Aula 8 Flashcards

Relação de causalidade, teorias da causalidade, relevância da omissão e concausas (19 cards)

1
Q

Qual é o conceito de nexo de causalidade?

A

É o vínculo que se estabelece entre a conduta e o resultado naturalístico por ela produzido.

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2
Q

O estudo da relação de causalidade é aplicável para todo e qualquer crime?

A

Como o nexo de causalidade é o vínculo entre conduta e resultado naturalístico, ele interessa apenas aos crimes materiais.

Eventualmente, no caso de exaurimento de crimes formais, haveria resultado naturalístico, e, portanto, seria possível analisar o vínculo entre conduta e tal resultado.

Porém, o crime formal já estaria de todo modo consumado independentemente de seu exaurimento (produção do resultado naturalístico).

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3
Q

No que tange às teorias da causalidade, qual foi adotada pelo Código Penal?

A

O CP adotou, como regra, a teoria da equivalência dos antecedentes.

Excepcionalmente, no caso de concausa relativamente independente que produza por si só o resultado, o CP adotou a teoria da causalidade adequada.

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4
Q

No que consiste a teoria da equivalência dos antecedentes?

Passe pelos conceitos de causalidade física e causalidade psíquica.

A

Também chamada de teoria da condição simples ou da “conditio sine qua non”.

Tal teoria entende que causa é qualquer acontecimento sem o qual o resultado não teria ocorrido.

Para evitar um retrocesso ad infinitum na identificação das causas, deve-se investigar não apenas a causalidade física, mas também a psíquica.

Caso uma mãe não tivesse dado à luz, seu filho não teria cometido homicídio.

Em termos de causalidade física, é possível dizer que dar à luz seria condição sem a qual o resultado não teria ocorrido.

No entanto, considerando que a mãe não tenha nada a ver com o homicídio, faltaria a causalidade psíquica (culpa ou dolo), e sua conduta não seria penalmente relevante.

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5
Q

Qual é a origem da teoria da equivalência dos antecedentes?

A

Essa teoria é desenvolvida e sistematizada pelos estudos de Van Buri e Stuart Mill (1873).

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6
Q

No que consiste o método da eliminação hipotética de Thyrén?

  • Johan Thyrén (1861–1933) - Jurista Sueco
A

Trata-se de um exercício de eliminação hipotética de um acontecimento.

Caso se conclua que o crime não aconteceria no caso de eliminação, o acontecimento foi causa do crime (do ponto de vista da causalidade física).

Porém, caso se conclua que o crime aconteceria mesmo se excluído o evento, ele não terá sido causa.

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7
Q

No que consiste a Teoria da Causalidade Adequada, também conhecida como Teoria da Imputação Adequada?

A

A Teoria da Causalidade Adequada busca identificar a causa mais adequada e “normalmente apta” a causar o dano.

Foi idealizada por Von Kries.

É adotada de forma excepcional pelo § 1º do art. 13 do CP:

§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.

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8
Q

No que consiste a teoria da imputação objetiva? Ela tem aplicação no Brasil?

A

A teoria da imputação objetiva foi desenvolvida por Karl Larenz (1927) e Richard Honig (1930), sendo, atualmente, adotada por Claus Roxin e Günther Jakobs.

Segundo essa Teoria, além do nexo físico (causa/efeito), também devem ser considerados critérios normativos no momento de atribuição do resultado, quais sejam:

1) Criação ou incremento de um risco proibido (se não houver a criação ou incremente de risco proibido, a conduta do agente seria irrelevante para fins penais)

2) Realização do risco no resultado: deve-se verificar se o resultado teve como causa o risco criado/incrementado (do contrário, o criador do risco não será responsabilizado criminalmente)

3) Resultado se encontra dentro do alcance do tipo: o perigo gerado pelo comportamento do agente deve estar no alcance do tipo penal.

A teoria da imputação objetiva não foi adotada pelo Código Penal Brasileiro.

Porém, inspira a doutrina e, por vezes, a jurisprudência do STJ:

”(…) parece evidente que, ao dirigirem suas ações contra vítima idosa (um senhor de 84 anos) e usarem de exacerbada violência, os Pacientes criaram, sim, um RISCO JURIDICAMENTE PROIBIDO – conclusão contrária seria impensável à luz do ordenamento jurídico brasileiro. Esse risco, concretizou-se em um resultado típico previsto justamente no tipo imputado aos Réus (art. 157, § 3º, inciso II, do Código Penal)”.

