Foucault Flashcards

(12 cards)

1
Q

Questão 1: Qual a noção de poder em Foucault e sua diferença com outras análises

A

Para Foucault, o poder não é apenas repressivo, mas produtivo. Ele se exerce
por meio de redes e relações, e não se localiza em uma instituição ou sujeito
específico. Diferentemente das abordagens tradicionais que veem o poder
como algo que se possui e se impõe de cima para baixo (por exemplo, do
Estado ou do soberano), Foucault o entende como uma dinâmica difusa,
presente em todos os níveis sociais, incluindo instituições, saberes e práticas
cotidianas.

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2
Q

Questão 2: Biopoder e seu funcionamento. O conceito de biopoder mostra-se relevante para a compreensão da sociedade
atual, pois permite evidenciar a ação das duas linhas de forças, tendo em vista a
importância assumida pelas ciências biomédicas e pela biotecnologia nas últimas
décadas. Desde o período histórico retratado aqui, o qual se estende do século
XVII ao início do século XX, os saberes e as técnicas de manipulação da vida
conheceram um vertiginoso desenvolvimento. Desenvolvimento que requer
instrumentos de análise aptos a elucidar seus riscos e benefícios.

A

O biopoder é uma forma de poder que incide sobre a vida — sobre os corpos e
sobre a população. Ele funciona por meio de dois polos principais:
1. Anátomo-política do corpo: voltada para o corpo individual, buscando
discipliná-lo, otimizá-lo, torná-lo útil e dócil.
2. Biopolítica da população: atua sobre os fenômenos coletivos — natalidade,
mortalidade, longevidade, saúde pública, epidemias etc. Essa forma de poder
surgiu com o desenvolvimento dos saberes biomédicos e das tecnologias
voltadas à gestão da vida, especialmente a partir do século XVII.

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3
Q

Explique como ocorreu a passagem do poder de soberania para o poder
disciplinar. Discorra sobre suas implicações com base na seguinte passagem do
texto:
O poder que assim se exerce atua não mais em termos de confisco, subtração,
extorsão, tal como se passava no regime de soberania. Agindo sobre a vida, ele
visa ao seu contínuo e incansável melhoramento, multiplicação, incitação
(Foucault, 1976/2010a). Essa transformação a que a
civilização ocidental assistiu não significaria, contudo, o desaparecimento ou
neutralização das batalhas e genocídios que a acompanham.
Ao contrário, declara Foucault (1999), os confrontos travados ao longo dos dois
últimos séculos testemunham a favor de crueldades sem precedentes. Massacres
e extermínios são complementares a um poder que busca aperfeiçoar processos
vitais. Se antes guerras eram iniciadas a fim de proteger o soberano, na era do
biopoder a morte de uns assegura a existência de todos (Foucault, 1999). Essa
forma de equivaler vida e morte, encontrada na base do biopoder, explica a
emergência de fenômenos como o racismo de Estado.

A

O poder de soberania era marcado pelo direito de tirar a vida ou deixá-la viver,
com foco na obediência ao soberano. Já o poder disciplinar (e, depois, o
biopoder) inverte essa lógica: ele se volta para a gestão e otimização da vida.
Essa passagem implicou na mudança de um poder que confiscava para um
poder que regula, incita e administra a vida. Entretanto, isso não eliminou a
violência — pelo contrário, ela se torna mais sofisticada e legitimada, como nos
genocídios do século XX, que ocorreram em nome da preservação da vida de
determinados grupos (e.g., racismo de Estado).

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4
Q

Qual a posição do filósofo sobre extremismos políticos, com base na seguinte
passagem do texto:
Regimes totalitários, como o stalinismo e o nazi-fascismo, teriam, de acordo com
Foucault, apenas radicalizado mecanismos políticos já presentes nos Estados
modernos. As atrocidades cometidas por essas ditaduras evidenciaram em grande escala os elementos imanentes à própria racionalidade ocidental. Na conferência
proferida em Tóquio, no ano de 1978, intitulada A filosofia analítica da política,
Foucault elenca alguns desses elementos mencionando: a organização de
grandes partidos políticos; o surgimento de aparatos policiais; os campos de
trabalho e seus instrumentos de repressão; o controle disciplinar do tempo e dos
espaços, visando adestrar os corpos humanos; entre outros mecanismos
(Foucault, 1994).

A

Foucault entende que regimes totalitários como o stalinismo e o nazifascismo
não criaram mecanismos de dominação novos, mas radicalizaram elementos já
existentes nos Estados modernos. Eles apenas tornaram mais visível a
racionalidade ocidental subjacente, como o controle do tempo e espaço, o
disciplinamento dos corpos e a expansão do aparato repressivo, inclusive em
instituições como campos de trabalho e partidos políticos.

