Atendimento Inicial ao RN Flashcards

1
Q

Qual é a importância do treinamento em reanimação neonatal?

A

Qual é a importância do treinamento em
reanimação neonatal?

A melhor metáfora para traduzir o que ocorre
na sala de parto é a que diz que o nascimento
de uma criança é uma “caixa de surpresas”.
Muito embora a maioria dos três milhões de
crianças que nascem a cada ano em nosso
país nasça com boas condições de vitalidade,
a necessidade de manobras de reanimação
pode surgir de forma inesperada. Já havíamos
dito que a asfixia é muitas vezes uma
causa evitável de óbito neonatal; parte dos
RN que morrem por asfixia são crianças nascidas
a termo e sem malformações congênitas.
É evidente que uma série de condições
identificáveis na história gestacional ou durante
o trabalho de parto podem antecipar a
probabilidade da necessidade de reanimação.
Porém, mesmo quando se espera o
nascimento de um paciente hígido e sem
hipóxia ou asfixia, é primordial a presença de
profissional com conhecimento e habilidade
em reanimação neonatal.

Será que a necessidade de reanimação
é tão comum para sempre justificar
a presença de um profissional habilitado
em reanimação na sala de parto?
Sobre a necessidade de reanimação ao
nascimento:
• Ventilação com pressão positiva: 1 em cada
10 RN.
• Intubação e/ou massagem cardíaca: 1 em
cada 100 RN.
• Intubação, massagem e/ou medicações: 1-2
em cada 1.000 RN, desde que a ventilação
seja aplicada adequadamente.

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2
Q

O preparo para o atendimento:

A

Se você pensa que o trabalho começa somente
após o nascimento da criança, está enganado.
Antes do nascimento, é necessário que
seja realizada a anamnese materna, que o
material utilizado no atendimento ao RN seja
todo preparado e que a equipe responsável
por esse atendimento esteja a postos.
O objetivo da anamnese é principalmente
buscar por condições que possam antecipar
a necessidade de reanimação. Na TABELA
2 você encontra exemplos dessas situações.
Quando o nascimento de uma criança de alto
risco é antecipado, podemos disponibilizar
mais de um profissional treinado e capacitado
para uma reanimação rápida e efetiva. Dentre
esses profissionais, deve haver pelo menos
um médico, preferencialmente um pediatra,
que esteja apto a intubar e iniciar a massagem
cardíaca na sala de parto. Em relação aos RN
prematuros, levando-se em conta a frequência
com que alguma medida de reanimação é
necessária, é fundamental que em todo parto
existam dois ou três profissionais de saúde
destinados exclusivamente aos cuidados da
criança. Quando é antecipado o nascimento
de gemelares, deve-se preparar material e
equipe para cada criança.
Além da realização da anamnese, também é
fundamental que todo o material necessário
para a reanimação esteja separado, testado
e disponível. Preste muita atenção nisso: mesmo
quando se assume que o parto é de baixo
risco, todo o material necessário deve estar
pronto. Não há qualquer segundo a se perder
durante a reanimação neonatal com o preparo
de equipamentos.

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3
Q

O Atendimento inicial:

A

A criança está prestes a nascer. Todo o material
está preparado; a sala de parto tem
uma temperatura ambiente de 23-26ºC (para
manter a temperatura corporal do RN). O
profissional que irá atendê-lo usa as precauções-
padrão, que incluem a lavagem/higienização
correta das mãos e o uso de luvas,
aventais, máscaras ou proteção facial para
evitar o seu contato com material biológico
do paciente.
Pare agora a leitura e observe com calma a
FIGURA 4. Remeta-se a ela várias vezes ao
longo da leitura dos próximos parágrafos.
Atualmente, a SBP nos fornece dois documentos:
um para o atendimento ao RN com 34 ou
mais semanas de gestação e outro para o
atendimento ao RN com menos de 34 semanas.
O fluxograma é o mesmo e o que muda
são algumas particularidades, que iremos
assinalar ao longo do texto.

Logo após o nascimento, ao avaliarmos o RN,
iremos avaliar três parâmetros:
• Gestação a termo?
• Respirando ou chorando?
• Tônus muscular em flexão?

Sim! Sim! Sim!

Quando respondemos “SIM” a essas três
perguntas, consideramos que o RN apresenta
boa vitalidade e não necessita de
qualquer manobra de reanimação, independentemente
do aspecto do líquido amniótico.
O que faremos a seguir? Para os RN com 34
ou mais semanas, preconiza-se atualmente
o clampeamento tardio do cordão. Essa medida
parece trazer benefícios para os índices
hematológicos entre três e seis meses
de idade, ainda que possa elevar a necessidade
de fototerapia por hiperbilirrubinemia
nos primeiros dias de vida. O RN com boa
vitalidade pode ser posicionado sobre o tórax
ou o abdome materno por um a três minutos,
para só então realizar-se o clampeamento
do cordão. A definição do que é o
clampeamento tardio varia na literatura, sendo
considerado tardio o clampeamento após
pelo menos um minuto (podendo ocorrer até
vários minutos depois). Essa prática pode
parecer surpreendente para alguns, pois
ainda nos deparamos com serviços em que
todos os RN são levados para a mesa de
reanimação logo após o nascimento. Isso é
uma pena… O contato do RN com a pele da
mãe logo após sua expulsão, reduz o risco
de hipotermia nos nascidos a termo, com
boa vitalidade, desde que cobertos com
campos pré-aquecidos. Já nesse momento,
podemos iniciar o aleitamento materno,
como preconizado pela OMS. Os RN prematuros
com idade entre 34 e 37 semanas,
mas que tenham bom tônus e estejam respirando
regularmente, também podem ter o
cordão clampeado tardiamente, mas serão
conduzidos à mesa de reanimação; o mesmo
é válido para os RN pós-termo.

Os RN com menos de 34 semanas de gestação
também serão sempre conduzidos à mesa
de reanimação. Porém, mesmo para eles, não
é necessário o clampeamento imediato caso
estejam respirando e com bom tônus. Nestes
casos, pode-se aguardar 30-60 segundos antes
de clampear o cordão. Este clampeamento
após 30 segundos traz benefícios na redução
do risco de enterocolite necrosante e
hemorragia intracraniana, na menor necessidade
de transfusões, ainda que aumente o
risco de hiperbilirrubinemia.

Quando Surge um “não!”

Quando o RN não inicia a respiração espontânea,
não tem tônus em flexão, ou quando a
circulação placentária não estiver intacta (descolamento
prematuro, placenta prévia, ruptura
ou prolapso ou nó verdadeiro de cordão), o
clampeamento deve ser imediato.

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4
Q

O recém-nascido com necessidade de reanimação:

A

Passos Iniciais:
Os passos iniciais da reanimação neonatal
são: prover calor, posicionar a cabeça em
leve extensão, aspirar vias aéreas (se necessário)
e secar o paciente.
Vejamos o que significa cada uma dessas
intervenções.
 Prover calor: o objetivo é manter a temperatura
corporal do RN entre 36,5 e 37ºC. Para
isso a temperatura da sala deve estar ao
redor de 23-26oC, o RN deve ser recebido
em campos aquecidos e colocado sob uma
fonte de calor radiante. A ocorrência de hipotermia
deve ser evitada, pois é um fator de
risco independente para a morbidade e mortalidade
perinatal.
 Posicionar: a cabeça deve ser posicionada
com uma leve extensão; a colocação de coxim
sob os ombros pode facilitar esse posicionamento.
Esse posicionamento da cabeça
visa tão somente à manutenção da permeabilidade
das vias aéreas.
 Aspirar vias aéreas: a aspiração das vias
aéreas é realizada com sonda traqueal conectada
ao vácuo sob uma pressão máxima
de aproximadamente 100 mmHg. Aspira-se
primeiramente a boca e, a seguir, as narinas.

Essa aspiração não deve ser realizada sempre,
estando restrita àquelas situações em
que há excesso de secreções obstruindo a
respiração espontânea ou quando será necessária
a Ventilação com Pressão Positiva
(VPP). Nos RN banhados em mecônio que
foram levados à mesa por estarem sem boas
condições de vitalidade, é sempre prudente
aspirar a boca e as narinas. Devemos ter um
cuidado especial no sentido de evitar a introdução
da sonda de aspiração de maneira
brusca ou na faringe posterior, pelo risco de
indução de uma resposta vagal e espasmo
laríngeo, com apneia e bradicardia.

Os RN com menos de 34 semanas
devem ter seu corpo envolto
em saco plástico transparente
logo após serem posicionados
sob a fonte de calor radiante (introduz-
se o corpo no saco, exceto
a face). Este saco só será retirado
após a estabilização na UTI neonatal.
Usa-se, ainda, uma touca
dupla (cobre-se o couro cabeludo
com plástico e coloca-se touca de
lã ou algodão). Nos RN com peso
estimado menor que 1.000 g, sugere-
se o uso de colchão térmico.
Todas as manobras de reanimação
poderão ser realizadas com a
criança dentro do saco plástico.

 Secar: secar o bebê e desprezar campos
úmidos.
Esses passos iniciais devem ser realizados
em até 30 segundos, quando devemos proceder
à avaliação do RN.
Nos RN com menos de 34 semanas, enquanto
esses passos estiverem sendo realizados,
já está recomendada a colocação simultânea
de um sensor para oximetria de pulso (na palma
da mão ou pulso radial direito). Naqueles
com 34 semanas ou mais, tal medida só está
indicada quando a ventilação for recomendada
(o sensor será colocado na região do pulso
radial nestes casos).

Avaliação
Os parâmetros avaliados são a frequência
cardíaca e a respiração. Nos RN com menos
de 34 semanas, que já terão sido submetidos
à colocação do sensor para oximetria, será
avaliada a saturação de oxigênio, embora nem
sempre já seja possível a detecção de um
sinal de pulso neste momento.
A FC é o principal determinante da decisão de
indicar as diversas manobras de reanimação.
Durante a reanimação, a avaliação da FC pode
ser feita pela ausculta do precórdio, palpação
da base do cordão umbilical, detecção do sinal
de pulso pela oximetria e detecção da atividade
elétrica do coração pelo monitor cardíaco.
Nesta avaliação inicial, deve ser feita pela ausculta do precórdio (conta-se a FC em seis
segundos e multiplica-se por 10).
Após os passos iniciais, anteriormente descritos,
se o RN recuperar a respiração espontânea
e a FC estiver acima de 100 bpm, deverá
apenas receber os cuidados de rotina da sala
de parto. Se, contudo, a respiração for ineficaz
e/ou a FC estiver abaixo de 100 bpm, deverá
ser iniciada a VPP.
Caso seja necessário o início da ventilação,
indica-se a monitorização cardíaca.
São fixados
três eletrodos: um em cada braço, próximos ao
ombro, e o terceiro na face anterior da coxa.
Atente para o fato de que essa monitorização
tem como objetivo o acompanhamento da FC,
não a detecção de anomalias no ritmo.
Nos RN com menos de 34 semanas, é possível
que, neste momento, a FC esteja acima
de 100 bpm mas exista desconforto respiratório
ou saturação de oxigênio baixa. Neste
caso, então deve-se considerar a aplicação
de pressão de distensão de vias aéreas
(CPAP) e manter a avaliação da respiração,
FC e saturação. A aplicação do CPAP pode
ser feita por meio da máscara conectada ao
circuito do ventilador mecânico manual em T,
estando a máscara firmemente ajustada à face
do paciente. O balão autoinflável não permite
a aplicação de CPAP.