HC n. 704.718/SP, relatora Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma, julgado em 16/5/2023, DJe de 23/5/2023

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9
Q

Quando a omissão é relevante para o direito penal?

A

1) Quando o tipo penal descreve uma omissão (crimes omissivos próprios)

2) Quando a pessoa omissa DEVIA e PODIA agir para evitar o resultado (crimes omissivos impróprios)

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10
Q

Complete (Código Penal):

Art. 13 […]

Relevância da omissão

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:

a) _____________________;

b) _____________________;

c) _____________________.

A

Art. 13 […]

Relevância da omissão

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;

c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

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11
Q

No âmbito da relevância da omissão, quem é o garantidor (ou garante)?

A

É a figura referida pela alínea “b” do § 2º do art. 13 do CP.

Pode ser uma babá, por exemplo, que assume contratualmente o dever de cuidado, proteção ou vigilância.

Basicamente, se não estivermos diante de alguém a quem o dever incumbe por lei (hipótese da alínea “a” - ex: pais) ou de alguém que criou o risco da ocorrência do resultado (hipótese da alínea “c”).

Atenção à expressão “de outra forma” (significa “obrigação não derivada da lei”).

Vejamos a alínea “b” do § 2º do art. 13 do CP:

Art. 13 […]

Relevância da omissão

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: […]

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; […]

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12
Q

Suponha que um único policial militar, armado com uma pistola, passe em frente a um banco e veja uma quadrilha fortemente armada roubando tal banco.

O policial militar tem, por lei, o dever de agir nesse tipo de situação.

Caso ele se omita, ele terá concorrido para o crime de roubo?

A

Não.

O § 2º do art. 13 traz como requisitos cumulativos DEVER e PODER agir para evitar o resultado.

A omissão só será penalmente relevante se preenchidos os dois requisitos.

O policia tinha o dever de agir, mas, na situação concreta, não podia agir de forma eficaz.

Estava sozinho contra uma quadrilha fortemente armada.

Ele devia e podia comunicar a polícia e pedir reforços, mas apenas isso.

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13
Q

O que é uma concausa?

A

É uma causa adicional à conduta do agente que concorre para o resultado final.

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14
Q

As concausas podem ser classificadas como independentes ou dependentes.

Traga o conceito de cada uma delas.

A

Dependentes - Necessitam obrigatoriamente da conduta do agente para produzir o resultado.

Independentes - São capazes de produzir, por si só, o resultado.

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15
Q

As concausas independentes são subdivididas em absolutamente independentes e relativamente independentes.

No âmbito das concausas relativamente independentes, é relevante, ainda, diferenciar as concausas preexistentes, concomitantes e supervenientes.

Explique cada um desses conceitos.

A

1) CONCAUSA ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTE

Desvinculada da conduta do agente.

A conduta do agente pode ser eliminada (método da eliminação hipotética de Thyrén) e o resultado ocorreria da mesma maneira.

A concausa absolutamente independente rompe o nexo causal. O agente responde pelos atos que praticou, mas não pelo crime consumado.

2) CONCAUSA RELATIVAMENTE INDEPENDENTE PREEXISTENTE ou CONCOMITANTE

As concausas são capazes de produzir, por si sós, o resultado, mas elas só se manifestam devido à conduta do agente.

A concausa relativamente independente preexistente ou concomitante não exclui o nexo causal. O agente responde pelo resultado.

2) CONCAUSA RELATIVAMENTE INDEPENDENTE SUPERVENIENTE

Caso a concausa relativamente independente superveniente NÃO produza sozinha o resultado, subsiste o nexo causal e o agente responderá pelo crime consumado.

Caso a concausa relativamente independente superveniente PRODUZA sozinha o resultado, o CP adota uma exceção: a teoria da causalidade adequada.

Nesse caso, ainda que a concausa seja apenas relativamente independente, caso ela produza sozinha o resultado, o agente não responderá pelo resultado. O agente responderá apenas pelos atos praticados.

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16
Q

Mévio tem feito denúncias contra diversos políticos corruptos.

