Técnica cirúrgica Flashcards
(26 cards)
Quais os principais antissépticos e quais as suas vantagens e desvantagens?
A antissepsia das mãos e de tecidos no geral é feita no intuito de eliminar a microbiota transitória totalmente e reduzir ao máximo a microbiota residente. Entre os antissépticos temos 3 principais grupos utilizados:
- Iodóforos: PVPI (polivinil pirrolidina), como exemplo temos a povidine iodo e narcodine. Os iodóforos agem penetrando e oxidando a membrana celular dos microorganismos, tendo efeito ótimo em torno de 2 minutos e residual de até 6 horas. Tem como desvantagens a alta taxa de reação tecidual alérgica e a inibição pela matéria orgânica.
- Clorexidina: tem sua formação associada à água ou álcool. A clorexidina tem sua ação baseado na destruição da membrana celular do microrganismo, tendo um efeito ótimo em torno de 15 segundos e residual de até 8 horas ( maior do que os iodóforos). Tem como vantagens a possibilidade de seu uso em contato com materiais orgânicos, como o sangue, e baixa taxa de reação tecidual e alérgica. Apesar disso, é um material altamente agressivo se entrar em contato com os olhos e orelhas, tendo que ampliar o cuidado quando realizado antissepsia próxima a esses locais.
- Álcool 70: o álcool age desnaturando proteínas. Seu efeito ótimo é instantâneo, porém não apresenta efeito residual. Se associado a outras substâncias, como a biguanina polimérica, ele pode ser utilizado de modo a permitir um efeito residual e dispensar o uso da bucha na antissepsia das mãos e antebraço. Uma desvantagem do seu uso é a desidratação tecidual por ele provocada.
Qual a divisão dos artigo quanto à necessidade de anti/assepsia?
- Críticos: em contato com superfícies estéreis. Ex: instrumentos, fios, drenos, avental. Devem passar por assepsia( esterilização) por calor úmido (autoclave), seco (estufa), radiação ionizante ou produtos esterilizantes como peróxido de hidrogênio, óxido de etileno e ácido peracético.
- Semicríticos: em contato com pele não íntegra ou mucosas. Ex: sondas, endoscópios, esspéculos, porta-grampos, … Devem ser desinfectados ( álcool, formaldeído, quaternários de amônia, compostos clorados, …)
- Não críticos. Ex: mesa, esteto, termômetro.
Quais os fios de sutura absorvíveis e inabsorvíveis e quais mais utilizados?
Entre os principais fios inabsorvíveis, temos: náilon, algodão (seda) e polipropileno
- Náilon: sintético, mono ou multifilamentar, baixa reação inflamatória e alto tempo de manutenção da força tênsil. Muito utilizado na pele e em aponeuroses.
- Algodão: biológico, multifilamentar, perde a força tênsil mais rapidamente, alta reação inflamatória local.
- Polipropileno (prolete): monofilamentar, muito semelhante ao náilon, porém mais utilizado em anastomoses vasculares.
Entre os principais fios absorvíveis, temos: poligalactina (vicryl), catgut (cromado ou não) e poliglecaprone (monocryl).
- Vicryl: sintético, multifilamentar, absorção regular de 70 a 80 dias, maleável e baixa reação tecidual.
- Monocryl: sintético, monofilamentar, muito utilizado em suturas intradérmicas, absorção um pouco mais ampla (90 a 120 dias).
- Categute: biológico (tecido submucoso intestinal), multifilamentar, absorção irregular ( dias e até 3 semanas para o cromado), pouco maleável e com alta reação tecidual. Utilizado em vasos e tecido subcutâneo.
Tempos operatórios fundamentais:
O ato operatório é divido em tempos fundamentais com o intuito de padronizar e organizar as operações. Entre os principais presentes em toda e qualquer operação temos: diérese, hemostasia, procedimento operatório propriamente dito e síntese.
- Diérese: é o ato de dividir os tecidos a fim de chegar na estrutura na qual o procedimento será realizado. Os tipos de diérese são: punção, divisão, divulsão, descolamento, curetagem e dilatação. Os agentes incluem os cabos de bisturi, as lâminas, as tesouras (Mayo e Metzenbaum), bisturi elétrico (utilizado no subcutâneo e aponeurose: possibilita hemostasia simultânea), crioterapia com nitrogênio líquido ou raio laser com CO2. Entre as característica de uma diérese correta temos: extensão correto, técnica correta (bordas nítidas favorecendo a cicatrização), hemostasia, respeitar os planos anatômicos, respeitar as linhas de Kraissl e dissecar aponeuroses na direção de suas fibras.
- Hemostasia: é o ato de controlar os sangramentos provenientes da diérese ou do procedimento propriamente dito. É dividida em prévia ou incruenta, e cruenta temporária (laçadas, clampes vasculares) ou definitiva ( pinçamento, ligadura, bisturi elétrico, sutura e transfixação). Entre as características de uma boa hemostasia, temos: manter campo limpo e seco e utilizar fios adequados.
