Cor Flashcards
(3 cards)
De que forma se foi a cor desenvolvendo ao longo da história do cinema?
Cinema “primitivo”: Tal como o som, a cor estava disponível desde os primeiros dias do cinema. A pintura de fotogramas à mão era comum, com recurso a técnicas muito diversas;
Cinema sonoro: Quando a película passou a ter uma faixa de som incluída, os processos de tintura de fotogramas deixaram de ser viáveis. O desenvolvimento tecnológico passou então a focar-se na captação de imagens a cor. A fotografia a cor existia desde 1850, mas só nos anos 1920 a Technicolor apresentou o primeiro sistema sólido para cinema, que foi comercializado em massa a partir de 1930;
Technicolor: A companhia Technicolor desenvolveu um sistema de captação de imagens em três películas diferentes, uma para cada cor primária, que eram depois reveladas por separado e combinadas na produção de um positivo final. O Feiticeiro de Oz (1939) não foi o primeiro filme captado em Technicolor, mas foi um dos primeiros a utilizar com enorme sucesso cores brilhantes e saturadas na construção da sua narrativa e mise-en-scène.
Para além da Technicolor: Nos anos 1950 tornou-se mais frequente um outro processo, o da Eastmancolor (Kodak), com apenas uma banda de película. A tecnologia foi-se tornando cada vez mais acessível. Nos anos 1960, a maioria dos filmes já era filmado a cores. Nos anos 1980, novos processos de cor digitais começaram a ser desenvolvidos. Ainda hoje há um certo regresso ao passado, com novo foco na pós-produção e no trabalho fotograma a fotograma (ver processos de correção de cor).
Que funções pode a cor ter na produção de sentido fílmico?
Tem a capacidade de influenciar o espectador de forma emocional, física e intelectual; Molda a nossa perceção da realidade; No cinema é muitas vezes vista como realista ou, pelo contrário, como marcador de fantasia ou de excesso.
Significado e elementos da cor: Uma cor não tem um sentido específico. A cor deve ser sempre analisada em contexto, em relação à narrativa do filme e aos outros elementos da linguagem cinematográfica que o compõem. É importante considerar aspectos como brilho e saturação, muitas vezes utilizados de forma semântica no cinema.
Usos da cor: A cor é muitas vezes utilizada no guarda-roupa de certos filmes; neste sentido, é frequente associarem-se certas personagens a certas cores; A cor pode também surgir na iluminação, no cenário ou decoração, ou até em objetos específicos;
Para analisar a cor é importante ir anotando usos que se destacam, de forma a: 1. poder encontrar e saber descrever padrões que se vão formando; 2. analisar esses padrões, ligando-os a questões mais abstratas como o tema do filme.
Que exemplos de uma utilização significativa da cor encontramos em filmes analisados?
Serenata à Chuva (Singin’ in the Rain, Gene Kelly & Stanley Donen)
Frases descritivas:
O filme apresenta cores vibrantes e saturadas, com cenários e figurinos que exploram intensamente o Technicolor.
O número musical “Broadway Melody” destaca-se pelo uso de fundos coloridos e luzes de néon estilizadas.
Frases analíticas:
3. O uso exuberante da cor sublinha o tom otimista e espetacular do musical, promovendo uma fantasia visual típica de Hollywood nos anos 1950.
4. As cores reforçam a artificialidade e teatralidade do espetáculo cinematográfico, evidenciando a própria transição do cinema mudo para o sonoro e do preto e branco para o colorido.
Os Respigadores e a Respigadora (Les Glaneurs et la Glaneuse, Agnès Varda)
Frases descritivas:
O filme utiliza uma paleta de cores naturais e não manipuladas, captadas com câmara digital, privilegiando tons crus e realistas.
As imagens mostram objetos recolhidos, paisagens rurais e urbanas sem qualquer filtro estético idealizante.
Frases analíticas:
3. A escolha de cores neutras e a estética documental reforçam o compromisso ético e político do filme com a realidade social das personagens retratadas.
4. A cor não embeleza nem dramatiza: ela aproxima-nos da matéria do mundo, permitindo uma leitura crítica da sociedade de consumo e do desperdício.
Tudo o que o Céu Permite (1955, Douglas Sirk): 🎨 1. Vermelho — Vida, Desejo, Vitalidade
Exemplo: Ainda antes de Ron aparecer, Cary é associada ao vermelho através do guarda-roupa (um vestido vermelho intenso).
Interpretação: O vermelho sugere que ela ainda tem desejo e vitalidade, mesmo sendo pressionada a viver como uma “viúva respeitável”. A cor destaca a sua humanidade e os sentimentos reprimidos.
❄️ 2. Azul e Cinzento — Repressão, Tristeza, Frieza
Exemplo: As cenas em casa, especialmente quando Cary está com os filhos ou sozinha, usam luz azulada e cores frias.
Interpretação: A casa torna-se uma prisão emocional. O ambiente “ideal” da classe média revela-se opressivo, vazio e solitário. A cor traduz o sofrimento interno da personagem.
📺 3. A cena da televisão — Crítica social
Exemplo: Quando Cary decide abdicar do amor por Ron, os filhos oferecem-lhe uma televisão. A câmara foca o seu rosto refletido no ecrã apagado.
Interpretação: O reflexo cinzento mostra Cary anulada, reduzida a um papel social passivo. A televisão é um “substituto” vazio do amor — uma crítica ao conformismo e à falsa felicidade burguesa.
🌿 4. Natureza — Liberdade, Autenticidade
Exemplo: Quando Cary está com Ron na natureza (a sua cabana, a floresta), vemos cores quentes: verdes, laranjas e dourados.
Interpretação: Esses momentos simbolizam liberdade emocional e uma vida autêntica fora das normas sociais. A cor aqui não só embeleza, mas transmite um estado de espírito.