O Budismo Como Religião Flashcards
(15 cards)
Existe algum livro sagrado no budismo onde se tenha registrado o darma?
Os ensinamentos do Buda foram primeiro registrados oralmente. Cerca de 200 anos depois da morte do Buda passaram a ser compilados em textos. As versões mais antigas existentes desses textos são chamadas de “cânone Páli”, porém existem cânones (isto é, bibliotecas inteiras, centenas de vezes maiores do que a Bíblia) em todas as línguas asiáticas onde o budismo foi ensinado.
Todos os ensinamentos são, em verdade, a representação da visão última da própria iluminação?
Não, os ensinamentos são métodos para que os seres-mães alcancem o que conseguirem alcançar, então o Buda ensina também métodos temporários, que não estão ligados à iluminação. Dessa forma, ele corresponde não só à sabedoria do Buda, mas principalmente à necessidade do ouvinte.
Podemos definir o budismo como um caminho de poucos dogmas e mais sabedoria?
Nenhum dogma, pelo menos no sentido de algo que a pessoa precise aceitar cegamente. Sabedoria no budismo tem um sentido peculiar, mas sim, é o caminho do reconhecimento da vacuidade-interdependência, que é a realidade, portanto, sabedoria.Então com certeza existem elementos religiosos no budismo. Para algumas pessoas eles podem ser centrais.
Como o budismo interpreta o conceito de “religião”?
Não há conceito de religião no budismo, ou, até onde eu saiba, na maioria das tradições e línguas orientais. Nós partilhamos com os hindus, com diferenças, o conceito de darma. Darma é o que apoia, dá suporte, ou seja, o método que produz o resultado, ou o próprio resultado, o estado de Buda.
O budismo pode ou não ser classificado como uma religião. Ele não é uma religião porque não possui escritura revelada, ou um criador. No sentido de que há práticas devocionais, nesse sentido, é possível chamar de religião. O budismo busca “religar” a pessoa à sua própria natureza — é possível dizer isso também.
Como fazer o budismo chegar a todas as pessoas? Será que os ensinamentos não são muito abstratos? Parece que exigem um certo intelecto
Essa é uma característica de alguns professores, outros professores ensinam de forma simples e de fato atingem muitas pessoas.
Por outro lado, não é objetivo do budismo fazer o budismo chegar a todas as pessoas. O benefício, e a iluminação, devem ser desejados para todos — não métodos específicos.
“O Budismo é um sistema de autodisciplina mental”, dizem alguns autores. Este significado foi corretamente delimitado?
O treinamento da mente é um aspecto essencial do budismo. Agora, as palavras “auto” e “disciplina” se encaixam realmente mais no veículo fundamental, o hinayana.
Por exemplo, no vajrayana você utiliza uma outra pessoa, o seu guru, para desenvolver o treinamento da mente. E com certeza em todos os âmbitos você usa a sanga.
Quanto à palavra “disciplina”, ela se encarrega apenas do que é artificial no caminho, isto é, daquela conduta que é treinamento pelo treinamento. Quando falamos de ética, então estamos falando do que é natural ao caminho, do que se coaduna com a realidade. Ambas disciplina e ética são importantes, mas a ética deveria ser mais enfatizada.
Se eu tento dizer alguma coisa a Buda, pedir a ajuda dele, ele me ouve? Ele sabe quem eu sou? Se compadece de mim verdadeiramente? Tem algum poder para me ajudar? Onde ele está?
O Buda deixou 84.000 métodos que podem ser praticados por qualquer um que se aplique neles. Essa foi sua grande compaixão. Algumas formas de budismo realmente lidam com o aspecto devocional, e de fato seria estúpido dizer que a compaixão-sabedoria do Buda não chega a todos. Porém, o Buda não é onipotente, se fosse, todos já estariam iluminados.
No Budismo, temos aliados e protetores invisíveis?
Nós nos relacionamos com os seres dos seis reinos, quatro dos quais não temos acesso pela visão. No entanto, os melhores amigos espirituais são os professores de carne e osso, humanos.Os outros seres podem ajudar ou prejudicar, mas não necessariamente possuem sabedoria, portanto a interação com eles, por “sutis” que sejam, não é espiritual a não ser que esteja subordinada a prática espiritual.
Em algumas situações de grande perigo, há alguma coisa invisível que nos protege ou pode proteger independente da ação que se resolva tomar? Há alguma maneira “sobrenatural” de evitar esses perigos?
Independente da sua ação, claro que não. Essa coisa invisível que te protege não é nada mais nada menos que sua própria lucidez natural. Então, se você deliberadamente for contra o que se mostra lúcido, não há como você se proteger.Por outro lado, se você se relaciona com a sanga em todos os níveis, mesmo no nível sutil, a sanga sutil pode lhe ajudar: como pessoas de carne e osso também podem. Mas isto está na dependência direta de sua própria lucidez, e em segundo lugar com o seu cultivo dessas conexões.
Para que serve o budismo?
O budismo nos aconselha a não simplesmente acreditar nessas possibilidades e finalidades do método budista, mas sim colocá-lo em prática pelo menos por tempo suficiente para que certas melhorias sejam evidentes. Isto é, no mínimo alguns meses ou anos de prática diária e aplicação cuidadosa na vida cotidiana de acordo com as instruções de um professor qualificado.
Como Buda decidiu que ele deveria meditar e alcançar a iluminação, ele teve uma visão ou algo similar?
Ele reconheceu a impermanência, depois dukkha (as diversas formas de insatisfatoriedade presentes em todas as coisas), e enfim viu um praticante espiritual (uma pessoa com manto) e resolveu praticar.
No Budismo, o que leva alguém a encontrar a doutrina que poderá libertá-lo do sofrimento? Sorte? Predestinação? Forças invisíveis?
Essas coisas não existem. Mérito, isto é, carma positivo — amealhado tanto deliberadamente nessa direção, quanto mero carma positivo de boas ações em geral, amealhado de forma fortuita. Apenas carma positivo em geral não é suficiente, mas algum carma positivo amealhado para este fim é necessário.
Para cortar o sofrimento, é preciso cortar o desejo. Mas isso não é limitar, de certa maneira, a existência?
Para eliminar a insatisfação é necessário abandonar o hábito de depositar confiança em objetos que só podem produzir insatisfação. Não é necessário abandonar os objetos, apenas a crença ignorante e arbitrária de que são eles que vão nos fazer verdadeira e duradouramente felizes. O Buda usou, literalmente, as palavras dukkha e trishna, que são mal-traduzidas como sofrimento e desejo. Dukkha é melhor como “insatisfação”, mas nem mesmo isso é correto. É certa angústia subjacente a todas as experiências boas e ruins. Essa angústia não está nas coisas boas ou ruins, ou na fonte deles, e sim numa visão equivocada delas, como fonte de felicidade verdadeira. Isto é, expectativa. Colocamos expectativa em que as coisas boas durem e as coisas más se dissipem. Essa expectativa, trishna, literalmente “sede”, é que deve ser eliminada, para eliminar insatisfação, angústia, dukkha.
Qual o melhor meio para não ter expectativas?
Reconhecer a insatisfatoriedade, a impermanência e a ausência de uma essência — através da prática do darma. É bom lembrar que não ter expectativas é um estado de frescor, liberdade e bem-aventurança. Não é nenhum tipo de apatia ou falta de vontade.
Como cultivar a felicidade interior que independe das circunstâncias? Isso só é possível após a iluminação ou está acessível às pessoas comuns?
Através da prática isso é possível muito antes da iluminação.