P2 Obstetrícia Flashcards
(125 cards)
Quais são as divisões de temporalidade do puerpério?
Didaticamente, consideramos puerpério como um período que varia entre 6 a 8 semanas
- Puerpério imediato (10 dias)
- Puerpério tardio ( 10 – 44 dias)
- Puerpério remoto ( 45 dias a diante)
Quais são as principais alterações maternas nas primeiras 24 horas do puerpério?
- Melhora do padrão respiratório: o útero que estava pressionando o diafragma está na cicatriz umbilical.
- Lentificação da FC: durante todo o pré-natal a mulher tem um aumento de 10 a 15 bpm, isso volta a se normalizar.
- Queda da pressão: por conta do disparo de neurotransmissores e a sensação de bem estar, além da perda sanguínea que a paciente teve durante o parto.
- Parto vaginal: dor vulvar por conta da distensão da vulva durante o período expulsivo.
- Retenção urinária: perda de tônus na região perineal. Toda paciente que queixa dor após realizar o parto vaginal, temos que pensar na possibilidade de uma retenção urinária.
- Meteorismo e constipação: como a paciente ficou muito tempo com a alimentação mais lenta, semissólida ou líquida.
- Flacidez perineal
- Mamilos hemorroidários: por conta do esforço.
- Lóquios: secreção que sai via vaginal após o parto, possui classificação diferente dependendo do tempo do puerpério. Inicialmente rubros, depois flavos ou serosos e por fim alba.
Quais são os aspectos clínicos dos puerpério?
- Hipertermia: aumento da temperatura sem sinal de infecção, ela é explicada pelo estresse do parto, pelo esforço do trabalho de parto e pelo esforço do período expulsivo. Esse aumento de temperatura pode perdurar até 24h.
- Queixarem dor, principalmente as multíparas durante a amamentação (torto - é uma cólica por conta desse feed-back da ocitocina).
- Aumento do fluxo urinário, se se houver estase, pode gerar infecção urinária.
- Hematócrito: há uma perda de 500-800 ml de sangue no parto vaginal e até 1L na cesárea. Como houve todo o preparo pode haver uma diminuição leve do hematócrito.
- Leucocitose: pode chegar a 34.000 leucócitos por ml na primeira semana, mas sem desvio à esquerda. Esse aumento dos leucócitos correspondem a uma resposta fisiológica após o parto e também pelo estresse do trabalho de parto.
- Fatores de coagulação: durante a gestação, os fatores de coagulação aumentam, logo, no puerpério há um risco maior de trombose, pois o filtro placentário já não existe mais.
- Perda de peso: Se a paciente ganhou um peso adequado na gravidez, seis meses depois ela já voltou ao seu peso pré-gestacional
Como acontece a involução do corpo uterino no pós-parto?
• No pós-parto imediato ele tem involução de 50% do seu volume
• Como essa contração é gigantesca, as paredes ficam extremamente espessas, exatamente para manter a contração e evitar o sangramento. No final da gravidez a espessura miometrial é em torno de 12 mm e depois praticamente quadruplica essa espessura (4-5 cm).
• Cerca de 3-10 dias : o útero já está de volta a pelve.
• Peso: no pós-parto imediato esse útero pesa de 800 a 1000 g, no 14º dia já perdeu 2/3 desse peso e após o 14º chegando ao 30º dia já voltou ao peso pré-gestacional de 30-100g
• Retração: levar a hemostasia e manter o útero contrátil evitando o sangramento.
• Ocorre uma anemia miometrial levando à hipóxia, trombose e obliteração dos vasos
placentários
• Esquematicamente, contração da musculatura diminui o fluxo sanguíneo e a infiltração leococitária faz com que todos esses vasos se obliterem, evitando a perda sanguínea no pós-parto imediato.
Como acontece a involução do endométrio no pós-parto?
• O endométrio sobre uma modificação na gestação, ele passa a ser conhecido como decídua.
• Camadas:
- Basal: após o parto a camada basal permanece, fica intacta. Quando a mulher volta ao seu período hormonal habitual, irá originar um novo endométrio que será preparado para uma outra gravidez.
- Funcional: toda a camada funcional é descamada, ela sofre necrose por conta da diminuição do fluxo sanguíneo até a decídua. A descamação desse endométrio é um dos componentes dos lóquios.
• Endometrite imediata (3º dia): o endométrio é todo descamado, seu tecido é arrancado e isso vai promover uma ação inflamatória, sem foco infeccioso. A infecção puerperal também é conhecida como endometrite, mas com a diferença dos sintomas de infecção (secreção purulenta, febre, leucocitose com desvio à esquerda).
• Por volta do 16º dia do pós parto toda a camada basal do endométrio está constituída. A secreção e as perdas de elementos celulares formam os lóquios.