A avaliação da cor da pele e mucosas
do RN não é mais utilizada
para decidir procedimentos na sala
de parto, pois a definição de cor
rósea ou cianótica é subjetiva e
não tem relação com a saturação
de oxigênio.

Iniciando a VPP

A ventilação pulmonar adequada é o ponto
mais importante de toda a reanimação neonatal.
Quando o RN apresenta apneia, respiração
irregular e/ou FC < 100 bpm após os
cuidados iniciais, devemos iniciar a VPP.
Preste bastante atenção nisso: se ao recepcionarmos
o RN das mãos do obstetra, observarmos
apneia, iremos primeiramente
realizar os passos iniciais e só após a avaliação
da FC e da respiração é que iremos
definir se há ou não indicação de VPP. A VPP
deve ser iniciada nos primeiros 60 segundos
de vida da criança, o chamado “The Golden
Minute” – o Minuto de Ouro!
Os equipamentos mais utilizados para ventilar
o RN em sala de parto compreendem o balão
autoinflável e o ventilador mecânico manual
em T. A interface habitualmente usada no início
da ventilação é a máscara facial, que deve
cobrir a ponta do queixo, boca e o nariz.
O balão autoinflável (ambú) é de fácil utilização,
baixo custo e permite a ventilação efetiva
do RN na sala de parto. A VPP com balão
e máscara facial na sala de parto é feita na frequência de 40 a 60 movimentos/minuto
(seguindo a regra prática “aperta/solta/solta/
aperta/solta…). A pressão aplicada deve ser
individualizada (inicia-se com pressão em torno
de 20 cmH2O, mas pode-se alcançar valores
entre 30-40 cmH2O em pulmões imaturos
ou muito doentes). Uma das desvantagens
da ventilação com balão autoinflável é o fato
de só podermos fornecer concentração de
oxigênio 21% (ar ambiente, quando não está
conectado ao oxigênio e ao reservatório) ou
de 90-100% (conectado à fonte de oxigênio
a 5 l/minuto e ao reservatório). Não é possível
termos certeza quanto ao oferecimento
de concentrações intermediárias de oxigênio,
que varia de acordo com o fluxo de oxigênio,
a pressão exercida no balão, o tempo de
compressão e a frequência aplicada.
De cada dez RN que recebem VPP com balão
e máscara ao nascer, nove melhoram e não
precisam de outros procedimentos de reanimação.
A ventilação efetiva provoca inicialmente
elevação da FC, para depois ocorrer o
estabelecimento da respiração espontânea.
Um equipamento que vem sendo cada vez
mais empregado, principalmente no atendimento
aos RN prematuros, é o ventilador mecânico
manual em T. O seu manuseio também
é bem simples e tem como vantagem o fato
de permitir que se administre pressão inspiratória
e pressão expiratória final positivas constantes,
ajustáveis de acordo com a resposta
clínica do RN. O seu funcionamento também
depende de uma fonte de gás comprimido e
quando houver disponibilidade de fontes de ar
comprimido e de oxigênio e blender, pode-se
controlar a oferta de oxigênio ao paciente. A
ventilação também deverá ser feita com frequência
de 40 a 60 movimentos por minuto,
obtida pela regra prática “ocluuui/solta/solta/
ocluuui/solta/solta”.

E o uso de Oxigênio?

Uma das principais mudanças na reanimação
neonatal ocorrida nos últimos anos diz respeito
à utilização de oxigênio na ventilação. Essa
recomendação varia de acordo com a idade
gestacional da criança, da seguinte forma:
 IG ≥ 34 semanas: iniciar a ventilação com
ar ambiente. Ao iniciarmos a ventilação, está
indicada a colocação de oxímetro de pulso
para monitorar o oferecimento de oxigênio
suplementar. Não é comum que esses RN
necessitem de oxigênio suplementar se a
VPP for feita com a técnica adequada. Se
isso for necessário, indica-se a aplicação da
mistura oxigênio/ar, ajustando-se a concentração
de oxigênio por meio de um blender
para atingir a saturação desejável. São necessários
cerca de 30 segundos para haver
equilíbrio da concentração de oxigênio oferecida
pela ventilação por toda a área pulmonar
do RN. Sugere-se, assim, fazer incrementos
de 20% e aguardar cerca de 30
segundos para verificar a saturação e indicar
novos incrementos, ressaltando-se que a
VPP com a técnica correta é fundamental
para a melhora do paciente.
 IG < 34 semanas: iniciar a ventilação com
concentração de O2 a 30%. Se não houver
normalização da FC, aumentar o oferecimento
de O2 suplementar, guiando-se também
pela oximetria de pulso.
O sensor para a oximetria de pulso neonatal
deve sempre ser conectado no membro superior
direito, para avaliação da saturação préductal.
No RN com 34 ou mais semanas é
aplicado, de preferência, na região do pulso
da radial e no RN com menos de 34 semanas,
no pulso ou na palma da mão. Após a colocação
do sensor, deve ser feita a conexão do
cabo do oxímetro. Os valores desejáveis de
SatO2 variam de acordo com os minutos de
vida, como mostrado na TABELA 3:

Tabela 3 - Valores de SatO2 pré-ductais
após o nascimento:

  • Até 5 minutos de vida 70-80%
  • 5-10 minutos de vida 80-90%
  • > 10 minutos 85-95%

E quando não há melhora?

A ventilação efetiva promove, em primeiro
lugar, a elevação da FC, seguida do estabelecimento
da respiração espontânea. Quando
após 30 segundos de VPP o RN apresenta
FC > 100 bpm e respiração espontânea e
regular, a ventilação pode ser suspensa. Nos
RN com menos de 34 semanas, verifica-se a
necessidade de CPAP para transporte até a
UTI neonatal.
Consideramos que ocorreu falha quando, após 30
segundos de VPP, o RN mantém FC < 100 bpm ou não retoma a respiração espontânea rítmica
e regular. A primeira medida a ser adotada
é a checagem da técnica, isto é, verificar se a
VPP está sendo executada de forma adequada.
Devemos verificar o ajuste entre face e
máscara, a permeabilidade das vias aéreas
(posicionando a cabeça, aspirando secreções
e abrindo a boca do RN) e a pressão no balão
ou inspiratória.
Se o paciente, após a correção da técnica da
ventilação, não melhora, está indicada a cânula
traqueal como interface para a VPP. Durante
a ventilação prolongada, deve ser feita
a inserção de uma sonda orogástrica para
diminuir a distensão gástrica.

A Intubação Traqueal:

As principais indicações para a ventilação por
cânula traqueal na sala de parto incluem:
• Ventilação com máscara facial não efetiva
(mesmo após correção da técnica) ou prolongada;
• Aplicação de massagem cardíaca e/ou de
adrenalina;
• Ventilação na presença de hérnia diafragmática.
A intubação para administração de surfactante
pulmonar exógeno profilático em prematuros
de extremo baixo peso não é consensual,
variando de acordo com a rotina de cada
serviço de neonatologia. O atual programa
de reanimação da SBP recomenda que não
há indicação precisa da intubação em sala
de parto com o intuito de administrar o surfactante
profilático.
Cada tentativa de intubação deve durar no
máximo 30 segundos. Em caso de insucesso,
retorna-se à VPP com máscara até a estabilização do paciente. Durante a intubação, um
auxiliar deve oferecer oxigênio inalatório.
O diâmetro da cânula varia conforme a idade
gestacional e o peso do RN:

  • < 28 sem ou 1.000 g: 2,5 mm.
  • 28-34 sem ou 1.000- -2.000 g: 3,0 mm.
  • 34-38 sem ou 2.000- -3.000 g: 3,5 mm.
  • > 38 sem ou 3.000 g: 3,5 - 4,0 mm.

A confirmação da posição da cânula é obrigatória
e pode ser realizada pela inspeção
do tórax, ausculta das regiões axilares e gástrica,
visualização de condensação na cânula
traqueal e observação da FC. O melhor
indicador de que a cânula está posicionada
na traqueia é o aumento da FC. Na prática,
essa avaliação pode demorar muitos segundos
e pode retardar a identificação de um
posicionamento inadequado da cânula. Recomenda-
se, assim, a detecção de dióxido
de carbono (CO2) exalado, sendo o método
colorimétrico o mais utilizado (lembrando de
que pode haver resultados falso-negativos
pela má perfusão pulmonar).
O posicionamento da cânula (profundidade de
inserção) varia em função da idade gestacional.
Uma regra prática é o uso da fórmula “peso
estimado (kg) + 6” para calcular o comprimento
da cânula a ser inserido na traqueia, sendo
o resultado correspondente à marca, em centímetros,
a ser fixada no lábio superior.

Qual deve ser a concentração de oxigênio
após a intubação traqueal?

Isto irá depender da razão que levou à intubação.
Quando a intubação foi indicada por ventilação
com máscara facial inadequada (a
tentativa de correção da técnica da VPP não
foi bem sucedida), é possível iniciar a VPP por
cânula traqueal com concentração de oxigênio
em ar ambiente ou de 30%, a depender da IG,
e, após 30 segundos, monitorar a saturação.
Quando, por outro lado, a intubação foi indicada
porque o RN permaneceu com FC menor
que 100 bpm em ventilação com máscara
facial e técnica adequada, a VPP com cânula
traqueal pode ser iniciada na mesma concentração
de oxigênio que estava sendo oferecida
antes da intubação, monitorando-se a saturação
após 30 segundos.
Após a intubação, a ventilação continua sendo
realizada com a mesma frequência e a mesma
pressão descritas na ventilação com balão e
máscara. Uma nova avaliação é feita após 30
segundos: se o RN melhorar (apresentar
FC > 100 bpm e movimentos respiratórios
espontâneos e regulares), pode ser extubado.
Considera-se como falha se, após 30 segundos
de VPP por meio da cânula traqueal, o RN
mantém FC menor que 100 bpm ou não retoma
a respiração espontânea ou, ainda, a saturação
permanece abaixo dos valores desejáveis/
não detectável. Caso isso ocorra, deve-se checar a técnica (verificar a posição da
cânula, a permeabilidade das vias aéreas e a
pressão que está sendo aplicada, corrigindo
o que for necessário). Após essa correção,
pode-se aumentar a oferta de oxigênio até
60-100% e a ventilação será mantida.
Porém, se o RN mantém a FC < 60bpm, está
indicada a massagem cardíaca.

Massagem Cardíaca:

A massagem cardíaca externa está indicada
quando a criança apresenta ou persiste com
FC abaixo de 60 bpm após 30 segundos de
VPP com técnica adequada. Na prática clínica,
a massagem cardíaca é iniciada se a FC estiver
abaixo de 60 bpm após 30 segundos de
VPP com técnica adequada por meio da cânula
traqueal e uso de concentração de oxigênio
de 60-100%. É de bom-senso oferecer
concentração de oxigênio até 100% no RN
que está recebendo VPP e massagem cardíaca.
A massagem cardíaca diminui a eficácia
da ventilação e, por isso, as compressões só
devem ser iniciadas quando a expansão e a
ventilação pulmonares estiverem bem estabelecidas.
Fixou o conceito? Ainda que na avaliação
inicial o RN apresente FC abaixo de 60
bpm, não iremos iniciar a massagem cardíaca
de imediato. Isso mesmo! Todos os passos
descritos até agora serão executados na ordem
vista e somente depois poderemos iniciar
as compressões torácicas.
As compressões torácicas devem ser administradas
no terço inferior do esterno. A melhor
técnica é a técnica dos dois polegares,
que é mais eficiente, gera maior pico de
pressão sistólica e de perfusão coronariana
e é menos cansativa. Os dois polegares são
posicionados logo abaixo da linha intermamilar,
enquanto as palmas e os outros dedos circundam o tórax do RN. Os polegares podem
ser posicionados sobrepostos ou justapostos
no terço inferior do esterno. Os polegares
sobrepostos geram maior pico de
pressão e pressão de pulso, enquanto os
polegares justapostos aumentam a chance
de lesão dos pulmões e do fígado. Outra técnica
é a dos dois dedos, quando posicionamos
o dedo indicador e o médio no terço inferior
do esterno e usamos a outra mão como
contraforte no dorso do paciente.
O profissional de saúde que vai executar a
massagem cardíaca se posiciona atrás da
cabeça do RN, enquanto aquele que ventila
se desloca para um dos lados. Este posicionamento facilita o acesso para o cateterismo umbilical.

