Tema VI: Desenvolvimento cognitivo do adolescente Flashcards

1
Q

Resumidamente, como se caracteriza o estádio operatório formal?

A

A transição da infância para a puberdade é marcada, em termos cognitivo, pela libertação dos constrangimentos e limitações do pensamento concreto e a entrada numa mentalidade de egocentrismo metafísico (auto conceito revolucionário e crença no poder sonhador e ilimitado do pensamento), audiências imaginárias (crença que somos alguém em quem todos reparam) e
fábulas pessoais (crença de que por mais comportamentos de risco que faça, nada de mau me vai acontecer porque isso só acontece aos outros. O pensamento formal emergente ou elaborado diz respeito a um raciocínio interno que não opera sobre conteúdas concretos, como por exemplo os colegas de turma, mas sim enunciados verbais e que se caracteriza por ser de segunda ordem, ou seja, uma inteligência abstrata que reflete sobre as próprias operações concretas, sendo exemplos classificações, seriações, inclusões e intersecções.

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2
Q

Como se caracteriza a subordinação do real ao possível?

A

Enquanto o possível da criança concreta é quase decalcado da realidade, mesmo que deformado (possível analógico) ou, ainda que distinto do real, limitado em termos das suas possibilidades imaginadas a partir do conhecido (co-possível concreto), o sujeito formal compreende
facilmente que a realidade existente é apenas uma das ínfimas possibilidades que existem em termos de
mera virtualidade, surgindo o co-possível formal. Assim, o adolescente compreende que em vez de derivar do real, o possível é que dá sentido à própria realidade e ao saber que a realidade não está predeterminada, que cada actualização do possível dá lugar a novas aberturas em termos de possibilidades, este tende a achar que o pensamento tem um poder ilimitado. E.g., face á questão “Como seria se as pessoas não tivessem polegares?”, a criança concreta responde que “não existiria thumbs up”, ou seja, para ela a realidade seria igual à excepção da existência de polegares, mostrando que ela tem uma visão fechada das possíveis realidades que se podem colocar, no entanto o adolescente formal já dá uma resposta mais complexa em que demonstra que percebe que todo o mundo seria distinto e que estaria em vigor uma actualização das ínfimas possibilidades do real.

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3
Q

De que modo o pensamento operatório formal é combinatório?

A

O pensamento formal caracteriza-se por possibilitar ao adolescente combinar de modo
sistemático e exaustivo um conjunto de possibilidades de bases, dadas à partida. Ele torna-se capaz de 1)
imaginar antecipadamente todas as possibilidades de combinação entre um determinado número de
elementos, classes ou proposições; 2) Utilizar um método sistemático de combinações que lhe permita
perceber quais as combinações que, de facto, existem no conjunto das possíveis; 3) Extrair ilações quanto às
diversas relações que existem entre os elementos, classes, ou proposições a combinar (e.g., conjunção,
implicação, disjunção, incompatibilidade, equivalência, etc.).
Um exemplo que permite ilustrar a presença e ausência desta característica de pensamento é a comparação do desempenho de indivíduos no estádio pré-operatório, operatório concreto e operatório formal na prova de combinação de líquido incolores. O desafio central desta prova é, face a 4 frascos com líquidos incolores (ácido sulfúrico diluído, F1; água, F2; água oxigenada, F3; tiossulfato, F4), descobrir todos os líquidos que, individual ou conjuntamente, com a adição de gotas iodeto de potássio (F5), ficam amarelos e para tal é dado aos indivíduos uma série de frascos vazios para tentarem as combinações que desejarem, sendo que tinham de justificá-las posteriormente.
Desempenho pré-operatório: pensa que o amarelo só resulta de combinações simples (ex. F1+F5), tenta poucas combinações, combina aleatoriamente, fornece justificações mágicas como “o amarelo está com preguiça de aparecer” e mistura todos os líquidos quando motivada a experimentar combinações mais complexas (o que não revela o amarelo porque F4 anula-o).
Desempenho operatório concreto: apesar de melhorar as suas estratégias de resolução de problemas, opta mais pelas combinações simples do que as compósitas, não usa um método sistemático de combinações e dá por terminada a tarefa quando uma das possibilidades se concretiza.
Desempenho operatório formal: O sujeito antecipa a priori todas as combinações possíveis, usa um método exaustivo e sistemático que lhe não omitir nenhuma combinação; vê quais as combinações possíveis são reais e tira ilações quanto à mistura entre os líquidos (ex. há uma disjunção exclusiva entre tiossulfato e cor amarela).

