Hematologia Flashcards

(68 cards)

1
Q

Homem negro de 62 anos, apresenta-se com dor lombar intensa e lesões líticas em esqueleto axial à radiografia.

Considerando a HD mais provável, quais outros achados são esperados?

A

Trata-se provavelmente de MIELOMA MÚLTIPLO. A clínica é CRAB:

  • Cálcio (hipercalcemia devido à ação osteoclástica);
  • Rins com IRA;
  • Anemia de doenças crônicas (hemácias em Rouleaux);
  • Bones (osso lítico);

📌 Há também imunossupressão.

O diagnóstico é feito por um desses critérios clínicos + BIÓPSIA DE MEDULA com ≥ 10% de plasmócitos.

Na eletroforese de proteínas, espera-se pico monoclonal de anticorpos (componente M) com inversão da relação albumina-globulina. O anticorpo mais frequente, que é também o de melhor prognóstico, é o IgG.

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2
Q

No mieloma múltiplo, qual é o tipo de imunoglobulina:

  • Mais comum?
  • Melhor prognóstico?
  • Pior prognóstico?
A

IgG é a mais frequente e de melhor prognóstico.

IgD é a de pior prognóstico.

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3
Q

Paciente com suspeita de mieloma múltiplo foi submetido eletroforese de proteínas e imunoeletroforese que demonstraram pico monoclonal de IgM.

Qual é a HD?

A

Mieloma múltiplo com pico de IgM é muito raro, de modo que nesses casos a principal HD é MACROGLOBULINEMIA DE WALDENSTROM, uma doença em que LINFÓCITOS plasmocitóides CD20+ produzem IgM.

📌 Pode dar sintomas de HIPERVISCOSIDADE. Acomete menos rim e osso do que MM.

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4
Q

Paciente com pico de proteína monoclonal > 3 g/dL e > 10% de plasmócitos no aspirado de medula óssea, porém sem evidências de lesão de órgãos-alvo: sem lesões líticas, anemia, doença renal ou hipercalcemia.

Qual é o diagnóstico?

A

Quando encontrarmos um paciente com > 10% de plasmócitos na medula óssea e sem nenhuma manifestação clínica, trata-se de MIELOMA INDOLENTE (smoldering myeloma).

O curso clínico é mais arrastado do que o mieloma múltiplo clássico, mas o tratamento quimioterápico deve ser o mesmo.

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5
Q

Paciente masculino de 47 anos, queixa-se há 2 anos de parestesias, astenia e distensão abdominal. Apresenta também impotência sexual e escurecimento da pele.

Ao exame: pálido, hepatoesplenomegalia, ginecomastia. RX mostra lesões osteoblásticas em pelve e crânio. Exames laboratoriais evidenciam anemia de doenças crônicas, leucócitos e plaquetas normais, função renal e hepática normais, cálcio normal e hipotireoidismo. Eletroforese de proteínas mostrou gamopatia monoclonal com aumento de IgA.

Qual é a HD?

A

SÍNDROME POEMS: polineuropatia, organomegalia, endocrinopatias (hipogonadismo, tireoide…), mieloma osteosclerótico com pico monoclonal, skin changes (hiperpigmentação).

Essa é uma doença rara que serve como diagnóstico diferencial de mieloma múltiplo, na qual as lesões ósseas são BLÁSTICAS.

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6
Q

O que é a gamopatia monoclonal de significado indeterminado?

A

A gamopatia monoclonal de significado indeterminado apresenta risco de malignização e consiste em:

  • Pico monoclonal, porém < 3 g/dL;
  • Plasmócitos ocupando < 10% da medula óssea;
  • Assintomático.

📌 Lembrando que é critério obrigatório para mieloma múltiplo → plasmócitos ocupando ≥ 10% da medula óssea OU plasmocitoma ósseo OU plasmocitoma de tecidos mole comprovado por biópsia.

Essa entidade é diferente do mieloma indolente (smoldering myeloma), que ocorre quanto temos > 10% de plasmócitos na medula óssea mas não há nenhuma manifestação clínica.

RESUMINDO: diante de pico monoclonal e…

  • Plasmócitos > 10% + sintomas = mieloma múltiplo;
  • Plasmócitos > 10% + assintomático = smoldering;
  • Plasmócitos < 10% + assintomático = gamopatia monoclonal de significado indeterminado.
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7
Q

Qual é o principal marcador de prognóstico do mieloma múltiplo, sendo inclusive utilizado no estadiamento?

A

Beta2-microglobulina

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8
Q

Mulher de 30 anos com febre, IRA e diminuição do nível de consciência. Exames indicam trombocitopenia severa e anemia com presença de esquizócitos no sangue periférico. Testes de coagulação são normais.

Qual é a principal HD e a conduta?

A

Primeiramente, note que há PLAQUETOPENIA + COAGULOGRAMA NORMAL → portanto é um distúrbio da HEMOSTASIA PRIMÁRIA.

O quadro clínico é clássico da PÚRPURA TROMBOCITOPÊNICA TROMBÓTICA, que ocorre por deficiência de ADAMTS 13 (“tesoura do fator de Von Willebrand”), resultando em ativação e agregação de plaquetas.

O diagnóstico é feito por ao menos 3 elementos da PÊNTADE = FEBRE + IRA + ENCEFALOPATIA + PLAQUETOPENIA + ANEMIA HEMOLÍTICA MICROANGIOPÁTICA.

Trata-se com PLASMAFÉRESE e transfusão de plasma (que contém todos os fatores da coagulação)! NÃO TRANSFUNDIR PLAQUETAS, pois agravariam os processos trombóticos.

📌 Note que o quadro clínico é semelhante à SHU (anemia + IRA + plaquetopenia) mas com o acréscimo de febre e encefalopatia.

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9
Q

Menino de 4 meses com volumoso hematoma em MSE, após vacina. Exames demonstram plaquetas normais, PTTa alargado (>35seg) e RNI =1.

Qual é a principal HD?

A

HEMATOMAS EXTENSOS são característicos de distúrbios da HEMOSTASIA SECUNDÁRIA. Aos exames, PTTa ALARGADO e RNI NORMAL indicam alteração na VIA INTRÍNSECA.

A causa hereditária mais frequente é a HEMOFILIA A, causada por DEFICIÊNCIA do FATOR 8.

📌 Outra opção seria a hemofilia do tipo B, por carência do fator 9.

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10
Q

Menino de 3 anos de idade com queixa de epistaxe espontânea. Apresenta equimoses e petéquias evidentes em membros inferiores, sem outras alterações ao exame. A mãe relata gastroenterite viral há 2 semanas, com resolução completa.

Exames: Hb = 13 / plaq = 15.000 / Cr normal.

Qual é o diagnóstico mais provável e a conduta?

A

Este paciente apresenta um SANGRAMENTO DE MUCOSA, compatível com distúrbio da HEMOSTASIA PRIMÁRIA, “PLAQUETOPENIA E MAIS NADA”. Portanto, trata-se provavelmente de PÚRPURA TROMBOCITOPÊNICA IMUNE (ou idiopática).

Lembre-se que o quadro normalmente é autolimitado e desencadeado por VACINA ou INFECÇÕES VIRAIS (opsonização por IgG e lise esplênica das plaquetas).

Na maioria dos casos, a conduta é EXPECTANTE. Se sangramento intenso, pode-se fazer corticóide ou imunoglobulina. Reposição de plaquetas só é indicada em casos extremos.

📌 Henoch-Schonlein não causaria plaquetopenia.

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11
Q

Mulher de 18 anos com história de epistaxe bilateral recorrente e ciclos menstruais hipermenorrágicos.

Plaq = 320.000 / TAP = 100% / TTPa discretamente alargado.

HD?

A

A paciente tem clínica de distúrbio da HEMOSTASIA PRIMÁRIA → sangramento de PELE, MUCOSAS e HIPERMENORREIA.

Paralelamente, apresenta PLAQUETAS NORMAIS e TTPa ALARGADO (alteração na via intrínseca). Trata-se de DOENÇA DE VON-WILLEBRAND, uma forma de disfunção plaquetária.

📌 Nos casos mais graves, pode resultar em um déficit do fator 8 (para o qual o fVW é um “escudo”), que se expressa com o alargamento do TTPa.

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12
Q

Como é feito o diagnóstico da púrpura trombocitopênica imune por heparina (HIT)?

Qual é a conduta?

A

O uso de heparinas é uma CAUSA SECUNDÁRIA DE PTI. Ocorre devido à uma reação imune contra a heparina, que por reação cruzada opsoniza as plaquetas e as ativa → têm-se um quadro paradoxal de PLAQUETOPENIA + TROMBOSE!

CRITÉRIOS:

  • Queda em mais de 30-50% do total de plaquetas (porém mantendo > 20.000);
  • 5-15 dias após o início do uso de heparina;
  • Novo episódio de trombose;
  • Ausência de outro diagnóstico.

Como conduta, deve-se substituir a heparina pelos DOACs ou FONDAPARINUX.