A profundidade das compressões deve englobar
1/3 do diâmetro anteroposterior do tórax.
As compressões torácicas e a ventilação devem
ser administradas de forma sincrônica,
mesmo estando o paciente intubado (atenção
para esse conceito, pois isso é diferente
do que fazemos no suporte avançado de
vida pediátrico e no ACLS!). A relação que se
mantém é 3:1, isto é, três compressões torácicas
para uma ventilação. Serão realizados
120 eventos por minuto: 90 compressões e
30 ventilações.
A massagem cardíaca coordenada às ventilações
deve ser aplicada por 60 segundos antes
que a FC seja novamente avaliada. Considera-
se que esse seja o tempo mínimo para que
a massagem cardíaca efetiva possa restabelecer
e perfusão coronariana. A massagem
cardíaca será suspensa somente se a FC
estiver maior que 60 bpm. Consideramos que
há falha no procedimento quando, após 60
segundos de massagem cardíaca e VPP com
cânula traqueal e oxigênio suplementar, o RN
mantém FC < 60 bpm. A conduta nesse caso
consiste na verificação da posição da cânula,
da permeabilidade das vias aéreas e da pressão de ventilação, além da técnica da massagem
propriamente dita. Se não houver melhora
após a correção da técnica da VPP e massagem,
devemos indicar a administração de
adrenalina, sendo necessário o cateterismo
venoso umbilical de urgência.

Drogas: Adrenalina e expansor de volume.

A adrenalina está indicada quando a FC permanece
abaixo de 60 bpm apesar da ventilação
efetiva e da massagem cardíaca adequada.
A melhor via para administração de medicações
durante a reanimação neonatal na sala
de parto é a intravenosa, preferencialmente
pela veia umbilical. O cateter venoso deverá
ser introduzido apenas 1-2 cm após o ânulo
umbilical, justamente para deixá-lo periférico
e longe do fígado. A única medicação que
poderá ser feita por via endotraqueal é a adrenalina,
e, mesmo assim, uma única vez, devido
à absorção irregular e imprevisível.
 Adrenalina (1:10.000 = 0,1 mg/ml; essa diluição
é obtida com 1 ml de adrenalina 1:1000 +
9 ml SF0,9%): deve ser idealmente administrada
por via intravenosa (0,01-0,03 mg/kg);
enquanto o acesso é obtido, pode ser administrada
uma única vez pela via traqueal
(0,05-0,1 mg/kg), com eficácia e segurança
questionáveis. A dose intravenosa poderá ser
repetida a cada 3-5 minutos se não houver
recuperação da FC (> 60 bpm). Quando repetida,
a dose é de 0,03 mg/kg.
 Volume (solução cristaloide ou sangue):
está indicado nas situações em que há evidência
de hipovolemia (a suspeita é feita se
há perda de sangue ou se existem sinais de
choque hipovolêmico, como palidez, má
perfusão e pulsos débeis, e não houve resposta
adequada da FC às outras medidas
de reanimação). A expansão de volume é
feita com soro fisiológico na dose de
10 ml/kg lentamente, em 5-10 minutos, podendo
ser repetida a critério clínico. Administrar
o volume lentamente.

Quando Interromper as Manobras de Reanimação?

Essa decisão não é consensual e é influenciada
por vários fatores. Em geral, considera-
-se a interrupção quando não são detectados
batimentos cardíacos após dez minutos de
reanimação com técnica adequada.

Situações Especiais na Reanimação Neontal:

Líquido Meconial:

Preste agora bastante atenção, pois este tópico
foi bastante modificado nas novas diretrizes!
Mesmo que já tenha se passado mais de
um ano, é importante que você entenda o que
era feito e o que se recomenda atualmente.
Até o final de 2015, a recomendação era de
que o atendimento ao RN banhado em mecônio
fosse definido em função da vitalidade
que a criança apresentasse ao nascer. A presença
do mecônio era algo tão valorizado
que uma das perguntas iniciais era justamente
acerca da sua presença ou ausência.
Apenas para te contextualizar (e é bem possível
que você já tenha estudado isso desta
forma), a recomendação era a seguinte:

1ª situação: se ao recepcionássemos o RN
banhado em mecônio das mãos do obstetra ele
estivesse com boas condições de vitalidade
(movimentos respiratórios rítmicos e regulares,
tônus muscular adequado e FC > 100 bpm),
ele deveria ser conduzido à mesa de reanimação
e submetido aos passos iniciais habituais:
prover calor, posicionar, aspirar o excesso de
secreções com sonda de aspiração traqueal
número dez e secar!
2ª situação: se ao recepcionássemos o RN
banhado em mecônio das mãos do obstetra
ele NÃO estivesse com boas condições de vitalidade
(não apresentasse ritmo respiratório
regular e/ou o tônus muscular estiver flácido e/
ou a FC < 100 bpm), deveríamos levá-lo para
a fonte de calor radiante e realizarmos a aspiração
de mecônio residual da hipofaringe e
traqueia sob visualização direta. A aspiração
traqueal era feita pela cânula traqueal! O RN
era intubado e a cânula conectada ao aspirador
a vácuo por intermédio de um dispositivo
de aspiração de mecônio. Essa
cânula era então retirada e seguia-se o atendimento
habitual da criança. Caso fosse necessário,
a criança seria ventilada, mas apenas
após ter sido feita a aspiração traqueal.

O transporte do RN para a UTI
neonatal
Os RN com menos de 34 semanas são habitualmente
transportados para a UTI neonatal,
onde serão necessários cuidados intensivos.
Esse transporte é feito após a estabilização/
reanimação e, em geral, após 15-30 minutos
de vida pode ser realizado. Os pacientes com FC < 100 bpm e risco iminente de parada não
devem ser transportados.
O RN com menos de 34 semanas deve ser
transferido do centro obstétrico à unidade neonatal
em incubadora de transporte de parede
dupla com temperatura entre 35-37º C. O saco
plástico que envolve o corpo do paciente e a
dupla touca devem ser mantidos durante o
transporte e retirados após a chegada ao destino,
quando já houver estabilidade térmica.

O que mudou?
Os RN banhados em mecônio a termo com
bom tônus e respiração logo após o nascimento
podem ser submetidos ao clampeamento
tardio de cordão e colocados sobre o
colo materno! Não há necessidade de qualquer
mudança em relação ao que é feito com
as demais crianças.
Os RN banhados em mecônio com respiração
irregular/apneia ou sem tônus em flexão devem
ser levados logo para a mesa de reanimação
(como qualquer outro RN que nasça nessas
condições!). Na mesa de reanimação, são submetidos
aos passos iniciais habituais já descritos
(lembre-se de que, como já dito, havendo
mecônio recomenda-se sempre a aspiração da
boca e narina). Caso após os passos iniciais a
avaliação indique a necessidade de ventilação,
a mesma deve ser prontamente instituída! Se
após 30 segundos de ventilação efetiva, o RN
não melhora e houver forte suspeita de obstrução
de vias aéreas, aí sim pode-se indicar a
retirada do mecônio residual da hipofaringe e
da traqueia sob visualização direta. Nessa situação, aspirar o excesso de mecônio uma única
vez. Após essa aspiração, a reanimação segue
sua sequência habitual.

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Q

Foto VPP

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6
Q

Foto Massagem Cardíaca Externa:

A
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7
Q

Foto Aspiração Traqueal com Cânula Traqueal

A
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8
Q

O Boletima Apgar:

A

Nem bem o atendimento de reanimação terminou
e é comum alguém gritar na sala de
parto: “qual foi o Apgar?”.
O Apgar é um escore que avalia a vitalidade
neonatal precoce, desenvolvido pela anestesista
Virgínia Apgar na década de 50. Ele é
utilizado até os dias de hoje, pois é um instrumento
simples e que traz informações úteis.
Ao contrário do que muitos pensam, esse
escore não deve ser usado para determinar o
início da reanimação ou definir as manobras
que serão adotadas. A avaliação sequencial,
porém, nos permite avaliar a resposta e a eficácia
das manobras instituídas. Teoricamente,
um escore baixo indica a presença de asfixia
neonatal e um escore alto (normal) a sua ausência.
Contudo, estudos demonstraram que
o valor do escore não traz a “verdade absoluta”,
tendo uma proporção considerável de
falso-positivos (Apgar baixo com ausência de
asfixia neonatal) e falso-negativos (Apgar alto
com asfixia neonatal).
A confecção do boletim de Apgar é derivada da
avaliação de cinco parâmetros clínicos - respiração,
frequência cardíaca, cor, resposta a
estímulos e tônus - sendo que cada um recebe
uma pontuação variando entre 0, 1 e 2 (TABELA
4). Sendo assim, a pontuação mínima é
0 e a máxima é 10. Rotineiramente, calculamos
o Apgar no 1º e no 5º minutos. Sempre que a
pontuação for menor ou igual a seis, o escore
continua a ser calculado com intervalos de 5
minutos (ex.: 10º, 15º, 20º minuto) até que se
obtenha uma nota maior ou igual a 7.
A nota do primeiro minuto se correlaciona com
o pH do cordão umbilical e é um índice de depressão
intraparto, não estando relacionada
com resultados em longo prazo. Por exemplo,
um Apgar menor ou igual a 4 no primeiro minuto
está associado à acidose e PaCO2 alta. Por
outro lado, a permanência de pontuação baixa
além do 1º minuto está vinculada a consequências
deletérias em longo prazo. Um Apgar baixo
no 20º minuto é altamente compatível com
um mau prognóstico neonatal (mortalidade e
disfunção neurológica permanente).

