Saúde Ocupacional 1 Flashcards
(105 cards)
O que é um ‘stressor’?
Existe um “stressor” que é um acontecimento ou estímulo que o indivíduo tem que enfrentar e que cria:
Tensão: resposta (psicológica, física e comportamental) do indivíduo aos “stressores” (fatores externos percebidos como ameaça e com a qual a pessoa não consegue lidar);
Resultado/consequência: consequências da tensão ao nível individual, grupal e organizacional.
O ponto em que podemos começar a ter dificuldades é muito pessoal – a resposta de cada pessoa a várias situações e o que consideram stressante é diferente.
ver gráfico 1
Quais são os tipos de stressores?
- Biológicos (Infeções, doenças, cansaço)
- Psicológicos (Abandono, ameaças psicológicas, maus-tratos psicológicos)
- Sociais (Guerra, pobreza, desemprego)
Por vezes, não conseguimos identificar os stressores (ex. chego a casa claramente stressada mas não estou a ver um possível motivo. Analisando o que se passou durante o dia lembro-me de algo que uma colega disse e que me abalou.)
Primeiro eixo da resposta neuroendócrina ao stress
Hipotálamo 🡪 hipófise 🡪 córtex da glândula suprarrenal.
No primeiro eixo, o hipotálamo liberta corticotrofina (CRH) que estimula a hipófise a aumentar a produção da hormona adrenocorticotrópica (ACTH) que age no córtex das glândulas suprarrenais estimulando o aumento de corticoides (cortisol e aldosterona). O aumento na síntese desses hormonas está associado a:
1) Alteração do peso corporal
2) osteoporose
3) distúrbios de comportamento (padrão do sono, aumento da suscetibilidade a infeções, hipertensão, alterações gastrointestinais, entre outros…).
Os corticoides ajudam o corpo a retornar a um estado neutro após reagir a um fator de stress (stressor).
esquema 1
Segundo eixo da resposta ao stress
No segundo eixo, quando o hipotálamo é ativado, ativa a hipófise, que ativa o sistema nervoso simpático, reação que é geralmente referida como “luta ou fuga”. A excitação simpática, estimula a medula da glândula suprarrenal a libertar catecolaminas na circulação sanguínea (adrenalina e noradrenalina), que causam, entre outros, os seguintes efeitos:
1) dilatação da pupila;
2) aumento da sudorese;
3) aumento da frequência cardíaca;
4) dilatação coronariana e brônquica;
5) diminuição do peristaltismo e aumento do tônus esfincteriano (anal e vesical);
6) aumento do metabolismo basal.
Com o tempo, a ativação destes sistemas pode resultar na experiência de sintomas físicos.
Qual é a relação entre fatores de stress laboral e sintomas físicos?
Na meta-análise de Nixon et al., (2011), verifica-se uma clara relação entre fatores de stress laboral (restrições organizacionais, conflito interpessoal, conflito de papéis, ambiguidade de papéis, carga de trabalho, horas de trabalho e falta de controlo/autonomia) e sintomas físicos (dores nas costas, dores de cabeça, cansaço ocular, distúrbios do sono, tonturas, fadiga, apetite e problemas gastrointestinais). Estes sintomas tendem a persistir ao longo do tempo, fornecendo algumas evidências da consistência temporal da relação fator de stress ocupacional-sintoma físico, embora alguns possam ser atenuados.
Reações ao Stress
É importante fazer-se a distinção entre evento traumático e evento de vida stressante. Os eventos de vida stressantes dão origem a efeitos psicológicos expressos através de sintomas e desadaptações.
Os sintomas relacionados com o stress podem ser:
1) Sintomas físicos (i.e. tensão muscular, cansaço, dor de cabeça etc.)
2) Sintomas emocionais (i.e. raiva, ansiedade, medo, depressão, irritabilidade, etc.)
3) Sintomas cognitivos (i.e. pensamentos repetitivos, pensamentos indesejáveis, dificuldade de concentração, etc.)
Modelo de stress como estímulo - Teoria dos Acontecimentos de vida
Teoria Dos Acontecimentos De Vida (Meyer, 1948; Holmes & Rahe, 1967; Wolffetal., 1950)
Realçadas as mudanças devida (ex: divórcio, problemas financeiros, morte de um familiar, etc.)