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13
Q

Quais são as composições dos principais hemocomponentes?

A

PLASMA FRESCO CONGELADO (PFC)

  • Contém TODOS os fatores da coagulação.

CRIOPRECIPITADO

  • Derivado do PFC.
  • Rico em fibrinogênio, fator VIII e XIII, fibronectina e o fVW → ou seja, não é rico nos fatores dependentes de vitamina K.
  • Principal indicação = CIVD.

COMPLEXO PROTROMBÍNICO

  • Fatores de coagulação dependentes da vitamina K (II, VII, IX e X) em uma concentração 25 vezes maior que a do plasma → PRIMEIRA ESCOLHA PARA REVERTER EFEITO CUMARÍNICO DA VARFARINA (que antagoniza a vitamina K).

📌 1 concentrado de hemácia aumenta cerca de 1 na Hb.

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14
Q

Quais dos novos anticoagulantes podem ser introduzidos sem a realização de ponte com heparina em caso de anticoagulação terapêutica (ex: para TEV)?

A

Os novos anticoagulantes orais (NOACs) agem inibindo diretamente o fator Xa (rivaroxabana, edoxabana e apixabana) ou fator II, que é a trombina (dabigatrana). Têm a vantagem de não necessitar de controle laboratorial.

A rivaroxabana e a apixabana atingem anticoagulação plena imediata. Porém, a DABIGRATANA e a EDOXABANA precisam de PONTE COM HEPARINA.

Dica → “DE”pendem de heparina → D de Dabigratana e E de Edoxabana.

Apesar de improvável, a posologia que tem mais chances de cair na prova é a da rivaroxabana (Xarelto) → 15mg 12-12h durante 3 semanas e após isso 20mg MID no jantar.

📌 Não podem ser utilizados na gestação ou na FA valvar.

📌 Para FA não precisa de ponte.

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15
Q

Descreva se a doença hematológica abaixo tem tendência a COAGULAR ou a SANGRAR:

  • Doença de von-Willebrand;
  • Hemofilia A;
  • Mutação do fator V Leiden;
  • Mutação da protrombina;
  • Deficiência do fator XIII;
  • Deficiência de proteína C;
  • Deficiência de proteína S.
A
  • Doença de von-Willebrand → SANGRAR;
  • Hemofilia A → SANGRAR;
  • Mutação do fator V Leiden → COAGULAR;
  • Mutação da protrombina → COAGULAR;
  • Deficiência do fator XIII → SANGRAR;
  • Deficiência de proteína C → COAGULAR;
  • Deficiência de proteína S → COAGULAR.
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16
Q

Cite as principais reações transfusionais (precoces e tardias), como ocorrem e formas de as prevenir.

A

AGUDAS (até 24h)

  • Reação hemolítica aguda (febre, queda intensa do estado geral, hipotensão, hemoglobinúria, etc) → pela incompatibilidade ABO.
  • Reação febril não-hemolítica (clínica mais branda que a hemolítica aguda) → pela infusão de leucócitos ou plaquetas em pacientes aloimunizados.
  • Reação alérgica → devido a proteínas. É o único quadro que, se leve, ainda pode continuar infusão.
  • TRALI = insuficiência respiratória imunomediada, acompanhada de febre e hipotensão;
  • TACO = insuficiência respiratória por congestão pulmonar, acompanhada de hipertensão.

📌 As mais COMUNS são FEBRIL NÃO-HEMOLÍTICA e reação ALÉRGICA, que costumam ser as únicas sem potencial de gravidade.

📌 A febril não-hemolítica e a sepse ocorrem mais com a bolsa de plaquetas.

TARDIAS (após 24h)

  • Doença do enxerto contra hospedeiro → devido a linfócitos.
  • Aloimunização.
  • Hemocromatose.
  • Transmissão de patógenos.

PREVENÇÃO VIA MANIPULAÇÃO DE HEMOCOMPONENTES:

  • Tipagem = identificar antígenos ABO (evita reação hemolítica aguda).
  • Filtragem = retirar leucócitos (evita reação febril não-hemolítica).
  • Lavagem = retirar plasma (evita alergia).
  • Irradiação = inativar linfócitos (evita doença enxerto vs hospedeiro).
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17
Q

Paciente recebe transfusão de concentrado de hemácias e evolui com insuficiência respiratória. Quais são os 2 diagnósticos possíveis?

A

1) Lesão pulmonar associada à transfusão (TRALI) → é um fenômeno IMUNOMEDIADO que causa EAP NÃO-CARDIOGÊNICO por lesão da membrana alveolar → por ser um quadro inflamatório, esperamos FEBRE e HIPOTENSÃO.

2) Congestão pulmonar associada à transfusão (TACO) → ocorre por SOBRECARGA DE VOLUME, atingindo principalmente idosos, cardiopatas, etc → paciente estará AFEBRIL e HIPERTENSO.

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18
Q

O que indicam os exames de Capacidade Total de Ligação do Ferro (CTLF ou TIBC) e de Índice de Saturação da Transferrina (IST)? Quais são os valores de referência?

A

CTLF (VR = 250-360) = massa total de sítios de transferrina (tanto os ligados quanto os não ligados ao ferro) → logo, é uma medida indireta da transferrina.

IST (VR = 30-40%) = percentual de sítios de transferrina ocupados por ferro.

Logo, parecem ser semelhantes mas não são. Nas doenças crônicas, pelo estado inflamatório, reduzirá a transferrina (proteína inflamatória negativa). Logo, a IST fica normal ou pode até subir, enquanto a CTLF reduz.

Na anemia ferropriva, há aumento na produção da transferrina com o objetivo de aumentar o transporte de ferro → logo, CTLF vai aumentar e IST reduzir.

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19
Q

Quais são os achados laboratoriais na anemia ferropriva?

Qual é a conduta?

A

A anemia ferropriva é microcítica e hipocrômica, caracterizada por:

  • Ferritina e Fe sérico reduzidos (ambos < 30);
  • CTLF aumentado (> 360), refletindo o aumento compensatório da transferrina;
  • IST reduzido (< 10%), já que ocorre aumento da transferrina e redução do ferro disponível para ocupá-la.

A reposição é feita com 120-200mg/dia de ferro elementar nos adultos (para crianças: 3-5mg/kg/dia).

📌 Nos adultos, sobretudo > 50 anos, a anemia ferropriva é um sinal de alerta para sangramento do TGI, que devem ser investigados com colonoscopia!

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20
Q

Quais são as respostas esperadas após o início do tratamento de anemia ferropriva?

A

O primeiro evento observado é o aumento dos RETICULÓCITOS → INICIA por volta de 4 A 5 DIAS e atinge o PICO entre 7 A 10 dias de tratamento.

Depois, observamos o aumento da HEMOGLOBINA que COMEÇA por volta de 7 A 10 DIAS (junto com o pico dos reticulócitos) e NORMALIZA com 6 SEMANAS.

É importante lembrar que o tratamento deve ser mantido por 3 a 6 meses após a normalização.

📌 Essa análise temporal também é muito parecida no tratamento de anemia megaloblástica com reposição de B12.

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21
Q

Qual é a patogênese da anemia de doenças crônicas e como é feito o diagnóstico diferencial para a anemia ferropriva?

A

A anemia de doenças crônicas é fruto do estado pró-inflamatório no organismo, resultando em baixa biodisponibilidade de ferro.

Está relacionada à ELEVAÇÃO DA HEPCIDINA, uma substância que inibe a absorção intestinal de ferro por causar REDUÇÃO do transportador FERROPORTINA.

O FERRO sérico é DIMINUÍDO, mas, diferentemente da anemia ferropriva, a FERRITINA fica NORMAL OU AUMENTADA, e pode haver REDUÇÃO DA CTLF (já que a transferrina é uma proteína de fase aguda negativa).

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22
Q

Criança de 3 anos com história de anemia grave, crescimento inadequado e deformidades ósseas, com fáscies de esquilo. O baço é palpável na altura da cicatriz umbilical.

Exames: Hb = 4 / VCM = 62 / reticulócitos = 8% / GL = 1500 / Plaq = 80k / Corpúsculos de Howell-Jolly à microscopia óptica.

Qual é a HD ?

A

Temos uma criança com quadro de pancitopenia, incluindo anemia microcítica e hiperproliferativa. Associam-se deformidades ósseas.

O quadro é típico de BETA-TALASSEMIA MAIOR, uma hemoglobinopatia causada por mutação homozigota B0B0, que torna o indivíduo incapaz de produzir cadeias beta da globina.

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23
Q

Menino de 1 ano, nascido a termo, recebeu aleitamento materno exclusivo até 6 meses e está em uso de reposição profilática de ferro desde então. Apresenta anemia leve, com Hb = 10,1 / VCM = 68 / HCM = 22 / RDW = 12% / GL = 6.000 / Plaq = 300.000.

Qual é a principal hipótese diagnóstica e a sua patogênese?

