anormais”. A partir da década de 80, mudanças surgiram e a Psicologia Social passou a focar no aluno e em sua individualidade e contexto social, abandonando o papel de patologização para promover o bem estar e a saúde mental no contexto de aprendizagem, possibilitando adaptações no ambiente escolar e inclusão social.
Quais as novas formas de atuação do psicólogo escolar/educacional?
A atuação do psicólogo escolar supera as barreiras do diagnóstico e da orientação vocacional para também atuar na promoção da saúde mental e prevenção do sofrimento psíquico, acolhendo toda a comunidade escolar (pais, filhos e professores), adotando processos de inclusão social e de promoção de equidade e diversidade, apoiando alunos em vulnerabilidade e tornando, por fim, o ambiente escolar mais inclusivo e acolhedor para tornar a aprendizagem possível e de qualidade para todos.
Qual o principal objetivo da intervenção realizada na horta comunitária?
O objetivo definido para a intervenção foi o de promover o desenvolvimento humano e incentivar a formação grupal considerando as atividades na horta como ferramentas para tal.
Qual teoria de Martin-Baró serviu de embasamento para a horta comunitária?
A teoria de Martín-Baró (1989) sobre processo grupal, que indica tipos de vínculos nas relações entre indivíduos inseridos em um grupo, quais sejam:
Vínculos de natureza primária: vínculos interpessoais para fins de satisfação de necessidades pessoais afetivas;
Vínculos de natureza funcional: relações sociais resultantes de relações de trabalho para fins de satisfação de necessidades sistêmicas.
A horta comunitária é um espaço em que os sujeitos estão inicialmente ligados por vínculos funcionais com considerável potencial para se requalificarem em vínculos primários.
Qual foi o método de pesquisa para coletar os dados da intervenção realizada na Horta Comunitária?
O método foi uma pesquisa qualitativa, explicada por Severino (2013), uma vez que as observações e vivências registradas necessitavam ser compreendidas tendo em vista o contexto e a partir de interpretações.
Qual foi um dos principais resultados obtidos com a intervenção da Horta Comunitária?
A intervenção da horta comunitária propiciou diversos resultados positivos, dos quais podemos destacar o fortalecimento da união grupal e o desenvolvimento de vínculos primários (afetivos), além dos vínculos funcionais (trabalho). Também é possível citar a criação de um grupo de apoio para todos os integrantes, mesmo após a finalização do trabalho, e também a aprendizagem de técnicas e métodos de plantio que foram aplicadas pelos participantes em suas hortas pessoais, contribuindo para a geração de renda dessas pessoas.
Quais os desafios enfrentados pelos estagiários durante o projeto da Horta Comunitária?
Os estagiários enfrentaram diversas dificuldades, tanto no que diz respeito à Instituição através da qual realizaram o projeto, quanto com os próprios participantes.
Houve falta de repasse de verba para adquirir os materiais para a horta, burocratização que limitava a ocupação de espaços fora da instituição, infraestrutura precária, com salas pequenas que limitavam as possibilidades de dinâmica.
Com os participantes, houve desafios no que diz respeito às diferenças intergeracionais, que geraram conflitos e também obstáculos para a criação de atividades em comum a todas as faixas etárias. Houve também conflitos interpessoais, discussões decorrentes de opiniões contrárias, que foram mediadas pelos estágiarios e psicóloga.
Como a Psicologia Social entende a importância do trabalho em grupo?
A Psicologia Social entende que é através dos grupos que o sujeito cria identidade. (Pichon-Rivière). O sujeito não existe em si só, ele existe na medida em que interage com o seu ambiente, com a sociedade. Ele é o que é porque pode expressar-se no meio.
O trabalho em grupo possibilita o desenvolvimento de relações interpessoais profundas entre indivíduos que permite o senso de coletivismo, pertencimento e cooperação. É através de vínculos fortes que se criam grupos fortes, capazes de transformar a realidade dos indivíduos que neles estão inseridos. Dessa forma, o trabalho em grupo contribui para a gestão das necessidades coletivas e individuais, bem como o enfrentamento da realidade de marginalização. O sentimento de pertencimento a um grupo contribui para que o indivíduo tenha estrutura, apoio e acolhimento, gerando bem estar e segurança e incentivando a autonomia de todos os participantes.
Como o psicólogo hospitalar deve fazer sua psicologia no contexto hospitalar? Qual a necessidade de se fazer dessa forma?
O psicólogo hospitalar deve fazer uma “Psicologia Médica”, na qual os aspectos psicológicos são vistos e tratados como associados à questão de saúde física, não devendo desta ser dissociados.
É importante adequar-se dessa forma, uma vez que o paciente hospitalizado não é o mesmo do paciente de consultório. Ele possui uma demanda específica, uma vez que está acometido de doenças orgânicas e quadros de gravidades diversas.
Qual é o papel do psicólogo hospitalar no seu trabalho?