Formulou-se uma “listagem de acontecimentos de vida recentes”
Mais tarde, “ponderou-se” a importância dos acontecimentos de vida e não apenas a “listagem” de acontecimento.
Alguns dados demonstraram a relação entre os acontecimentos de vida e estado de saúde e doença.
Modelo de stress como estímulo - Teoria dos Acontecimentos de vida: SRRS
“Social Readjustment Rating Scale” (SRRS) (Holmes & Rahe, 1967)
Listados 43 acontecimentos e o valor de ajustamento que cada um requer por parte da pessoa
Valor obtido: resulta da ocorrência das situações num período de 6 a 12 meses
Necessário considerar não só os fatores de stress mas também as atividades diárias “protetoras”/positivas (“uplifts”): acontecimentos que nos fazem sentir bem.
Modelo de stress como estímulo - Teoria dos Acontecimentos de vida: acontecimentos
Acontecimentos de Vida
Vários tipos de acontecimentos:
Traumáticos: ser vítima de um assalto, ter um acidente
Significativos: separação, morte de um familiar
Crónicos: ter muito trabalho para fazer
Micro stressores (“hassles”): trânsito, viagens, vizinhos
Macro stressores: recessão económica, desemprego no país
Desejados que não ocorrem: gravidez esperada, não promoção
Desenvolvimento: maus-tratos, abuso sexual
Modelo de Stress como Resposta - Síndrome de Adaptação Geral (Selye, 1956)
Stress: Resposta não específica do corpo a qualquer exigência enfrentada (psicológica ou física) que tem como intenção proteger o indivíduo de consequências prejudiciais. Ou seja, diferentes tipos de estímulo ativam sempre a mesma resposta/padrão, não sendo afetadas pelos pensamentos e emoções do individuo.
Modelo de Stress como Resposta - Síndrome de Adaptação Geral: componentes
Duas componentes:
1. Stressor: estímulo desencadeador de uma resposta de “fuga–luta”
2. Reatividade ao stress: reação fisiológica ou psíquica
Resposta ao stress é um processo automático, sendo atribuído um papel passivo à pessoa
Stress é enquadrado numa perspetiva de resposta com baixa importância dada aos processos psicológicos (perceção, cognição…)
É nas situações de exigência excessiva que surge o stress: resposta interna a um estímulo ou situação externa (stressor)
Modelo de Stress como Resposta - Síndrome de Adaptação Geral: Fases
- Fase 1: Alarme
- Fase 2: Resistência
- Fase 3: Esgotamento
Esquema 3
O que caracteriza a fase de alarme na resposta ao stress?
Ativação do sistema nervoso simpático provoca excitação (Hipertensão; Respiração acelerada; taquicardia, produção contínua de catecolaminas, hormona adrenocorticotropina e corticosteróides)
O que caracteriza a fase de resistência na resposta ao stress?
Fase 2 (Resistência):
Aumento das reações de defesa
A adaptação adquirida é mantida
Enfraquecimento do Sistema Imunológico
Organismo procura limitar o stressor a uma área mais restrita com a qual possa lidar
Se o Stress for interrompido Organismo volta ao normal
Se o stress for contínuo Organismo esgota-se
O que caracteriza a fase de exaustão na resposta ao stress?
Fase 3 (Esgotamento):
Incapacidade em manter as defesas
Aumento da vulnerabilidade à doença
Se não se intervir, a situação a manter-se poderá conduzir à morte
Modelo de Stress como Resposta - Síndrome de Adaptação Geral: Estudo de Selye com ratos
Selye expôs os ratos a várias condições de stress:
Verificou que ao fim de algum tempo os ratos sujeitos a maior stress desenvolviam patologias semelhantes às humanas (e.g., úlceras nervosas, enfarte de miocárdio, etc.). Chamou a estas doenças desordens de adaptação;
Foi o 1º relato da relação entre stress e doença e das primeiras doenças psicofisiológicas relatadas.
Mais tarde, o autor veio diferenciar diferentes tipos de stress e salientar a importância das variáveis cognitivas:
Mau stresse (“distress”): efeitos potencialmente destruidores da resposta de stresse
Bom stresse (“eustress”): refere-se aos efeitos positivos e benéficos do stress
Modelo de Stress como Resposta - Síndrome de Adaptação Geral: Críticas e limitações
Críticas e Limitações
Entendimento do stresse numa perspetiva de E-R (estímulo-resposta);
Pouco adequado para explicar os stressores de carácter psicológico;
Descrição das pessoas como “passivas” no processo de ocorrência do stresse (pouca margem para diferenças individuais, nomeadamente, diferenças de perceção e de cognição em relação ao stressor);
Pouca margem de entendimento das diferenças individuais.