A

Essa criança apresenta anemia leve, hipocrômica e muito MICROCÍTICA (VCM < 75). Note que o RDW É NORMAL e não há fatores de risco para deficiência de ferro, o que nos direciona para o diagnóstico de BETA-TALASSEMIA MENOR.

Trata-se de uma hemoglobinopatia hereditária, em que o paciente é heterozigoto para a mutação B0 ou B+ (traço talassêmico). Isso resulta em quadros de anemia leve e assintomática, sem tratamento específico.

Para diagnóstico diferencial da anemia ferropriva, poderíamos recorrer também à cinética de ferro, que é normal na beta-talassemia.

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24
Q

O que é esperado em uma eletroforese de hemoglobina de um paciente talassêmico?

A

Antes, devemos lembrar que uma hemoglobina normal possui 2 cadeias alfa e 2 beta, sendo chamada de hemoglobina A (ou também HbA1). Nas principais hemoglobinas encontradas em uma eletroforese normal, temos sempre 2 cadeias alfa combinadas com 2 cadeias diferentes:

  • Hb A1 (é a normal) → 2 cadeias alfa + 2 cadeias BETA → (VR = 95 a 98%).
  • Hb A2 → 2 cadeias alfa + 2 cadeias DELTA (VR = 2 a 3,5%).
  • Hb F → 2 cadeias alfa + 2 cadeias GAMA (VR ≤ 2%).

Logo, todas as Hb acima possuem 2 cadeias alfa, mas que só são complementadas pelas cadeias beta na HbA1. Como as talassemias trazem no nome a cadeia que não produzem adequadamente, conseguimos imaginar o que acontecerá com a eletroforese em cada uma delas:

  • BETA-talassemia não produz direito cadeias beta → reduz HbA1 (a única que envolve cadeia beta) e aumenta HbA2 e HbF.
  • ALFA-talassemia não produz direito a cadeia alfa → ocorrerá prejuízo nas HbA1, HbA2 e HbF → uma coisa que pode ocorrer são 4 cadeias beta se juntarem e formarem a hemoglobina Bart (HbH). Mas, na alfa-talassemia minor, a eletroforese também pode ser normal.

📌 A alfa-talassemia é mais rara.