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9
Q

Cuidados de Rotina Após a Estabiização do RN:

A

Tão logo o RN apresente condições clínicas
satisfatórias após o seu nascimento, as seguintes
medidas deverão ser adotadas:
• Clampeamento do cordão umbilical: é
feita a colocação de clamp com a distância
de 2 a 3 cm do anel umbilical. Devemos
verificar a presença de duas artérias
e uma veia umbilical (a presença de artéria
umbilical única pode estar associada a
várias anomalias congênitas).
• Prevenção da oftalmia gonocócica: isso é
obtido pelo método de Credé. Após a retirada
do vérnix da região ocular, instila-se uma
gota de nitrato de prata a 1% no fundo do
saco lacrimal inferior de cada olho, seguida
pela massagem delicada da pálpebra. Essa
medida deve ser realizada ainda na primeira
hora após o nascimento, tanto no parto vaginal
quanto no parto cesáreo. A iodopovidona
2,5% é uma alternativa e já substituiu o nitrato
de prata em alguns Estados.
• Prevenção do sangramento por deficiência
de vitamina K: administra-se 1 mg de vitamina K por via intramuscular ou subcutânea
ao nascimento.
• Identificação do RN: o RN deve ser identificado
mediante o registro de sua impressão
plantar e digital e da impressão digital
da mãe. Essa identificação é feita no prontuário
e nas três vias da Declaração de
Nascido Vivo. São colocadas pulseiras de
identificação na mãe e no RN, contendo o
nome da mãe, o registro hospitalar, a data
e hora do nascimento e o sexo do RN.
Na prescrição para o primeiro dia de vida da
criança saudável, além das medidas já descritas,
iremos incluir a recomendação de vacinas
(hepatite e BCG, salvo se houver contraindicações),
bem como o tipo de alimentação
e outros cuidados pertinentes.
Além disso, faz-se a avaliação das medidas
antropométricas e o exame físico, que será
detalhado a seguir.
Os RN estáveis permanecerão com suas
mães e serão transportados juntos para o
alojamento conjunto.

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10
Q

Exame Físico Inicial:

A

O exame físico neonatal é repleto de
peculiaridades. Inclui a avaliação de
estruturas e a realização de manobras
que não serão feitas em outras fases da
vida. Leia com bastante cuidado este tópico,
pois aproveitaremos para falar sobre algumas
alterações comuns que podem ser diagnosticadas
essencialmente pelo exame físico.
A avaliação inicial deve ser realizada o mais
precocemente possível. Logo após o nascimento,
é realizada uma avaliação sumária,
com o objetivo de detectar anomalias e alterações
fisiopatológicas que podem impor algum
risco à saúde da criança. Um segundo
exame, bem mais minucioso e detalhado, é
realizado posteriormente, preferencialmente
nas primeiras 12 horas de vida.
Não existe uma sequência padronizada para
o exame neonatal. Devemos ter todas as
partes do exame bem definidas na mente e
ir realizando-o conforme as oportunidades
surgem. Se ao começarmos o exame, por exemplo, a criança estiver dormindo, será
interessante que realizemos logo a ausculta
cardíaca e a palpação abdominal, avaliações
que podem ser bastante prejudicadas caso o
bebê acorde e comece a chorar.

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11
Q

Calculando a Idade Gestacional Pelo Método de Capurro:

A

A forma mais prática e utilizada para calcular
a idade gestacional do RN é baseada na data
da última menstruação. O número de semanas
e dias é contado a partir desta data. Esta medida
é considerada confiável, ainda nos dias
atuais. A ultrassonografia também nos permite
realizar essa avaliação, mas vamos deixar
essa discussão para os obstetras.
Uma forma que o pediatra tem para estimar a
idade gestacional de um RN, mesmo sem qualquer
informação relativa ao pré-natal, é pela
simples avaliação física da criança. Através da
avaliação de uma série de características físicas
e neurológicas, conseguimos estimar a
idade gestacional de um RN. O método de
Capurro é bem simples e prático e você pode
conferi-lo nas tabelas adiante (a avaliação pode
ser feita pelo método somático ou pelo método
somatoneurológico.
O grande problema do método de Capurro é
sua inadequação para os prematuros extremos.
Perceba que uma pontuação de zero em
todas as características fornece um resultado
de 204 (uma vez que este valor é uma constante).
Dividindo 204 por sete, para calcular a
idade em semanas, percebemos que o valor
mínimo do Capurro é de 29 semanas e um
dia. Para o método, abaixo daí “todos os prematuros
são iguais”, o que, obviamente, não
corresponde à realidade. Para prematuros, o
método do New Ballard é mais adequado.

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12
Q

Método de Capurro Somático:

A
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13
Q

Método de Capurro Somatoneurológico:

A
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14
Q

Calculando a Idade Gestacional pelo Método de New Ballard:

A

Para a avaliação da idade gestacional pelo método de New Ballard Çutilizam-se sinais de maturidade
física (pele, lanugem, superfície plantar,
mama, orelha e olho, e genitália) e neuromuscular,
sendo, portanto, bem mais complexo
que o método de Capurro. Como você pode
perceber, o método de New Ballard permite
que seja atribuída a idade gestacional para
RN entre 20 e 44 semanas de gestação. Não
é necessário decorá-lo, bastando a você o
conhecimento da sua existência e aplicabilidade,
mas é interessante conhecer os parâmetros
que são avaliados,

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15
Q

Exame Geral

A

A avaliação geral consiste na primeira impressão
que temos ao observar a criança e inclui
a avaliação da fácies, da resposta aos estímulos,
da postura ou atitude, da conformação
corporal e do estado nutricional do RN.
A avaliação da fácies permite que identifiquemos
algumas síndromes genéticas. Você poderá
ler mais sobre algumas delas no Anexo
1, ao final da apostila. A reação aos estímulos
táteis está presente mesmo durante o sono,
quando podem ser observados movimentos
involuntários leves e discretos. O RN pode
apresentar finos tremores do maxilar, sem
conotação patológica.
Deve ser realizada a antropometria, com aferição
do peso, comprimento, perímetro cefálico,
torácico e abdominal.

O fenômeno de Arlequim é uma ocorrência
em geral benigna, não muito rara, de causa
desconhecida, e sugere algum grau de instabilidade
vasomotora. Caracteriza-se pela
presença de um hemicorpo com eritema e
outro com coloração normal.
O vérnix caseoso é um material gorduroso
e esbranquiçado que é encontrado em RN
entre 34 e 36 semanas, também sendo identificado
em RN a termo, porém em menor
quantidade.
Algumas petéquias podem estar presentes
na cabeça do RN por aumento da pressão
durante o parto e desaparecem em dias.

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16
Q

Pele e Fâneros:

A

Na avaliação da pele devemos observar as seguintes
características: textura, umidade, cor,
presença de lanugo, presença de vérnix e presença
de icterícia. Além disso, devemos ter conhecimento
das dermatoses mais comumente
encontradas no período neonatal.
Na avaliação da cor, esperamos encontrar cor
rosada, mais evidentes naqueles RN de pele
mais clara. Os RN policitêmicos podem apresentar
pletora; já a palidez pode ser manifestação
de anemia ou vasoconstrição periférica.

As manchas em vinho do porto são uma malformação
capilar, já presente desde nascimento,
que não desaparece com a idade. Frequentemente
unilateral e segmentar, em geral respeita
a linha média do corpo. As lesões podem ser
róseas na infância, mas costumam adquirir um
aspecto vinhoso com a idade.

Os hemangiomas são formas vasculares
mais extensas e elevadas (daí a denominação
tumor). Um percentual grande dos hemangiomas
involuem ainda nos primeiros anos de vida.

17
Q

Dermatoses mais comuns no período neonatal:

A

DERMATOSES MAIS COMUNS NO
PERÍODO NEONATAL
Esse é um tema bastante abordado nos concursos.
Essas condições são muito frequentes
na prática e, felizmente, grande parte tem
curso benigno e autolimitado.
 Eritema tóxico neonatal: erupção cutânea
que cursa com lesões eritematosas,
maculopapulares ou mesmo pustulosas.
Tem curso autolimitado, causa desconhecida
e é observada em 50% dos RN a termo
(rara em prematuros). Inicia-se por volta
do segundo dia de vida, resolvendo-se espontaneamente
em alguns dias. As lesões
são distribuídas pela face, tronco, nádegas
e membros proximais; palmas e solas são
poupadas. A avaliação histológica revela a
presença de uma bolha subcórnea ou intraepidérmica
rica em eosinófilos. É comum
a descrição de que as lesões são semelhantes
a picadas de insetos.
 Melanose pustulosa ou pustulose transitória
neonatal: erupção cutânea pustulosa
autolimitada, de causa desconhecida,
mais comuns em etnias negras que
em caucasianos. Pode estar presente ao
nascimento, caracterizando-se por grupamentos
de pústulas estéreis de 2-3 mm (ricas
em neutrófilos e, ocasionalmente, eosinófilos),
predominando na fronte, abaixo
do mento, região retroauricular e cervical,
dorso, mãos e pés (incluindo região palmoplantar).
Após dois ou três dias, as pústulas
desaparecem, deixando tipicamente
pequenas máculas hipercrômicas com um
colarete de escamas brancas. As manchas
hiperpigmentadas permanecem por cerca
de três meses.
 Milium sebáceo: são encontrados em até
40% dos RN. São pequenas pápulas esbranquiçadas
localizadas na região frontal,
malar, nasal e mentoniana. Resultam
da retenção de queratina e material sebáceo
por ação dos estrogênios maternos.
Desaparecem em algumas semanas. As
lesões também podem ser encontradas
na cavidade oral, na junção entre o palato
mole e duro, recebendo o nome de pérolas
de Epstein.
 Miliária: correspondem a lesões vesiculares
puntiformes que representam a obstrução ductal das glândulas sudoríparas écrinas,
ocorrendo em geral na segunda ou terceira
semanas de vida, associando-se com sudorese
excessiva (clima quente, roupas em
excesso, febre). Há dois tipos de miliária:
(1) Miliária cristalina: a oclusão ductal se
dá ao nível do estrato córneo; são vesículas
tipo “gotas de orvalho” localizadas na fronte
do RN. (2) Miliária rubra ou “brotoeja”: a
oclusão ductal é intraepidérmica; a ruptura
do ducto sudoríparo leva ao extravasamento
do suor para o tecido circunjacente, provocando
inflamação. São lesões vesiculares
eritematosas, eventualmente com pústula
central, com predileção pela fronte, região
cervical e axilar. A miliária desaparece rapidamente
pela aplicação de compressas frias
e resfriamento do ambiente.
 Acne neonatal: acomete 20% dos RN,
ocorrendo a partir de 7-14 dias de vida. Surgem
comedões (pápulas com centro branco
ou preto), pápulas eritematosas e pústulas,
localizando-se preferencialmente na face e
por vezes também no tronco superior e na
região proximal dos braços. As lesões desaparecem
após semanas. Não costuma ser
necessário qualquer tratamento.
 Mancha mongólica: extensa mancha azulada
ou azul-acinzentada, localizada na região
lombar, nádegas e coxas proximais,
observada em até 80% dos RN da raça
negra ou asiática. A mancha é decorrente
da presença de melanócitos na derme que
ainda não terminaram a migração para a
epiderme. Tende a evanescer nos primeiros
anos de vida.
 Manchas salmão: manchas róseas ou vermelhas,
que se exacerbam durante o choro,
presentes na região da nuca, pálpebras
ou glabela, decorrentes de ectasia capilar.
São observadas em 30-40% dos RN e desaparecem
em 1-2 anos, podendo eventualmente
persistir para o resto da vida. As
lesões na face devem ser diferenciadas
das manchas em vinho do porto, que são
permanentes e podem estar associadas
com a síndrome de Sturge-Weber.

