Desenvolvimento Sócio-Cognitivo nos anos pré-escolares Flashcards
O que é a Teoria da mente, de forma geral?
A teoria da mente, num sentido lato, está relacionada com o conhecimento que desenvolvemos acerca dos estados mentais (nossos e dos outros) e da forma como estes orientam o nosso comportamento no mundo social. É a área que investiga a habilidade das crianças pré-escolares para conhecerem e compreenderem os seus próprios estados mentais (crenças, desejos, perceções, intenções, motivações) e os dos outros e, dessa forma, predizerem e orientarem as suas ações ou comportamentos.
Que prova de Piaget nos indica que a criança ainda não possui teoria da mente?
Piaget utilizou a Prova das Três Montanhas, que revela
que crianças pré-operatórias têm dificuldade em distinguir a sua perspetiva percetiva da dos outros, em compreender pensamentos, intenções e moralidades e em coordenar as diferentes perspetivas.
Para Piaget, a criança pré-operatória ainda não possui Teoria da Mente no sentido de ainda não compreender que os outros têm perspetivas concetuais, percetivas e emocionais diferentes da sua.
O que nos indica o desempenho de uma criança na Tarefa das Crenças Falsas?
Uma criança com sucesso nesta prova percebe que as pessoas não agem de acordo com a realidade, mas sim de acordo com as suas crenças acerca da mesma. Para a criança ter sucesso nesta tarefa é necessário que consiga atribuir ao outro uma crença que é diferente da sua e que é falsa, e que compreenda que o comportamento do outro irá ser orientado pela sua crença mesmo que falsa. Pelo contrário, uma criança com insucesso nesta prova, não compreendia os estados mentais dos outros como pretendido.
Quais podem ser outras explicações para o insucesso nas tarefas da teoria da mente?
- Limitação no desenvolvimento da linguagem: Crianças mais novas podiam ter mais dificuldade
em compreender aquilo que lhes é pedido e em comunicarem aquilo que pensavam sobre a tarefa. - Limitações no funcionamento executivo:
Crianças com dificuldades em prestar atenção aos diferentes momentos da história podiam não conseguir fornecer uma resposta correta;
As crianças podiam ter apenas em consideração os elementos mais salientes da história. Está relacionado com a capacidade de inibir juízos que são orientados por aquilo que é o conhecimento mais saliente.
A aquisição da Teoria da Mente é gradual ou radical?
Investigação mais clássica baseada na tarefa das crenças falsas dá esta ideia de que a aquisição da teoria da mente é uma questão de tudo ou nada: ou tem ou não tem. Investigação mais recente vem evidenciar que existem um conjunto de evoluções relacionadas com a teoria da mente que vão
acontecendo ao longo do tempo. E, portanto, esta evidência não considera a teoria da mente como uma competência tudo ou nada, mas considera que existem diferentes competências relacionadas com a teoria a mente que têm diferentes timings em termos de desenvolvimento.
Qual é o primeiro estádio de desenvolvimento da Teoria da Mente? Quais as suas características?
Desenvolvimento da Perceção Social (nascimento-18 meses): O primeiro passo para adquirir a teoria da mente é o atribuir objetivos, intenções a outros seres
sociais. Este processo de aprendizagem depende da interpretação de várias pistas percetuais, nomeadamente:
- direção do olhar
- capacidade de seguir o olhar dos outros
- emergência da referência social (competência da criança ler os estados emocionais dos outros para tomar decisões acerca do seu comportamento (falado no paradigma do declive visual)).
Portanto, a partir desta idade, a criança já consegue ter este conhecimento intuitivo sobre os estados mentais dos outros e consegue também compreender que o comportamento dos outros é intencional e orientado para objetivos.
Qual é o segundo estádio de desenvolvimento da Teoria da Mente? Quais as suas características?
Desenvolvimento da Consciência dos Estados Mentais (18 meses-3 anos): Coincide sobre o ponto de vista do desenvolvimento cognitivo com a emergência da capacidade representacional - capacidade de a criança poder pensar num objeto ou situação mesmo quando não esta presente. É a partir deste momento que a criança começa a:
- distinguir entre o mental e o real (por exemplo, nas brincadeiras de faz de conta, a criança fala com uma banana fingindo que é um telefone e ela sabe que não é um telefone, mas que o representa)
- utilizar termos relativos a estados mentais - consegue utilizar linguagem referente aos estados mentais (relativa a diferentes emoções, pelo menos às mais básicas).