Ambas as abordagens ignoram o processo de stress (relação entre os estímulos ambientais e as respostas individuais)
Modelo de stress como interação
Stress é a consequência da interação entre os estímulos ambientais e as respostas individuais;
Ocorre quando a pessoa avalia as exigências como excedendo as suas capacidades e recursos para lidar com o stressor;
Alternativa às perspetivas tradicionais de análise do stresse, centradas no estudo das condições e fatores ambientais que geram a experiência de stresse;
Compreensão dos padrões individuais de resposta às várias condições ambientais;
Importância das estratégias de coping utilizadas pelo indivíduo e das mudanças na experiência de stress que acontecem ao longo do tempo e em diferentes situações.
Este novo modelo de conceção do stress descreve os indivíduos:
Como seres ativos que avaliam o stress e não como sujeitos passivos que respondem de forma igual aos vários stressores;
Este modelo é transacional porque considera que os processos envolvidos no stress são bidirecionais, isto é, o ambiente também pode ser modificado pela ação do indivíduo de forma a exacerbar ou alterar os efeitos do stress.
Modelo de stress como interação: avaliações
- Avaliação primária
- Avaliação secundária
Esquema 4
O que é a avaliação primária no modelo de stress como interação?
- Primária: até que ponto o que está a acontecer é importante e relevante para a pessoa?
a. Irrelevante: situação/exigência não é percecionada como importante ou como estando relacionada com os objetivos/expectativas da pessoa;
b. Ameaça: situação/exigência que ainda não aconteceu, mas que pode vir a provocar mal-estar ao indivíduo, resultando frequentemente em ansiedade e tendência para a autoproteção;
c. Perda/Dano: sentimentos negativos e de prejuízo devido à constatação da incapacidade para lidar com as exigências excessivas já colocadas ao indivíduo (ex. perder dinheiro, perder a casa);
d. Desafio: avaliação das exigências como oportunidades para lutar contra as dificuldades através da mobilização de recursos pessoais, resultando em sentimentos positivos de autoconfiança (ex. ainda bem que vou ter exame, é uma oportunidade para subir a nota);
e. Benefício: as necessidades da pessoa são atingidas, limitando-se a possibilidade da experiência de stresse.
O que é a avaliação secundária no modelo de stress como interação?
- Secundária (o processo de confronto): até que ponto a pessoa tem opções e recursos pessoais para lidar com as exigências?
Elemento central na alteração da relação pessoa-ambiente, mudando o estado emocional do indivíduo;
Até que ponto é que a pessoa tem esforços cognitivos, comportamentais e afetivos para lidar com as exigências externas ou internas;
Estes esforços servem como mediadores entre os acontecimentos externos que provocam pressão e as reações subsequentes ao nível das emoções e dos comportamentos.
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Relação stress-doença
Relação Stress-Doença
Stresse só é nocivo quando é intenso, repetitivo e prolongado.
Nível ótimo de stress Relação stresse-doença não é linear
É importante ter em conta as:
condições do meio (nível socioeconómico, guerra e conflitos sociais, etc.)
características da pessoa (predisposição genética, personalidade, “coping”, etc.)
Relação stress laboral-doença
Relação Stress Laboral-Doença
Os resultados díspares em termos de saúde podem ter a ver com variáveis moderadoras como o nível socioeconómico dos funcionários, redes de apoio social… Assim, além dos aspetos organizacionais, características sociodemográficas como idade, situação familiar, nível de escolaridade tem impacto no stresse.
Capital psicológico (recursos pessoais de autoeficácia, esperança, otimismo, resiliência) pode ser a chave para entender a variação das respostas de stresse apresentados por diferentes indivíduos fazendo com que a relação stress-doença não seja linear
Stress no trabalho: cultura organizacional
A cultura organizacional relacionou-se com stresse laboral (Lee & Jung, 2019) particularmente:
Significativa falta de confiança entre empregador e empregados, bem como entre os empregados,
Falta de cooperação dentro da organização
Falta de apoio aos empregados e constante desrespeito pelo seu bem-estar, o que leva ao stresse ocupacional entre os funcionários