O que pode levar a um sangramento no pós-parto?
- Quando nem toda a placenta é expulsa
- Quando existe infecção
- Quando não temos um controle hormonal adequada
- Hiperdistensão: feto grande, gravidez gemelar, polidramnia
- Uso de anestésicos: principalmente venoso ou inalatório.
Como acontece a involução do colo uterino no pós-parto?
- Dois a três dias após o parto o colo já está praticamente fechado.
- Em dez dias, o colo só tem orifício externo pérvio.
- A característica do colo muda frente a um parto vaginal. Normalmente, em uma primigesta o colo é circular e naquelas que já tiveram um parto vaginal ele fica com uma pequena laceração
Como acontece a involução da vagina no pós-parto?
• Assim como no endométrio ocorre uma diminuição do crescimento da camada funcional, ocorre uma atrofia do epitélio escamoso vaginal até o 10º dia, atingindo um pico por vulta do 15º dia pós-parto.
• Após o 25º dia inicia-se uma regeneração do epitélio escamoso vaginal.
- Se a mulher mantém a amamentação, essa vagina ficará subatrófica: não terá toda a elasticidade de uma paciente estrogênica mas também não haverá uma atrofia tão grande quanto a paciente na menopausa.
- Se a paciente para de amamentar, ela volta a produzir estrogênio e ocorre uma aceleração daquele trofismo normal das paredes vaginais.
• Quando a mulher ganha sua sexualidade, seu hímen é rompido e haverá o que conhecemos como carúnculas himeniais, que são uma lesão do tecido himenial. Quando ocorre o parto vaginal, há uma lesão nas carúnculas himeniais e elas passarão a ser conhecidas como carúnculas mistiformes. É apenas mais uma destruição do tecido remanescente do hímen.
Como acontece a involução do peritônio no pós-parto?
• Todo aquele aparelho ligamentar que mantém o útero na sua posição (ligamento redondo e ligamentos cardinais) sofrem involução, passando a ficar na sua posição habitual. Quando isso não acontece, aparece as distopias, que são os famosos prolapsos uterinos:
○ Distopia de 1º grau: quando o colo atinge o entroito vaginal.
○ Distopia de 2º grau: quando o colo ultrapassa o entroito vaginal.
○ Distopia de 3º grau: quando o todo o corpo uterino fica exteriorizado.
O que são os lóquios no pós-parto?
• São descargas que ocorrem no pós-parto e podem durar todo o puerpério e elas vão mudando durante todo o período.
• É constituído de: sangue, pequenos pedaços da decídua que ficam agarrados, células epiteliais, bactérias e secreções glandulares.
○ Rubro: até o 4º dia, é basicamente sanguíneo.
○ Serosanguíneo: até o décimo dia. Há alguns outros componentes além do sangue como tiras de decídua e tecido morto, resto de vérnix, pêlos e um pouco de mecônio.
○ Seroso ou flavus: entre o 10º e 28º dia, basicamente exsudato do soro (proteínas plasmáticas, plaquetas, número menor de leucócitos e hemáceas), manchado de sangue, muco cervical e flora vaginal.
○ Alba: a partir de 28-35 dias, atingindo até 60 dias, quando cessa o aparecimento dos lóquios. Nessa fase o sangue praticamente desaparece, ocorre uma leucocitose maior, além de aparecer gordura, elementos da degeneração uterina e das feridas puerperais, muco, cristais de colesterina e muitas bactérias. Após 40 dias, essa
secreção desaparece.
Às vezes, na consulta, a paciente fala que está amamentando uma vez ao dia. Nesse caso, ela irá ovular normalmente logo. Nesse período, o normal é amamentar de 8 a 10 vezes ao dia.
O que acontece com a parede abdominal materna no puerpério?
- Pele: ruptura das fibras elásticas, que faz com que no pós parto imediato a pele seja mais macia e flácida. Com o tempo, essa flacidez diminui e com exercícios ela praticamente desaparece.
- Musculatura: cuidado principalmente com pacientes submetidas à cesariana. O músculo reto acaba se afastando dando uma diástase (separação dos dois retos) e a partir daí pode apresentar uma herniação.
- Estrias: causada também pela distensão e pelas rupturas das fibras elásticas.
OBS: • Toda paciente que queixa dor no andar inferior do abdome devemos descartar infecção urinária puerperal.
Quais mudanças acontecem na mama materna durante a gravidez e no puerpério?
• Primeira metade da gravidez:
○ Proliferação do epitélio secretor
○ Formação de novos ductos
○ Desenvolvimento da arquitetura lobular para a amamentação.