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25
Lactente de 18 meses, sabidamente portador de drepanocitose, levado ao PA por dispneia, taquicardia e febre de 38,5. Ao exame, SatO2 = 89% com crepitações nas bases dos hemitórax bilateralmente. RX demonstrando pequena condensação pulmonar em ambas as bases. Qual é o diagnóstico e conduta?
SÍNDROME TORÁCICA AGUDA, que habitualmente é desencadeada por uma infecção respiratória. Seus critérios diagnósticos são → NOVO INFILTRADO pulmonar + UM DOS SEGUINTES: - Febre; - Tosse; - Dor torácica; - Expectoração purulenta; - Dispneia; ou - Hipoxemia. O tratamento envolve INTERNAÇÃO, hidratação (com cuidado para não hiper-hidratar), O2 se Sat < 92% e analgesia. O ATB na STA deve cobrir bactérias "típicas" e "atípicas". Logo, as principais opções são: - Quinolona respiratória em monoterapia (ex: levofloxacino); - BETALACTÂMICO + MACROLÍDEO. 📌 Faz-se ATB em caso de febre > 38.5ºC, hipotensão, Hb < 5 ou leucopenia < 3 mil. É necessário cobrir as bactérias encapsuladas, que são as principais causadoras de sepse nos pacientes com hipoesplenismo. A TRANSFUSÃO DE TROCA PARCIAL (visando Hb = 10 g/dl, Ht = 30% e HbS < 30%) está indicada em caso de DESCONFORTO RESPIRATÓRIO INTENSO E/OU HIPOXEMIA REFRATÁRIA à oxigenioterapia (pO2 < 70 mmHg). Posteriormente, para prevenção secundária, introduz-se HIDROXIUREIA.
26
Lactente de 15 meses com anemia falciforme é levado ao PA devido à palidez importante, sonolência e dor abdominal. Ao exame: taquicárdico, baço palpável a 5 cm do rebordo costal; Hb = 4,5 Qual é a principal HD e a conduta?
CRISE DE SEQUESTRO ESPLÊNICO é a principal hipótese para esse paciente → falcêmico, com < 2 ANOS, agudização da anemia e esplenomegalia. Ocorre devido a acúmulo intraesplênico de grandes volumes de sangue. O tratamento consiste em TRANSFUSÃO sanguínea e correção da hipovolemia. Indica-se ESPLENECTOMIA cirúrgica para prevenção de recorrência e profilaxia para germes encapsulados com PENICILINA V ORAL, no mínimo até os 5 ANOS de idade → cuidado com PEGADINHAS de prova, pois é penicilina V oral e não penicilina benzatina! 📌 O principal diagnóstico diferencial é a crise aplásica, desencadeada por uma infecção do Parvovírus B19. Nesse caso, entretanto, ocorre reticulopenia. OBS: vale lembrar que a principal causa de morte nas crianças falcêmicas é a infecção por germes encapsulados. O pneumococo costuma ser a principal bactéria envolvida nas infecções, mas a Salmonella predomina na osteomielite. 📌 Nos adultos, a principal causa de morte é a STA.
27
Homem, 24a, com dor intensa em flanco D há 4h e muita falta de ar. HP: anemia falciforme em uso de hidroxiureia desde os 12 anos de idade. Exame físico: Ictérico +++/4+, 36ºC, 97bpm, dor à palpação de hipocôndrio direito, DB negativa, fígado a 9 cm do RCD, doloroso à palpação. Hb=5, VCM= 78, reticulócitos = 25%, GL = 15k (65% segmentados, 10% bastão), Plq = 350k, AST= 48, ALT= 61, fosfatase alcalina= 229, GGT= 160, BbD = 7, BbI = 1. O DIAGNÓSTICO É:
Quadro raro, mas fisiopatologicamente semelhante ao sequestro esplênico... estamos diante de um SEQUESTRO HEPÁTICO → o sangue fica represado nos sinusoides hepáticos devido à vaso-oclusão. 📌 Um diagnóstico diferencial é a colestase intra-hepática, que poderia ocorrer devido à necrose dos hepatócitos devido à crise falcêmica local. Porém, cursaria com um aumento intenso de transaminases. 📌 Outro diagnóstico diferencial é a trombose de veia porta, que se manifesta como dor abdominal leve e febre, a qual o paciente não apresenta. Além disso, não teria hepatomegalia deste tamanho (afinal, o fluxo estaria obstruído a nível pré-hepático).
28
Quais são as principais indicações de uso de hidroxiureia para prevenção secundária no paciente falcêmico?
A hidroxiureia promove aumento de HbF, reduzindo fenômenos vaso-oclusivos. É indicada segundo o UpToDate para ADULTOS como prevenção secundária de: - > 1 STA em 2 anos; - AVE; - > 1 crise álgica ou dactilite exigindo hospitalização em 1 ano; OBS: quadros graves de outras manifestações sintomáticas também podem ser individualizados. É importante lembrar da reposição crônica de folato.
29
Quais são as profilaxias a serem feitas em relação ao AVE em pacientes falcêmicos?
A profilaxia primária é feita com DOPPLER TRANSCRANIANO ANUAL dos 2 AOS 17 ANOS para detectar risco de um primeiro AVE. Em caso de fluxo ALTERADO, estão indicadas TRANSFUSÕES CRÔNICAS. Caso o paciente apresente um AVE, o tratamento AGUDO envolve a EX-SANGUÍNEOTRANSFUSÃO (normalmente, outras complicações agudas mais brandas da anemia falciforme demandam apenas transfusões simples). Depois disso, deve fazer profilaxia secundária com TRANSFUSÕES CRÔNICAS para reduzir a HbS < 50%. OBS: até a adolescência predomina o AVE isquêmico. Na vida adulta, o hemorrágico.
30
Qual é a conduta diante de um paciente falcêmico com febre?
Por terem grande risco de infecção invasiva, todo episódio de FEBRE ≥ 38,5ºC deve ser conduzido com INTERNAÇÃO + coleta de culturas + ATB empírico (a CEFTRIAXONA é a droga de escolha). Em locais com alto grau de resistência pelo pneumococo, o ATB empírico de escolha passa a ser a vancomicina.
31
A homocisteína aumenta ou diminui na anemia megalobástica por deficiência de B9 ou B12?
Ela AUMENTA em ambas. Mas, o ácido metilmalônico só aumenta na por B12.
32
Paciente de 45 anos com HP de hipotireoidismo. Queixa-se de astenia, parestesias em extremidades e dificuldade de deambulação. Ao exame, apresenta palidez, queilite angular e língua despapilada. Qual é a principal HD e o quadro laboratorial esperado?
Essa paciente apresenta sinais de síndrome anêmica (astenia e palidez) + queilite angular e glossite, que são característicos de anemias carenciais + sintomas neurológicos. Trata-se de um quadro clássico de ANEMIA MEGALOBLÁSTICA, sendo que as alterações neurológicas (cognitivas ou polineuropatia) falam a favor de carência de vitamina B12 (cobalamina) ao invés de B9 (ácido fólico). A presença de hipotireoidismo aumenta o risco de GASTRITE ATRÓFICA AUTOIMUNE, que é a principal causa de carência de B12 (anemia perniciosa), uma vez que o fator intrínseco produzido pelas células parietais é necessário para a absorção ileal da B12. A anemia megaloblástica caracteriza-se por ERITROPOIESE INEFICAZ, devido a uma deficiência na síntese de DNA. Assim, as características laboratoriais são: anemia MACROCÍTICA (VCM > 100); possível pancitopenia com NEUTRÓFILOS HIPERSEGMENTADOS; aumento de bilirrubina indireta e de LDH. Além disso, há ACÚMULO de HOMOCISTEÍNA (ocorre na deficiência de B9 ou B12) e, exclusivamente na deficiência de B12, de ácido METILMALÔNICO. 📌 Por conta da hemólise intramedular, a anemia megaloblástica também pode ter alterações hemolítica como aumento de LDH e de Bb indireta. Porém, não há reticulocitose.
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Quais são as principais dicas para diferenciarmos anemia por carência de B9 e de B12?
Apontam para deficiência de B9: - Ausência de sintomas neurológicos; - Aumenta apenas homocisteína; - RESERVA corporal CURTA (3 a 4 meses); - Medicações desencadeantes = METOTREXATO, TRIMETOPRIM, PIRIMETAMINA, etanol e FENITOÍNA; - Fonte alimentar = VEGETAIS ESCUROS, entre outros. Apontam para deficiência de B12: - Presença de SINTOMAS NEUROLÓGICOS; - Aumenta homocisteína e ÁCICO METILMALÔNICO; - RESERVA corporal GRANDE (3 a 4 anos); - Medicações desencadeantes = neomicina, METFORMINA, IBPs, antagonistas H2 e óxido nítrico; - Fonte alimentar = CARNE, entre outros.
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Paciente de 6 meses, medicado com sulfametoxazol-trimetoprima. Após 36h, apresenta icterícia, queda da hemoglobina com reticulocitose, hemoglobinúria e presença de corpúsculos de Heinz no esfregaço sanguíneo. Qual é o diagnóstico, sua patogênese e o tratamento?
Paciente com anemia aguda, reticulocitose e icterícia, claramente apresenta hemólise. A hemoglobinúria sinaliza que se trata de HEMÓLISE INTRAVASCULAR (lembre-se que, por isso, pode se acompanhar de NTA!). Note também que o quadro foi desencadeado após o uso de sulfa. Trata-se, provavelmente, de DEFICIÊNCIA DE G6PD! Esta é uma causa de anemia devido a um defeito enzimático intracelular, que deixa as células vulneráveis ao estresse oxidativo. Com isso, está relacionada a agentes desencadeantes, como infecções e certos medicamentos ("Gaveta Seis P D"): NAFTALINA, NITROFURANTOÍNA, SULFAS, PRIMAQUINA e DAPSONA. Não há tratamento!
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Paciente de 9 meses de idade apresentando palidez, icterícia e baço palpável a 3 cm do rebordo costal. Exames laboratoriais mostram Hb = 5,2 / VCM = 80 / CHCM = 40 / ret = 15% / RDW = 17%. Série branca e plaquetas sem alterações. Possui um pai e um tio com história semelhante, que realizaram esplenectomia na adolescência. Qual é a HD mais provável, sua patogênese e o exame confirmatório?