- Procedimento propriamente dito
- Síntese: é o ato de reunir ou aproximar tecidos, tendo função de coaptação e/ou sustentação. Entre os agentes, temos as pinças anatômicas e dente de rato, o porta agulha e as agulhas e fios. As características de uma síntese adequada incluem: antissepsia adequada, bordas viáveis, coaptação sem compressão e uso de materiais corretos para determinados tecidos.
Quais fatores locais e sistêmicos influenciam a cicatrização?
Sistêmicos: Aporte de O2, doença cardio-pulmonar, obstrução de vasos, anemia, desnutrição, diabetes mellitus(microangiopatias), uso de corticosteroides e imunossupressores.
Locais: Presença de corpo estranho, infecção e presença de tecido desvitalizado.
Cite as etapas da cicatrização e seus principais eventos. Especifique melhor a primeira fase de cicatrização:
Exsudativo ou inflamatória: dura de 4 a 6 dias e se divide em 3 eventos: hemostasia, migração leucocitária e epitelização. Patogenia: lesão, hemorragia, vasoconstrição imediata, coagulação, vasodilatação por mediadores, migração leucocitária, fagocitose, plaquetas. Epitelização depende de O2( só dos vasos, não necessita de exposição ambiental) e umidade.
Proliferativa: dura até 3 semanas, proliferação fibroblástica com síntese de colágeno dependente de O2, ferro e ácido ascórbico.
Maturação: de 3 semanas até 2 anos, alterações no colágeno (maturação e organização).
Quais são os tipos de cicatrização e suas recomendações?
- Primeira intenção ou primária: quando ocorre síntese da ferida com aproximação dos bordos já no primeiro momento de tratamento desta ferida. Recomendada em lesões cortantes não tão intensas e feridas limpas com bordos viáveis.
- Segunda intenção ou secundária: quando o tratamento não é feito com a síntese dos tecidos e a cicatrização da ferida é espontânea com tecido de granulação. Recomendada quando se tem grande perda tecidual (em queimaduras, por exemplo).
- Terceira intenção ou terciária ou primária retardada: quando a síntese do tecido é deixada para um segundo período. É recomendada em lesões infectadas (em mordidas, por exemplo). Realiza-se, assim, um desbridamento e desinfecção prévios.
No contexto do trauma, quais as causas de choque?
- Hemorrágico (principal): choque hipovolêmico
- Não hemorrágico: pensar do contexto de trauma do diafragma para cima.
- Cardiogênico: contusão cardíaca , embolia pulmonar, tamponamento, IAM
- Obstrutivo: tamponamento, pneumotórax hipertensivo
- Neurogênico: trauma raquimedular em cervical ou torácica alta
- Séptico: menos comum, atraso na chegada ou ITU prévia causou a queda
Quais os achados clínicos do choque?
- Iniciais: taquicardia e sudorese com extremidades frias (efeitos inicias das catecolaminas)
- Taquipneia
- Oligúria
- Estado mental
- PA: redução da PAS e da pressão de pulso (diferença PAS e PAD) -> alteração mais tardia
Como caracterizar taquicardia nas diferenças idades?
- Lactente: 160
- Pré-escolar: 140
- Puberdade: 120
- Adulto: 100
Cuidado com idosos, quem utiliza beta bloq ou marcapasso, pois pode não alterar a FC no contexto do choque
Descreva a sequência de procura de sangramentos no contexto do choque ocasionado por um trauma:
- Externo
- Abdominal (fast)
- Torácico (radiografia e fast em derrame pericárdico)
- Retroperitoneal ou pelve
- Coxa (ossos longos e partes moles) - radiografia
Classes de classificação de pacientes com hemorragia
Um homem de 70 kgs tem 5 L de sangue (70% peso corporal)
Classe I (até 750 ml): SSVV normais. Reposição com cristalóide se necessário
Classe II (750 até 1.5L): Altera FC, FR e pressão de pulso (às custas da PAD). Reposição cristalóide. Ex: fratura de fémur, úmero.
Classe III (1.5 até 2 L): Começa a alterar PA. Reposição com cristalóide/sangue
Classe IV (mais que 2 L): FC acima de 140. Urgência de reposição cristalóide e sangue.
Sinais vitais e estado mental:
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O que é reanimação controlada/ hipotensão permissiva nos casos de choque sem resposta à reposição volêmica?
Não exagerar na reposição de fluidos e manter a PAM abaixo da normal com o intuito de prevenir ressangramentos.
Valor normal de DU no adulto e criança:
0,5 ml/kg/hr
Num adulto de 70 kgs, 35 ml/hr
Para criança, 1 ml/kg/hr
Abaixo de 1 ano, 2 mg/kg/hr
Por que utiliza-se o Ringer Lactato em pacientes traumatizados?
O Ringer Lactato tem composição semelhante ao plasma, porém sem o bicarbonato.
Ele é utilizado, visto que o lactato é convertido pelo corpo no íon bicarbonato, controlando a acidose metabólica típica do contexto de trauma e choque.