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4
Q

De que modo o pensamento operatório formal é proposicional?

A

O adolescente formal é capaz de operar sobre meros enunciados verbais, tratando-os em
termos de proposições às quais atribui valores de verdade ou falsidade formal e operando sobre eles
independentemente da sua verdade ou falsidade. Este não tem de conhecer o nome, simbolismo e tabelas de
verdade de operações proposicionais para conseguir raciocinar segundo as 16 operações binárias que
existem (e.g., conjunção, disjunção, implicação, etc.). Esta característica acaba por ser uma consequência do
seu poder combinatório e correlativo para extrair conclusões a partir do número de combinações possíveis e verificáveis num certo conjunto de elementos, classes ou proposições dadas inicialmente. E.g., se dissermos a uma criança concreta que “se bater com uma pena no copo, ele vai partir-se” e mais tarde a questionarmos se tal é verdadeiro, esta vai estranhar e responder negativamente por a pena ser macia, baseando-se portanto no conhecimento material que possui e mostrando que é incapaz de compreender o enunciado como uma regra; se tal cenário se colocar a um adolescente, isto já não ocorre porque eles são capazes de raciocinar exclusivamente com base nas premissas dadas.

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5
Q

De que modo o pensamento formal é hipotético-dedutivo?

A

O pensamento formal admite certos enunciados ou proposições a títulos de meras
hipóteses formais e deduz a partir da sua aceitação ou negação conclusões logicamente necessárias. O
sujeito com este tipo de pensamento torna-se mais competente a compreender raciocínios condicionais como “Se o João está na escola, então a Maria também está na escola”, que envolvem 4 argumentos lógicos – o Modus Ponens, afirmar o antecedente (“O João está na escola”) implica afirmar o consequente (“A Maria
está na escola”); o Modus Tollens, negar o consequente (“A Maria não está na escola”) implica o negar o
antecedente (“O João não está na escola”); a Afirmação do Consequente, nada se pode concluir a partir da
afirmação “A Maria está na escola”; a Negação do Antecedente, nada se pode concluir da negação “O João não está na escola”. Estudos mostram que ainda assim os adolescentes e os adultos cometem muitos erros nos dois últimos argumentos lógicos e, mais erros ainda, na tarefa de Wason (i.e. tarefa dos 4 cartões).
O mau desempenho dos adultos nesta tarefa diminui quando os sujeitos compreendem bem o que lhes
pedem, o que acontece quando, por exemplo, em vez de conteúdos abstratos ou arbitrários, os cartões têm
conteúdos familiares; as afirmações condicionais apresentam uma conexão lógica entre o antecedente e o consequente que faz muito sentido (e.g., “se sou homem, então sou mortal” em vez de “se sou mortal, então sou homem”); e são usados contextos que apelam a raciocínios pragmáticos, como “ se queres conduzir um automóvel, então tens de ter carta de condução”.

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6
Q

Em que consiste a tarefa de Wason?

A

Nesta prova o sujeito é informado que cada um de quatro cartões que vê à
sua frente tem uma vogal (A) ou uma consoante (D) num dos lados; e um
número par (4) ou ímpar (7) no outro lado. Depois é perguntado que cartões
ele precisa de virar para saber se a regra “Sempre que um cartão tem a vogal
A em um dos lados, no outro lado aparece o número 4” é ou não violada.
Embora a resposta certa seria voltar o cartão A (porque se aparecesse um 7,
a regra seria violada) e o cartão 7 (porque se aparecesse o A, a regra seria
violada, muitos adultos optam por voltar o cartão A e o cartão 4, o que não
se revela grande ajuda porque a regra não é violada quando no outro lado do
4 está quer o A, quer o D (afirmação do consequente).

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7
Q

De que modo o pensamento operatório é formal e abstrato?