Temos uma criança com anemia grave hiperproliferativa, apresentando esplenomegalia, CHCM aumentado (VR 32-35) e anisoscitose. Além disso, possui HF semelhante. Trata-se provavelmente de uma quadro de ESFEROCITOSE hereditária, um defeito da MEMBRANA das hemácias (deficiência de anquirina) que promove hemólise esplênica e a ESPLENOMEGALIA característica. Nessa doença, as hemácias ficam contraídas, gerando aumento do CHCM (anemia HIPERCRÔMICA). O diagnóstico pode ser confirmado pelo TESTE DE FRAGILIDADE OSMÓTICA, que estará aumentado. O tratamento é feito com ESPLENECTOMIA (após os 5 anos), para os pacientes com anemia grave (Hb < 8 ou Ret > 10%) ou com repercussões clínicas.
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Paciente de 50 anos com história de fraqueza progressiva, palpitações e dispneia aos esforços nos últimos meses. Ao exame, apresenta palidez, icterícia leve, ponta de baço palpável. Exames laboratoriais mostram: Hb = 5,4 / VCM = 90 / Reticulócitos = 5%. Ao fazer provas de compatibilidade para a transfusão de sangue, elas foram persistentemente positivas. Qual é a HD mais provável, sua patogênese e tratamento?
Paciente com anemia hemolítica adquirida, icterícia e esplenomegalia leves, deve levantar a suspeita de ANEMIA HEMOLÍTICA AUTOIMUNE, sendo que a forma por anticorpos quentes (IgG) é mais frequente. A causa idiopática é a mais comum, mas lembre-se que doenças linfoproliferativas e alguns medicamentos também podem estar associados: LES, leucemia linfocítica crônica, linfoma não-Hodgkin, alfametildopa e penicilina. O exame de COOMBS DIRETO É POSITIVO, sinalizando a presença de anticorpos acoplados à membrana das hemácias. Também pode-se escontrar MICROESFERÓCITOS ao esfregaço O tratamento de primeira linha é feito com PREDNISONA, podendo-se recorrer ao infliximab ou esplenectomia para os refratários.
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Qual é o perfil laboratorial genérico das anemias hemolíticas?
O laboratório básico de uma ANEMIA HEMOLÍTICA revela: - Anemia normo ou macrocítica; - Aumento de reticulócitos (> 2%), sinalizando uma anemia HIPERPROLIFERATIVA; - Aumento de bilirrubina indireta e de LDH, como consequência da morte das hemácias; - Redução da haptoglobina, que é uma proteína plasmática que se liga à globina (tóxica) para permitir sua degradação hepática. 📌 A Hb é composta pelo grupo heme + globina. O heme é degradado em ferro + protoporfirina, que por sua vez é metabolizada em biliverdina e, em seguida, em bilirrubina indireta (insolúvel).
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Como é feito o cálculo do índice de reticulócitos corrigido (IRC)?
Como na verdade a resposta medular é representada pelo número absoluto de reticulócitos (normal = 40.000-100.000/mm3), o percentual de reticulócitos deve ser corrigido pelo grau de anemia. IRC = (Ht/40) x %reticulócitos (mulheres) ou (Ht/45) x %reticulócitos (homens). Consideramos como hiperproliferativo um resultado > 2%. OBS: em caso de anemias muito graves (Ht < 25-30%) temos que calcular ainda o "índice de produção reticulocitária". Para isso, dividimos o IRC por 2. Isso é necessário pois, nesses casos, um aumento intenso de eritropoietina acelera a maturação dos precursores eritróides, reduzindo pela metade o tempo que ficam na medula óssea. Com isso, rapidamente são liberados precursores muito jovens (os "shift cells") → ou seja, houve uma redução do tempo de maturação, mas não necessariamente um aumento da proliferação medular.
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Descreva a alteração à hematoscopia esperada para cada uma das condições a seguir: 1) Hipoesplenismo (ex: anemia falciforme, esplenectomia). 2) Anemia por deficiência de G6PD. 3) Anemia sideroblástica.
1) HIPOESPLENISMO (ex: anemia falciforme, esplenectomia) = corpúsculos de HOWELL-JOLLY (ponto roxo mais central na hemácia). 2) Anemia por DEF. DE G6PD = corpúsculos de HEINZ (ponto roxo mais periférico na hemácia). 3) Anemia SIDEROBLÁSTICA = corpúsculos de PAPPENHEIMER. 📌 Está com dificuldade de lembrar qual se as associações? Uma dica: a deficiência de G"SEIS"PD se associa ao nome que tem QUASE SEIS letras (Heinz).
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Descreva a alteração à hematoscopia esperada para cada uma das condições a seguir: 1) Anemia falciforme 2) Esferocitose hereditária 3) Mielofibrose 4) Anemia microangiopática 5) Estomatocitose hereditária 6) Anemia megaloblástica 7) Insuficiência hepática 8) Mieloma múltiplo
1) Anemia falciforme = drepanócitos. 2) Esferocitose hereditária = esferócitos. 3) MIELOFIBROSE = DACRIÓCITOS. 4) Anemia hemolítica MICROANGIOPÁTICA = ESQUIZÓCITOS. 5) Estomatocitose hereditária = estomatócitos. 6) Anemia megaloblástica = megaovalócitos. 7) Insuficiência hepática = acantócitos. 8) MIELOMA MÚLTIPLO = HEMÁCIAS EM ROULEAUX (hemácias empilhadas).
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Quando devemos pensar em anemia sideroblástica?
A HD de anemia sideroblástica deve vir em mente sempre que temos um quadro que parece com várias anemias mas não se encaixa completamente em nenhuma delas: - MICROCÍTICA/HIPOCRÔMICA. - CINÉTICA DE FERRO ELEVADA (ferritina, ferro e IST). - HEMÓLISE LEVE (bilirrubina indireta e LDH discretamente aumentados), mas SEM RETICULOCITOSE. - Pode ser desencadeada por ÁLCOOL, DEFICIÊNCIA DE PIRIDOXINA (B6) e intoxicação por CHUMBO. Ou seja, parece ferropriva por ser microcítica/hipocrômica + ausência de reticulocitose, mas tem cinética de ferro elevada. Também parece anemia hemolítica por ter discreto aumento de BbI e LDH, mas não tem reticulocitose → a hemólise é intramedular, por isso não consegue aumentar produção de reticulócitos. 📌 No esfregaço podemos ver os CORPÚSCULOS DE PAPPENHEIMER e no mielograma SIDEROBLASTOS EM ANEL. 📌 O tratamento envolve reposição de PIRIDOXINA.
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Paciente comparece à consulta queixando-se de hematúria somente à noite. Devemos desconfiar de qual condição?
A hemoblobinúria paroxística noturna (HPN) é uma anemia hemolítica ADQUIRIDA, que ocorre por hemólise intravascular por ativação do sistema do complemente diante de alterações de pH (que ocorrem à noite). É caracterizada pela tríade clínica HEMÓLISE INTRAVASCULAR + PANCITOPENIA + TROMBOSES ABDOMINAIS. Atenção! A relação com a síndrome de BUDD-CHIARI pode ser perguntada na prova! O diagnóstico é feito com citometria de fluxo demonstrando REDUÇÃO DE CD55 E CD59. O tratamento é feito com ECULIZUMAB.
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Paciente de 70 anos é admitido em enfermaria com diagnósticos prévios de HAS, DM e IC. À admissão, apresenta anemia sintomática de etiologia a esclarecer (Hb = 6,8). Qual é a meta de tratamento?
A meta é melhorar o paciente! Não existe uma meta de hemoglobina pré-determinada. Guarde os seguintes conceitos: - Anemia sintomática requer tratamento; - Normalmente, Hb < 7 vai necessitar de concentrado de hemácias (CH); - Cada CH aumenta em média 1 Hb e 3% no Ht; - Temos que ser mais cautelosos em situações que podem resultar em sobrecarga de volume (idosos frágeis, IC, etc). Nesse caso, a conduta adequada é transfundir 1 CH e reavaliar a sintomatologia após a transfusão. 📌 Repito → não precisamos chegar a um alvo de por exemplo 10 de Hb.
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Qual mutação determina o CROMOSSOMO PHILADÉLFIA? Qual proteína é transcrita a partir dele e ele é um marcador de qual doença?
O CROMOSSOMO PHILADÉLFIA é formado a partir da translocação (9,22), originando o gene mutante BCR/ABL. Ele transcreve a proteína TIROSINA-QUINASE, que estimula a proliferação de células mielóides adultas. É marca obrigatória da LEUCEMIA MIELÓIDE CRÔNICA (LMC) necessária para o diagnóstico, porém não é patognomônico. Também pode ser encontrado na LLA, conferindo pior prognóstico.
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Escolar com história de linfadenomegalia simétrica, palidez cutâneo-mucosa, febre, hepatoesplenomegalia, dor óssea e manifestações hemorrágicas nos membros. Qual é a principal HD? Qual é o achado esperado à citoquímica e imunofenotipagem?
LEUCEMIA LINFOCÍTICA AGUDA, que é a neoplasia mais comum na infância. São manifestações típicas da LLA: DOR ÓSSEA (principalmente em MMII), LINFADENOMEGALIA, ESPLENOMEGALIA, infiltração de testículos e de SNC. A maioria dos casos cursa com ANEMIA normo-normo sem reticulocitose, LEUCOCITOSE (às custas de linfócitos) e TROMBOCITOPENIA. A confirmação das leucemias agudas é feita com biópsia de medula e mielograma. Espera-se medula óssea com ≥ 20% DE BLASTOS, células que se coram pelo PAS e marcadores: - Linfócitos B: CD19, 20 e 10; - Linfócitos T: CD3 e 7. 📌 Dica → os linfócitos T normais são CD4 e CD8... quando são crianças, são CD3 e CD7.