18
Q

Lanugem:

A
19
Q

Vérnix Caseoso:

A
20
Q

Milium Sebáceo (Milia):

A
21
Q

Miliária Cristalina:

A
22
Q

Miliária Rubra (“Brotejas”):

A
23
Q

Eritema Tóxico Neonatal:

A
24
Q

Melanose Pustular:

A
25
Q

Mancha Mongólica

A
26
Q

Mancha Salmão

A
27
Q

Crânio:

A

O crânio apresenta uma forma arredondada ou
modelada (pode ocorrer ajuste ao canal do parto,
na apresentação cefálica, com cavalgamento
parcial dos ossos do crânio). O perímetro cefálico
em um RN a termo costuma variar entre
33 e 38 cm. Ao discutirmos as infecções congênitas,
falaremos mais sobre as definições de
microcefalia. Devemos fazer a avaliação cuidadosa
das suturas e fontanelas. As suturas nada
mais são do que as junturas fibrosas entre os
ossos do crânio. As fontanelas representam espaços
fibroelásticos, normalmente planos, que
correspondem à convergência das suturas (FIGURA
9). A fontanela anterior (ou bregmática)
surge no encontro entre os parietais e o frontal.
Já a fontanela posterior (ou lambdoidea) corresponde
ao espaço triangular entre os parietais
e o occipital. Existe uma grande variação
no tamanho das fontanelas ao nascimento. A
fontanela anterior apresenta diâmetro de 1-3
cm (média de 2 cm) e se fecha aos 14-18 meses
de vida (variação normal: quatro meses a
dois anos), enquanto a fontanela posterior tem
diâmetro de 0,5-0,7 cm (média de 0,6 cm) e se
fecha aos dois meses de vida (pode já estar
fechada ao nascimento).
A permanência de fontanelas grandes (principalmente
a anterior) pode estar associada
a doenças como: acondroplasia, hipotireoidismo
congênito, síndrome de rubéola congênita,
hidrocefalia, raquitismo, osteogênese
imperfecta e trissomias (21, 13 e 18).

As seguintes alterações podem ser encontradas
no crânio do RN:
 Craniotabes: área amolecida deprimida no
osso parietal, próximo à sutura sagital. Esta
alteração é fruto da compressão pontual do
crânio pelo osso pélvico da mãe na cavidade
uterina. Costuma desaparecer nos primeiros
meses de vida. Este amolecimento nos ossos édescrito por muitos como “palpação dessa alteração assemelha-se à palpação de uma bolinha de pingue-
-pongue”. É um achado normal em muitos
RN, especialmente quando a área amolecida
está próxima a suturas. Os principais RN
acometidos são os prematuros ou aqueles
que foram expostos à compressão uterina.
Neste caso, este amolecimento costuma desaparecer
poucos meses após o nascimento.
Devemos estar atentos com a associação
do craniotabes com osteogênese
imperfecta, sífilis congênita e hidrocefalia. E,
em caso de persistência, este deverá ser investigado.
 Bossa serossanguínea (caput succedaneum):
abaulamento do tecido subcutâneo,
com ou sem equimose, que ultrapassa as linhas
de sutura; representa edema do tecido
subcutâneo subgaleal decorrente do trauma
do parto (apresentação cefálica) e desaparece
em alguns dias. Pode surgir em qualquer área do crânio.
 Céfalo-hematoma: abaulamento decorrente
de um hematoma subperiósteo por trauma no parto (apresentação cefálica). Localizado
geralmente no osso parietal, tem como grande
característica o fato de que o abaulamento
não ultrapassa a sutura. Desaparece paulatinamente
em duas semanas a três meses.

 Craniossinostose: representa o fechamento
prematuro de uma ou mais suturas
cranianas. Este fechamento prematuro leva
a deformidades cranianas.

28
Q

Face:

A

Na face devemos atentar para a presença de
sinais que possam sugerir a presença de alguma
síndrome genética, como pregas epicânticas,
microftalmia, hipertelorismo ocular,
base nasal achatada, filtro longo, micrognatia,
baixa implantação de orelhas e palato ogival.
A assimetria facial no RN pode ter muitas
causas. A mais frequente delas é a paralisia
facial periférica provocada por postura anormal
intrauterina, parto laborioso e uso de fórcipe
inadequadamente. Entretanto, existem
outros diagnósticos diferenciais que devem
ser lembrados: agenesia do músculo depressor
do ângulo da boca, síndrome de Möebius
(agenesia bilateral do núcleo do facial
no tronco com estrabismo convergente por lesão ao nervo abducente), distrofia muscular
congênita (cursa com fraqueza generalizada,
incluindo os músculos da mímica facial)
e algumas síndromes genéticas, como
a síndrome de Goldenhar, que pode produzir
o crescimento excessivo de um dos lados da
face.
 Olhos: costumam estar fechados, mas
abrem-se espontaneamente quando inclinamos
“gentilmente” o RN para trás e para
frente (reflexo labiríntico). Os reflexos pupilares
estão presentes a partir da 28ª-30ª
semanas de gestação. O estrabismo transitório e o nistagmo horizontal podem ser eventualmente encontrados no exame dos olhos do recém-nascido
e não são achados preocupantes. As hemorragias
subconjuntivais e retinianas são achados
benignos no exame do RN. As hemorragias
retinianas são mais comuns no parto vaginal
e resolvem-se na maioria das vezes nas
primeiras duas semanas de vida, podendo
perdurar até quatro semanas. A avaliação
do reflexo vermelho é uma parte importante
do exame e será detalhada mais adiante.

O diagnóstico diferencial dos quadros de
conjuntivite neonatal é relativamente simples
nas provas. A conjuntivite que ocorre
nas primeiras quatro semanas de vida recebe
o nome de oftalmia neonatorum. Este
quadro é caracterizado por hiperemia e edema
da conjuntiva (quemose), edema palpebral
e presença de secreção.

Devemos ser capazes de fazer o diagnóstico
essencialmente entre três condições: a conjuntivite
química, a conjuntivite gonocócica
e a conjuntivite por clamídia. A distinção puramente
clínica entre essas condições nem
sempre é simples. Porém, na sua prova, os
quadros estarão bem típicos, facilitando a interpretação puramente clínica.
A conjuntivite química provocada pelo nitrato de
prata ocorre dentro de 6-12 horas após o nascimento,
caracteriza-se por sinais inflamatórios
leves e tem resolução espontânea em 48 horas.

Por outro lado, toda conjuntivite que se inicia
após 48 horas de vida deve ser investigada
pela possibilidade de causa infecciosa. O período
de incubação da Neisseria gonorrhoeae
é de 2-5 dias e da Chlamydia trachomatis é
de 5-14 dias. A conjuntivite por clamídia pode
se apresentar de forma leve ou francamente
purulenta. O diagnóstico da clamídia pode ser feito através do esfregaço de conjuntiva demonstrando
células epiteliais com inclusões intracitoplasmáticas
típicas na coloração pelo Giemsa. Na
conjuntivite gonocócica, inicialmente observa-
-se pouca inflamação e secreção serossanguinolenta
e, com o passar dos dias, a secreção
torna-se espessa e purulenta, levando a
um grande edema palpebral. O diagnóstico
laboratorial pode ser feito através do swab da
conjuntiva, que revela presença de diplococos
Gram-negativos. Se a infecção gonocócica
não for tratada, pode atingir camadas mais
profundas da conjuntiva e da córnea e levar à
cegueira.

O esquema
para conjuntivite gonocócica consiste na administração de ceftriaxona; na infecção pela clamídia, faz-se uso da eritromicina por via oral. Vale lembrar que o tratamento tópico da infecção pela clamídia não é capaz de prevenir o desenvolvimento da pneumonia afebril do lactente.

O adenovírus é uma possibilidade, mas não justificaria
a presença do corrimento vaginal materno.

O S. agalactiae não é um agente habitual das
conjuntivites neonatais.

 Orelhas: devemos avaliar a forma, tamanho e
posição, além da presença de fístulas pré-auriculares,
depressões e apêndices cutâneos.
 Boca: algumas alterações comuns e transitórias
incluem a presença de língua relativamente
grande com frênulo curto (anquiloglossia),
as pérolas de Epstein, já descritas,
aftas de Bednar (úlceras aftosas simétricas
no palato). Alguns RN apresentam dentição
presente ao nascimento ou surgida após o
parto, ainda no período neonatal; os mais
comuns são os incisivos inferiores.
O lábio leporino e a fenda palatina podem
ocorrer isoladamente ou estarem associados.
O lábio leporino tem importância essencialmente
pelo seu aspecto estético.
Consiste em uma fissura que vai desde a
parte mole do lábio até a narina ou arcada
dentária, causando deformidade. Pode atingir
o palato. A fenda palatina pode ocasionar
problemas estéticos, alimentares de dentição
e fonação.
 Nariz: as narinas devem ser simétricas e
patentes.
 Pescoço: costuma ser curto e deve ser simétrico,
sem abaulamentos ou pregas. O
pterygium colli, ou pescoço alado, consiste
em expansões cervicais que são compostas
por pele e fáscia que ocupam o trajeto acromiomiocleidomastoideo.
Pode ser visto nas
síndromes de Down, Turner e Noonan.

29
Q

Tórax:

A

Na avaliação da parede torácica devemos
examinar mamilos e aréola, que devem ser
bem visíveis e formados. Podemos encontrar
nódulo mamário palpável e hipertrofiado em
ambos os sexos, por ação dos hormônios
maternos. Pode mesmo haver a saída de
secreção semelhante ao colostro (chamada
pelo leigo de “leite de bruxa”). Este intumescimento
fisiológico desaparece em algumas
semanas. É importante que seja feita a orientação
de que os familiares não tentem retirar
essa secreção!
 Avaliação respiratória: existem algumas
particularidades na avaliação respiratória do
RN que podem preocupar os mais inexperientes.
Em primeiro lugar, o RN apresenta
uma respiração periódica e é comum observarmos
variações na frequência e no ritmo
respiratório de acordo com a atividade da
criança, o estado de alerta e a presença de
choro. É por isso que devemos avaliar a frequência
respiratória ao longo de um minuto
inteiro. A respiração periódica deve ser diferenciada
dos episódios de apneia, que têm
cunho patológico. Na apneia, há uma pausa
respiratória maior que 20 segundos ou a
pausa é mais curta, mas é acompanhada por
outras alterações, como cianose ou bradicardia.
A FR normal costuma variar entre 40 e
60 irpm. A frequência
acima de 60 caracteriza
a taquipneia, que deve ser investigada.
Além disso, o RN apresenta tipicamente respiração
abdominal. A respiração nessa fase
depende quase que exclusivamente da contração
diafragmática, o que faz com que
durante a inspiração o tórax seja retraído e
o abdome se distenda. Temos que ter cuidado
para não interpretar isso como sendo uma
manifestação de doença.
 Avaliação cardiovascular: ao realizarmos
a avaliação cardíaca devemos observar a
atividade do precórdio, a frequência cardíaca,
o ritmo, a qualidade das bulhas e a presença
ou ausência de sopros. Nada muito
diferente daquilo que você está acostumado
a fazer. Deve-se tentar detectar a presença
de dextrocardia através da palpação e da
ausculta. É possível a ausculta de um sopro
sistólico de baixa intensidade ao nascimento,
que corresponde ao canal arterial em
fechamento e não tem importância clínica.
A ausência de sopros não afasta a presença
de uma cardiopatia congênita, pois em
um percentual dos casos não são identificados
sopros de imediato, mesmo com cardiopatias
graves subjacentes.

30
Q

Abdome e Dorso:

A

O fígado pode ser palpável a 2 cm do RCD;
ponta de baço pode ser palpável em alguns
RN. Os rins também podem ser palpáveis
(especialmente o rim esquerdo). Hérnia umbilical
e diástase do reto abdominal são comuns
e geralmente transitórias. O coto umbilical
sempre é avaliado no momento do clampeamento
e deve conter duas artérias e uma
veia. O exame da região dorsal visa à procura
de tufos capilares, presença de depressões
em região sacra e/ou tumorações que possam
sugerir disrafias de medula.
A primeira eliminação de mecônio deve ocorrer
nas primeiras 48 horas de vida. Não se
recomenda de rotina a realização de toque ou
introdução de sonda retal para verificação da
permeabilidade anal.
A inspeção abdominal permite a identificação
de defeitos na parede abdominal. É importante
que você seja capaz de diferenciar os quadros
de gastrosquise dos quadros
de onfalocele.