• Final da gravidez:
○ Proliferação celular diminui e aumenta a secreção glandular
○ Aumento do tamanho da mama pelo o aumento de vasos
○ Aumento das células mioepiteliais
○ Aumento do tecido gorduroso
○ Aumento da retenção hídricas
• Essa parte do desenvolvimento (crescimento) da mama é mediada basicamente por estrogênio e progesterona, hormônios do crescimento e glicocorticoides mas sempre sob ação do eixo hipófise-hipotálamo. Então, depois que essa mama aumenta de volume e cresce, ela começa a produzir leite, quem faz essa produção de leite (lactopoiese) é a prolactina, insulina e glicocorticoides. No pós-parto o que faz esse leite ser exteriorizado é a ocitocina.
Quais são os cuidados especiais com a gestante no puerpério?
- Deambulação precoce: já discutimos, é por conta desse grande aumento dos fatores de coagulação.
- Cuidados genitais: mesmo aquelas que forem submetidas a parto vaginal com episiotomia ou rafia de laceração, o cuidado deve ser feito com água e sabão.
- Orientar a paciente a não reter urina, mesmo com todo o trabalho que ela terá com a criança.
- Orientar sobre a função intestinal: a paciente pode se alimentar com o que preferir, isso não vai mudar o leite, a criança não vai ter gases por isso. Exceto em casos de bebida alcóolica que dão gosto de formaldeído no leite e alguns antibióticos que podem ultrapassar o leite.
- Blues puerperal e depressão: é muito comum a paciente ficar cansada, sentir que é deixada de lado pois a criança passa a ser o centro da atenção da família.
- Imunização: aproveitamos que a paciente vai levar a criança para a imunização e completar o seu cartão vacinal.
- Alta hospitalar: 48 horas após o parto ou após cesariana.
- Orientar sobre contracepção e coito na consulta puerperal. A contracepção deve ser feita principalmente com um progestínico se ela estiver amamentando (evitar estrogênio para não haver o bloqueio da amamentação). Também podemos oferecer após parto ou cesárea a inserção de um DIU imediata.
- Relação sexual: fica a critério da paciente e do parceiro. Normalmente, é após a parada da saída de lóquios, mas se a paciente tiver desejo ela pode voltar ao coito. No caso de uma episiotomia ou rafia de laceração, é aconselhado esperar de 15 a 20 dias, até esse tecido estar cicatrizado.
- O retorno menstrual irá coincidir exatamente com a diminuição das amamentações.
Quais as características da infecção puerperal?
• Associada a hemorragia, hoje é uma das principais complicações no parto ou aborto.
• Complicações: síndromes hipertensivas, síndromes hipertensivas, diabetes, infecções prévias eoutras doenças maternas que facilitam o processo infeccioso.
• Sinônimo:
○ Endometrite: valendo a diferenciação daquela endometrite do puerpério inicial.
○ Endomiometrite: quando atinge o miométrio
○ Endomioparametrite: quando envolve o miométrio, o endométrio e o paramétrio
○ Metrite: engloba todos.
Qual a classificação anatomo-clinica da infecção puerperal?
Infecção puerperal localizada • Vulvites: vulva • Vaginites: vagina • Cervicites: colo • Endometrite: maior causa, a partir de uma infecção localizada no endométrio. Pode haver uma infecção difusa levando até uma sepsemia.
Infecção puerperal difusa
• Lesão continuidade mucosa
• Via linfática
• Via hematogênica
A infecção puerperal é mais comum na cesárea do que no parto vaginal, pois ela é secundária a uma corioamnionite por um tempo de amniorrexe muito prolongado. Múltiplos exames aumentam a chance de infecção e múltiplos exames, as vezes, tem muito mais haver com a maior incidência de cesáreas pois se a paciente não dilatar iremos fazer vários exames sequenciais e optamos pela cesariana, sendo que esse útero já está contaminado. Logo, as principais causas da infecção ser mais frequente na cesariana é exatamente isso, uma corioamnionite e múltiplos exames.
Quais são os fatores predisponentes da infecção puerperal e quais os principais patógenos envolvidos nessa patologia?
○ Baixo nível socioeconômico ○ Anemia ○ Desnutrição crônica ○ Extremos de idade: pacientes muito jovens ou mais de idade ○ Gestação gelemar ○ Ruptura prematura de membrana ○ Trabalho de parto prolongado ○ Higiene inadequado ○ Diabetes
Os grupos de bactérias que podemos ter são: Streptococcus, Enterococcus, Staphylococcus, E. Coli, Peptococcus, Peptoestreptococcus, Clostridium, Mycoplasma, Clamydia. Basicamente, são bactérias da flora endógena dessa paciente.
Qual o quadro clínico da infecção puerperal e os exames laboratoriais que devem ser pedidos?