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Paciente de 31 anos com quadro iniciado há 21 dias de fraqueza, dores nas pernas, picos febris e sangramento gengival. Apresentava palidez mucocutânea, equimose em região malar esquerda e volumoso hematoma em coxa. Não havia hepatoesplenomegalia ou linfonodomegalias. Exame mostraram: Hb = 9 / Leucócitos = 11.000, com 40% de blastos, 25% de promielócitos, 25% de segmentados e 10% de linfócitos / Plaquetas = 12.000 / fibrinogênio = 120 (VR: 200-400). Qual é a HD? Qual é o achado esperado à citoquímica e imunofenotipagem?
Temos um paciente com sintomas constitucionais, PANCITOPENIA e acúmulo de BLASTOS. Perceba também que na contagem diferencial NÃO há células maduras da linhagem mielóide (neutrófilos, basófilos ou eosinófilos). Trata-se, portanto, de LEUCEMIA MIELÓIDE AGUDA, que é mais comum em HOMENS IDOSOS. Mais especificamente, a hipofibrinogenemia e manifestações hemorrágicas importantes sugerem CIVD e o subtipo M3 (promielocítica). Note que ele não apresenta leucocitose ou infiltração tecidual, o que sinaliza que ainda está na fase de ocupação medular. Espera-se células que se coram pela MIELOPEROXIDASE e marcadores CD 33, 34, 14, 13 ("regra de telefone"). Outro achado característico são os BASTONETES DE AUER (inclusões citoplasmáticas eosinofílicas). 📌 LMA é a LEUCEMIA MAIS COMUM NO MUNDO, enquanto a LMC é mais comum no ocidente.
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Homem de 46 anos com história de febre baixa diária e sudorese noturna há 15 dias, além de perda de peso considerável nos últimos 2 meses. Ao exame, apresenta esplenomegalia (há 2cm do rebordo costal). Hemograma mostra: Hb = 10,6 / leucócitos = 29.000 / bastonetes = 12% / metamielócitos = 6% / promielócitos = 4% / blastos = 1% / eosinófilos = 3 % / basófilos = 2 % / plaquetas = 150.000. Qual é a HD mais provável?
Temos um paciente com síndrome consumptiva, anemia, ESPLENOMEGALIA, e leucocitose importante, com NEUTROFILIA de acentuado desvio para a esquerda, além de BASOFILIA e eosinofilia. O quadro é sugestivo de LEUCEMIA MIELÓIDE CRÔNICA (LMC). Note que o percentual de blastos é muito pequeno, diferentemente do que ocorre na LMA. É caracterizada pela mutação do CROMOSSOMO PHILADELFIA, com proliferação de um clone neoplásico que é capaz de se diferenciar em células maduras da linha mielóide. Portanto, há intensa LEUCEMIZAÇÃO, com aumento dos neutrófilos e seus precursores, além de basófilos e eosinófilos. A esplenomegalia importante se deve há infiltração tecidual. O IMATINIBE (Gleevec), que é um INIBIDOR DE TIROSINA QUINASE, revolucionou o tratamento, que antes era feito somente com TMO. 📌 LMC é a LEUCEMIA MAIS COMUM NO OCIDENTE, enquanto a LMA é a mais comum no mundo.
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Homem de 70 anos, hígido. Realiza exames laboratoriais que mostram anemia (Hb = 8,9), linfocitose (16.000) e aumento de LDH. Foi solicitada imuno-histoquímica que mostra linfócitos maduros com expressão de antígeno CD5. Qual é o diagnóstico e os fatores que se associam a mau prognóstico?
Idoso com LINFOCITOSE ≥ 4000 deve levantar a suspeita de LEUCEMIA LINFOCÍTICA CRÔNICA (LLC), sobretudo quando houver LINFADENOPATIA difusa e AUMENTO DE LDH. Há predomínio de linfócitos maduros (mutação de LINFÓCITOS B) e a imunofenotipagem mostra o marcador CD5, selando o diagnóstico. Há também HIPOGAMAGLOBULINEMIA, que predispõe a INFECÇÕES de repetição. A presença de ANEMIA e, sobretudo, TROMBOCITOPENIA marcam os estágios mais avançados (RAI III e IV), que são os únicos para os quais se indica tratamento quimioterápico (clorambucil ou fludarabina).
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Quanto aos subtipos da LMA, quais deles possuem manifestações mais específicas e quais são elas?
M2 (mieloblasto): cloroma (dica: temos 2 olhos) → é o tipo MAIS COMUM; M3 (promielócito): CIVD → é o tipo de MELHOR PROGNÓSTICO atualmente, devido ao advento do ÁCIDO TRANSRETINÓICO; M4 (mielomonocítica) e M5 (monoblasto): infiltração gengival.
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Decoreba: cite os achados hematológicos picuinha das leucemias e linfomas.
LEUCEMIAS LINFOIDES: - LLA células T = CD3 e 7; - LLA células B = CD10, 19 e 20; - LLC = CD5. LEUCEMIAS MIELÓIDES: - LMA = CD13, 14, 33 e 34 + bastonetes de Auer; - LMC = cromossomo Philadelphia. Linfoma de HODGKIN → CD15 e 30 + células de Reed-Stemberg.
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Quais são manifestações clínicas que nos fazem pensar em LLA? E em LMA?
Manifestações da LLA → DOR ÓSSEA, LINFONODOMEGALIA, ESPLENOMEGALIA, infiltração de testículos, infiltração de sistema nervoso central. Manifestações da LMA → hiperplasia GENGIVAL, CLOROMA CIVD, infiltração CUTÂNEA. 📌 Dica: os achados clínicos da LMA são mais "superficiais".
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Cite 3 síndromes mieloproliferativaas crônicas além da LMC, as características comuns entre elas e as apresentações-chave específicas.
As síndromes mieloproliferativas crônicas, que têm alta incidência de MUTAÇÃO JAK-2, cursam com algumas características em comum: - Esplenomegalia; - Evolução indolente; - Medula hiperplásica na fase inicial; - Possível EVOLUÇÃO PARA MIELOFIBROSE com metaplasia mieloide; - Possível PROGRESSÃO PARA LMA secundária. Raciocine como se fosse uma LMC (que também é uma síndrome mieloproliferativa crônica) de linhagens específicas. As 3 síndromes que devemos saber são, resumidamente: 1) POLICITEMIA VERA: - É a mais COMUM de todas (mais até que a LMC); - Devemos excluir causas de policitemia secundária, como hipoxemia e desidratação; ERITROCITOSE (Ht ≥ 60%) + ESPLENOMEGALIA + ERITROPOIETINA REDUZIDA + AUSÊNCIA de hipóxia (satO2 ≥ 92%), neoplasias, alterações renais, uso de anabolizantes ou desidratação; - É comum a descrição de PRURIDO AQUAGÊNICO; - Tem clínica e complicações de HIPERVISCOSIDADE SANGUÍNEA, podendo evoluir com TROMBOSE; - Tratamento = FLEBOTOMIA (associar hidroxiureia em refratários). 2) MIELOFIBROSE IDIOPÁTICA → FIBROSE PRECOCE da medula óssea, fato que estimula a HEMATOPOIESE EXTRAMEDULAR (metaplasia mieloide) e justifica os achados clássicos de LEUCOERITROBLASTOSE e hemácias em forma de lágrima (DACRIÓCITOS). 3) TROMBOCITEMIA ESSENCIAL → TROMBOCITOSE (normalmente com PLQ ≥ 1 milhão), na ausência de outras causas mais comuns de plaquetose (como infecções, anemia ferropriva, trauma, sangramento agudo e pós-esplenectomia). Tem o MELHOR PROGNÓSTICO de todas. 📌 A ordem de frequência é policitemia vera (1º) > LMC > mielofibrose idiopática > trombocitemia essencial (esta última é a de melhor prgonóstico). OBS: todas podem apresentar esplenomegalia, mas ela é maior na LMC e na mielofibrose idiopática, pois a PV e a TE demoram mais para chegar no estágio de eritropoiese extramedular, uma vez que a fibrose nestas é mais tardia.
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Descreva a clínica e o tratamento da policitemia vera.
A policitemia vera (PV), relacionada à MUTAÇÃO JAK-2, é a síndrome mieloproliferativa MAIS COMUM (seguida em segundo lugar pela LMC) e cursa com ERITROCITOSE PRIMÁRIA. Por isso, temos que diferenciá-la de causas de eritrocitose secundária. Diagnóstico diferencial: - Eritrocitose relativa → causada por hemoconcentração, como na desidratação; - Policitemia secundária a hipóxia → estimula a liberação de eritropoietina; - Policitemia secundária à produção não-fisiológica de eritropoietina → abuso de androgênios (anabolizantes), tumores produtores de eritropoietina (carcinoma de células renais e hepatocarcinoma) e algumas nefropatias benignas (hidronefrose, cisto simples renal e rins policísticos). 📌 Ou seja, suspeite de policitemia vera diante de ERITROCITOSE (Ht ≥ 60%) + ESPLENOMEGALIA + ERITROPOIETINA REDUZIDA + AUSÊNCIA de hipóxia (satO2 ≥ 92%), neoplasias, alterações renais, uso de anabolizantes ou desidratação. 📌 Apesar de o achado principal ser a eritrocitose, saiba que a única neoplasia hematológica que se apresenta com PANCITOSE (aumento de hemácias, leucócitos e plaquetas) é a PV. Manifestações clínicas: - HIPERVISCOSIDADE sanguínea → cefaleia, tontura, turvação visual e parestesias; - Alto metabolismo celular replicativo → fraqueza, perda ponderal, febre baixa e sudorese; - Hipervolemia → HAS; - Prurido desencadeado pelo banho quente (“PRURIDO AQUAGÊNICO”); - HEPATOESPLENOMEGALIA (de menor intensidade do que na LMC e na mielofibrose idiopática, nas quais a fibrose medular é mais precoce e força a eritropoiese extramedular); Complicações: - Eventos TROMBÓTICOS (principalmente pela eritrocitose, e não pela trombocitose) → apesar dessa faceta, também tem maior risco de fenômenos HEMORRÁGICOS; - Outras duas complicações, que são inerentes a todas síndomes mieloproliferativas → 1) MIELOFIBROSE com metaplasia mieloide; e 2) LMA. O tratamento é baseado em FLEBOTOMIAS. Caso haja refratariedade dos sintomas, podemos associar HIDROXIUREIA. 📌 Usamos também AAS em baixas doses para prevenir os eventos trombóticos. Caso eles ocorram, indicamos também anticoagulantes.