Na onfalocele ocorre herniação do conteúdo
abdominal na linha média, recoberta por saco
peritoneal, com o cordão umbilical inserido no
centro dessa massa. A onfalocele pode estar
associada a trissomias e outras anomalias
congênitas, como será exemplificado na questão
a seguir.
Na gastrosquise o defeito encontra-se à direita
do cordão umbilical (você observa o coto
umbilical em seu local anatômico), com as alças intestinais e outros órgãos abdominais
podendo exteriorizar-se através dessa abertura,
sem membrana peritoneal recobrindo o
conteúdo exposto.

A síndrome de Beckwith-Wiedemann se
manifesta esporadicamente ou como resultado
de transmissão hereditária. O diagnóstico
da síndrome é feito por sinais clínicos e pode
ser confirmado por exame genético molecular.
Dentre a variedade de sinais clínicos, pode-se
identificar uma tríade distinta de anomalias
congênitas: onfalocele, gigantismo e macroglossia.
É possível, ainda, encontrar: hipoglicemia
neonatal, leve microcefalia, hemangioma
capilar na fronte, sulcos anormais nos lóbulos
das orelhas, exoftalmia, dorso nasal
alargado com aplainamento das cartilagens
alares, proeminência occipital, hipoplasia maxilar,
assoalho orbitário raso e hipoplasia do
terço médio da face. A macroglossia é o sinal
mais frequente, e quando associado à onfalocele
e hipoglicemia, não tem erro: síndrome
de Beckwith-Wiedemann.

31
Q

Genitália:

A

A primeira diurese ocorre dentro das primeiras
24 horas em 95% dos RN. Eventualmente
observam-se manchas avermelhadas nas
fraldas que se devem à presença de uratos
na urina e não têm repercussão clínica. A genitália
feminina é bem desenvolvida e proeminente
(por efeito dos hormônios maternos),
com os lábios maiores recobrindo os menores;
hímen pérvio. Um discreto corrimento
esbranquiçado, por vezes sanguinolento,
também por ação dos estrógenos maternos é
comum e desaparece na primeira semana de
vida. O hímen imperfurado pode resultar em
hidrometocolpo (acúmulo de líquido no útero
e vagina, com abaulamento do hímen). Veja,
a seguir, uma questão interessante sobre
essa condição.
O pênis normal de um RN mede de 2 a 3 cm.
A glande não costuma ser exposta; o meato
uretral deve ser centrado; quando o orifício de
saída encontra-se na face ventral do pênis
dá-se o nome de hipospádia e, quando na face
dorsal, de epispádia. A bolsa escrotal é rugosa
no RN a termo e sua palpação permite
verificar a presença dos testículos, assim
como sua sensibilidade, tamanho e consistência.
Os testículos migram da cavidade abdominal
para o escroto através do canal inguinal
durante o final da gestação, sendo que no RN
a termo os testículos são habitualmente encontrados
dentro da bolsa escrotal.

32
Q

Lactente do sexo feminino, um mês de vida,
é levado ao ambulatório de pediatria para primeira
consulta. Há dez dias, apresenta aumento
progressivo do volume abdominal,
constipação e redução do volume urinário. A
mãe refere que a última ultrassonografia
(USG) do pré-natal não foi normal, sendo solicitado
um novo exame pelo médico que a
acompanhava. Trouxe para a consulta o laudo
da USG realizada há dois dias, que evidenciou
hidronefrose bilateral, dilatação da
bexiga e aumento importante do volume uterino.
Ao exame do abdome, foi observado
que este era globoso à inspeção, peristáltico,
algo tenso, doloroso à palpação e com presença
de massa palpável em região hipogástrica,
estendendo-se até epigástrio, de difícil
delimitação e consistência não endurecida. O
diagnóstico mais provável e a alteração do
exame físico a ser pesquisada nesse momento,
respectivamente, são:

A

Hidrometrocolpos; imperfuração himenal
ao exame da região perineal.

O enunciado nos apresenta uma lactente
de um mês com um quadro de obstrução intestinal
(dor abdominal + constipação intestinal)
+ obstrução urinária (hidronefrose bilateral
+ dilatação vesical + redução do volume
urinário) + massa abdominal, localizada em
hipogástrio, visualizada na ultrassonografia
como útero de dimensões aumentadas. Ora,
possivelmente, estamos diante de um útero
aumentado de tamanho que está causando
compressão extrínseca tanto intestinal quanto
do trato geniturinário. Este aumento do volume
uterino é chamado hidrometrocolpos, e,
no período neonatal, pode ser provocado por
imperfuração himenal, membrana vaginal ou
atresia vaginal. Os estrogênios maternos durante
a gestação estimulam a secreção endometrial
e cervical, promovendo assim a retenção
de líquido dentro da cavidade uterina.
O exame físico da região perineal poderá evidenciar
o hímen imperfurado e abaulado.

33
Q

Membros e Articulações:

A

A avaliação das extremidades e das articulações
tem algumas particularidades. Devemos
avaliar a simetria e adequação da movimentação
dos membros. A clavícula deve ser cuidadosamente
palpada à procura de fraturas;
na presença de fratura sente-se uma crepitação
local e o RN expressa dor.
Além disso, deve ser identificada a presença
de polidactilia e de outras anomalias, como
sindactilia (dedos unidos), aracnodactlia (dedos
muito longos) e de agenesias (rádio, fêmur
etc.).
Displasia do desenvolvimento do quadril:
Uma parte importante da avaliação articular é
a avaliação da articulação coxofemoral, para
identificação da displasia do desenvolvimento
do quadril. Esta condição engloba um espectro
de alterações no desenvolvimento da
articulação imatura. Se não for tratada adequadamente,
poderá levar a limitações na
deambulação futura. Para avaliação desta
condição realizam-se as manobras de Barlow
e Ortolani.
 Manobras de Barlow e Ortolani: a manobra
de Barlow é utilizada
para induzir deslocamento em quadris instáveis.
Nesta manobra, o examinador segura
as coxas do bebê em adução e flexão
e as pressiona posteriormente, na tentativa
de induzir o deslocamento da articulação
do quadril (é uma manobra provocativa).
Quando a manobra é positiva, o examinador
sente o deslocamento da articulação ocorrendo.
A manobra de Ortolani
é exatamente oposta, ou seja, é realizada
para reduzir a cabeça femoral deslocada. O
examinador segura as coxas com o polegar
e indicador e com o quarto e quinto dedos
eleva o grande trocanter enquanto faz a abdução
do membro. Dizemos que a manobra
é positiva quando sentimos na mão um “clique”
do quadril. Um exame complementar
útil para avaliação de displasia de quadril é
a ultrassonografia da articulação.

Paralisias braquiais:
Ainda no exame das extremidades, podemos
identificar as paralisias decorrentes do
estiramento exagerado do plexo braquial
durante o parto, que podem apresentar-se
de formas diversas, a depender do grau e
topografia da lesão.

As paralisias braquiais acontecem geralmente
em fetos macrossômicos durante a tração
lateral da cabeça e do pescoço. Em 45% dos
casos de paralisias de plexo braquial encontramos
história de distócia de ombro. Existem
basicamente dois tipos de paralisia braquial:
Paralisia de Erb-Duchenne – é decorrente
da lesão ao 5º e ao 6º nervos
cervicais, O RN torna-se incapaz de abduzir, rodar externamente
e supinar o antebraço. A postura
fixa é de membro superior aduzido, rodado
internamente e pronado. O reflexo
de Moro está ausente deste lado. O reflexo
de preensão palmar costuma estar preservado
e é um sinal de bom prognóstico.
Paralisia de Klumpke – é decorrente da lesão
ao 7º e ao 8º nervos cervicais, acarretando
uma paralisia da mão ipsilateral, e lesão
do 1º nervo torácico, cuja injúria às suas
fibras simpáticas produz uma síndrome de
Horner daquele lado (ptose e miose). Os casos
leves podem não ser detectados imediatamente
após o nascimento. O diagnóstico diferencial
deve ser feito com lesão cerebral, fratura,
luxação ou separação epifisária do úmero, e
fratura da clavícula.

O tratamento inclui a imobilização do membro
afetado para evitar contraturas. Na paralisia
de Erb-Duchenne recomenda-se deixar o
membro superior abduzido, rodado externamente,
supinado e com leve extensão de punho
por uma a duas semanas. Massagens e
exercícios devem ser iniciados após a primeira
semana de vida. O prognóstico dependerá
da natureza e da gravidade da lesão. Boa
recuperação é verificada na maioria dos casos
que envolvem apenas edema nas raízes nervosas
(neurapraxia) e lesão axonal com conservação
da bainha de mielina. Entretanto,
nos casos em que se verifica ruptura do nervo,
talvez seja necessário o reparo cirúrgico.

A pseudoparalisia de Parrot
é encontrada nos casos de sífilis congênita
precoce, em que pode haver osteocondrite
dolorosa, muitas vezes resultando em irritabilidade
e recusa a mover a extremidade envolvida.

34
Q

Paralisia de Erb-Duchenne:

A

Membro esquerdo com rotação interna, pronado e aduzido.

35
Q

Exame Neurológico:

A

O exame neurológico inclui a avaliação da
postura, da movimentação espontânea, do tônus e da resposta ao manuseio do RN. Os
RN a termo apresentam-se com hipertonia
em flexão dos membros; quanto mais próximo
do termo, maior o tônus flexor.
Uma parte importante desta avaliação é a
pesquisa dos reflexos primitivos. Estes são
reflexos mediados por mecanismos neuromusculares
subcorticais, que se encontram
desenvolvidos desde o período pré-natal. O
desenvolvimento dos mecanismos corticais
inibitórios fará com que esses reflexos desapareçam
ao longo dos primeiros meses
de vida.

36
Q

O Alojamento Conjunto:

A

O alojamento conjunto é um sistema hospitalar
no qual a mãe e o seu RN permanecem
juntos em uma mesma área física, logo após
a liberação do centro obstétrico.
Esse sistema tem alguns objetivos principais:
• Objetivos psicológicos: estabelecer precocemente
o vínculo mãe-bebê-pai-família;
estimular o aleitamento materno.
• Objetivo educacional: os pais têm a oportunidade
de aprender princípios corretos relacionados
aos cuidados com a criança.
• Objetivos físicos: criar condições para reduzir
o risco de infecção hospitalar. Há vários
relatos de redução das taxas de infecção
neonatal após a implantação do alojamento
conjunto em maternidades.
Podem ir para o alojamento conjunto as
mães com boas condições clínicas e os RN
de boa vitalidade, a termo ou prematuros limítrofes,
com peso adequado para a idade
gestacional, com boas condições clínicas
após o atendimento na sala de parto, que
estejam mantendo controle térmico e sejam
capazes de sugar e deglutir (em geral, esses
RN têm mais de 2.000 g, mais de 35 semanas
de gestação e índice de Apgar maior
que seis no 5º minuto).

A maternidade deverá ter uma área mínima
de 5 m² por leito materno e berço, sendo um
máximo de seis binômios por sala, com distanciamento
mínimo de 2 m no posicionamento
dos berços.