O papel do psicólogo hospitalar é apoiar o paciente, esclarecê-lo, informá-lo, levar a equipe a se relacionar efetivamente com ele, dar-lhe todas as informações de aspectos específicos de sua patologia e do prognóstico. Sendo assim, ele é fundamental para garantir a harmonia da equipe e do paciente.
Como é o contexto histórico de inserção dos profissionais de psicologia na área hospitalar?
Os psicólogos, inicialmente, foram introduzidos no campo hospitalar sem bases teóricas e metodológicas próprias para essa área de atuação, de maneira que a solução foi importar essas bases da clínica. No entanto, essa solução se tornou inviável rapidamente, já que as demandas dos pacientes hospitalizados eram bem diferentes dos pacientes do consultório. Outro desafio foi a inserção do psicólogo em um contexto onde era prescindível a atuação de outros profissionais da saúde em conjunto com médicos e enfermeiros.
Essa inserção se deu de maneira desorganizada em um momento de inclusão de outros profissionais, como fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas e terapeutas ocupacionais. Essas equipes multidisciplinares não possuiam interação entre si, e portanto não agiam como equipes de fato, mas somente dividiam funções. Com o tempo, tornou-se necessário uma maior integração da equipe visando o bem estar do paciente, cenário hoje presente, embora ainda varie os níveis de integração.
Quais são algumas das dificuldades enfrentadas pelo psicólogo hospitalar?
O psicólogo hospitalar enfrentar diversas dificuldades em sua atuação. Existe uma relativização do papel do psicólogo em hospitais, tendo em vista que seu trabalho não é tangível como prescrição de remédios ou dieta, mas sim consiste basicamente em orientações e conselhos, condutas essas assumidas por outros profissionais esporadicamente, já que “conselho, qualquer um pode dar”. Assim, a presença do psicólogo é descartada frequentemente, e também ocorre conflitos dentro da equipe.
O cenário hospitalar também é muito voltado para a figura de poder do médico, o que pode também contribuir para a desvalorização do trabalho do psicólogo.
O que é a análise funcional na Psicologia Hospitalar e qual a sua importância?
A análise funcional é um tipo de análise que o psicólogo hospitalar deve fazer para indicar as condições do ambiente, identificando se há as condições materiais necessárias para exercer seu trabalho. A análise também deve compreender o quanto o trabalho do psicólogo é compreendido e requisitado no ambiente, o quanto suas sugestões serão bem acolhidas. O psicólogo também deve entender o perfil demográfico do paciente e estudar de maneira aprofundada sobre o distúrbio que acomete o paciente e suas implicações psicológicas, para só então ser capaz de desenvolver propostas concretas e iniciar sua ação.
Qual a importância das propostas concretas do psicólogo hospitalar?
Com propostas concretas, o psicólogo estará falando a mesma linguagem dos médicos e enfermeiros e aumentando a possibilidade de comunicação efetiva. Com uma visão detalhada da literatura e das características epidemiologias das doenças que a equipe trata, seu plano de trabalho tem maiores chances de ser mais produtivo, inovador e gerador de conhecimentos. Assim, ele será um participante efetivo e não um mero coadjuvante na equipe.
O que é a interconsulta e como o psicólogo hospitalar? atua nela? Qual a importância para a valorização do trabalho do psicólogo hospitalar?
A interconsulta é uma solicitação realizada pelo profissional de saúde que está cuidando de um paciente, para que um outro profissional de outra área (o interconsultor) realize uma ação que vise esclarecer, diagnosticar ou dar solução a uma problemática de saúde que o paciente tenha e que fuja da competência do profissional primeiro.
O psicólogo pode assumir o papel de interconsultor em diversas situações: dificuldades de aceitação do diagnóstico e/ou prognóstico, ansiedade exacerbada em situações de exame, tristeza e/ou depressão eliciadas pelo quadro clínico ou pelo isolamento social e familiar decorrentes da hospitalização, entre outros.
A ação eficiente e adequada do psicólogo enquanto interconsultor é uma das ações mais visíveis perante outros profissionais, por isso é de responsabilidade do psicólogo agir com competência para aumentar a valorização de seu trabalho.
Qual é a importância do papel do psicólogo hospitalar em casos de pacientes terminais?
O psicólogo hospitalar é de extrema importância em casos terminais. A presença continuada do psicólogo é fundamental para o paciente evoluir favoravelmente em seu processo de compreensão e aceitação do que vai acontecer em sua vida. O psicólogo deve estar bem preparado para lidar com esses pacientes, e ter uma boa compreensão e aceitação pessoal do processo de morrer. Ele também deve identificar o preparo da equipe para lidar com essas situações, e, se for necessário, indicar um outro psicólogo estranho à equipe para proporcionar o apoio necessário a ela.
Qual a importância da informação para o paciente no contexto da psicologia hospitalar?
O acesso à informação a respeito dos procedimentos, exames, e processos médicos é um direito do paciente. Garantir que a informação foi dada e compreendida é parte integrante do trabalho do psicólogo. A informação é parte do processo terapêutico do paciente, e, bem informado, ele evolui melhor e mais rápido e sofre menos psicologicamente.