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Qual é a diferença de síndrome mieloproliferativa e síndrome mielodisplásica?
Nas síndromes MIELOPROLIFERATIVAS, como o próprio nome sugere, temos proliferação neoplásica de linhagens mielóides, gerando quadros como LMC, POLICITEMIA VERA, TROMBOCITEMIA ESSENCIAL e MIELOFIBROSE IDIOPÁTICA. Elas têm alta incidência de MUTAÇÃO JAK-2 e cursam com algumas comuns: - Esplenomegalia; - Evolução indolente; - Medula hiperplásica na fase inicial; - Possível EVOLUÇÃO PARA MIELOFIBROSE com metaplasia mieloide; - Possível PROGRESSÃO PARA LMA secundária. Por sua vez, as síndromes MIELODISPLÁSICAS são desordens hematológicas ADQUIRIDAS, caracterizadas pela transformação mutagênica da célula-tronco hematopoiética da medula óssea, o que dá origem a células progenitoras anômalas (displásicas), INCAPAZES DE SEGUIREM UMA MATURAÇÃO NORMAL. A alteração mais característica é a coexistência PARADOXAL de uma MEDULA NORMO OU HIPERCELULAR associada à redução da produção das diversas linhagens hematopoiéticas, ou seja, à PANCITOPENIA. Devemos suspeitar de mielodisplasia principalmente em IDOSOS com PANCITOPENIA e ANEMIA MACROCÍTICA apesar de níveis NORMAIS DE B9 E B12. O mesmo vale para pacientes mais jovens que possuem história prévia de QT, RT ou exposição a BENZENO. 📌 Diferentemente das síndromes mieloproliferativas, guarde que nas mielodisplásicas é raro ter linfadenopatia, esplenomegalia ou hepatomegalia.
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Qual agente químico de exposição ocupacional aumenta o risco de leucemias e linfomas?
BENZENO. O benzenismo acomete principalmente frentistas, trabalhadores de siderúgicas e indústrias de tintas. Ele tem efeito MIELOTÓXICO, estando associado a anemia aplásica, pancitopenia e, a longo prazo, aumento do risco de leucemias e linfoma de Hodgkin.
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Mulher de 20 anos com queixa de dispnéia aos esforços, febre > 38 com sudorese noturna e perda de peso > 10% nos últimos 6 meses. Apresenta massas cervicais que se tornam dolorosas após o consumo de bebidas alcóolicas. TC de tórax evidenciou também massas mediastinais. Qual é o diagnóstico mais provável? Qual é o exame confirmatório e a imunofenotipagem associada?
Mulher jovem com SINTOMAS B e LINFONODOMEGALIAS de DISTRIBUIÇÃO CENTRAL, que se tornam dolorosas após ÁLCOOL → figura de livro de LINFOMA DE HODGKIN. 📌 O subtipo mais frequente, e que é o principal em pacientes jovens, é o ESCLEROSE NODULAR. O diagnóstico deve ser confirmado com a BIÓPSIA EXCISIONAL dos linfonodos suspeitos, demonstrando desorganização da estrutura, infiltração por células inflamatórias e CÉLULAS ATÍPICAS DE REED STERNBERG. A imunofetipagem esperada é de CD15 e CD30 positivos.
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Como é a classificação de Ann Arbor para os linfomas?
Estágios de Ann Arbor: - I = acomete 1 ÚNICO LINFONODO ou estrutura linfoide (baço, timo, MALT); - II = acomete ≥ 2 LINFONODOS no MESMO LADO do diafragma (acima ou abaixo); - III = acomete estruturas de LADOS DIFERENTES do diafragma; - IV = acometimento EXTRANODAL intenso (fígado, medula óssea, etc). Além disso, cada estágio é dividido em A ou B: - A = sem sintomas B; - B = com sintomas B. 📌 Sintomas B = febre > 38 °C, sudorese noturna e perda ponderal > 10% em 6 meses. Estes, juntamente a características linfonodais incomuns, são a base para a suspeição diagnóstica. Lembrando que devemos biopsiar (PAAF não funciona) um linfonodo se: - ≥ 2 cm; - Escalênica ou supraclavicular; - Crescimento progressivo; - ≥ 4 semanas; - Aderência a planos profundos; - Ausência de sinais inflamatórios.
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------ CARACTERÍSTICAS ------ Os linfomas NÃO-Hodgkin são aqueles que NÃO tem células de Reed-Sternberg e que você NÃO deseja ter (pois tem PIOR PROGNÓSTICO). São MAIS COMUNS, tem MAIS ACOMETIMENTO EXTRANODAL, apresentam MAIS SINTOMAS B e acometem pessoas MAIS VELHAS do que o linfoma Hodgkin. A incidência está aumentando devido a INFECÇÕES (H. pylori, EBV, HIV, HTLV, etc) e aos quadros que cursam com IMUNOSSUPRESSÃO. Apresentam disseminação HEMATOGÊNICA, fato que resulta em um padrão SALTATÓRIO de acometimento. ------ SUBTIPOS ------ "Grupos dos adultos": - Difuso de grandes células B → é o MAIS COMUM de todos os linfomas e é o mais comum nos HIV+, é AGRESSIVO e acomete principalmente HOMENS IDOSOS. Pode responder ao RITUXIMAB; - Folicular de células B → segundo mais comum, é INDOLENTE e mais frequente em MULHERES IDOSAS. "Grupo das crianças": - Linfoblástico pré-T → é o MAIS COMUM NA INFÂNCIA e é ALTAMENTE AGRESSIVO; - Linfoma de Burkitt → segundo mais comum na INFÂNCIA e nos HIV+, é MUITO AGRESSIVO e pode ter relação com endemias de EBV e HIV. "Os diferentões": - Linfoma MALT → terceiro mais comum, localizado em MUCOSAS e geralmente relaciona a AGRESSÕES CRÔNICAS (como a infecção por H. pylori no MALT gástrico e a Sd. de Sjogren no MALT salivar); - Micose fungóide → é um linfoma T cutâneo que gera LESÕES DE PELE → placas eritematosas, nódulos subcutâneos, eritrodermia descamativa generalizada → "PARECE FUNGO mas não é micose". Logo, de todos acima, os mais agressivos são: difuso de grandes células B e os da infância (Linfoblástico pré-T e Burkitt). ------ TRATAMENTO ------ Normalmente, os estágios I e II de Ann Arbor (doença localizada em um dos lados do diafragma), recebem QT+RT, enquanto aqueles nos estágios III e IV recebem apenas QT (e isso é até intuitivo, afinal seria um tanto quanto impossível sair irradiando o corpo todo). O principal conceito é o seguinte → "PARADOXO DO PROGNÓSTICO dos LNH" → tumores mais agressivos (ex: difuso de grande células B e os da infância) têm prognóstico pior mas respondem melhor à quimioterapia, podendo ser curados com mais facilidade que muitos indolentes (ex: folicular de células B). 📌 RITUXIMAB (anticorpo monoclonal anti-CD-20) é muito usado nos LINFOMAS DE CÉLULA B. Não é utilizado nos linfomas derivados de linfócitos T pois estes não possuem CD-20 na membrana (até por isso, linfomas de células T possuem um prognóstico pior).
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Para adquirir um tiquinho de conhecimento sobre LINFOMAS HODGKIN (LH), vire o flashcard.
Em comparação aos LNH, os LH são MENOS COMUNS, possuem PROGNÓSTICO MELHOR e atinga mais JOVENS. Para ser mais preciso, apresentam INCIDÊNCIA BIMODAL (maior pico entre adolescentes e adultos jovens e outro menor nos idosos). Sua característica fundamental é a presença da CÉLULA DE REED-STERNBERG (CD-15 + CD-30 POSITIVOS). Acometem principalmente linfonodos cervicais e supraclaviculares, tendo uma disseminação CONTÍGUA (não-saltatória) e DESCENDENTE. Atingem com muita frequência o MEDIASTINO (distribuição mais CENTRAL). A questão pode trazer a queixa de DOR À INGESTÃO ALCOÓLICA. As características que devemos guardar sobre os subtipos são: - Esclerose nodular = é o MAIS COMUM; - Celularidade mista = é relacionado ao HIV; - Rico em linfócitos = MELHOR PROGNÓSTICO; - Depleção linfocitária = PIOR PROGNÓSTICO; - Predomínio linfocitário = CD-15 e CD-30 negativos (mas CD-45 positivo). Sobre o tratamento, normalmente, os estágios I e II de Ann Arbor (doença localizada em um dos lados do diafragma), recebem QT+RT, enquanto aqueles nos estágios III e IV recebem apenas QT (e isso é até intuitivo, afinal seria um tanto quanto impossível sair irradiando o corpo todo). Ou seja, o tratamento dos LH segue a mesma linha dos LNH, mas com um prognóstico em média melhor que pode possibilitar cura com QT até em casos avançados.
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Faça o diagnóstico diferencial das principais características dos linfoma não-Hodgkin (LNH) vs. Hodgkin (LH).
- Distribuição central → LH. - Disseminação contígua (não-saltatória) → LH. - Dor ao consumo de álcool → LH. - Melhor prognóstico → LH. - Mais comum → LNH. - Célula de Reed-Sternberg → LH. - CD-15 e CD-30 positivos → LH. - Mais em jovens → LH. - Distribuição bimodal → LH. - "Paradoxo de prognóstico" → LNH. - Tem como tipo mais comum "esclerose nodular" → LH. - Tem como tipo mais comum "difuso de grandes células B " → LNH. - Tem mais acometimento extra-nodal → LNH.
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Qual exame ajuda a diferenciar a leucocitose neutrofílica neoplásica (ex: LMC) da infecciosa ("reação leucemoide")?
A dosagem da FOSFATASE ALCALINA LEUCOCITÁRIA realiza esse diagnóstico diferencial: - NEOPLÁSICA (LMC) = fosfatase alcalina leucocitária BAIXA; - INFECCIOSA = fosfatase alcalina leucocitária ALTA.