Os cuidados adotados no alojamento conjunto
incluem medidas relacionadas aos seguintes
aspectos:
• Posição da criança: o bebê permanece ao
lado de sua mãe, em posição horizontal, em
leito individual. Deve ser feita a orientação
quanto ao posicionamento correto da criança
para dormir, que é a posição supina. Essa medida
tem o intuito de reduzir o risco de morte
súbita do lactente. A relação entre síndrome
da morte súbita do lactente e posição prona
ao dormir está bem estabelecida, sendo a posição
supina recomendada para o sono.
• Higiene da criança: a mãe deve aprender
a dar banho na criança, com ajuda da equipe
do alojamento conjunto. O coto umbilical
deve receber higiene com álcool etílico
a 70% após o banho e troca de fralda. Não
deve ser usado qualquer curativo oclusivo.
• Vacinação: a vacina contra hepatite B deve
ser administrada nas primeiras 12 horas de
vida. O Ministério da Saúde também vem
recomendando que a vacina BCG seja feita
nas primeiras 12 horas de vida.
• Aleitamento materno: esse período deve ser
aproveitado para estimular a amamentação e
garantir o seu sucesso. Devem ser abordados
aspectos relacionados aos benefícios da
amamentação e a técnica deve sempre ser
ensinada e verificada.
Neste momento, devemos também avaliar
quem são as crianças de maior risco já ao
nascer, com o objetivo de recomendarmos
a priorização do seu acompanhamento na
atenção básica, inclusive com busca ativa.
São considerados fatores de risco ao nascer:
• Residência em área de risco.
• Baixo peso ao nascer (< 2.500 g).
• Prematuridade (< 37 semanas de idade gestacional).
• Asfixia grave (Apgar < 5 no 5o minuto).
• Necessidade de internação ou intercorrências
na maternidade ou em unidade de assistência
ao RN.
• Necessidade de orientações especiais à
alta da maternidade / unidade de cuidados
do RN.
• Mãe adolescente.
• Mãe com baixa instrução (< 8 anos de estudo).
• História de morte de crianças com menos
de cinco anos na família.
A alta da unidade não deve ocorrer menos do
que 48 horas após o nascimento da criança,
pois mesmo na ausência de fatores de risco
previamente identificados, esse é o período
mínimo para que possa ser feita a observação
do surgimento de icterícia, a observação das
eliminações fisiológicas, a realização dos exames
de triagem, bem como as orientações
para os acompanhantes.

Síndrome da Morte Súbita do Lactente:

Você pode ter dado pouca importância às orientações
relacionadas à posição em que a criança deve
dormir: não o faça!
A síndrome da morte súbita do lactente é uma importante causa
de morte no primeiro ano de vida e a modificação dos fatores
de risco associados a essa condição vem reduzindo sobremaneira
a sua incidência.
A síndrome é caracterizada pelo óbito súbito, não esperado, de
um lactente, que não pode ser explicado pela avaliação post-mortem,
que deve incluir a autópsia, avaliação da cena do óbito e
revisão detalhada da história médica. Diversos mecanismos parecem
estar envolvidos na ocorrência do evento, mas não são
todos completamente esclarecidos. Sabe-se que as crianças vitimadas
apresentam alterações pulmonares e em outros órgãos,
bem como na estrutura e funcionamento do tronco encefálico.
Os fatores de risco associados podem estar relacionados à criança
ou à mãe e aos fatores ambientais. Diversos desses fatores
são fatores modificáveis e é nosso papel orientar os responsáveis
nesse sentido. Conheça os fatores:

Fatores maternos e antenatais:
• Elevação na alfafetoproteína
no 2º trimestre de gestação
• Tabagismo
• Uso de álcool; uso de drogas
(cocaína, heroína)
• Desnutrição
• Ausência de cuidado pré-natal
• Baixo nível socioeconômico
e baixa escolaridade
• Mães solteiras
• Pequeno intervalo entre gestações
• Hipóxia intrauterina
• RCIU

Fatores da criança:
• Idade (pico entre 2-4 meses)
• Sexo masculino
• Raça e etnia (afroamericanos,
nativos americanos)
• Deficit de crescimento
• Ausência de aleitamento
• Não usar chupetas
• Prematuridade
• Dormir em posição prona ou
decúbito lateral
• Doença febril recente
• Imunização incompleta
• Exposição ao tabagismo
(pré e pós natal)
• Dormir em superfícies macias
• Compartilhar a cama com os
pais ou outras crianças
• Estresse térmico; hiperaquecimento / climas frios, ausência de aquecimento.

(O uso de chupeta um fator de proteção à morte súbita! Embora os mecanismos não sejam compreendidos, alguns estudos mostram um
efeito protetor relacionado ao uso de chupetas
no que diz respeito à síndrome da morte
súbita do lactente. É ainda mais curioso o fato
de que o efeito protetor persiste ainda que a
chupeta caia da boca da criança durante o
sono, não precisando ser recolocada após.
Por isso, pode-se considerar oferecer a chupeta
à criança quando ela for adormecer.)

As principais recomendações da Academia Americana de Pediatria para a prevenção do quadro incluem as seguintes orientações:
• As crianças menores de um ano nascidas a termo ou prematuras
devem ser posicionadas na posição supina para dormir. O
decúbito lateral não deve ser recomendado.
• Estas crianças devem dormir no mesmo quarto que os pais,
mas em berço próprio. O colchão deve ser firme e materiais
macios (travesseiros, brinquedos) devem ser evitados no local
de sono da criança.

37
Q

Triagem Neonatal:

A

O Programa Nacional de Triagem Neonatal foi
reformulado nos últimos anos. Desde o final
de 2013, uma portaria do Ministério da Saúde
indicou que o PNTN contempla a triagem neonatal
por amostra biológica, a triagem neonatal
auditiva e a triagem neonatal ocular. No ano
de 2014, o teste do coraçãozinho também foi
incorporado à triagem neonatal no Sistema
Único de Saúde – SUS.

Teste do Pezinho - Triagem Neonatal Biológica:

O momento ideal para a coleta é entre o 3º
e o 5º dia de vida, nunca antes de 48 horas
de amamentação e nunca superior a 30
dias (em alguns documentos, encontra-se a
descrição de que o momento para a coleta é
entre o 3o e o 7o dia de vida, mas o Ministério
recomenda a coleta entre o 3o e 5 o dia e é
isso que costuma ser cobrado). Para a realização
do teste na rede pública de saúde, a
mãe deverá comparecer ao posto de coleta
onde será feita uma ficha cadastral da criança.
Uma pequena punção do calcanhar do
bebê é feita, utilizando agulhas e luvas descartáveis,
e o sangue é adsorvido em papel
filtro, que deverá permanecer em temperatura
ambiente até a completa secagem do sangue
(duas horas), e depois deve ser encaminhado
ao laboratório.
Os critérios habitualmente usados para nortear
os programas de triagem são os seguintes:
• A condição a ser triada deve ser um importante
problema de saúde;
• A história natural da doença deve ser bem
conhecida;

• Deve existir um estágio precoce identificável;
• O tratamento em estágio precoce deve trazer
benefícios maiores do que em estágios posteriores;
• Um teste adequado deve ser desenvolvido
para o estágio precoce; o teste deve ser
aceitável pela população;
• Intervalos para repetição do teste devem ser
determinados;
• A provisão dos serviços de saúde deve ser
adequada para a carga extra de trabalho
clínico resultante da triagem;
• Os riscos, tanto físicos quanto psicológicos,
devem ser menores do que os benefícios.
Quando o Programa foi formalmente instituído,
no ano de 2001, estava prevista a implementação
do rastreio das seguintes condições:
• Fenilcetonúria (A fenilalanina é um aminoácido essencial e,
quando não utilizada para a síntese de proteínas,
é normalmente degradada pela via da
tirosina. O indivíduo com fenilcetonúria apresenta
uma falha enzimática que resulta no
bloqueio da conversão da fenilalanina em tirosina,
levando ao acúmulo da fenilalanina no
organismo. Nas primeiras semanas de vida, a
criança não apresenta alterações. A partir do
terceiro mês, desenvolve-se retardo mental,
microcefalia, alterações no eletroencefalograma,
clareamento dos cabelos e erupções
cutâneas seborreicas ou eczematoides. Há a
descrição clássica de uma urina com odor
desagradável (de ácido fenilacético), geralmente
descrito como “de rato”. O tratamento
consiste na restrição de fenilalanina na dieta,
pois como a fenilalanina é um aminoácido
essencial, uma pequena quantidade deve
continuar a ser ofertada. Além disso, deve ser
avaliada a necessidade de suplementação de
tirosina.).
• Hipotireoidismo congênito.
• Doenças falciformes e outras hemoglobinopatias.
• Fibrose cística (Dosagem de imunotripsina reativa (IRT), é um precursor da enzima pancreática tripsina
e sua concentração costuma estar elevada no
sangue dos RN com fibrose cística.).
Mais recentemente, também foram incluídos
os rastreamentos para as seguintes doenças:
• Hiperplasia adrenal congênita.
• Deficiência de biotinidase.
Alguns estados possuem particularidades ou
adapatações, mas, habitualmente, o que vemos
sendo cobrado são as recomendações
nacionais.
Hoje já existe uma versão ampliada do teste de
triagem neonatal, que permite identificar mais
de 30 doenças antes que seus sintomas se
manifestem. Trata-se, no entanto, de um recurso
sofisticado e ainda bastante caro, não disponível
na rede pública de saúde. As outras
doenças passíveis de diagnóstico precoce no
período neonatal, cuja testagem somente está
disponível na rede particular, incluem galactosemia,
toxoplasmose congênita, distúrbios do
ciclo da ureia, distúrbios da beta oxidação dos
ácidos graxos, distúrbios dos ácidos orgânicos,
outras aminoacidopatias e deficiência de G6PD.

Teste do Olhinho:

O teste do olhinho ou reflexo do olhinho é um
termo utilizado para fazer analogia aos demais
testes de rastreio usados para audição e doenças
sistêmicas. O teste do “olhinho” nada mais
é do que a pesquisa do reflexo vermelho, ou
teste do reflexo de Brucker. O teste é baseado
na transmissão da luz por todas as estruturas
habitualmente transparentes do eixo visual e
na reflexão do fundo ocular. Qualquer alteração
que se interponha nessa via irá promover
alteração no reflexo, identificando opacidade de meios.
O teste é feito com o auxílio de oftalmoscópio,
em quarto escuro para melhor abertura das
pupilas e a cerca de 45 cm de distância (alguns
descrevem com distâncias maiores ou menores).
A resposta normal ao teste é o achado de
um reflexo vermelho brilhante quando a luz
incide sobre a pupila. Deve ser feita a avaliação
simultânea de ambas as pupilas para identificação
de assimetrias. É uma avaliação simples, que pode e deve ser feita pelo pediatra. O teste
auxilia na identificação de massas esbranquiçadas
intraoculares, simetria/assimetria
entre as pupilas e a reatividade das pupilas à
luz. A presença de reflexo vermelho bilateralmente
sugere ausência de catarata ou patologia intraocular. As alterações no teste incluem pontos pretos,
assimetria ou leucoria (reflexo branco pupilar).
A leucocoria (reflexo pupilar branco)
sugere catarata, tumor, coriorretinite ou
retinopatia da prematuridade, necessitando
de avaliação oftalmológica de urgência.

A pesquisa do reflexo vermelho deve ser realizada em
todos os RN e também faz parte da consulta
das crianças até os dois anos de idade.

