"Quando não há problemas, estamos de boa saúde, sem azar nem nada": para uma concepção emancipatória da saúde e das medicinas Flashcards

1
Q
  1. Medicina, medicinas…
A

Subculturas médicas, cada uma com as suas próprias características e estruturas. Definidas como uma entidade homogênea, resultando, por ignorância, na referência a uma medicina tradicional de caráter único e geral.
A hibridização dos conhecimentos terapêuticos constitui uma diversidade entremeada de apropriações transformadas, e não cristalizadas no espaço e no tempo, como tantas vezes sugerem os “valores tradicionais”.
Pluralidade:
Oficial/não-oficial: definida pelo Estado, que estabelece uma distinção entre o legal e o ilícito. A medicina não reconhecida como estatal é tolerada, mas frequentemente ignorada por sua impermeabilidade a imposições e controle. A medicina tradicional abrange saberes: biologia, química, biomedicina, justiça, religião - redução da complexidade a uma lista de áreas científicas = formalização do Estado; as instituições que tomam conta da doença são simultaneamente políticas, terapêuticas, jurídicas e religiosas.
Tradicional/moderno: modernidade = eurocentrismo. Tradicionalização = que está lá “desde sempre”.

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2
Q
  1. A invenção da medicina tradicional
A

Colonização do próprio saber - negação do reconhecimento pelo Estado e seus organismos; o “outro”: inclusão no mundo natural e exclusão do mundo civilizado. Fraca abertura moderna a possíveis outras formas de diagnóstico. Anulação de práticas que não atuam de acordo com os ideais de desenvolvimento moderno preconizados pelo Estado. Subordinação do tradicional ao moderno.

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3
Q
  1. Os médicos tradicionais e a medicina tradicional - o conceito de saúde
A

3.1. “Ter saúde é ter boa vida…”:
Conceito de saúde relacionado a um balanço social: casa bem construída, comida, dinheiro para roupa, sabão, escolaridade, hospital. Estar em paz com a família, os vizinhos e o próprio corpo, alimentado, empregado e protegido.
3.2. Medicina e feitiçaria:
Identificação da imagem do terapeuta à do feiticeiro. Distinção: o curandeiro cura, o feiticeiro conhece remédios para matar.
3.3. Quem é o médico tradicional?
O nyanga é aquele que cura, o que conhece a força dos remédios e como curar com o auxílio do saber de espíritos ancestrais.
3.4. Sobre as doenças:
Para o médico tradicional, curar significa remover todas as impurezas ou desequilíbrios da vida do paciente, pelo que cada tratamento termina normalmente com uma cerimônia de purificação, prevenindo contra situações semelhantes de futuro. A feitiçaria atua como elemento regulador das pressões sociais dissonantes.
Os médicos tradicionais reconhecem sua incapacidade de resolver a totalidade dos casos que lhes apresentam e sugerem que o doente vá consultar terapeutas praticando outras medicinas.

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4
Q
  1. A importância da medicina tradicional:
A

4.1. Entre a legitimação e a legitimidade:
Estado: só quem estudou nos centros formalizados de saber é que está autorizado a praticar medicina. Caracterização da medicina tradicional como prática ilegal de saber.
4.2. A vitalidade da medicina tradicional:
Delimitação da medicina tradicional aos indígenas não civilizados; proibição de atuação pelo Estado durante o período colonial até flexibilização na década de 80, onde foi constituída a AMETRAMO - Associação dos Médicos Tradicionais de Moçambique.

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5
Q
  1. A AMETRAMO
A

5.1. A formação da Associação:
Capacidade do médico tradicional de atuar como mediador na resolução de problemas (relacionados a feitiçaria, por exemplo) que leva o Estado a tentar controlar os terapeutas, usando como mecanismo a formação de uma Associação. É imprescindível como espaço de legitimação racional e reivindicação plural dos médicos tradicionais. É necessária para a certificação da sua atividade, através da qual são reconhecidos os “verdadeiros curandeiros”.
5.2. O Estado e a AMETRAMO:
O Estado ignora o médico tradicional, enquanto os seus funcionários recorrem a este frequentemente. Impossibilidade de dividir a sociedade em tradicional e moderno.

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6
Q
  1. Onde reside a alternativa?
A

Será que a medicina tradicional é realmente alternativa a biomedicina?é a capacidade de se apoderar da modernidade e de a modificar consoante as suas necessidades que faz acreditar na força deste campo de saber. A alternativa não reside nos conhecimentos outros, classificados como complementares, mas numa relação entre diferentes conhecimentos, todos legítimos na perspectiva de quem a eles recorre e os consagra como forma de poder.

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