• Quadro clínico:
○ Febre: acima de 38°
○ Dor abdominal: principalmente no andar inferior
○ Secreção vaginal purulenta ou mucopiosanguinolenta
○ Involução uterina retardada: a paciente já deveria ter o útero na pelve ou aquele colo
fechado.
○ Sinais e sintomas de sepsemia: queda do estado geral, taquicardia, sudorese, queda de PA, taquipnéia.
• Exames laboratoriais: ○ Hemograma: leucocitose com desvio à esquerda ○ Alterações no coagulograma ○ Hemocultura deve ser solicitada ○ VHS ○ EAS/Urocultura ○ Swab de secreção vaginal ○ USG para analisar a involução uterina e procurar abscesso intracavitário
Quais os principais diagnósticos diferenciais da infecção puerperal?
○ Febre puerperal: pode atingir essa temperatura de 38°, mas a paciente não tem sinal de queda do estado geral, não tem secreção purulenta, pode ter uma leucocitose importante mas sem desvio à esquerda.
○ Infecção do trato urinário: tanto de vias altas como de vias baixas
○ Ingurgitamento mamário: pode apresentar hipertermia ou até mesmo um abscesso
mamário.
Como é o tratamento da endometrite?
○ Penicilina cristalina com cloranfenical
○ Maioria dos serviços: Clindamicina 600 mg de 8/8h ou Gentamicina 240-320 mg para pacientes acima de 70 kg (nefrotóxica - pedir prova de função renal antes)
Como é o tratamento da pelveperitonite com abscesso pélvico?
• Tratamento: 7 a 10 dias, venoso
• Avaliar a drenagem cirúrgica desse abscesso, normalmente, abscesso de 7 a 8 cm respondem aantibioticoterapia, abscesso maior que isso, as vezes, começam a responder e depois retornam. Então, temos que avaliar uma drenagem cirúrgica dessa paciente.
• Sepse
○ Suporte: ventilação/PA/diurese/perfusão
○ Drogas
○ Eventual retirada do útero: retirar o colo e o corpo uterino, além de retirar as trompas.
Também deve larvar a cavidade e drenar qualquer abscesso.
Como é conduta para infecção urinária aguda no puerpério?
- Geralmente, é por E.coli
- Tratamos bacteriúria assintomática em mulher grávida e em pacientes submetidos a procedimentos urológicos.
○ Nictúria, desúria, polaciúria, urgência miccional: se o exame der positivo nós vamos tratar.
○ Paciente sem queixas, fez o exame de rotina e apresentou bacteriúria, nós iremos tratar também.
• Exames: bacterioscopia, EAS, urocultura, hemograma.
• Tratamento cistite: Nitrofurantoína 100 mg, 1 comprimido 6/6h por dez dias
Amoxilina com clavulanato
• Tratamento infecção urinária alta: melhor fazer com a paciente internada, pois há ainda uma modificação no seu sistema imune. Tratar com cefalosporinas de 2ª ou 3ª geração venosa, se houver 72 horas sem febre, iremos dar alta com medicação para casa por sete dias. Dez dias depois, iremos fazer o exame de cultura para confirmar o sucesso terapêutico.
Qual o tratamento para deiscência da episiotomia?
○ Limpeza local
○ Cefalosporina de 1ª ou 2ªgeração
○ A sutura normalmente não é refeita, a menos que seja uma laceração muito grande, em que a paciente deve ser anestesiada
Como é o tratamento da celulite de parede abdominal no puerpério?
- Pode ocorrer após cesárea
- Tratamento: cefalosporina de 2ª geração ou beta lactâmico como amoxilina + clavulanato
- Se a situação evoluir, pode haver perda da sutura. Assim, é necessário fazer curativos seriados para fechar por segunda intenção.
Quais as características da hemorragia pós-parto?
• Definição: perda acima de 500 a 800 ml no pós-parto imediato ou mais de 1000 ml na
cesariana.
• Em alguns casos é necessário transfusão. Lembrando que transfusão tem muito mais haver com perda sanguínea que valor de hematócrito. Por exemplo, a paciente tem 13 de hemoglobina antes do parto, no pós-parto caiu para 9 significa que ela perdeu grande quantidade de sangue e ela pode ter uma clínica associada a sudorese e síndrome vasovagal, logo ela deverá ser transfundida.
• Classificação:
○ Primária: nas primeiras 24 horas
○ Secundária: até 12 semanas no pós parto
• Causas:
○ Sangramento no sítio placentário por conta de atonia uterina ou restos ovulares
(principalmente quando é um sangramento tardio).
○ Acretismo placentário
○ Laceração da parede vaginal ou colo uterino
○ Coagulopatia