Complicações em cirurgia Flashcards
Qual a definição de febre?
Desordem hipotalâmica da termorregulação com consequente aumento da temperatura basal (<37,2ºC).
Qual a patogênese da febre?
Agentes infecciosos (vírus, fungos e bactérias) liberam substâncias chamadas genericamente de pirogênios exógenos (PEx), que ao terem contato com linfócitos, macrófagos e monócitos estimulam a síntese e liberação, por parte destas células, de mediadores chamados pirogênios endógenos (PEd; ou citocinas pirogênicas). Os pirogênios endógenos induzem as células endoteliais hipotalâmicas a sintetizar prostaglandinas, que agem no centro regulador hipotalâmico (termostato), com a finalidade de reajustar a temperatura corporal para cima (1 a 2ºC), iniciando dessa forma o processo de conservação de calor através de três processos:
- Vasoconstrição periférica;
- Calafrios (que aumentam a geração muscular de calor);
- Termogênese não relacionada aos calafrios.
Quais os principais representantes dos pirogênios endógenos (PEd; ou citocinas pirogênicas)?
- Interleucina 1 e 6 (IL-1 e IL-6);
- Fator de necrose tumoral alfa (TNF);
- Fator neutrofílico ciliar;
- Interleucina-;
Qual a diferença entre febre e hipertermia?
Febre: Elevação da temperatura corporal consequente a desordem da termorregulação hipotalâmica.
Hipertermia: Elevação da temperatura corporal sem que haja desordem da termorregulação hipotalâmica. Ex: hipertermia maligna.
Se tratando do surgimento da febre em pacientes cirúrgicos, podemos dividir seu surgimento em 4 tempos, quais são eles?
Febre intra-operatória (principais causas: infecção preexistente e reação transfusional);
Febre nas primeiras 24h de pós-operatório;
Febre entre 24 e 48h de pós-operatório;
Febre após 72h de pós-operatório.
O que é a hipertermia maligna e como ela se manifesta?
É uma desordem autossômica dominante do músculo esquelético. Sua crise é deflagrada pela exposição a alguns bloqueadores neuromusculares despolarizantes (Ex: Succinilcolina) e a agentes inalatórios halogenados (Ex: Halotano), que irão causar uma brutal saída de Ca2+ do retículo sarcoplasmático para o citoplasma do miócito, resultando em contração muscular incessante, o que leva a aumento do metabolismo muscular (gerando calor). A alta demanda de O2 muscular não consegue ser suprida, e o metabolismo anaeróbico é ativado, provocando aumento do ácido lático e consequente acidose metabólica, seguida de morte da célula muscular esquelética. A morte do miócito traz como consequência hipercalemia (K+), hipercalcemia (Ca2+), rabdomiólise e mioglobinúria. Anormalidades no ECG e elevação da creatinoquinase também são encontradas.
Qual a manifestação da hipertermia maligna?
- Rigidez muscular intensa (notada geralmente pela incapacidade do anestesista de abrir a boca do paciente, fenômeno ocasionado por espasmo do masseter).
- Temperatura elevada (42ºC);
- Acidose;
- Taquicardia;
- Arritmia;
Qual o tratamento para crise de hipertermia maligna?
Suspensão imediata das drogas desencadeantes;
Administração do relaxante muscular (Dantrolene 2,5 mg/kg, IV).
Após quanto tempo da administração da succinilcolina se pode ter início a crise de hipertermia maligna?
Geralmente 30 min após administração da droga. Mas a crise pode ocorrer até 24h do pós-operatório.
Qual a definição de hipotermia?
Redução da temperatura corporal central (TCC) < 35ºC.
Obs: A TCC não é aferida na axila. A TCC pode ser aferida no esôfago, membrana timpânica, bexiga e reto.
Como o organismo tenta combater a hipotermia?
O hipotálamo estimula a contratilidade muscular, elevação dos hormônios tireoidianos, cortisol e catecolaminas.
A catecolamina adrenérgica leva a vasoconstrição periférica e a hipoperfusão da pele, com objetivo de reduzir as perdas de calor por evaporação.
Qual é o tratamento da hipotermia?
- Intubação endotraqueal com ventilação mecânica;
- Cristalóide + aminas vasopressoras (dopamina) caso haja hipotensão;
- Reaquecimento externo ativo. Ex: cobertores aquecidos, forced air Warming;
Em hipotermia < 28ºC está indicado o reaquecimento interno ativo. Ex: irrigação pleural ou peritoneal com solução aquecida, hemodiálise e circulação extracorpórea. Outras terapias adjuvantes são: Oxigênio umidificado aquecido, líquido intravenoso aquecido e irrigação da bexiga com salina morna.
Qual é a definição de seroma?
Acúmulo de soro e linfa no tecido celular subcutâneo, decorrente de lesão de pequenos canais linfáticos.
Como se manifesta o seroma?
Abaulamento indolor e sem sinais flogísticos da ferida operatória com eventual drenagem de líquido claro.
Como se trata o seroma?
Aspiração com agulha calibrosa + curativo compressivo, na tentativa de obliterar os linfáticos. Obs: Na prática se realiza expressão da FO para drenagem da secreção serosa + curativo compressivo.
Como prevenir a formação do seroma?
Utilizando drenos de sucção (os principais são Portovac e Hemovac). Principalmente em áreas de potencial espaço morto deixado pela linfadenectomia e em sítios de extenso descolamento tecidual cirúrgico.
O que é o hematoma?
É o acúmulo de sangue ou coágulo no tecido subcutâneo, decorrente de hemostasia inadequada (falha na técnica cirúrgica ou de coagulação).
Como se manifesta o hematoma de ferida operatória?
Presença de edema com coloração arroxeada da pele, com saída de secreção vermelho vinho. Pode haver dor local.
Porque os hematomas são mais preocupantes que os seromas?
Por oferecem risco de infecção secundária, uma vez que sangue é meio de cultura.
O que é a deiscência de ferida operatória (ou deiscência aponeurótica)?
É a separação dos folhetos músculo-aponeuróticos.
Quais as complicações da deiscência aponeurótica?
Hérnia incisional (deiscência aponeurótica parcial e pequena);
Evisceração (deiscência aponeurótica completa e ampla).
Quais os fatores associados a deiscência aponeurótica?
- Técnica cirúrgica incorreta no fechamento de aponeurose e fáscias (suturas muito próximas das bordas da ferida, muito distantes umas das outras e sob muita tensão);
- Infecção intra-abdominal ou de FO;
- Hematoma e/ou seroma;
- Pressão intra-abdominal elevada;
- Obesidade;
- Uso crônico de glicocorticóide;
- Desnutrição (hipoproteinemia interfere no processo cicatricial);
- Doença crônica (Uremia, DM).
Obs.: Pct em nutrição parenteral total ou com fístulas gastroduodenais precisam de suplementação de zinco.
Quais as recomendações no fechamento do plano profundo para evitar a deiscência aponeurótica?
- Fio monofilamentar e inabsorvível. Ex: polipropileno (prolene);
- Sutura preferencialmente contínua com distância de 1-1,5 cm entre os pontos e com ancoragem de 2 cm da borda da ferida operatória.
Como se diagnostica a deiscência aponeurótica?
- Abaulamento da ferida operatória;
- Dor local;
- Grande quantidade de secreção rósea (‘‘água de carne’’) ou sanguinolenta.
Qual a diferença entre herniação, evisceração e eventração?
- Herniação: A víscera não ultrapassa o peritônio;
- Eventração: A víscera ultrapassa o peritônio mas não a pele
- Evisceração: A víscera ultrapassa o peritônio e a pele, ficando exposta;