- Há, também, um desenvolvimento da consciência das intenções, desejos e emoções dos outros.
Qual é o terceiro estádio de desenvolvimento da Teoria da Mente? Quais as suas características?
Desenvolvimento da capacidade meta-representacional (4 anos-5 anos - …): Nesta etapa, a criança adquire a teoria da mente num sentido mais clássico: é aqui que a criança desenvolve um conhecimento mais explicito das representações, que consegue meta-representar.
Nesta altura as crianças, regra geral, já conseguem:
- compreender as crenças falsas nos outros e em si próprio, que é operacionalizado através das tarefas das crenças falsas
- Distinguir entre aparência e realidade (que, embora eu esteja com uma cara alegre, posso estar triste)
- Fazer uma tomada de perspetiva de segunda ordem- a criança percebe que duas pessoas podem perceber o mesmo objeto de formas diferentes (perspetivas)
- Compreender as emoções baseadas nas crenças (aquilo que eu sinto não tem tanto a ver com a situação objetiva e real, mas com a forma como eu penso acerca da situação)
- Compreender o engano
Quais são as implicações da Teoria da Mente na vida de uma criança?
O desenvolvimento da Teoria da Mente traz algumas ventagens adaptativas à criança, sendo as suas relações sociais a vantagem mais evidente.
A maior capacidade de entender os estados mentais dos outros fornece uma maior competência para nos relacionarmos com os outros, sendo isto corroborado por um conjunto de evidências. Por exemplo, a compreensão da emoção por parte da criança está associada a uma maior cooperação e comunicação com os seus amigos.
Quais são os principais marcos que apontam para a consciência do próprio (18 meses e os 3 anos)?
- A capacidade do próprio se conhecer ao espelho - este aspeto revela o sentido consciente do self como agente independente no mundo
- Emergência das emoções auto-conscientes (orgulho, culpa, vergonha, etc.)
- Emergência das autorreferências (nome, “eu”).
Como se caracterizam as auto-representações na idade pré-escolar?
- São autorrepresentações baseadas sobretudo em
qualidades concretas e observáveis: habitualmente as crianças referem-se a características físicas ou competências muito específicas e não a descrições mais de natureza psicológica ou abstrata. - A criança também vai sendo capaz de avaliar atributos pessoais em função das experiências concretas de sucesso e de insucesso, mas estas autorrepresentações são muito baseadas naquilo que acontece no momento presente.
- Estas autorrepresentações ainda não são estáveis, não estão bem hierarquicamente organizadas e
podem conter em si algumas contradições - É também possível descrever desta descrição que existe alguma inflação/distorção positiva na sua autoimagem
Poruque é existe um sentido inflacionado da autoimagem da criança?
Por um lado, uma maior dificuldade da criança em fazer a comparação social com os outros (que pode contribuir para a inflação das suas autorrepresentações) e, por outro lado, alguma dificuldade entre distinguir entre o self real e o self ideal, entre aquilo que ela é e o que ela gostaria de ser.
Qual é a importância dos cuidadores no desenvolvimento de um self saudável?
É importante perceber que estas crianças mais pequenas aprendem a olhar para si próprias através das lentes dos outros. Existe uma integração desde muito cedo, dos padrões, das expectativas, das crenças e atribuições dos pais nas autoavaliações das crianças. É assim importante considerar que a criança mais pequena também é mais vulnerável a incorporar
avaliações negativas no seu autoconceito.
Qual é a sequência de progresso em termos da constância de género?
Auto-classificação → Estabilidade de género → Consistência de género
Depois da criança se auto-classificar enquanto menina ou menino, esta vai gradualmente percebendo que a identidade de género não muda ao longo do tempo -
estabilidade de género – e, posteriormente, que o sexo não muda por transformações na aparência,
atividades ou traços, ou seja, a criança percebe que se eu sou menino e me vestir com roupa de menina não é por isso que vou me “transformar” em menina – consistência de género.
Em que dimensões há evidências de que os pais tratam as raparigas e os rapazes de forma diferente?
- O conteúdo das conversas: embora isto não se passe com todas as crianças, foi estudado que os pais falam menos com os rapazes e focam-se menos em aspetos interpessoais enquanto que as mães falam mais com raparigas, especificamente sobre emoções.
- Reações a emoções das crianças: os pais reagem negativamente a expressões de medo e choro dos rapazes enquanto que ambos os pais são mais tolerantes em relação a expressão de sentimentos de perturbação e medo das raparigas.