A

É um pensamento que opera sobre proposições, enunciados gerais (formais) que podem estar muito afastados ou mesmo em contradição com o que se passa na realidade, e diz respeito àquilo a que Piaget chamou esquemas operatórios formais, como operações combinatórias, proporções, correlações, compensações multiplicativas, ou formas de conservação que ultrapassem a realidade. E.g., na prova de quantificação de probabilidades, em que os sujeitos têm de dizer se é mais fácil tirar, logo à
primeira, uma bola vermelha (i.e. caso favorável) de um saco A ou B, havendo no primeiro 2 bolas
vermelhas e 3 pretas (2/5) e no segundo 3 bolas vermelhas e 4 pretas (3/7), os adolescentes formais
respondem corretamente que é mais fácil no B porque a bola preta a mais está associada a 3 bolas
vermelhas (e não a 2).

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8
Q

Como se dá a coordenação entre duas formas de reversibilidade no pensamento formal?

A

Apesar da criança concreta já conseguir justificar as suas respostas operatórias invocando isoladamente o argumento da reversibilidade por inversão e por
compensação, só com o pensamento formal é que esta é capaz de coordenar estes dois modos de
reversibilidade, que são incluídos na estrutura de grupo quaternário que Piaget apelidou de INRC (operação inicial direta, operação inversa ou negativa, operação recíproca, operação correlativa). E.g., na prova de equilíbrio da balança, os sujeitos deparam-se com uma balança de braços dividida em distâncias iguais, marcadas por cavilhas onde se podem enfiar pesos, a partir do fulcro e com 6 problemas.
É então avaliado quais das 4 regras existentes usam para resolver o problema e chegar à resposta certa – a I,
tem por base a dimensão + perceptiva, o peso, e tente a levar o sujeito a concluir que o braço com mais
pesos é o que pende; a II, também focada nos pesos, mas se existir o mesmo número de pesos nos dois lados, toma em conta a distância dos pesos e conclui que o braço com pesos mais afastados é o que pende; a III, que já toma em conta as duas dimensões mas se existe um conflito entre um braço com mais pesos e outro com os pesos mais afastados, tende a haver uma resposta aleatória; e a IV, onde já uma coordenação das duas dimensões e a capacidade de fazer o produto lógico das distâncias e dos pesos para chegar à resposta certa. Nesta prova, os adolescentes formais já compreendem que se for colocado um peso de 20 g a 10cm do fulcro, operação I, a balança pode ser reequilibrada colocando um peso a igual distância do outro lado, operação inversa ou de negação, ou colocando um peso menor (10g) a maior distância (20 cm) no outro braço, operação R.

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9
Q

De que modo a inteligência operatória formal dissocia fatores?

A

Designa a capacidade de separar fatores para compreender a sua influência individual na
ação em causa. Esta presença e ausência desta característica está bem patente na prova do pêndulo, em que é analisada a habilidade de um sujeito dissociar o efeito de quatro fatores na frequência de oscilações do pêndulo (i.e., comprimento do fio, peso do pêndulo, altura da sua queda e o impulso dado pelo sujeito) e perceber que apenas o comprimento tem impacto. É através da comparação entre os desempenhos que se de nota esta característica específica do pensamento formal.
Desempenho pré-operatório: realiza experiências aleatórias, expressa afirmações contraditórias e explicações do tipo psicológico e pré-causal (ex. ao escolher o fio curto para fazer oscilar o pêndulo, diz “agora não lhe apetece”). Se for motivado a usar o fio comprido, não lhe ocorre a ideia de que, então, devia manter os outros fatores estáveis.
Desempenho operatório concreto: há uma leitura mais objetiva da experiência e o estabelecimento de seriações e correspondências, mas ainda não há dissociação de fatores, ou seja, o sujeito escolhe o fio maior ou menor que o anterior consoante a rapidez do movimento do pêndulo, mas não percebe o impacto da sua decisão porque continua a variar os outros fatores em simultâneo.
Desempenho operatório formal: já existe uma dissociação espontânea dos fatores, de modo a excluir aqueles que são inoperantes, através duma lógica combinatória em que varia apenas um fator e mantem os outros iguais. É capaz de fazer verdadeiras experiências científicas.

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