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5
Q

Qual a relação entre o adestramento dos corpos e os processos de subjetivação
a partir da seguinte passagem:
Por conseguinte, após operar a distinção entre soberania e biopoder, Foucault
procede caracterizando-o, em A vontade de saber, como subdividido em dois
polos, duas forma articuladas de o biopoder expressar-se. Em um deles, volta-se
para o “corpo como máquina” (Foucault, 1976/2010a, p. 151). Essa forma de
biopoder visa ao adestramento dos corpos, extorquindo suas forças, para então
ampliá-las. O corpo torna-se tão mais útil quanto mais docilizado. Dessa maneira,
será possível subjugá-lo ao contingente de tecnologias e operações de que
depende o funcionamento social. Foucault reencontra aqui as disciplinas, as quais
irão compor, em seu conjunto, uma “anátomo-política do corpo humano”
(Foucault, 1976/2010a, p. 151, grifo do autor).

A

O adestramento dos corpos ocorre por meio de disciplinas que visam torná-los
úteis e dóceis. Esse processo não é apenas físico, mas também subjetivo: ao
moldar os corpos, molda-se também o sujeito, suas formas de pensar, agir e se
relacionar consigo mesmo e com o outro. Trata-se da constituição de sujeitos
funcionalmente adaptados às exigências sociais e produtivas.

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6
Q

Explique a frase: A biopolítica tem como seu objeto a população de homens
viventes e os fenômenos naturais a ela subjacentes. Regula e intervém sobre taxas
de natalidade, fluxos de migração, epidemias, longevidade. Não é um poder
individualizante, como as disciplinas, mas massifica os indivíduos a partir de sua
realidade biológica fundamental (Foucault, 1976/2010a). A anátomo-política do
corpo encontra a biopolítica da população. Na intersecção formada pelo
cruzamento das duas linhas de força está a sexualidade. Enquanto elemento político e vital, a sexualidade remete tanto ao homem em sua dimensão corporal,
quanto ao homem como membro de uma espécie que se reproduz (Foucault,
1976/2010a).

A

A biopolítica se ocupa da população enquanto massa biológica, atuando sobre
processos naturais como nascimento, envelhecimento e doenças. Ela não
individualiza como o poder disciplinar, mas massifica, gerando políticas e
práticas voltadas à gestão do coletivo. Na intersecção entre o cuidado com o
corpo individual (anátomo-política) e o cuidado com a população (biopolítica),
está a sexualidade, que articula vida biológica e existência social.

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7
Q

Qual a relação entre a sexualidade e a individualização? A sociedade do biopoder
é uma sociedade do sexo, o qual “tornou-se a chave da individualidade: ao mesmo
tempo, o que permite analisá-la e o que torna possível constituí-la” (Foucault,
1976/2010a, p. 159). Se o poder se ocupa da sexualidade, é menos
para reprimi-la que para suscitá-la. Através de infinita verbalização, de um
permanente fazer falar, o sexo é controlado mediante sua inserção no discurso.

A

Foucault argumenta que, na sociedade do biopoder, o sexo torna-se o eixo
central da individualidade. A sexualidade é intensamente explorada por
discursos médicos, jurídicos e educativos — não para ser reprimida, mas para
ser falada, analisada, produzida. Isso gera um “regime de verdade” sobre o
sujeito, que passa a se compreender e a ser compreendido a partir de sua
sexualidade.

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8
Q

Qual a noção de liberdade? As técnicas de segurança, ao permitirem o livre
funcionamento dos sistemas naturais e sociais, atuam sob o primado do
pensamento liberal. Todavia, como afirma Foucault em o Nascimento da
biopolítica (1979), o pensamento liberal terá por efeito a extrapolação da lógica
econômica para o âmbito da vida social, submetendo a relação dos sujeitos entre
si e consigo mesmos a valores como eficiência, competitividade e rendimento. A
liberdade, no contexto dessa nova racionalidade, transforma-se em estratégias de
assujeitamento e controle das condutas.

A

A liberdade, dentro do pensamento liberal contemporâneo, passa a ser um
vetor de governamentalidade. Em vez de oposição ao poder, ela é utilizada
como instrumento de controle, pois as pessoas são levadas a se autorregular
de acordo com critérios como eficiência, produtividade e competitividade.
Assim, a liberdade se torna parte da lógica de assujeitamento.

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9
Q

Explique a frase: A relação entre governo e economia encontra-se na formação de
um campo de intervenção governamental que se tornará princípio e critério de
verdade: é o mercado (Foucault, 2008b). “O mercado deve dizer a verdade, deve dizer a verdade em relação à prática governamental” (Foucault, 2008b, p. 45). (…)
Em decorrência, a economia de mercado assumirá progressivamente o
papel de agente organizador do poder político, papel que resulta, em especial, da
transformação sofrida pelo mercado e que fará dele não apenas um local de
troca, mas de concorrência (Foucault, 2008b). Para Foucault, a concorrência
econômica não é um dado natural, que emanaria inevitavelmente do jogo entre
indivíduos e seus comportamentos econômicos. Ela “só pode aparecer se for
produzida, e produzida por uma governamentalidade ativa” (Foucault, 2008b, p.
165).