Por isso, é muito odiado por esses políticos, que desejam vê-lo morto.

José, um dos políticos denunciados, decide envenenar Mévio. Assim, invade o apartamento de Mévio e coloca um veneno letal em uma garrafa de água em sua geladeira.

Carla, outra política denunciada, sem ter conhecimento das ações de José e também almejando pôr fim à vida do delator, contrata um atirador de elite , que se posiciona no terraço de um prédio próximo, com vista para o apartamento de Mévio.

Mévio chega em casa, vai até a cozinha, toma um copo de água (com o veneno colocado por José) e, ao terminar de bebê-lo, é atingido por uma bala oriunda do atirador de elite contratado por Carla.

A perícia médica conclui que o tiro foi a causa da morte.

Nesse caso, José responderá por homicídio? E Carla?

A

Como foi constatado pela perícia que o tiro matou Mévio - e não o veneno -, Carla responderá por homicídio consumado.

José, por sua vez, responderá por homicídio tentado. Isso porque há uma concausa absolutamente independente (tiro) que rompe o nexo de causalidade entre a conduta de José e o resultado morte.

17
Q

Sérgio e Patrícia são inimigos de longa data.

Sérgio tem uma doença que o faz perder muito sangue rapidamente, e Patrícia sabe disso.

Patrícia, então, estuda a rotina de Sérgio e descobre que todas os sábados ele frequenta uma área rural isolada e pouco habitada.

Em um sábado, então, ela se esconde nessa área rural e ataca Sérgio com uma faca.

Para evitar uma acusação de homicídio, Patrícia atinge apenas o joelho de Sérgio.

O corte realizado, em geral, não causaria a morte, mas, devido à doença de Sérgio, ele sangra até a morte antes de receber ajuda.

Nesse caso, a doença preexistente de Sérgio é uma concausa de qual espécie? Ela rompe o nexo de causalidade entre a conduta de Patrícia e o resultado morte?

A

Trata-se de concausa relativamente independente.

A doença preexistente de Sérgio o fez sangrar até a morte. A doença é capaz, por si só, de causar o resultado morte.

Porém, o sangramento inicial só teve início devido à conduta de Patrícia.

Pelo método da eliminação hipotética, sem a conduta de Patrícia, não haveria o resultado morte.

Portanto, Patrícia responderá por homicídio consumado.

18
Q

Mévio dá um tiro em Tício, com a intenção de matá-lo.

O tiro, porém, não atinge nenhum órgão vital, Tício é socorrido e estabilizado no hospital.

Embora, a princípio, parecesse não correr mais risco de vida, Tício acaba contraindo uma infecção hospitalar, devido aos ferimentos da bala, e vem a óbito.

Nesse caso, a infecção é uma concausa de que espécie? Mévio responderá por homicídio consumado?

A

Trata-se de concausa relativamente independente superveniente.

A infecção só é contraída porque o tiro gerou os ferimentos.

Sem tiro, não haveria morte.

Nesse caso, pelo método da eliminação hipotética, fica evidente não ter sido rompido o nexo causal entre a conduta de Mévio e o resultado morte.

Mévio será responsabilizado por homicídio consumado.

19
Q

Pierre dá um tiro em Felipe, com a intenção de matá-lo.

O tiro, porém, pega de raspão.

Felipe tem ferimentos leves e é levado ao hospital apenas por precaução.

Durante o atendimento hospitalar, ocorre um incêndio e Felipe morre incinerado.

Nesse caso, houve uma concausa de que tipo?

Pierre responderá por qual crime?

Qual teoria da causalidade deve ser utilizada no caso em questão?

A

Houve uma concausa superveniente relativamente independente que produziu por si só o resultado.

Nessa situação, não se aplica a equivalência dos antecedentes (nem o método da eliminação hipotética).

Trata-se de exceção em que o CP determina a aplicação da teoria da causalidade adequada.

Um tiro de raspão que gera ferimentos leves não é “normalmente apto” a gerar o resultado morte.

Ainda que Felipe só tenha sido levado ao hospital devido ao tiro - o que seria suficiente para caracterizar o nexo causal à luz do método da eliminação hipotética -, a teoria da causalidade adequada impõe solução diversa.

Pierre responderá por tentativa de homicídio, apenas.