Reposição volêmica no choque (ATLS 10 ed):
- Iniciar com bolus de solução cristaloide 1L (20mg/kg em crianças) isotônica e aquecida.
- Avaliar resposta
- Pacientes que sofreram hemorragias classe III e IV necessitam de transfusão com sangue total.
Técnica de Seldinger, complicações e funções de um AVC:
Utilizada para pegar um acesso venoso central. Para descrição da técnica será utilizado a V. Jugular Interna:
- Lado D, abdução do pescoço para esquerda, trendelemburg 15 graus, anestesia com lidocaína 1%, introduzir agulha com seringa entre o ápice e o terço médio do triângulo formado pela clavícula e as cabeças esternal e clavicular do ECM, entrar 30 graus mirando o mamilo ipsilateal, ao refluir sangue analisar seu aspecto, retirar seringa e tampar entrada pra não entrar ar, entrar com o fio guia, retirar agulha, passar dilatador, introduzir o cateter e retirar o fio guia, fixar com nailon 3 zeros.
- Complicações: infecção, pneumotórax, lesão arterial, embolização do cateter e hemotórax.
- Funções: Pressão venosa central, hemodiálise, infusão de grandes volumes, veias periféricas inadequadas, nutrição parenteral e quimioterapia.
Resposta Endócrino-Metabólica-Imunológica ao Trauma (REMIT):
Fase de fluxo (24 hrs) ou EBB: desencadeada pela diminuição do volume plasmático circulante e perda de sódio.
- Primeira onda: ativação dos barorreceptores com consequente secreção de catecolaminas: vasoconstrição periférica, taquicardia, sudorese, resposta pancreática (menos insulina mais glucagon).
- Taquipneia pela ação dos quimiorreceptores que avisam o centro respiratório bulbar.
- Segunda onda: diminuição do FS renal: SRAA: reabsorção de sódio e diminuição da diurese.
- Terceira e quarta onda: participação hipotalâmica: neuro-hipófise secreta ADH (reabsorção no TCD de água: diminuição da diurese) e eixo HPA (secreção de cortisol).
Fase catabólica do refluxo: perda de peso e inanição por:
- Aumento do cortisol e redução da insulina
- Beta-oxidação das gorduras, glicogenólise e catabolismo muscular
- Gera: aumento do nitrogênio ureico, redução da albumina, aumento das globulinas, aumento da diurese.
Fase anabólica do refluxo: aumento do peso com retenção hídrica.
- Retorna a captação fisiológica da glicose (retorno da insulina).
Classificação das cirurgias quanto ao potencial de infecção:
Limpa (2% de infecções)
- eletiva, fechada, sem inflamação, não realizada em víscera oca, sem quebra de técnica, menos de 6 horas;
Potencialmente contaminada (10% de infecções)
- TGI, TGU, TR, trato biliar sem infecção, mínima falha;
- ATB profilático;
Contaminada (20% de infecções)
- Ferida traumática aberta e recente, inflamação aguda não purulenta, quebra maior da técnica, cistostomia, colecistite aguda;
- ATB;
Infectada (30-40%)
- Feridas traumáticas com sujidades, retenção de tecidos desvitalizadas, corpos estranhos, vísceras perfuradas, pus encontrado durante operação;
- ATB.
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Conduta no paciente queimado:
Pré-hospitalar:
- Água corrente 15 min (30 se queimadura química);
- Cobertura com gaze/ pano limpo de preferência morna/quente para prevenir hipotermia;
- Remoção de roupa (com exceção da aderida à pele) e adereços.
Hospitalar:
- Remoção do agente causador;
- A: suspeitar de comprometimento de via aérea pela inalação de fumaça e pelo edema causado pela queimadura (avaliar vibrissas, sinais vitais, presença de tosse, rouquidão, estridor, >40% superfície corporal);
- B: IOT e oxigenoterapia caso necessário;
- C: acesso venoso calibroso (mínimo 16): repor volume pela fórmula:
RL 2 ml (4 se elétrica com rabdomiólise) x Kg x % área
OBS: fazer metade nas primeiras 8 horas.
- D: avaliar consciência
- E: despir e controlar temperatura.
Cálculo de extensão de queimaduras:
Regra dos 9 (% da queimadura):
- 9 cabeça (18 em criança);
- 9 cada MS;
- 18 tronco anterior;
- 18 tronco posterior;
- 1 períneo;
- 18 cada MI (14 em criança).
Definições de enxerto e retalho:
- Enxerto: segmento da epiderme associado à sua derme com espessura variável.
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Exames de Pré-operatório:
HMG, coagulograma (TAP, TPT), Tipagem sanguínea, glicemia, creat, eletrólitos, urinocultura (urina 1 não), EPF, ECG.
Avaliação do risco cirúrgico (ASA):
I: normal
II: ‘’ doença sistêmica leve
III: ‘’ grave não incapacitante
IV: ‘’ incapacitante, ameaça à vida
V: sobrevida mínima
VI: cadáver
E: adiciona se emergência