Teste da Orelhinha:

O deficit auditivo apresenta-se como um problema
de grande impacto na saúde infantil,
principalmente no que concerne à elevada incidência
desta afecção (1 a 3/1.000 nascidos
vivos). Além disso, acarreta grande prejuízo
na aquisição da linguagem, comunicação
e desenvolvimento cognitivo das crianças,
caso a detecção e o início de tratamento para
a perda auditiva sejam tardios, ultrapassando
o momento ideal para intervenção. Se levarmos
em consideração que o momento ideal
para diagnóstico é antes de três meses e o
momento adequado para iniciar o tratamento
é anterior aos seis meses, poderemos nos
convencer de modo inequívoco da real importância
da adoção de um teste de triagem universal,
que nos permita a identificação imediata
da doença e a instituição de terapêutica
precoce. Este método de triagem tornou-se
obrigatório desde 2000 e atualmente integra
o Programa Nacional de Triagem Neonatal.
Existem dois métodos de triagem:
1. Emissões Otoacústicas Evocadas (EOA):
teste feito com o sono natural do bebê, colocando-
se um fone externo ao seu ouvido;
consiste na emissão de um estímulo sonoro
e na captação do seu retorno (eco), sendo
registrado no computador e confeccionado
um gráfico. Avalia apenas o sistema
auditivo pré-neural, ou seja, sistema de
condução e cóclea. É um teste rápido, fácil
e que não necessita de sedação. Resultados
falso-positivos podem ser produzidos
pela presença de vérnix caseoso ou secreções
no conduto auditivo.
2. Bera – Potencial Auditivo de Tronco Encefálico:
é um exame mais complexo, requer
pessoal treinado e requer sedação. Fones
de emissão sonora são colocados nos ouvidos
do bebê; os eletrodos são posicionados
na cabeça e têm por função captar as ondas
eletrofisiológicas
geradas pelos estímulos
sonoros deflagrados pela fonte. Portanto, é
um método capaz de detectar alterações na
via neural até o tronco. Pode ocorrer grande
número de falso-positivos pela imaturidade
do sistema nervoso central, e por isto recomenda-
se repetição do mesmo nos casos
alterados após os quatro meses.
Comparando-se as vantagens e desvantagens
de um e outro teste, chega-se à conclusão que
o melhor método de triagem é o EOA, por ser
rápido, barato e fácil, e avaliar as frequências de perda mais comuns. Todo teste alterado deverá
ser confirmado antes de três meses.

Teste do Coraçãozinho:

O teste da oximetria tem como objetivo realizar
o rastreamento de algumas cardiopatias
congênitas críticas. Chamamos de cardiopatias
congênitas críticas aquelas nas quais a
apresentação clínica decorre do fechamento
ou restrição do canal arterial (cardiopatias
canal-dependentes).
O teste destina-se a avaliação dos RN com
mais de 34 semanas de idade gestacional.
A avaliação é feita pela determinação da oximetria
no membro superior direito e em um
dos membros inferiores. É necessário que o
RN esteja com as extremidades aquecidas.
Deve ser realizado entre 24 e 48 horas de
vida, antes da alta hospitalar.
O resultado normal consiste em saturação
periférica maior ou igual a 95% em ambas
as medidas (membro superior direito e membro
inferior) e diferença menor que 3% entre
as medidas do membro superior direito
e membro inferior. Considera-se um resultado
anormal caso qualquer medida da SatO2
seja menor que 95% ou houver uma diferença
igual ou maior que 3% entre as medidas
do membro superior direito e membro inferior.
Quando houver alteração, deve ser realizada
uma nova aferição após uma hora.
Caso o resultado alterado se confirme, um
ecocardiograma deverá ser realizado dentro
das 24 horas seguintes.

(Uma coarctação grave da aorta pode justificar achados de diferença de saturação de oxigênio entre o membro superior direito e o membro inferior maior ou igual a 3%. Nesta condição, o fluxo sistêmico que alcança os membros inferiores estaria sendo suprido
em parte por sangue não oxigenado,
proveniente da artéria pulmonar (desviado
para a aorta pelo canal arterial; um shunt
direita-esquerda). Por isso, a saturação pós-
-ductal, refletida na saturação dos membros
inferiores, seria menor que a pré-ductal.)

Teste da Linguinha:
Em junho de 2014 foi sancionada a lei que
“obriga a realização do protocolo de avaliação
do frênulo da língua em bebês, em todos os
hospitais e maternidades do Brasil”. O objetivo
da avaliação é a identificação de situações
em que o frênulo lingual limita os movimentos
da língua, que são importantes para sugar,
mastigar, engolir e falar.
O protocolo completo inclui história clínica,
avaliaçã o anatomofuncional e avaliaçã o da
sucção não nutritiva e nutritiva. O protocolo
tem pontuaçõ es independentes e pode ser
aplicado por partes, até o 6o mês de vida. A
triagem neonatal, realizada nas primeiras 48
horas de vida, é feita apenas com a avaliação
anatomofuncional e permite a identificação de
casos mais graves, com indicação de frenotomia
lingual.
A SBP emitiu declarações afirmando que julga
ser desnecessária a aplicação desse ou de
qualquer protocolo que se proponha a avaliar
o frênulo lingual do recém-nascido como indicativo
de frenectomia.

38
Q

Cuidados Especiais com o Prematuro:

A

Antes de passarmos para a próxima sessão,
vale a pena falarmos um pouco sobre uma
população de RN que merece uma atenção
especial: os prematuros. O RN prematuro necessita
de alguns cuidados especiais. Alguns
desses cuidados se iniciam já na sala de parto,
como a utilização de saco plástico na recepção
dos nascidos com menos de 1.500 g.
Muitas dessas crianças necessitarão de internação
hospitalar prolongada e serão submetidas
a várias intervenções e terapêuticas.

Controle Térmico;

A hipotermia no prematuro é uma grande fonte
de preocupação. Essas crianças apresentam
um desequilíbrio nos mecanismos de controle
térmico, pois possuem aumento da perda
térmica e diminuição da produção de calor.
As estratégias para prevenção na perda de
calor podem ter impacto na mortalidade e na
morbidade neonatal. Não só a prematuridade
pode prejudicar a termogênese, fatores como
hipóxia e restrição ao crescimento intrauterino
também afetam a termogênese química,
que é o principal mecanismo de calor no RN.
Recomenda-se que a temperatura do RN seja
avaliada constantemente, preferencialmente
de forma contínua. Na UTI neonatal, todo RN
deve ser mantido em ambiente de termoneutralidade.
O ambiente de termoneutralidade
corresponde à faixa de temperatura ambiental
na qual a taxa metabólica é mínima e a temperatura
corporal é mantida sem alteração na
produção ou perda de calor. A faixa de termoneutralidade
varia conforme a idade gestacional
e o peso de nascimento e existem tabelas
que indicam isso. Os RN prematuros que necessitam
de cuidados constantes costumam
ser mantidos despidos em incubadoras com
temperatura controlada. Não há definição em
relação ao peso que permite a transferência
da criança para o berço comum. Muitos serviços
usam como ponto de corte o peso de
1.700 g, mas pode haver variações. É claro
que essa transferência é feita de forma gradual;
a criança deve ser vestida e a temperatura
da incubadora é progressivamente reduzida.
Nos prematuros com menos de 30 semanas
ou de 1.000 g recomenda-se o aumento da
umidificação das incubadoras, com o objetivo
de diminuir a perda evaporativa e a instabilidade
térmica.

Controle Nutricional:

Os RN prematuros possuem uma reserva nutricional
escassa, diretamente proporcional ao
seu tamanho. A desnutrição pode ter impactos
graves e permanentes e o suporte nutricional
dos prematuros deve ser rápido.
A administração de alimentação por via parenteral
deve ser feita sempre que as necessidades
metabólicas e nutricionais não puderem
ser atingidas pela via enteral. A imaturidade
do trato intestinal costuma ser um impeditivo,
ainda que temporário, para a alimentação suficiente
por via enteral nos muito prematuros,
sendo necessária a nutrição parenteral total.
Em geral, os RN com menos de 1.500 g devem
receber nutrição parenteral até conseguirem
atingir o aporte adequado pela nutrição enteral.

Recomendações para a Alimentação Parenteral do RN Pré-Termo:

  • Volume e Infusão:

Iniciar a oferta de líquidos entre 60 e 70 ml/kg/
dia no primeiro dia e aumentar em torno de 15
a 20 ml/kg/dia com base na redução do peso e
nos níveis plasmáticos de sódio. Incubadora
com umidade acima de 50% e proteção da pele
com filme plástico diminuem as necessidades
hídricas. Procurar evitar queda de peso maior
que 10% e alterações significativas do sódio
plasmático. As necessidades hídricas costumam
estabilizar-se em 120 a 150 ml/kg/dia.
A oferta pode ser iniciada por via periférica
(respeitando-se concentração máxima de glicose
12,5%) ou por acesso central, por meio
da qual pode-se oferecer soluções com concentração
de glicose de até 25%. Por outro
acesso, infundem-se as outras necessidades
como volume e medicações. Dessa forma, garante-
se a uniformidade na oferta de nutrientes
nas 24 horas.

  • Calorias:

Iniciar com aporte calórico total de 28 kcal/kg/
dia (6 g/kg/dia de glicose e 1 g/kg/dia de aminoácidos).
Monitorizar a glicemia. Aumentar
cerca de 10 kcal/kg/dia até atingir cerca de 100
kcal/kg/dia.

  • Aminoácidos:

Iniciar infusão de aminoácidos no primeiro dia,
com 1 g/kg/dia, e aumentar progressivamente
(de 0,5 a 1 g/kg/dia) até o máximo de 3 g/kg/dia.
Para os RN pré-termo com menos de 700 g existe
a sugestão de oferta de 4 g/kg/dia.

  • Lipídios:

Oferecer a partir do primeiro dia, começando
com 1 g/kg/dia e aumentando progressivamente
(0,5 a 1,0 g/kg/dia) até o máximo de 3 g/kg/
dia, desde que as concentrações de triglicérides
permaneçam normais (150 a 200 mg/dl) e não
haja outras contraindicações (hiperbilirrubinemia,
por exemplo).

  • Eletrólitos:

Introduzir sódio e potássio assim que houver
diurese ou se níveis plasmáticos começarem a
cair. Iniciar demais eletrólitos e vitaminas a partir
do segundo dia.

Nutrição Enteral:

Prematuros > 34 semanas
 Via – a dieta pode ser administrada por via
oral, pois acima de 34 semanas de vida o
bebê já tem coordenação para controlar a
sequência respiração – deglutição – sucção.
 Dieta – aleitamento materno precoce, por
livre demanda (como no RN a termo). Média:
oito mamadas por dia (a cada 3 horas). Se
houver alguma dificuldade de sucção, complementa-
se com leite da própria mãe (ordenhado e oferecido na mamadeira ou no copinho)
ou fórmula infantil para prematuro.

Prematuros < 1.500 g ou < 34 semanas ou
incapacidade de sucção
 Via – a dieta deve ser administrada por via
enteral por sonda orogástrica. A frequência
das dietas costuma ser fracionada a cada
três horas (8x/dia).
 Dieta – pode ser fornecido o leite da própria
mãe ou fórmula infantil para prematuros.
Quando se atinge o total diário de 100 ml/kg/
dia, nos RN < 1.500 g, adicionar nutrientes
aditivos (“fortificantes”) ao leite materno.