A

Foucault vê o mercado como um novo campo de verdade: ele dita o que é
válido ou não nas ações de governo. A economia, principalmente na lógica
neoliberal, deixa de ser apenas uma esfera de trocas e passa a organizar toda a
vida social, guiada pela concorrência. Essa concorrência não surge
espontaneamente, mas é fabricada por políticas ativas do Estado.

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10
Q

Como compreender a lógica da empreendedorização a partir das seguintes
frases:
Medida decisiva realizada pelo ordoliberalismo na confecção desse espaço de
concorrência consiste na disseminação do que Foucault (2008b, p. 202) denomina
“ética social da empresa”. Por meio dela, criam-se artifícios para que além dos
mercados - a sociedade, suas instituições e os indivíduos funcionem sob o
imperativo da concorrência, da eficácia e do autorrendimento, assumindo a forma
de empresas. A forma da empresa e sua lógica subjacente penetram na trama
social, afetando as comunidades, o ambiente doméstico, os corpos, os afetos e os
vínculos interpessoais. Para além da Alemanha ordoliberal, os demais países
capitalistas não demorarão a incorporar essa lógica. (…)
Esta generalização resulta na elaboração de saberes sobre o funcionamento do
mercado e o comportamento consumidor, bem como na regulação das várias
instâncias da sociedade, com vistas ao aumento de sua capacidade de produção.
Sobretudo, a economia como chave de inteligibilidade permite o desenvolvimento
de critérios de avaliação e aferição das decisões governamentais e dos
programas sociais. Estas decisões e programas serão recusados ou aprovados
conforme seu custo e benefício, conforme cálculos de oferta e procura (Foucault,
2008b).

A

A lógica da empreendedorização, promovida pelo ordoliberalismo, transforma
não apenas as empresas, mas toda a sociedade, seus sujeitos e instituições,
em unidades de desempenho e competitividade. Cada indivíduo é levado a se
enxergar como uma empresa de si mesmo, com foco em produtividade, rentabilidade e eficiência. Isso influencia desde o trabalho até os vínculos
afetivos e comunitários.

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11
Q

Como Foucault compreende os estudos da cognição e neurociências? Seguem
duas passagens do texto:
Paralelamente às tecnologias que intervém sobre o DNA, as neurociências e a
indústria farmacêutica tiveram igualmente seu apogeu na última metade de
século. A chamada revolução cognitiva, ocorrida na década de 1950, estabeleceu,
a partir da suposta analogia entre a cognição e os processos computacionais, as
bases do estudo científico da mente humana (Álvaro & Garrido, 2007). Somado ao
surgimento e aperfeiçoamento dos exames de imagem, tornou-se factível observar
o funcionamento cerebral, atribuindo-se ao cérebro a origem dos fenômenos
mentais, os quais não se tornaram apenas visíveis ao olhar médico, como também
passíveis de manipulação, mediante a ação de psicofármacos.(…)
A psiquiatria contemporânea, em estreita articulação com a indústria de
medicamentos, reconhece o cérebro com sendo formado por compostos
neuroquímicos sobre os quais se pode atuar através de drogas tricíclicas,
estabilizadores do humor, inibidores da recaptação seletiva de serotonina, entre
outros (Rose, 2013). Tais acontecimentos colocam novos desafios à sociedade.
Tecnologias genéticas e as neurociências modificam a maneira com que o sujeito
relaciona-se consigo mesmo e com seus pares, a partir de sua realidade biológica
fundamental. Ainda que Foucault não tenha se ocupado diretamente com essas
técnicas, seu conceito de biopoder mostra-se adequado para compreendermos
alguns de seus efeitos

A

Embora Foucault não tenha analisado diretamente as neurociências ou a
psiquiatria biológica, seu conceito de biopoder permite compreender os
impactos dessas práticas. A medicalização da mente, via psicofármacos e
exames de imagem, redefine a subjetividade humana em termos
neurobiológicos. Isso representa uma nova forma de regulação da vida, onde o
sujeito passa a se entender e a ser governado a partir de seu funcionamento
cerebral.

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12
Q

Explique a seguinte passagem: Assim como ocorre no âmbito da genética, a
psiquiatria biológica e as neurociências fazem emergir novas práticas de
regulação da vida e espaços de tensão. O desenvolvimento e difusão de
medicamentos que modulam os estados mentais estreitam o vínculo entre
indústria farmacêutica e psiquiatria, gerando um grande e lucrativo “comércio da
loucura” (Jones citado por Rose, 2013, p. 306). Dentro dele, as fronteiras entre o
normal e o patológico tornam-se obscuras, multiplicando-se as categorias diagnósticas e os comportamentos passíveis de medicalização a cada atualização
dos manuais médicos oficiais.

A

A articulação entre indústria farmacêutica e psiquiatria produz novas formas de
controle social. Com a ampliação das categorias diagnósticas e a
medicalização de comportamentos antes considerados normais, surge um
mercado lucrativo da loucura. Isso cria zonas de ambiguidade entre o que é
normal e patológico, reforçando o poder de normatização da vida.

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