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Em relação às imunodeficiências primárias, quando suspeitamos de defeito nas células B?
Defeito nas CÉLULAS B acarreta em defeito da IMUNIDADE HUMORAL. Tem como características: - Manifestações APÓS 6 MESES, momento em que caem os anticorpos maternos; - Infecções por BACTÉRIAS ENCAPSULADAS (ex: PNEUMOCOCO e HEMÓFILO), por outras bactérias (ex.: estreptococos, estafilococos, micoplasma) e meningoencefalite por ENTEROVÍRUS; - Pode cursar com PNEUMONIAS/SINUSITES, diarreia, risco de neoplasias hematológicas, reações vacinal adversas, vitiligo e alopecia. Há 3 tipos mais importantes. Veja conceitos-chave que temos sobre cada um: 1) Agamaglobulinemia ligada ao X (Doença de Bruton): - Infecções geralmente por pneumococo e hemófilo; - Há AUSÊNCIA COMPLETA DE LINFÓCITOS B, resultando em AGAMAGLOBULINEMIA (IgA, IgM, IgG e IgE, todas < 100 mg/dl); - Há AUSÊNCIA DE TECIDO LINFOIDE (amígdalas, adenoides e linfonodos). 2) Imunodeficiência comum variável (ICV): - Apresenta LINFÓCITOS B FENOTIPICAMENTE NORMAIS, mas com HIPOGAMAGLOBULINEMIA GRAVE (tão grave quanto na agamaglobulinemia ligada ao X); - Há PRESENÇA DE TECIDO LINFOIDE, inclusive podendo ter esplenomegalia; - Pode estar associado com com doença celíaca, timoma, anemia hemolítica, anemia perniciosa e trombocitopenia. 3) Deficiência seletiva de IgA: - É a IMUNODEFICIÊNCIA PRIMÁRIA MAIS COMUM; - Costuma afetar FAMILIARES de diferentes gerações; - Há REDUÇÃO NA CONCENTRAÇÃO DE IgA mas com CONTAGEM NORMAL DE LINFÓCITOS B; - Cursa com INFECÇÕES DE MUCOSAS (respiratória, gastrintestinal e urogenital); - Costuma REGREDIR ESPONTANEAMENTE; - Há associação com doenças autoimunes, como APLV (IgG) e DOENÇA CELÍACA.
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Em relação às imunodeficiências primárias, quando suspeitamos de defeito nas células T?
Defeito nas CÉLULAS T acarreta em defeito da IMUNIDADE CELULAR e HUMORAL. Tem como características: - Manifestações PRECOCES, ANTES DE 6 MESES; - Infecções por FUNGOS, GERMES OPORTUNISTAS E DOENÇAS GRAVES POR VÍRUS COMUNS; - Pode cursar doença do enxerto-versus-hospedeiro pós-transfusão com sangue não irradiado. Há 4 tipos mais importantes. Veja conceitos-chave que temos sobre cada um: 1) Síndrome de DiGeorge → HIPOPLASIA DE TIMO E DE PARATIREÓIDES (hipocalcemia neonatal), atresia/estenose de esôfago, cardiopatia congênita, entre outros. Cursa com REDUÇÃO de LINFÓCITOS T CD3. 2) Imunodeficiência Combinada Grave (ICG) → é uma EMERGÊNCIA pediátrica (maioria morre em 1 ano) e o tratamento é com TRANSPLANTE DE MEDULA óssea. Há REDUÇÃO DOS LINFÓCITOS E DAS IMUNOGLOBULINAS. 3) Síndrome de Wiskott-Aldrich → tríade DERMATITE ATÓPICA + TROMBOCITOPENIA + imunodeficiência. No lactente, manifesta-se com DIARREIA SANGUINOLENTA e infecções por pneumococo. Há risco de desenvolvimento de NEOPLASIAS LIGADAS AO EBV. Costuma apresentar REDUÇÃO DE IgM, IgG e LINFÓCITOS T, mas com AUMENTO DE IgA e IgE. 4) Síndrome da Ataxia-Telangiectasia (Loui-Barr) → tríade ATAXIA CEREBELAR + TELANGIECTASIAS OCULARES + imunodeficiência.
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Em relação às imunodeficiências primárias, quando suspeitamos de defeito no sistema fagocítico?
O defeito no SISTEMA FAGOCÍTICO tem as seguintes características: - Manifesta-se de maneira PRECOCE; - Infecções por ESTAFILOCOCOS e GRAM-NEGATIVOS (ex: Pseudomonas, Salmonella, Klebsiella) → acometimento de PELE (impetigos, celulites, abscessos), linfonodos (adenite supurativa), abscessos e osteomielite; - Pode apresentar DEMORA NA QUEDA DO COTO UMBILICAL e CICATRIZAÇÃO DEFICIENTE DE FERIDAS. 📌 Um exemplo é a Síndrome de Chediak-Higashi, na qual é característica a presença de cabelos prateados.
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Em relação às imunodeficiências primárias, quando suspeitamos de defeito no sistema complemento?
O defeito no SISTEMA COMPLEMENTO tem as seguintes características: - Manifesta-se em QUALQUER IDADE; - Infecções por germes encapsulados (PNEUMOCOCO, MENINGOCOCO) e NEISSERIA → pneumonias/sinusite, MENINGITE, osteomielite, artrite, sepse. - Associação com doenças AUTOIMUNES → ex: LES, dermatomiosite, esclerodermia, vasculites. 📌 Deficiência de células B também podem ter acometimento por germes encapsulados, mas costumam ser mais graves. 📌 Um exemplo é o ANGIOEDEMA HEREDITÁRIO, que é causado por DEFICIÊNCIA DO INIBIDOR DE C1: - Manifesta-se com EDEMA em qualquer parte do corpo, mas SEM URTICÁRIA, PRURIDO, RUBOR OU DOR; - Quando afeta a mucosa do TGI, pode até simular abdome agudo; - O edema laríngeo é incomum mas geralmente fatal; - Pode ser DESENCADEADO POR ESTRESSE EMOCIONAL, EXERÍCIOS FÍSICOS, MENSTRUAÇÃO OU FEBRE; - Há REDUÇÃO DE CH50 E C4 e a concentração do inibidor de C1 costuma estar baixa; - Tratamento = danazol, ácido aminocaproico ou inibidor de C1 preparado de plasma humano.
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Qual é a imunodeficiência primária mais comum?
É a DEFICIÊNCIA SELETIVA DE IgA, um tipo de defeito nas células B. Guarde algumas características: - Costuma afetar FAMILIARES de diferentes gerações; - Há REDUÇÃO NA CONCENTRAÇÃO DE IgA mas com CONTAGEM NORMAL DE LINFÓCITOS B; - Cursa com INFECÇÕES DE MUCOSAS (respiratória, gastrintestinal e urogenital); - Costuma REGREDIR ESPONTANEAMENTE; - Há associação com doenças autoimunes, como APLV (IgG) e DOENÇA CELÍACA.
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Quais são as condutas diante de um neutropênico febril?
Antes, devemos entender que neutropenia febril é um quadro de febre (pico isolado ≥ 38,3ºc ou temperatura ≥ 38ºc sustentada por 1h) associado a NEUTROPENIA < 500 (ou < 1000 com tendência de queda). A conduta envolve internação + pesquisa de focos + ATB empírico com cobertura ANTI-PSEUDOMONAS (ex: CEFEPIME, meropenem ou pipe-tazo). Associamos VANCOMICINA para cobrir MRSA se houver suspeita de infecção de PELE ou MUCOSITE, infecção de CATETER, INSTABILIDADE HEMODINÂMICA ou uso recente de quinolonas. Se a febre persistir por 4 a 7 dias após a introdução do ATB, repetimos a pesquisa de focos, dosamos GALACTOMANANA (pesquisa de aspergilose) e acrescentamos antifúngico (voriconazol ou anfotericina B). OBS: se for um episódio SEM FOCO determinado, só precisamos manter o ATB ATÉ 72h SEM FEBRE e com NORMALIZAÇÃO dos NEUTRÓFILOS. 📌 Raramente podemos considerar tratamento ambulatorial com amoxicilina-clavulanato + ciprofloxacino. Mas para isso, o paciente deve se enquadrar nos seguintes critérios de baixo risco: - Expectativa de neutropenia < 7 dias; - Ausência de disfunção orgânica; - AUSÊNCIA DE MANIFESTAÇÕES NO TGI. 📌 Um escore MASCC ≥ 21 denota baixo risco (ou seja, quanto maior, melhor o prognóstico).
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Condutas diante de um RNI alargado
-- COM SANGRAMENTO -- 1. Sangramento GRAVE ou AMEAÇADOR À VIDA - Suspende varfarina - Faz VITAMINA K 10mg EV (pode ser repetida a cada 12h se o RNI continuar elevado) - Faz COMPLEXO PROTROMBÍNICO (ou PFC se este estiver indisponível ou entrar em protocolo de transfusão maciça) 2. Sangramento LEVE a MODERADO → não há consenso absoluto, sendo que devemos analisar intensidade, risco trombótico, comorbidades, etc. Uma opção é SUSPENDER VARFARINA + dar VIT. K ORAL -- SEM SANGRAMENTO -- - RNI > 10 → SUSPENDER a varfarina + COGITAR VIT. K ORAL 2,5 a 5mg de acordo com o risco de sangramento e trombose do paciente; - RNI 4,5 a 10 → SUSPENDER a varfarina por 1 a 2 dias (podemos ainda cogitar, mas com menor certeza, dose de vitamina K oral de 1,25 a 2,5mg após analisar o risco de sangramento e trombose do paciente) - RNI < 4,5 → OMITIR UMA DOSE da varfarina E/OU REDUZIR A DOSE DA MANUTENÇÃO (10 a 20%). Não precisa de vitamina K! -- RESUMINDO -- Quando dar COMPLEXO PROTROMBÍNICO? R: Só se sangramento grave. Quando dar VITAMINA K EV? R: Só se sangramento grave. Quando dar VITAMINA K ORAL? R: Se RNI > 10. Podemos também, cogitar em sangramento não-grave e em RNI 4,5-10. Quando NÃO SUSPENDER A VARFARINA? R: Apenas se RNI < 4,5, quando podemos reduzir a dose da manutenção (ou omitir apenas a próxima dose) 📌 Em caso de cirurgias, procedemos da seguinte maneira com os cumarínicos: - Emergência → suspender varfarina + dar PFC + vitamina K EV ou SC (5-10mg); - Urgência (daqui a 1 a 4 dias) → suspender + dar vitamina K oral (2-4mg); - Eletiva com risco de sangramento em pacientes com baixo risco de trombose → suspende 5 dias antes e libera o procedimento se RNI < 1,5; - Eletiva com risco de sangramento em pacientes com alto risco de trombose → suspende 5 dias antes e inicia heparina 12h depois (ou quando o INR for inferior a 2) → libera se RNI < 1,5, suspendendo HBPM 12h-24h antes do procedimento ou HNF 4-6h antes. - Eletiva sem risco de sangramento → não suspende.